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sábado, 31 de março de 2018

É preciso prevenir melhor os acidente marítimos!



O país está perplexo com mais um atropelamento aquático de quatro turistas de São José dos Campos (SP) cometido com o uso de embarcação motorizada, conforme ocorreu na data de ontem (30/03) em Ilha Grande, mais precisamente na localidade de Lagoa Azul, não muito distante daqui de Mangaratiba, em que se causou um duplo homicídio culposo e uma dupla lesão corporal culposa. De acordo com a defesa apresentada pelo condutor da lancha, o motivo teria sido um problema no acelerador, como noticiado pelo G1:

"Polícia Civil de Angra dos Reis, RJ, afirmou que o condutor da lancha que atropelou banhistas nesta sexta-feira (30) na Ilha Grande, em Angra, disse em depoimento que a embarcação estava com um problema no acelerador. Duas pessoas morreram e duas ficaram feridas no acidente. De acordo com o Delegado Titular da 166ª Delegacia de Polícia, Bruno Gilaberte, o marinheiro disse que se desequilibrou, caiu e perdeu o controle da lancha. Em depoimento à polícia, a maioria das testemunhas disse que a embarcação ia na direção das pedras quando o condutor desviou e atingiu os banhistas." - Extraído de https://g1.globo.com/rj/sul-do-rio-costa-verde/noticia/condutor-afirma-a-policia-que-lancha-que-causou-acidente-em-angra-estava-com-problema-no-acelerador.ghtml

Desde que vim morar aqui no litoral sul-fluminense, umas das coisas que mais passou a me preocupar é o uso de lanchas e de jet-ski próximos às áreas ocupadas pelos banhistas, inclusive perto da orla marítima. Pois este tráfego intenso e mal fiscalizado de veículos aquáticos não somente tem posto em risco a vida e a segurança das pessoas como também anda afetando o meio ambiente marítimo, sendo certo que as populações tradicionais de pescadores dependem do equilíbrio ecológico para fins de sustento familiar.

A meu ver, Mangaratiba e a vizinha Angra dos Reis precisam urgentemente colocar em prática o gerenciamento da costa de nossa região com a ajuda de uma sinalização adequada no mar a fim de impedirem a aproximação indesejada das lanchas e das motos aquáticas pelo isolamento das áreas de lazer nas praias. Inclusive, cá no Município, nós já temos a Lei Municipal de n.º 973/2015 que autoriza a Prefeitura a fazer o monitoramento e a sinalização náutica para melhor proteger os banhistas por meio de um projeto de balizamento:

"Art. 1º - Fica o Poder Executivo Municipal autorizado a implantar o Programa Municipal de Monitoramento e Sinalização Náutica nas praias de Mangaratiba.

Art. 2º - As praias de uso frequente para banho de mar deverão ser protegidas através de um projeto de balizamento que garanta o isolamento das áreas de lazer dos banhistas evitando a aproximação de lanchas, de motos aquáticas e de qualquer tipo de embarcação capaz de por em risco a segurança das pessoas.

Art. 3º - Fica o Poder Executivo Municipal autorizado a celebrar convênio com a Capitania dos Portos afim de colaborar com a segurança do tráfego aquaviário prestando auxílio suplementar na fiscalização.

Art. 4º - Caberá ao Programa Municipal de Monitoramento e Sinalização Náutica informar e orientar ao público frequentador das praias de Mangaratiba quanto à proteção das áreas de segurança dos banhistas, disponibilizando meios de contato rápidos com a fiscalização através de telefone e internet que funcionem todos os dias da semana.

Art. 5º – Poderá ser criado um arquivo específico, auxiliado por um banco de imagens, para o registro das ocorrências relativas ao tráfego indevido de embarcações nas áreas de segurança dos banhistas.

Parágrafo Único - As ocorrências obtidas pelo Programa Municipal de Monitoramento e Sinalização Náutica, após serem registradas, deverão ser encaminhadas com mais brevidade possível para a Capitania dos Portos.

Art. 6º - O Poder Executivo Municipal regulamentará através de decreto a presente lei no que for necessário para a sua aplicação, no prazo de noventa dias.

Art. 7º - Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação, revogando-se as disposições em contrário."

Fato é que a fiscalização (da Capitania dos Portos e das Guardas Municipais) não tem como estar presente ao mesmo tempo em todos os locais das extensas baías de Angra de Sepetiba. E, por sua vez, os condutores dos veículos aquáticos nem sempre têm a consciência de que podem machucar ou matar um banhista quando ficam se exibindo numa lancha ou jet-ski. Porém, a norma em comento prevê, em seu artigo 5º caput, que seja criado um "banco de imagens" para fins de registro de ocorrências sobre o tráfego de embarcações, o que pode facilitar em muito a identificação dos condutores/proprietários que fazem um uso indevido de seus veículos aquáticos por meio de envio de mensagens instantâneas pelo aplicativo WhatsApp.

A meu ver, toda a população da Costa Verde precisa se mobilizar para que medidas preventivas sejam adotadas nas praias de movimento intenso, dentre as quais se inclui também a de Muriqui, localidade onde eu moro. Pois, através de uma sinalização náutica adequada, acredito que será possível evitarmos a aproximação indesejada desses veículos das áreas de lazer do nosso litoral continental e das ilhas, sendo que a execução de tal projeto suponho ser algo de baixo custo. 

De qualquer modo, quando falamos em vidas humanas, sabemos que estas não têm preço. Logo, as prefeituras das cidades da Costa Verde podem muito bem resolver esse problema o mais rápido possível em favor da coletividade de turistas e de moradores que frequentam a região. Pois são os banhistas e não os praticantes das atividades náuticas que devem ter prioridade quanto ao uso do mar, o qual é um bem público e de uso comum do povo.

Ótimo sábado a todos e meus sentimentos aos sobreviventes dessa tragédia, bem como aos familiares das quatro vítimas.

sexta-feira, 30 de março de 2018

A ideia de alguém que morreu por nós



Por mais que a humanidade tenda a passos lento para um agnosticismo, o que se revela primeiramente nas atitudes e depois nas confissões da (des)crença, acredito que o arquétipo de Jesus Cristo irá se perpetuar por muitas gerações dentro da nossa cultura. 

Estava por esses dias lendo o artigo A "inutilidade" da Cruz, escrito por Hermes C. Fernandes, bispo da Igreja REINA (Rede Internacional de Amigos), o qual considero hoje um dos mais expressivos nomes da Teologia da Libertação no protestantismo brasileiro.  Em seu brilhante texto, o autor faz uma interessante reflexão sobre "qual teria sido a necessidade da morte vicária de Cristo" já que a ideia do perdão divino tornaria dispensável qualquer sacrifício, inclusive o de Jesus:

"Geralmente, acredita-se que a morte de Cristo tenha sido um pagamento feito a Deus. Ficamos quites com Ele mediante a oferta da vida de Seu próprio Filho. Passa-se a impressão de um Deus relutante em nos oferecer perdão. Não é de se admirar que os cristãos tenham tanta dificuldade em perdoar. Ninguém aceita ficar no prejuízo. A gente até perdoa, mas desde que alguém se disponha a reparar o dano. Sinceramente, prefiro acreditar que haja um grande mal entendido. Não era Deus que precisava da cruz para poder nos perdoar. Éramos nós que precisávamos de algo que nos revelasse a gravidade de nossos pecados, a fim de que atribuíssemos o devido valor à Sua graça." (destaquei)

Concordo com essa visão do Hermes, a qual pode muito bem ser compreendida por agnósticos, ateus e pessoas de outras religiões diversas do cristianismo. Pois mesmo os que não dão crédito à historicidade das tradições eclesiásticas, a ideia da morte sacrificial e substitutiva de alguém existe ainda que sendo um relato mítico que não teria surgido por acaso. Ou seja, em tal hipótese haveria uma necessidade mesmo que psicológica para a elaboração daquilo que seria apenas uma "lenda".

