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quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Mesmo sem muito a comemorar nesta data, não podemos perder as esperanças



Olá, meus amigos. Hoje é o nosso Independence Day. Porém, quero fazer aqui algumas reflexões aproveitando que, na data de ontem, uma amiga postou algo bem interessante no sítio de relacionamentos Facebook, dizendo:

"Que véspera de Independência do Brasil está sendo essa?
Os dias estão assim!
Malas com prêmios de mega sena, o Brasil passeando em todos os artigos do Código Penal em todas as esferas de governo e dos poderes, ignorância, esperteza de criminosos travestidos de empresários e políticos, delatores voluntários e outros com "alienação mental" de conveniência e toda população desnorteada sem sequer identificar que temos responsabilidade sobre isso tudo. 
Estamos partidos em muitos pedaços, sem unidade e o pior, estamos atacando as consequências e não as causas. 
A violência das ruas desvia nosso olhar mais apurado ao caos nacional, por estar cotidianamente nos matando, e esquecemos de que a regra e a conduta estabelecida para uma população são frutos dos efeitos piramidais." (Leila Castro, em 06/09/2017)

Caminhando pelas vias físicas e virtuais do país, confesso não encontrar nenhum sentimento de ânimo entre a nossa sofrida população. Ainda que as últimas notícias informem que a economia brasileira está em recuperação e o crescimento, aos poucos, sendo retomado, percebe-se claramente que o cidadão comum já desconsidera em seu inconsciente aquilo que não lhe trará qualquer proveito prático. Até porque todo o "desenvolvimento" experimentado até hoje, nesses quase 200 anos de emancipação política formal, atendeu mais às necessidades interesseiras de uma minoria do que do coletivo.

Faltando pouco mais de um ano para as próximas eleições presidenciais, o nosso povo não tem um nome para votar com esperança. Até o momento, Lula continua em primeiro colocado nas pesquisas porque não há outro pré-candidato capaz de representar com credibilidade o ideal de uma gestão justa. E vejo que todas essas notícias sobre corrupção que circulam na mídia, gerando decepções em cima de decepções, criam um ambiente político até certo ponto desfavorável para a construção de um "salvador da pátria".

Considero até bom que o povo fique descrente dos falsos messias que batem à nossa porta vestidos em pele de ovelha, como houve em 1989 com o então presidenciável Fernando Collor de Mello e, 13 anos depois, com o Lula. Porém, preocupa-me o fato das instituições republicanas irem perdendo cada vez mais o valor e a confiança que deveriam ter. Ontem mesmo, um homem de seus cinquenta e tantos anos assim me falou quando estive de passagem pela localidade de Itacuruçá: "não voto mais em ninguém".

Refletindo sobre o que a amiga do Face bem colocou, realmente o povo brasileiro peca por combater as consequências ao invés das causas. Pois não temos uma compreensão amadurecida da política e nos tornamos reféns das opções que a cada ano par têm sido postas pelos partidos políticos nas eleições majoritárias. E, ao invés de procurarmos quem seria o melhor gestor para governar os nossos municípios, estados e o país, contentamo-nos com as publicações feitas pelos institutos de pesquisa, financiadas sabe-se lá por quem.

Além das palavras que citei, minha amiga exclamou que possui esperança "em ver essa pirâmide ruir" e creio que, apesar de tantas desilusões, tal sentimento ainda existe dentro de nós. E aí cito as palavras bíblicas atribuídas ao profeta Jeremias após a destruição de Jerusalém pelo rei babilônico Nabucodonosor:

"Quero trazer à memória 
o que me pode dar esperança" 
(Lamentações 3:21; ARA)

Pois bem. Já que é para despertar a nossa lembrança (e os escritores israelitas da Bíblia faziam isso muito bem recordando-se dos prodígios do Êxodo e da conquista vitoriosa de Canaã), venho lembrar então de alguns episódios na História pátria que podem nos despertar o orgulho de ainda sermos brasileiros:

1) Inconfidência Mineira (1789): Quando a Coroa instituiu a cobrança da "derrama" na região de Minas Gerais, a qual foi uma taxação compulsória em que a população deveria completar o que faltasse da cota imposta por lei de 100 arrobas de ouro (1.500 kg) anuais, exigindo também o pagamento do quinto (20% do ouro e da quantidade de escravos), proprietários rurais, intelectuais, clérigos e militares uniram-se para conspirar contra a dominação portuguesa. E observem que hoje o povo brasileiro paga de tributos bem mais do que aquele percentual...

2) Independência (1822): Apesar de muitos não darem valor algum ao "Grito do Ipiranga", o qual de fato foi uma invenção do pintor Pedro Américo, jamais podemos esquecer que a nossa Independência não foi lá tão pacífica como se pensa. Em províncias das atuais regiões Norte e Nordeste, bem como na Cisplatina (hoje o Uruguai), o povo pegou em armas para expulsar os colonizadores. E as guerras duraram de 1822 até 1825. Tanto é que, na Bahia, os festejos dessa época são mesmo comemorados no dia 02 de Julho, data em que o exército imperial adentrou em Salvador no ano de 1823.

3) Revolução de 1930: Tratou-se de um vitorioso movimento armado, liderado pelos estados de Minas Gerais, Paraíba e Rio Grande do Sul, que pôs fim ao governo das oligarquias rurais paulistas e mineiras, acabando com a "política do café-com-leite" da República Velha (1889-1930). Não se conformando com os resultados das eleições fraudadas de 1º de março de 1930, o povo conduziu Getúlio Vargas ao Palácio do Catete, inaugurando aí uma nova fase republicana onde importantes conquistas sociais vieram a ser alcançadas, entre elas as nossas leis trabalhistas.

