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quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Num lugar remoto do parque...




O Parque Estadual do Cunhambebe (PEC), criado pelo Decreto n.º 41.358, de 11 de junho de 2008, possui um enorme potencial ecoturístico ainda a ser explorado. Trata-se de uma área de aproximadamente 38.000 hectares e que abrange partes dos municípios de Itaguaí, Mangaratiba, Rio Claro e Angra dos Reis, guardando também alguns atributos histórico-culturais pouco divulgados.

Morando desde agosto de 2012 em Muriqui (4º Distrito de Mangaratiba), já perdi a conta de quantas vezes fiz minhas caminhadas pelo PEC e seus arredores. A maioria delas foi através de uma trilha que dá acesso a vários sítios e vai até à localidade de Rubião, já na Serra do Piloto (5º Distrito de Mangaratiba). Outras expedições fiz indo de Mazomba (área rural de Itaguaí) até Bela Vista, também na Serra do Piloto e justo na divisa de Mangaratiba com o município de Rio Claro, tendo ainda passado em momentos diversos por Macundu e Lídice (ambos em Rio Claro), além de Conceição de Jacareí, Ingaíba, Itacurubitiba. Sahy-Santa Bárbara (todos estes lugares de Mangaratiba).

Embora a minha cidade seja muito conhecida pelas suas praias e ilhas, pouca gente sabe que uma extensiva parcela do território municipal encontra-se na Serra do Piloto sendo bem irrigado por córregos e rios que, por sua vez, formam belíssimas cachoeiras bem refrescantes. Nascentes d'água e florestas é o que não falta por aqui!

Nesta última quarta-feira (23/09), fui até um lugar desabitado do parque que uns chamam de "Pinheirinho" e outros de "Pinheiral". Tendo antes obtido informações com um sitiante da região, o qual vende bananas na praça principal de Muriqui, peguei mais uma vez aquela trilha que segue para Rubião. Caminhando direto, passei pela entrada que dá acesso a esse distante local do PEC e novamente precisei orientar-me com moradores, tendo uma criança do Rubião alertado-me sobre a porteira à minha direita, bem no alto da serra, que eu havia deixado de passar por ela.

Retornando, entrei então pela tal porteira e fui andando sempre em frente pela outra trilha perpendicular à principal. A via encontrava-se bem cuidada e, em alguns momentos, a mata permitia que eu avistasse Muriqui. Até o apito do trem chegava a escutar lá de cima.

Finalmente, após subir e descer morro por cerca de mais ou menos uma hora (assim que passei pela porteira), devo ter chegado ao Pinheiral. Não encontrei uma viva alma pelo trajeto, apesar das boas condições da trilha que estava muito bem roçada. Vi um curral de bois, porém nenhuma casa perto e os animais também não estavam ali.

Do Pinheiral em diante, a trilha foi ficando cada vez mais fechada e achei por bem não prosseguir. Afinal, eu já havia me perdido sozinho na mata há pouco mais de três anos atrás, quando resolvi fazer uma louca aventura no Parque Nacional da Tijuca saindo fora dos roteiros turísticos. E hoje, apesar de ter voltado a fazer trilhas, ando mais cauteloso e com consciência em relação ao inestimável valor da vida.

Essa minha visita ao PEC não foi exclusivamente a passeio. Embora eu procure unir o útil ao agradável nas atividades laborais que faço, tal como a vez em que estive na Ilha da Marambaia (ler matéria de 23/06 sobre o assunto) o meu objetivo ali era ajudar na fiscalização ambiental na qualidade de um simples assessor parlamentar.

Nos últimos meses, a Câmara de Mangaratiba aprovou algumas reivindicações da autoria do meu vereador relacionadas ao ecoturismo e a esse parque. Em junho, pedimos a sinalização da trilha Rubião x Muriqui (Indicação n.º 192/2015) e, na sessão desta última terça-feira, dia 22/09, solicitamos que "o Poder Executivo Municipal busque uma parceria junto ao INEA a fim de reabrir a trilha Rubião x Sahy para a prática de caminhadas ecológicas na região" (Indicação n.º 332/2015).

Apesar de criado no ano de 2008, pode-se dizer que o PEC praticamente ainda não saiu do papel. Com toda a sinceridade, não tenho visto investimentos significativos executados na unidade, faltando uma presença maior do próprio INEA, portarias, um centro de visitantes, trilhas mapeadas e sinalizadas, guarda-parques, etc. As várias comunidades do entorno precisam ser contempladas com projetos efetivamente voltados para a educação ambiental e para a inclusão social a fim de que todos possam direta ou indiretamente se beneficiarem do ecoturismo. E, quanto à RJ-149, rodovia que liga Mangaratiba a Rio Claro, há muito deveria ter sido transformada numa "Estada-Parque" como já solicitamos (Indicação n.º 261/2015).

Penso que não deve o INEA esperar a conclusão do longo processo de desapropriação dos imóveis rurais situados nos limites do parque de modo que o instituto poderia, desde já, oferecer condições básicas para o desenvolvimento do ecoturismo no PEC em cada um dos quatro municípios abrangidos. Por exemplo, no belo percurso entre o Rubião e Mazomba, poderia haver uma guarita dos agentes ambientais próximo ao Pinheiral, a qual serviria como um ponto de apoio para quem pretende fazer a travessia até o Município de Itaguaí.

Para concluir, considero fundamental o INEA realizar audiências públicas pelos quatro municípios envolvidos a fim de melhor definir um planejamento voltado para o ecoturismo. Nunca é demais lembrar o fato de estarmos negligenciando uma atividade frequentemente chamada de "indústria sem chaminés", a qual, se bem conduzida, pode gerar oportunidades de trabalho e de renda para uma população. Porém, se tudo permanecer como está, essa imensidão de terras continuará mal aproveitada e sem promover o tão desejado desenvolvimento sustentável para as comunidades do entorno do PEC.




Lutemos pela causa!

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