Não entro nesse debate sobre a historicidade do cristianismo porque considero uma interminável discussão inútil acerca da prova de supostos fatos de uma distante época. Prefiro ir direto ao que interessa que é a exposição de uma morte torturante pela religião para o ser humano conscientizar-se das consequências sobre suas más ações ou omissões.

Longe de querer compactuar com qualquer antissemitismo, penso que não dá para analisar a morte de Jesus sem levarmos em conta os comportamentos da anônima multidão que estava em Jerusalém para a festa da Páscoa bem como dos próprios discípulos dele. Muitos fugiram diante da prisão do Mestre e outros concordaram com a sua estúpida crucificação, preferindo a soltura do revoltoso Barrabás.

Todavia, Jesus em sua morte a ninguém culpou ou amaldiçoou. Sua atitude diante dos que dele zombavam e/ou torturavam foi justamente no sentido de liberar um gratuito perdão. Toda a violência sofrida foi então compreendida porque os algozes não sabiam o que estavam fazendo de modo que a conduta mansa da vítima ali expressa um puríssimo amor capaz de constranger qualquer ser humano a se envergonhar de seu orgulho, de sua maliciosidade, de sua indiferença, do seu ódio, de sua luxuriante vida superficial, de sua ganância, de seus furtos, de seus homicídios, dentre outros erros mais. E aí volto ao artigo em comento no qual o autor vê mais um motivo para que a cruz se tornasse necessária no caminho da humanidade:

"Na cruz, dois dos principais atributos divinos que correm paralelos convergem e se cruzam. A justiça e o amor se harmonizam. Apesar de jamais ter havido qualquer atrito entre eles, era necessário que percebêssemos através de um gesto radical o alto custo para mantê-los devidamente afinados. A haste horizontal da cruz bem que poderia representar a justiça. Ela não poderia pender nem para a esquerda, nem para a direita, mas manter o equilíbrio (equidade). A haste vertical representaria o amor. Ele que dá sustentação à justiça. Ele é a base que se ergue entre o céu e a terra. É sobre o amor que a justiça está estabelecida. Sem a haste vertical fincada no chão da existência, a haste horizontal não se elevaria. O lugar de encaixe entre as duas hastes se chama graça. Ela é o árbitro que anuncia a vitória da misericórdia sobre o juízo. Deus jamais poderia ser acusado de agir com impunidade ou conivência. Sua justiça segue imaculada. Nossos pecados foram perdoados. Porém, o prejuízo que eles causaram custou Sua própria vida. Não há perdão sem cruz! Cada vez que perdoamos a alguém, experimentamos a crucificação do nosso ego. Arcamos com o prejuízo. Liberamos o outro da obrigação de se retratar." (o destaque em negrito é meu)

Creio que um dos reflexos da cruz é justamente percebermos quais os prejuízos que os nossos erros são capazes de causar. Pois, em maior ou menor grau, inocentes continuam a sofrer pelos males que cometemos. Daí se há fome e guerras matando no mundo é porque a humanidade permanece inerte aos acontecimentos permitindo que uma parcela minoritária da mesma seja a causa dos conflitos. Se estão devastando o planeta, nós ainda podemos ser os consumidores do produto da destruição. E, se a violência  gerada pelo tráfico de entorpecentes nas favelas brasileiras tem ceifado vidas, quem usa drogas ou fornece armas para esses bandidos é também parte do problema.

Por outro lado, a mensagem da cruz não foi escrita para nos culparmos e sim para que tenhamos a consciência de como temos andado e possamos em paz buscar a correção dessas rotas. Ela é simbólica e assume um caráter principiológico a ser seguido nos mais diversos aspectos, inclusive no exercício do perdão ao outro como bem desenvolveu o autor.

Sei que a aplicabilidade de tudo isso requer longas e sucessivas discussões que, neste caso, considero bem mais úteis do que debater sobre a historicidade das tradições cristãs acerca de Jesus. Pois já que a Páscoa e outros dias sagrados são celebrados nos países ocidentais, precisamos oportunizar cada um desses momentos para que a cultura religiosa enfim contribua em benefício do aprendizado humano dentro do nosso processo coletivo de evolução.

Ótimo feriado a todos!

OBS: A ilustração acima refere-se ao quadro Descendo da cruz, pintado pelo artista flamengo Peter Paul Rubens (1577 – 1640) da época do Barroco, conforme extraído do acervo virtual da Wikipédia com créditos em relação á foto atribuídos a Remi Jouan (2007), segundo consta em https://en.wikipedia.org/wiki/Crucifixion_of_Jesus#/media/File:La_descente_de_croix_Rubens.jpg 

quarta-feira, 28 de março de 2018

Sobre os tiros contra a caravana de Lula



Li no G1 que, na tarde de ontem (27/03), dois ônibus que participavam da caravana de Lula no Paraná teriam sido atingidos por três tiros, segundo informou o Partido dos Trabalhadores (PT). De acordo com o portal de notícias,

"Os ônibus seguiam de Quedas do Iguaçu, no oeste do estado, para Laranjeiras do Sul, na região central, quando os tiros foram disparados, ainda segundo o partido. No momento dos disparos, Lula estava dentro da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFSS), em Laranjeiras do Sul (...) A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, disse ter pedido policiamento às autoridades do Paraná, mas afirmou não ter sido atendida. Ela classificou o episódio como 'emboscada'. A Polícia Civil declarou que abriu inquérito para investigar o caso e que será feita uma perícia nos ônibus - uma equipe de peritos está a caminho para vistoriar os ônibus. Já a Polícia Militar (PM) afirmou que aumentou o policiamento no local da caravana. O ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, disse que pediu atenção das autoridades estaduais para o caso." - Extraído de https://g1.globo.com/pr/oeste-sudoeste/noticia/onibus-da-caravana-de-lula-sao-atingidos-por-tiros-no-oeste-do-parana-diz-assessoria.ghtml

Confesso que, apesar de não gostar da política do Lula e defender que ele seja corretamente julgado pela Justiça, igual a qualquer outro cidadão brasileiro, vindo a ser punido com prisão, se for o caso, de modo algum poderia concordar com um atentado homicida. Pois isto seria também um ataque à nossa democracia.

Se, por um lado, é compreensível a indignação de alguns com o fato do nosso STF, por maioria de votos, haver excepcionalmente admitido o habeas corpus de Lula na semana passada, sentindo-se tais pessoas insatisfeitas com a lentidão da Justiça brasileira em punir os criminosos, também deve ser compreendido por que outros idolatram o elemento. Pois tendo em vista os benefícios alcançados na área social pelos governos petistas, muitos seguidores da esquerda brasileira vêem o ex-presidente como um Robin Hood dos trópicos.

Ora, não podemos esquecer que o mítico personagem literário inglês, um fora-da-lei que roubava da nobreza para dar aos pobres, é, para muitos, um dos maiores heróis na terra da rainha Elizabeth. Chegou a ser imortalizado como o "Príncipe dos ladrões" a ponto de virar um arquétipo dentro da cultura anglicana e global, apesar de sua conduta desviante.

É certo que, no caso do Lula, os crimes praticados durante o período de oito anos que ele governou o Brasil foi mais para alimentar o seu bando chamado PT do que para sustentar a população pobre que ainda temos. Arrasaram com uma empresa que representava o orgulho nacional (a Petrobrás) para que o caixa dois dos candidatos petistas fosse alimentado com o dinheiro da corrupção conforme a Lava Jato estampou para todo o país. E juntos também se beneficiaram partidos hoje não mais aliados como o PMDB e o PP, ambos da base do Planalto antes do impeachment.