4) Diretas Já (1983 - 1984): Sofrendo duas décadas de repressão política imposta pelo regime militar, mais de um milhão e meio de pessoas foram às ruas em 16/04/84, querendo votar para presidente. Foram vários comícios e manifestações nos quais ainda havia aquilo que hoje sentimos falta no meio social: a existência de uma massa crítica.

Concluo, meus amigos, que a liberdade que hoje precisamos conquistar talvez não se encontre fora de nós, mas dentro. Pois, da mesma maneira como os antigos israelitas, quando caminharam pelo deserto em busca da Terra Prometida, não tiraram dentro de si a escravidão egípcia, nós, brasileiros, também permanecemos dependentes dos vícios comodistas e conformistas perpetuados pelos grupos dominantes, os quais sucederam os colonizadores portugueses. E aí vejo a importância de mudarmos urgentemente a nossa mentalidade, estabelecendo um comportamento ativo e transformador no nosso cotidiano. 

Que não nos falte o senso crítico e nem a auto-crítica.

Ótimo feriado a todos!

10 comentários:

  1. Não tenho capacidade ao nível de conhecimento para comentar os seus textos que considero muito bem escritos. Mas tenho capacidade para lhe dizer que temos saudades dos seus comentários lá no nosso blogue. Apareça
    .
    Beijinho

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    1. Olá, Flor.

      Obrigado por sua visita e comentários. Assim que puder, retribuirei.

      Carinhoso abraço

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  2. " ...nesses quase 200 anos de emancipação política formal, atendeu mais às necessidades interesseiras de uma minoria do que do coletivo".(Rodrigo).

    Disse tudo, e disse bem, caro confrade. A Indigesta "Reforma Política" que está sendo armada no Gran Circo de Brasília é mais uma etapa vergonhosa da infindável Novela "Casa Grande e Senzala", iniciada há 200 anos.

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    1. Boa tarde, Levi.

      Inegavelmente, esse Distritao, a meu ver muito pior do que o fundo de financiamento bilionário, constitui o arranjo criado para que atuais parlamentares envolvidos com as investigações da Lava-Jato consigam se reeleger e, deste modo, continuarem fazendo do cargo um habeas corpus, já que a morosidade do STF é absurda.

      Se o fundo de financiamento não passar com este valor astronômico, certamente eles aprovam o Distritao.

      É preciso conscientizar a sociedade para não reeleger mais esses bandidos!

      Ótimo feriado, amigo!

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  3. Disse tudo sem errar uma vírgula, dando ênfase ao fato de que no passado o povo brasileiro fez cumprir com muita garra parte do Hino da Independência que dizia: "Ou ficar a Pátria livre ou morrer pelo Brasil".

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    1. Boa noite, amigo.

      Creio que o povo brasileiro precisa desenvolver o seu protagonismo. Infelizmente, a nação terceiriza muito as suas escolhas. É importante revermos isso.

      Forte abraço

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  4. Desculpe, comentei o post de baixo baseada neste. :)
    O nosso dia, é a 5 de Outubro.

    Bjos
    Bom dia

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    1. Sim. É o Tratado de Zamora.

      Bom dia, querida.

      Obrigado mais uma vez pelos comentários.

      Beijos

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  5. Olá, Rodrigo!

    Lendo esse seu texto, chego à conclusão que todo o povo quer ser independente do descobridor/colonizador, nem que isso seja para pior. Não estou afirmando k foi o caso do Brasil, mas de outros países, foi sim.
    Vocês estão expetantes. Uns dizem que as "coisas" estão melhorando, e outros afirmam precisamente o contrário. São os esquerdóides de serviço (rs). Os brasileiros estão mto desunidos e isso pode ser um sinal de que talvez um regime militar tenha que vos fazer "unir".

    Apenas uma retificação na afirmação da Larissa e tb na sua resposta. O tratado de Zamora foi em 1143 e, de facto, Portugal que ainda não se chamava Portugal, se tornou independente do reino de Leão e Castela. Esse tratado foi assinado entre Afonso Henriques, que viria a ser o 1º rei de Portugal, e seu primo Afonso, que viria a ser rei de Espanha com o título de Afonso VII. Todavia para que a independência de Portugal (Condado Portucalense/Portucale) fosse reconhecida era preciso a aprovação do Papa, através de Bula, o que veio a acontecer em 1179 com a Bula Manifestis Probatum.

    O 05 de outubro nada tem a ver com o tratado de Zamora. O 05 de outubro de 1910 instituiu a República Portuguesa e destituiu a Monarquia Portuguesa, sendo D. Manuel II, o último rei de Portugal.

    De 1143 a 1910 distam 767 anos, portanto, sete séculos e 67 dias.

    Abraços e dias felizes.

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    1. Olá, CÉU.

      Bem esclarecedora a sua explicação é acho que muitos fora de seu país devem confundir as datas da Proclamação da República com a Independência nos tempos ainda dá Idade Média.

      No Brasil, temos hoje mais tempo de República do que de Monarquia, sem considerar aí o período anterior à Independência. Porém, reconheço que nenhum governo republicano que passou aqui teve duração maior que o do Imperador D. Pedro II.

      Não vejo possibilidade de um regime militar unur o Brasil. Um governante militar, eleito pelo povo e que respeite a Constituição, talvez sim. Mas não poderia ser o ex-capitao Jair Bolsonaro que é um dos presidenciáveis para o pleito de 2018.

      Hoje o que falta ao brasileiro é ter um projeto de nação, ter um rumo sobre o que o povo quer para si. Infelizmente, não existe essa ideia entre a maior parte da população e os que aqui saem em defesa de um regime militar, estariam atestando a incapacidade de contribuir democraticamente com a gestão da coisa pública.

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