Todavia, um erro não justifica o outro! E, por mais que o Brasil ainda continue sendo o país da impunidade, com o Supremo soltando os ladrões presos pela Justiça de primeira instância, devemos respeitar a "Ordem" que é uma das palavras da nossa bandeira, baseada nos ideais positivistas de Auguste Comte: "O Amor por princípio e a Ordem por base; o Progresso por fim". 

Como se sabe, a "Ordem" consiste na conservação e manutenção de tudo o que é bom, belo e positivo. Isto quer dizer que o respeito às leis, às instituições democráticas e à liberdade das pessoas é algo que jamais pode ser deixado de lado por mais que estejamos insatisfeitos com os acontecimentos da política do nosso país. Cuida-se da realização dos ideais republicanos, consistentes na busca e na manutenção de condições sociais básicas (respeito aos seres humanos, salários dignos etc.), sem o que não haverá o melhoramento do país (em termos materiais, intelectuais e, principalmente, morais).

Jamais devemos nos esquecer de que há muitos milênios a civilização deixou para trás os tempos da vingança privada e entregou o monopólio da Justiça ao Estado. Ou seja, através da jurisdição é que os criminosos são julgados e condenados, cabendo tão somente às instituições estatais competentes a execução das punições. Inclusive a morte do sentenciado no caso dos países livres que ainda adotam a pena capital, nos quais há um processo com todos os direitos de defesa previstos em lei.

Assim também devemos aguardar que a Justiça seja feita no Brasil quanto a todos os bandidos que roubaram a nação, sendo que, na atualidade, estamos testemunhando algo inédito que foram as prisões de importantes políticos e de poderosos empresários. Pois, em mais de 500 anos de História, nunca se viu tantos deputados, senadores, prefeitos, governadores e ministros indo parar na cadeia como anda a ocorrer agora. E, se Lula, Temer e Aécio continuam soltos, creio que isso não será por tanto tempo.

Finalmente, não se pode ignorar que a realização de um atentado contra o ex-presidente Lula poderá causar um estrago sem tamanho na política brasileira e que irá reconduzir a esquerda ao poder com uma força que ela jamais teve até hoje. Ainda mais porque, diferentemente da queda do avião de Eduardo Campos nas eleições de 2014, um tiro no ex-presidente o tornaria uma inegável vítima do extremismo de uma minoria radical. Seria a ressurreição do petismo no Brasil de modo que os discursos que os lulistas fariam no enterro da vítima, como foram as palavras ditas ontem pela deputada federal Maria do Rosário (PT-RS), passariam a ter grande efeito sobre as massas:

"Nós consideramos um atentado político ao ex-presidente Lula. Daqueles que estão jogando pedras, pedaços de pau, que já atacaram com chicotes e agora usam armas. Aliás, já estão usando armas há algum tempo. Não é um grande contingente de pessoas, mas eles são fortemente armados, seguem a caravana atrapalham, trancam a sua passagem. Nós temos três ônibus e vários carros. Os ônibus são idênticos. Um ônibus foi atingido e ele poderia ser o ônibus do presidente Lula. Poderiam estar ali parlamentares. Estão ali jornalistas tanto brasileiros como de outros países. Nós não podemos aceitar isso. Isso é um atentado político em uma escalada de violência política que está havendo no Brasil"

Se essa turma pretende abater Lula, eles precisam entender que tudo tem que ser feito dentro dos meios legais. Isto é, devem esperar os trâmites processuais para que a Justiça determine a prisão do réu bem como indefira o registro de uma eventual candidatura. Ou, se o elemento vier a disputar as eleições presidenciais deste ano, o que acho pouco provável porque o julgamento do TRF-4 fez dele um "ficha suja", o único caminho será, por meio de argumentos convincentes, derrotá-lo nas urnas. Lembrando que, quando alguém apanha demais, acaba virando o jogo e se torna herói.

Que não falte bom senso nessas horas à Nação!

segunda-feira, 26 de março de 2018

Em que sentido Lula poderia "pacificar o Brasil"?



Estava lendo por esses dias a área de comentários de um dos blogues aos quais sigo em que um dos comentaristas auto-denominado comunista escreveu que "a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na urna é o fator essencial para pacificar o Brasil", citando, em seguida, palavras que atribuiu a Michel Temer sobre a candidatura do petista: "queria que Lula participasse da eleição para pacificar o país". E continuou justificando que, na hipótese de termos um presidente eleito este ano, sem concorrer com Lula, o mesmo não terá legitimidade na ocupação do cargo.

Por sua vez, o outro comentarista, contrário às posições do primeiro que se disse esquerda, respondeu citando uma matéria no UOL, a qual faz menção a mais um dos protestos contra a caravana de pré-campanha do ex-presidente por cidades do Sul do Brasil:

"O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) precisou da proteção de guarda-chuvas para não ser atingido por ovos que eram jogados de um prédio localizado próximo à praça onde ele realizava um comício na noite deste domingo (25)…"

Confesso que, desde o ano passado, cheguei a me deparar com o argumento de que o retorno de Lula à Presidência poderá trazer paz ao Brasil, mas nunca vi lógica a respeito disso, exceto do ponto de vista dos inúmeros corruptos hoje da situação ou oposição que, até o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, estiveram juntos num governo só. A saber, os integrantes do PT, do PMDB e de outros que até então faziam parte da base aliada do Planalto, mas que agora estão na mira da Operação Lava Jato.

Todavia, as palavras atribuídas a Temer por um internauta nas redes sociais e que, segundo pesquisei no Google, teriam sido ditas realmente pelo presidente numa entrevista lá pelo final de janeiro do corrente ano (clique AQUI para ler a matéria no JB), merecem ser criticamente refletidas. Pois, se o impedimento de um candidato popular na disputa do pleito de 2018 causa questionamentos quanto à alegada legitimidade, visto que Lula vem liderando as pesquisas de opinião, a sua presença nas urnas também será perturbadora para milhões de brasileiros que não o querem novamente no comando da República.

Outrossim, não podemos ignorar que a maioria dos eleitores brasileiros tem um patente desinteresse pela política, ainda que haja militâncias organizadas contra e a favor de Lula fazendo barulho. E, desse modo, ousaria em dizer que grande parte dos cidadãos alfabetizados entre 18 e 70 anos nem compareceria às urnas se o voto não fosse obrigatório para essa faixa etária devido á decepção que quase todos sentem em relação aos candidatos. Logo, estimo que, talvez, mais de 80% (oitenta por cento) toleraria tranquilamente uma eventual impugnação do petista bem a posse do novo governante.

Inegável é que a presença de Lula nas urnas contribui para uma indesejável polarização nada construtiva entre "direita" e "esquerda", o que ajuda a consolidar o extremista Bolsonaro (PSL) no segundo turno das eleições. Já a sua ausência possibilita que algum dos pré-candidatos moderados, como Geraldo Alckmin (PSDB), Marina Silva (REDE) e Ciro Gomes (PDT), possa derrotar o direitista no final de outubro, sendo certo que os votos do petista impugnado não se transfeririam para o seu colega de partido Fernando Haddad (ex-prefeito da cidade de São Paulo) e tão pouco para os dois nomes da esquerda radical: Guilherme Boulos (PSOL) e Manuela D'Ávila (PCdoB). 

Por óbvio que pacificaria o Brasil se Lula, por sua própria vontade, consciente de que já teve dois mandatos na Presidência da República, não vir mais candidato em 2018 e focar, daqui por diante, na defesa dos processos judiciais aos quais responde em liberdade.

Também pacificaria o Brasil Michel Temer renunciar ao cargo que vem ocupando e ser acompanhado pelo senador tucano Aécio Neves (do meu partido), bem como a Lei passar a ser cumprida para todos o corruptos indistintamente com o fim do foro privilegiado.

Pacificaria o Brasil haver mais seriedade nas políticas públicas, quer seja na gestão da saúde, da educação, da segurança e dos transportes que são hoje as maiores demandas que afligem o cidadão comum, além da necessidade de muitos por habitação em inúmeras cidades.

Pacificaria o Brasil uma elevação gradativa do poder aquisitivo do trabalhador através de uma política econômica que volte a ser transparente como no saudoso governo de FHC que, com muito sacrifício, estabilizou a moeda combatendo a inflação.

Pacificaria o Brasil uma reforma política capaz de aumentar o controle do cidadão sobre os mandatos dos governantes e parlamentares que seriam derrubados, mediante pressão popular, através de ato do Chefe de Estado distinto do Chefe de Governo, com a convocação e novas eleições, conforme acontece em muitas democracias sólidas de países parlamentaristas.

Pacificaria o Brasil o cidadão ser tratado com mais dignidade e ter os seus direitos respeitados em todas as esferas estatais e por todos os Poderes da República. Desde um simples atendimento em balcão num órgão público até nos atos praticados pelas autoridades que passariam a dar o exemplo.

Pacificaria o Brasil passarmos a encarar os problemas com os pés no chão, sem alimentarmos ilusões, sem darmos crédito a promessas populistas, sem adiamentos e sem taparmos o sol com a peneira diante da realidade do cotidiano.

Do mais, meus leitores, é tudo conversa fiada esses discursos pró-Lula ou anti-Lula como se o elemento em tela fosse o melhor ou o pior político que o país tem. Pois somos um povo já exaurido de tantos problemas até agora nada resolvidos, roubado há muitas décadas por governantes e empresários ladrões que se apropriam daquilo que pertence a todos nós.

Tenha consciência, Brasil!

domingo, 25 de março de 2018

Palavras ou pedras?



Tradicionalmente hoje, o último domingo antes da Páscoa, é comemorado pela cristandade como sendo o "Domingo de Ramos", quando muitos devotos, cultivando as tradições, participam de algum culto religioso trazendo consigo ramos de palmeiras rememorando a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém montado num burrinho.

No entanto, observo nessa passagem bíblica, mais precisamente no Evangelho de Lucas, uma interessante resposta dada por Jesus aos fariseus que exigiam dele que repreendesse a voz de louvor dos seus discípulos. Vamos ao texto:

"Quando ele já estava perto da descida do monte das Oliveiras, toda a multidão dos discípulos começou a louvar a Deus alegremente, em alta voz, por todos os milagres que tinham visto. Exclamavam: 'Bendito é o rei que vem em nome do Senhor! Paz no céu e glória nas alturas!' Alguns dos fariseus que estavam no meio da multidão disseram a Jesus: 'Mestre, repreende os teus discípulos!' 'Eu lhes digo', respondeu ele, 'se eles se calarem, as pedras clamarão.'" (Lucas 19:37-40; NVI)

Na manhã desta data, eu estava lendo uma entrevista dada pelo Frei Beto ao UOL e achei bem interessante a resposta que ele deu ao jornalista sobre quem teria matado a vereadora do PSOL Marielle Franco e com qual objetivo. O religioso, seguidor da Teologia da Libertação, que não é nenhum investigador policial e nem poderia dar esse tipo de esclarecimento ao repórter (sem agir de maneira leviana se acusasse alguém), aproveitou então para fazer uma sábia aplicação da passagem bíblica em tela:

"Aqueles que se sentem incomodados com as bandeiras que ela encarnava e defendia. Nunca prestaram atenção nestas palavras de Jesus: 'Se calarem as suas vozes, as pedras gritarão'" (Evangelho de Lucas, 19, 38-40). Agora somos todos(as) Marielle." (Veja mais em https://eleicoes.uol.com.br/2018/noticias/2018/03/25/entrevista-frei-betto.htm?cmpid=copiaecola)

A tradução empregada por Frei Beto me pareceu bem interessante e oportuna pois mostra a importância de se dar a palavra ao povo para que clame pelos seus direitos e anseios tal como fazia Marielle em defesa dos negros, das mulheres, dos homossexuais e dos moradores das comunidades carentes do Rio de Janeiro. Pois, embora fosse vereadora num país democrático, ela era a voz de quem até hoje não conquistou o seu essencial direito de expressão por viver em locais dominados pelo tráfico e as milícias, onde o ser humano se torna vulnerável às mais diversas covardias. Inclusive aos abusos que também podem ser cometidos por alguns maus policiais que deveriam combater o crime.

Certo é que, quando se tira do povo a palavra na voz de seus representantes, os representados tendem a clamar e muitas das vezes com "pedras", sendo que a consequência disso nem sempre é positivo para o bem estar de uma sociedade democrática, podendo ou não produzir resultados construtivos. Isto porque nem sempre a mobilização dos que se revoltam é feita objetivamente, embora sempre cause impactos.

Tornando à mensagem do Mestre, creio que Jesus não deva ter tirado do nada aquela resposta que me faz lembrar uma passagem do Antigo Testamento, mais precisamente do profeta Habacuque que viveu na época da reconstrução do Templo de Jerusalém:

"Você tramou a ruína de muitos povos, envergonhando a sua própria casa e pecando contra a sua própria vida. Pois as pedras clamarão da parede, e as vigas responderão do madeiramento contra você. 'Ai daquele que edifica uma cidade com sangue e a estabelece com crime!'" (Habacuque 2:10-12)

Fazendo aqui uma última reflexão, vejo o quanto esse país e suas cidades carecem de justiça social. É urgente que essa casa chamada Brasil, cujas pedras são o seu sofrido povo, seja limpa de tanto crime e do sangue que se derrama pelas ruas. E mais do que nunca há que se usar da palavra para que denunciemos corajosa e continuamente todas as ilicitudes cometidas contra a população ao mesmo tempo em que devemos nos abster de praticar o mal.

Ótima semana a todos!

OBS: Texto originalmente publicado nesta data por mim no blogue da Confraria Teológica Logos e Mythos, sendo que a imagem acima foi extraída de http://sombradoonipotente.blogspot.com.br/2016/03/as-pedras-clamarao.html

sexta-feira, 23 de março de 2018

Enfim, sobrevivi a mais um verão



Nesta semana, mais precisamente no começo da terça-feira (20/03), terminou o verão de 2017/2018 que, desta vez, foi bem chuvoso para nós em Mangaratiba.

Como não gosto do calor, só tenho a agradecer a São Pedro por ter esses dias amenos em que consegui suportar os últimos três meses, principalmente janeiro. Pois raramente tivemos dias muito quentes a ponto deste último verão poder ser considerado como uma estação assemelhada à primavera, conforme escrevi na última postagem de fevereiro (clique AQUI para ler).

Embora com uma frequência geralmente um pouco menor de precipitação do que em dezembro, janeiro e fevereiro, os vinte primeiros dias de março de 2018 não ficaram muito para trás, fazendo jus àquela música do eterno Tom Jobim (1927 — 1994). E, desde o começo da nova estação, a chuva ainda tem continuado de modo que, na data de ontem, fui trabalhar no Centro de Mangaratiba debaixo de um tremendo aguaceiro.

Para confirmar a minha percepção do que foi esse último verão, uma matéria no G1 sobre o tempo na capital estadual (situada bem próxima daqui) informa que foram ao todo 66 dias de chuva na Cidade Maravilhosa assim como a temperatura mais alta registrada teria sido no dia 18 de janeiro alcançando 39,6°C:

"O verão 2018 no Rio se despediu no início da tarde desta terça-feira (20) com números bem diferentes. Em nenhum dos 89 dias do verão tivemos temperatura de 40°C. A temperatura mais alta da estação foi registrada no dia 18 de janeiro: 39,6°C (...) Outra característica da estação foi a chuva. No total, tivemos 66 dias de chuva. No Rio, o mês de fevereiro teve apenas quatro dias sem chuva. Os temporais atingiram a cidade deixando mortos e outras centenas de pessoas desalojadas.O calor, no entanto, esteve 3 graus acima da média durante os dias do verão. Já as noites foram mais frescas: 2,3°C graus abaixo da média." (Extraído de https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/rio-nao-teve-temperatura-de-40c-no-verao-2018-outono-tera-chuva-nos-primeiros-dias.ghtml)

No entanto, é possível que venhamos a ter um resquício de verão em abril. Segundo a mesma reportagem, a previsão do tempo para a região da capital é de pouca precipitação no próximo mês e chuva acima da média em maio e junho, tendência que a região aqui da Costa Verde deve acompanhar geralmente com um pouco mais de umidade e um tiquinho a menos de calor.

Seja como for, prefiro um mês de abril quente do que um janeiro tórrido pois, no outono, já dá para dormir melhor sendo uma das épocas que mais curto. Principalmente quando o frio começa a chegar lá pela segunda metade de maio e começo de junho de modo que se torna para mim a melhor época do ano na qual posso curtir Mangaratiba e o próprio Rio de Janeiro.

Ótimo final de semana a todos!

OBS: Imagem acima extraída do portal EBC, conforme consta em http://www.ebc.com.br/infantil/voce-sabia/2015/03/outono-comeca-e-vai-ate-dia-21-de-junho

A virgindade vista nos tempos atuais com racionalidade



Há quem considere que, nos últimos vinte anos, a virgindade feminina voltou a ser valorizada na sociedade ocidental e muitos especulam que um dos motivos do comportamento possa ser a religião dentro de um novo contexto moral neoconservador. Tratar-se-ia da ideia de apenas fazer sexo só depois da realização formal do casamento, o que valeria tanto para mulheres quanto para homens, a ponto de se encontrar pessoas na faixa etária dos 30 anos que ainda são virgens, ou que já tenham transado mas se comprometeram consigo mesmas a ter novos relacionamentos sexuais somente quando entenderem que chegou o momento apropriado.

No entanto, tenho observado que o motivo da opção pela virgindade pode decorrer da própria liberdade sexual que hoje é melhor experimentada pela mulher das mais variadas formas, sem necessariamente estar relacionada a valores religiosos. E, apesar dos tabus ainda existentes quanto à sexualidade feminina, pode-se dizer que a mulher moderna está se tornando mais decisiva em conhecer o próprio corpo, ter a iniciativa de procurar o parceiro que ela deseja, fazer sexo quando e com quem ela quiser, não ter que se casar para ter um relacionamento sexual, assumir uma eventual homossexualidade ou bissexualidade, ter mais de um parceiro, assistir vídeos eróticos, adquirir brinquedos num sex shop, deixar fluir suas fantasias solitariamente ou num sexo não penetrativo e, simplesmente... não transar com ninguém até que ela queira.

Assim, longe de ser o estereótipo da mulher recatada e reprimida, podemos ter, na atualidade, uma profissional bem sucedida que curta amigos, baladas, viagens, porém decidiu se comprometer com si mesma em só transar com quem realmente sentir alguma coisa de verdade. Ou seja, é a figura da mulher que rejeita a ideia de transar simplesmente por transar ou para agradar o namorado/marido, podendo o comportamento ser adotado também por quem já teve uma ou várias relações sexuais.

Outra questão a ser discutida é sobre qual a idade ideal para alguém ter a sua primeira relação sexual dentro de um ponto de vista racional. E aí, levando em conta de que não existe uma idade certa para deixar de ser virgem, creio que tudo vai depender da maturidade emocional e psicológica da pessoa. E, neste sentido, embora do ponto de vista biológico o corpo humano já se encontre pronto para a sexualidade a partir dos 14 anos, em média tanto para homens quanto para mulheres, a adolescência não me parece ser o melhor momento.

Fato é que, no Brasil, justamente nos últimos 20 anos, a vivência sexual está se tornando cada vez mais precoce a ponto de 28,7% dos adolescentes aqui, entre 13 e 15 anos, iniciarem a vida sexual nesta faixa etária, segundo a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) de 2012, realizada com estudantes pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). E, por mais informações que hoje os rapazes e moças recebam nas suas escolas sobre como se prevenir de uma gravidez precoce ou do contágio de uma DST, há pouca consciência quanto à questão afetiva que deve ser a "motivação natural" para duas pessoas terem um contato sexual e íntimo. É o que explica o ginecologista e especialista em sexualidade Marino Pravatto Júnior, citado numa revista feminina:

"A gravidez indesejada é uma dessas possíveis consequências. Doenças sexualmente transmissíveis, outras. Além disso, a motivação natural para a primeira relação sexual deve um encontro afetivo. Não falo em idealização, mas de afeição, de atração física, de ideias e de valores, movidas por um sentimento que leva até o ato sexual." (destaquei)

Por sua vez, para a psicóloga e especialista em sexualidade Tatiana Presser, também citada na matéria, também inexistiria uma idade certa para transar pela primeira vez. Porém, a terapeuta não aconselha que as mulheres se casem virgens:

"Acho que a mulher tem que ter maturidade para isso, então a adolescência não é o melhor momento. Também não acredito que seja saudável casar virgem. Digamos que você tem que ‘experimentar antes de comprar"

Certo é que essa visão dos terapeutas, mesmo liberal, vai se contrapor ao comportamento ainda predominante em que a adolescente considera importante perder a virgindade como uma necessidade de auto-afirmação entre suas colegas da escola ou da vizinhança. É algo que tem se desenvolvido no meio social sem que haja uma consciência acerca da própria vontade.

Finalmente, há que se escrever um pouco sobre o tema quase ignorado da virgindade masculina, mas que carece muito de ser repensada sem os valores de uma sociedade machista. Aliás, até a sua conceituação pode se tornar discutível porque os homens não têm hímen e o sexo não depende do ato penetrativo para acontecer, podendo a pessoa chegar ao orgasmo na companhia da outra de várias formas.

Entretanto, se para muitas jovens costuma ser constrangedor assumir diante das amigas que ainda é virgem, mais embaraçoso se torna para um rapaz quando atinge a idade de seus 19 ou 20 anos e não teve uma experiência sexual dentro dos padrões convencionais com alguém do sexo oposto. E como para livrar-se do rótulo de ser "virgem" gera uma incômoda ansiedade, muitos quando vão ter a primeira relação sexual acham que, naquele momento, precisam de uma ereção forte e deslumbrante a exemplo dos atores de vídeos pornográficos, o que acaba sendo mais um equívoco. Além do mais, por não haver tanta compensação moral na sociedade ao homem por permanecer mais tempo em sua condição de virgem é que a maioria dos rapazes não costuma desperdiçar a chance de conseguir a primeira experiência, mesmo sendo algo meramente oportunista sem amor.

Ora, da mesma maneira que com a mulher o ideal é ter sua relação sexual num contexto de afetividade, o mesmo não poderia valer para o homem? E, neste sentido, se o momento ocorre com a namorada, ao invés de ser uma profissional do sexo ou com uma mulher experiente com quem ele terá um encontro casual, a compreensão e o respeito deverão prevalecer ajudando a superar quaisquer dificuldades no relacionamento íntimo, quer seja de um ou de ambos, sem a necessidade de mentir para o outro dizendo haver transado várias vezes antes.




Quanto aos primeiros atos sexuais entre um homem e uma mulher, ainda mais quando um deles é virgem, talvez não devam ser invasivos. As primeiras experiências poderiam ser através de carícias mútuas, abrindo-se a oportunidade para um conhecer o corpo do outro na descoberta das diversas zonas erógenas, partilhando onde e como gostam de ser prazerosamente tocados. Sempre num contexto de afetividade e de intimidade de maneira que vale a pena a espera pelo momento ideal para o sexo assim como para a relação penetrativa.

quinta-feira, 22 de março de 2018

Será que ainda tem gente acima da Lei?!




Enquanto alguns petistas comemoram triunfantemente que, com a decisão de hoje no STF, Lula não poderá ser preso até o final do julgamento do habeas corpus em curso na mais alta Corte do país, outras pessoas decepcionaram-se com o tratamento dado ao ex-presidente como se o mesmo não fosse um ser igual a todos os demais brasileiros.

Contrariando o entendimento firmado antes pelo Tribunal, de que réus condenados em segunda instância já poderiam ser presos, eis que os nossos ministros, por 7 votos a 4, excepcionalmente admitiram julgar o habeas corpus que tem por objetivo impedir a prisão de Lula antes do trânsito em julgado na sua ação criminal. Pois, como se sabe, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), de segunda instância, havia o réu a 12 anos e 1 mês em regime fechado pela propina recebida da empreiteira OAS na forma de um apartamento triplex no Guarujá/SP. Propina essa que foi oriunda de um esquema de corrupção na Petrobras em que o dinheiro saiu de uma conta da empresa que abastecia o PT em troca de favorecimento em contratos com a estatal.

Além do Plenário do STF, por maioria, haver admitido julgar esse habeas corpus, eis que uma decisão do colegiado impediu a prisão de Lula até o dia 04/04. Isto porque, depois de transcorrido mais de quatro horas da sessão, como parte dos julgadores tinha compromissos e necessitava viajar, resolveu-se apreciar o mérito (a concessão ou não do habeas corpus) para depois da Páscoa. E então, devido ao adiamento, o advogado José Roberto Batochio, integrante da defesa do ex-presidente, oportunamente pediu a concessão de uma "liminar" (decisão provisória) a fim de evitar a prisão do cliente antes da conclusão desse julgamento. Por 6 votos a 5, a liminar foi concedida.

Ao saber do resultado, fiquei refletindo como que alguns políticos poderosos continuam acima da Lei neste país apesar da Lava Jato e de tantas prisões que vêm ocorrendo. Atualmente, o STF é o Tribunal que mais vem se comportando complacentemente com a impunidade no Brasil e, graças ao ministro Gilmar Mendes, vários bandidos da política e empresários inescrupulosos conseguiram escapar da prisão cautelar após haverem sido recolhidos pela Polícia Federal em cumprimento à ordem de um Juízo de instância inferior.

Apesar do habeas corpus do Lula não ter repercussão geral, pois se julgado procedente, terá efeito somente para o caso do ex-presidente, temo que a decisão irá beneficiar inúmeros outros réus na Lava Jato criando um perigoso precedente. E, neste caso, poderemos ver muitos criminosos hoje atrás das grades retornando à vida normal em sociedade até que os seus recursos sejam definitivamente julgados nas instâncias superiores da Justiça daqui sabe-se lá quantos anos.

Por outro lado, tento também ver o lado positivo do que poderá acontecer em relação às eleições. Pois se Lula, ao invés de ser preso após julgamento dos seus embargos declaratórios no TRF-4, continuar aguardando em liberdade a apreciação de todos os seus recursos, já não mais poderá apelar para a vitimização diante da opinião pública. Deste modo, ao invés do eleitor de mente sugestionável ficar a favor do ex-presidente no período de campanha política, terá melhores chances de conscientizar-se de que a verdadeira vítima ainda é a população brasileira, a qual continua sem acesso à saúde, à educação, a um meio de transporte digno, à segurança e à própria Justiça.

Votaram para impedir a prisão de Lula antes do dia 04 de abril os ministros Rosa Weber, Dias Toffoli, Ricardo Lewandowski, Gilmar Mendes, Marco Aurélio Mello e Celso de Mello. Em favor de permitir, votaram ministros Edson Fachin, Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso, Luiz Fux e Cármen Lúcia.

segunda-feira, 19 de março de 2018

Precisamos nos importar mais com os desafios da água!



Iniciou-se hoje em Brasília o Fórum Mundial da Água que é o maior evento do planeta sobre os recursos hídricos. É algo que reúne representantes de 175 países, dentre cientistas, governantes, parlamentares, juízes, pesquisadores e demais cidadãos interessados, sendo também uma grande oportunidade para acadêmicos, ativistas, formadores de opinião pública, professores governantes, legisladores e gestores do setor privados poderem se atualizar. 

Como se sabe, a água hoje em dia trata-se de uma importante temática tendo em vista os desafios das mudanças climáticas induzidas pelo ser humano, o rápido crescimento populacional e urbano, bem como a deterioração da qualidade da água. Cada vez mais tem aumentado a frequência e a intensidade dos furacões, deixando rastros de destruição como se tem visto em regiões dos EUA, Caribe, Filipinas e outros países mais. Tudo por causa das emissões excessivas e acumuladas de CO² que causam o efeito estufa.

Embora o Brasil esteja sendo o anfitrião desse Fórum (trata-se de sua oitava edição) e não soframos ainda com os grandes furacões, temos muito do que nos envergonhar considerando os recentes desastres ambientais ocorridos nesta década: o de Mariana (MG), em 2015, e o de Barcarena (PA), ocorrido há alguns dias atrás, no início deste mês de março. E uma das causas disso é que a fiscalização dos órgãos ambientais não tem sido satisfatória quanto aos empreendedores. Tanto é que hoje, durante a mesa de debates "Conectando Água e Clima", o professor da Universidade Federal de Alagoas Luiz Carlos Molion oportunamente questionou o motivo das grandes empresas "trabalharem de forma correta em seus países", e quando instaladas no Brasil, "não trabalharem corretamente", fazendo uma referência ao vazamento de depósitos da refinaria norueguesa Hydro, que contaminou rios no Pará.

Durante a sessão de abertura do evento, Michel Temer chegou a discursar. Na ocasião, o presidente informou que o seu governo trabalha em um projeto de lei cujo objetivo seria o de "modernizar" o marco regulatório do saneamento básico, mas não detalhou como seria a proposta e nem tão pouco informou quando pretende encaminhá-la ao Congresso Nacional.

Para o enfrentamento dos problemas relacionados á água, a UNESCO tem proposto soluções baseadas na natureza e que podem ter um papel importante na melhoria do abastecimento e na redução do impacto dos desastres naturais. O Relatório Mundial das Nações Unidas sobre Desenvolvimento dos Recursos Hídricos, apresentado pela instituição, defende que reservatórios, canais de irrigação e estações de tratamento de água não sejam os únicos instrumentos de gestão hídrica à disposição. Para estes mesmos fins, é recomenda a chamada "infraestrutura verde", ou seja, soluções baseadas na natureza (SbN).

Em outras palavras as sugestões da UNESCO para ampliar a qualidade, quantidade e o acesso a água consistiriam na extensão da cobertura vegetal (para pastagens, zonas úmidas e floresta), a recomposição de solos, jardins suspensos e, principalmente, a proteção das bacias hidrográficas. E tal proposta relaciona-se com a política de incentivos a serviços ambientais a exemplo do que se vem buscando em várias partes do mundo, inclusive no Brasil, tanto em ambientes rurais quanto urbanos. 

No relatório das Nações Unidas, um dos casos mencionados seria o da China em que o país asiático iniciou um projeto chamado "Cidade Esponja" com o intuito de melhorar a disponibilidade de água nos aglomerados urbanos. De acordo com o documento, trata-se de "reciclar 70% da água da chuva por meio de uma maior permeação do solo, por retenção e armazenamento, e pela purificação da água e restauração de zonas úmidas adjacentes", sendo que, até 2020, a previsão da Unesco é de que serão construídas 16 cidades-esponjas pelos chineses.

Com isso, podemos dizer que os debates no evento servirão para que a comunidade global possa repensar os seus paradigmas ecológicos em que as novas soluções precisam ser mais baseadas na natureza através das "infraestruturas verdes" que são subaproveitadas. E um dos exemplos aplicáveis desse novo conceito seria quanto à captação pluvial nas cidades. Ou seja, ao invés de coletarmos a água da chuva diretamente dos telhados, passaríamos a usar mais os chamados "telhados verdes", colocando plantas nos telhados, o que traria como benefício a redução das ilhas de calor nas áreas urbanas.

A programação do Fórum vai até sexta-feira (23/03) e a previsão é de cerca de 40 mil pessoas passem por Brasília. E, como já disse, cuida-se. portanto, de uma grande oportunidade para acadêmicos, ativistas, formadores de opinião, professores governantes, legisladores e gestores do setor privados poderem se atualizar

Vamos acompanhar!

sábado, 17 de março de 2018

Nossa participação na política precisa ser sempre medida



Muito se fala na importância do cidadão interessar-se mais pela política e dela participar por meio de suas opiniões, do comparecimento às urnas nos dias de votação, da sua presença em reuniões de interesse social, dentre outras oportunidades. Porém, não vejo ninguém promovendo reflexões acerca de qual deve ser a medida dessa participação.

Meu histórico de vida chega a ser o contrário da maioria das pessoas neste país pois confesso que tenho participado até demais da política com a qual mantenho um contato direto desde os meus tempos de movimento estudantil na cidade mineira de Juiz de Fora, antes da metade dos anos 90. Foi quando disputei uma chapa para o grêmio estudantil do colégio onde estudava e integrei os quadros da União Juizforana dos Estudantes Secundaristas (UJES) como diretor de imprensa da entidade.

Recordo que as minhas atividades não se restringiram apenas às causas estudantis. Além de haver montado dezenas de grêmios nas escolas com o intuito de organizar depois uma chapa para ganhar a UJES, acabei me metendo também nas atividades partidárias a ponto de começar a atuar na campanha de candidatos já no ano de 1994. Fui também numa manifestação em Brasília escondido da família, sendo ainda menor de idade. E até numa greve de motoristas de ônibus me meti em defesa da bandeira do passe livre.

Posso dizer que, naqueles tempos, se aprendi muita coisa com a experiência, deixei de lado outros aprendizados nas aulas dos dois últimos anos do então 2º grau, hoje chamado de ensino médio. E, apesar de ter passado no vestibular, poderia ter focado melhor nos estudos, o que deve ser a principal dedicação de todos os alunos. Quer seja na educação básica ou numa instituição de ensino superior.

Hoje não mudaria nada no meu passado porque considero tudo o quanto fiz um aprendizado. Porém, caso tivesse um filho de seus 17 anos (poderia tranquilamente ter pois sou quase um coroa com 41 anos), preferiria que ele focasse nos estudos, discutisse política mais dentro de casa, passasse nos primeiros lugares do ENEN e depois se esforçasse ao máximo para se formar em algum curso de graduação, para então virar um profissional de sucesso e quem sabe ser aprovado num excelente concurso público e ter estabilidade no trabalho com uma satisfatória remuneração.

Todavia, cada ser humano segue o rumo que o seu coração e suas vontades desejam ainda que nem sempre sejamos totalmente livres para escolhermos. Erramos e acertamos na nossa caminhada, sendo que nem sempre podemos evitar os tropeços por mais conscientes que estejamos. E, dificilmente, vamos parar de errar.

Por outro lado, entendo que algumas pessoas são aptas para se envolverem mais com política do que outras pois as suas ideias e ações contribuem para o melhoramento do coletivo. Visto que não podemos pensar só em nós mesmos, um pouco de dedicação precisamos ter a fim de tirar o Brasil desse lamaçal podre de corrupção. E aí homens e mulheres precisam em algum momento assumir posições, seja participando de algum conselho gestor na sua cidade, na direção de alguma ONG, sindicato ou associação, na ocupação de um cargo público de confiança e até se candidatando nas eleições.

É nessas horas que precisamos antes de mais nada conhecer a nós mesmos para então nos disponibilizarmos a receber alguma dose de poder. Devemos fazer uma sondagem ética, emocional e comportamental para que não venhamos a ser prejudiciais à marcha evolutiva da sociedade.

Ora, jamais podemos ignorar que os maiores assediadores da humanidade estiveram muitas das vezes dentro da política. A compulsão pelo poder, que é uma vaidade, faz com que alguém acabe cometendo crimes, negue direitos, persiga pessoas e faça as piores injustiças. Sem no esquecermos de que, junto com alguns acertos, podem ocorrer gravíssimos erros de difícil reparação que, por sua vez, se propagarão durante muitos anos e até décadas.

Penso que o ser humano maduro saberá auto-limitar a sua participação nas diversas áreas da política. Seja para não prejudicar a sociedade com decisões erradas, nem atrapalhar a sua carreira profissional e/ou afetar o convívio familiar. Aliás, quanto mais equilibrada for a atuação de alguém em termos de esforços, também mais sereno será o seu trabalho à frente da coisa pública.

Para finalizar, compartilho aqui um pouco das sinceras confissões feitas a mim por homens e mulheres que um dia já ocuparam cargos eletivos ou se tornaram ativistas de alguma causa. A grande maioria se decepcionou com o meio político e alguns mais conscientes tiveram uma desilusão consigo mesmos a ponto de reconhecerem que em nada conseguiram melhorar a vida da sociedade, tendo feito mais mal do que bem.

Que neste ano de eleições não nos falte sabedoria, seja para votarmos em alguém digno de confiança ou decidirmos sobre uma eventual candidatura a cargos públicos. Pois, afinal, trata-se de algo muito sério e da mais alta responsabilidade.

sexta-feira, 16 de março de 2018

A perda de um amigo



Na tarde desta sexta-feira (16/03), ao retornar da rua com Núbia, recebi uma triste notícias mas que já aguardava que não demorasse muito a acontecer. Assim que voltamos para casa, minha cunhada Sandra veio logo nos contar que o nosso gato Tigrão (foto) havia morrido pela manhã.

É a primeira vez que perco um animal por motivo de velhice, pois os outros bichos que tive geralmente sofreram algum acidente ou ficaram doentes. Ou então, foram doados para outra família cuidar deles.

No caso do Tigrão, esse gato tem uma longa história que começou há mais de 17 anos quando Núbia o encontrou numa caçamba de lixo em Niterói, cidade onde morava em 2001. Foi o que ela contou na postagem publicada em seu blogue dia 02/12 do ano passado:

"Achei esse gato ao lado de uma caçamba de lixo. Ele miava muito, tinha os olhinhos fechados e estava ainda com o umbigo. Levei Tigrão para a casa onde na época morava com meus pais e mais alguns gatos e um cachorro no bairro Fonseca, em Niterói, e fiquei cuidando dele. Dei banho e leite misturado com água com a ajuda do conta gotas." (Extraído de https://cantinhodanubia.wordpress.com/2017/12/02/vigesimo-oitavo-dia/)

Na época, a gente já namorava fazia uns dois anos. Por isso, o animal não veio morar comigo de imediato. Apenas passou uns dias numa casa que eu alugava em Amparo, distrito de Nova Friburgo. Aliás, isto ocorreu logo depois que ela achou o felino que ainda era um filhotinho.

Até que eu e Núbia nos casássemos em março de 2006, sua família mudou-se algumas vezes de residência dentro de Niterói, levando com eles o Tigrão que sempre se manteve apegado aos donos. Meu sogro, seu Francisco, faleceu em meados de 2002 e chegou a conviver com o gato por mais de um ano. Só depois, em 2011, é que a mãe de Núbia, dona Nelma, e a Sandra vieram para o bairro Kosmos, na região de Campo Grande, Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro. 

Nos tempos de moradia em Niterói, novamente o Tigrão quase morreu. Só que ao invés de ser triturado por um caminhão de lixo, o gato comeu algo envenenado. É o que Núbia também relatou no blogue dela ano passado:

"Certo dia, quando saí bem cedo para malhar na academia, encontrei Tigrão evacuando verde e tendo cólicas fortíssimas. Mandei minha irmã ligar para o veterinário dele, o qual chegou em vinte minutos vindo de um bairro longe. E, mostrando-se muito preocupado com  quadro, falou que era caso de envenenamento por chumbinho, sugerindo que rezassemos. Pois, segundo suas palavras, “só um milagre” salvaria o gato. Após três dias de internação, nossas orações para São Francisco foram ouvidas. Tigrão voltou para casa saudável e cheio de amor para dar. E eu com a conta da internação para pagar…"

Finalmente, no final de 2011, sendo Tigrão já um animal idoso, foi que ele chegou a Muriqui, sua última residência. Faltando menos de um ano para que eu e Núbia viéssemos para cá, dona Nelma e Sandra adiantaram-se na mudança após a curta passagem delas por Campo Grande. E, nesses seis anos e pouco, o bichano teve o período mais tranquilo de sua vida pois já nem ousava sair de dentro do quintal. Aliás, ele ficava quase sempre próximo à casa e costumava dormir na varanda da parte de trás. Pela manhã, afastava-se um pouco indo instintivamente para um local descampado a fim de apanhar sol.


Pouco antes de vir morar em Muriqui, na segunda metade de agosto de 2012, trouxe comigo a gata Sofia que já convivia comigo e com Núbia desde os tempos de Nova Friburgo, mais precisamente desde o Natal de 2007. No começo, Tigrão e ela se estranharam, rosnando um para o outro, tendo ele sido várias vezes atacado pela hostil nova moradora até que ambos se acostumaram.

Nos últimos meses, dava para notar que Tigrão estava mesmo perdendo as suas forças. Como um humano velhinho de seus noventa e tantos anos, ele ficava bem quietinho num canto qualquer escolhido, quase imóvel. Foi como minha esposa registrou em dezembro:

"Meu gato já não tem a mesma vitalidade da juventude. Não pula mais de lugares altos (nem baixos). Não corre e anda com as pernas trêmulas (...) Quando damos carninha, temos que picar em pedaços bem pequenininhos pois hoje ele não tem mais a mesma força para mastigar e já perdeu uma presa."

Nas últimas semanas, notamos um adoecimento normal da idade e já não estava fácil fazê-lo comer. Minha cunhada chegou a levar Tigrão a uma veterinária, a qual indicou um tratamento por meio de suplementos. Ela chegou a comprar umas vitaminas, mas Núbia achou melhor que suspendesse a medicação e deixasse o amigo partir naturalmente sem ficar prolongando o sofrimento dele.

Quando recebemos a notícia de sua passagem nesta sexta, não esperávamos que seria logo hoje, mas já sentíamos que o momento dele estava próximo e que não comemoraríamos outro Natal com Tigrão. Talvez só a Páscoa, os nossos aniversários em abril e uns acréscimos de meses, mas ele se foi. E, quando chegamos em casa, Sandra já o tinha enterrado.

De qualquer modo, considerei que a vida de Tigrão foi feliz. Pois, além de Núbia haver salvado o gato pelo menos duas vezes, ela lhe proporcionou afeto, abrigo e alimento. E eu, por mais de cinco anos e meio, tive a honra de sua companhia, em que ele se aproximava de mim estava no lado de fora da casa para contemplar a natureza do quintal. E ás vezes me chamava junto à porta dos fundos com seus insistentes miados quando queria comida ou simplesmente um pouco de atenção.

Agora descanse, Tigrão! E muito obrigado pelos anos de seu companheirismo.

Deputada defende que os mandatos dos parlamentares possam ser coletivos



Durante o mês de novembro do ano passado, foi apresentada pela deputada federal Renata Abreu (Pode-SP) a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) n.º 379/17, a qual, se aprovada, permitirá a existência de mandato coletivo para os cargos do Poder Legislativo (vereador, deputados estadual, distrital e federal e senador), conforme dispuser a Lei. Cuida-se, pois de acrescentar o parágrafo 12 ao artigo 14 da Carta Magna cuja redação defendida é a seguinte: 

"Os mandatos, no âmbito do Poder Legislativo poderão ser individuais ou coletivos, na forma da lei."

Em suma, podemos dizer que a proposta permite que vários componentes venham a compartilhar o mesmo mandato numa casa legislativa. E para melhor fundamentar a ideia, a parlamentar menciona na sua justificação uma experiência no município goiano de Alto Paraíso, cidade que é destino turístico (e de moradia) de muitos cidadãos "alternativos". Foi lá que cinco pessoas "assumiram" uma vaga de vereador na Câmara Municipal, tendo um dos participantes do grupo ficado como o representante legal e apareceu como candidato nas urnas, mas, na prática, dividiu as tarefas do cargo com os demais participantes:

"Trata-se de adotar experiência exitosa de Alto Paraíso de Goiás/GO, que busca superar a velha política. A atuação de um grupo em mandato coletivo fortalece a cidadania e reforça a atuação conjunta de entidades do Município goiano em busca de um bem comum por meio de atividades educativas, ambientais, culturais ou sociais."

Confesso que sou simpático à proposta da deputada que, como ela bem expôs no texto da proposição, "revela-se uma alternativa para reforçar a participação popular e expandir o conceito de representação política". Pois, de fato, vivemos há tempos uma grave crise de representação no país sendo um dos motivos, a meu ver, o enfraquecimento institucional dos nossos partidos políticos. 

Inegavelmente as nossas eleições são muito mais focadas na pessoa dos candidatos, os quais ganham visibilidade através de um trabalho de marketing pessoal antes e durante o período de campanha política. Logo, se for permitido o mandato coletivo, não só haverá mais participação da sociedade como também um maior controle e sensatez em relação às decisões tomadas.

Todavia, entendo que o melhor caminho continua sendo o do fortalecimento partidário através do fim das coligações, das "janelas" e da possibilidade de perda de mandato caso o parlamentar não cumpra com as determinações de sua legenda violando as normas estatutárias. Pois, infelizmente, quando elegemos vereadores, deputados ou senadores, perdemos o controle sobre as suas ações, os quais, com frequência, passam a tomar decisões políticas conforme os próprios interesses a ponto de muitos deles votarem até contra às orientações da bancada.

Certamente que a proposta da deputada não impede o desejado fortalecimento partidário. Aliás, em nada o altera visto que apenas permite às pessoas integrantes do mesmo mandato coletivo alternarem-se nos trabalhos ou desempenharem algumas tarefas conjuntamente. E, se refletirmos bem, a ideia pode dispensar ou reduzir a necessidade dos parlamentares nomearem esse bando de assessores que costumam ter nos seus respectivos gabinetes.

Seja como for, o assunto precisa ser bem debatido e explicado para a população. Inclusive quanto à remuneração dos integrantes do mandato coletivo que, em tal caso, entendo que precisará ser dividida entre todos os participantes igualmente, sem qualquer acréscimo para os cofres públicos. E aí teremos que ficar de olho nas leis que serão feitas. Principalmente nos municípios...

Atualmente, a proposição encontra-se na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC) da Câmara Federal, na qual tramita desde 27/11, e que irá estudar a sua admissibilidade. Caso aprovada, ainda será examinada por uma comissão especial criada exclusivamente para analisar o mérito da PEC, seguindo depois para votação em dois turnos no Plenário.

Vamos acompanhar!