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domingo, 26 de fevereiro de 2017

Rir para não chorar

Inacreditável como somos capazes de humorizar a própria tragédia. Tanto na política quanto na economia, assim como nos esportes (na histórica derrota de 7 a 1 para a Alemanha) e em relação às principais notícias dos jornais, tudo vira piada nos labios desse povo.

Pois bem. Por esses dias de festa coletiva, recebi pelo a umas paródias envolvendo quatro tradicionais marchinhas de Carnaval que logo fui compartilhar em minhas redes sociais pelo telefone móvel celular. A primeira delas, baseada em Cachaça não é água, escrita em 1953 por Mirabeau Pinheiro, Lúcio de Castro e Heber Lobato, zomba da empreiteira Odebrecht por sua distribuição de propinas a políticos do país, como se lê a seguir:

"Se você pensa que dinheiro é água.
Dinheiro não é água não.
Dinheiro vem da Odebrecht.
E água vem do ribeirão."

Outra que me chamou a atenção por sua criatividade foi a versão inspirada em A Jardineira, a qual foi composta no começo do século passado por Humberto Porto e Benedito Lacerda, mas que se tornou célebre pela voz de Orlando Silva, este considerado o "cantor das multidões". Em sua crítica, o autor parodial se refere aos desvios dos recursos da estatal Petrobras através dos esquemas criminosos praticados nos contratos onde um percentual era pactuado para a ilicitude:

"O petroleira por que estás tão triste?
Mas o que foi que te aconteceu?
Foi a propina que caiu no grampo,
Deu dois por cento
E depois morreu."

A terceira paródia, baseada na politicamente incorreta Cabeleira do Zezé, feita por João Roberto Kelly, na década de 60, foi direcionada ao ex-governador do Estado do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, o qual se acha preso desde o ano passado em Bangu 8. Só que, pelo fato dos detentos serem obrigados a ter os cabelos cortados nos estabelecimentos penais e de custódia, o criativo humorista apenas poderia ridicularizar a careca do réu:

"Olha a cabeça do Cabral.
Será que ele é?
Será que ele é?
Marginal?"

A última que li, também do Kelly, inspirou-se em Maria Sapatao, outra música inapropriada para a nossa época onde tudo cheira a preconceito mas que, nos anos 80, o saudoso Chacrinha costumava cantar em seu divertido programa de TV que ía ao ar nas tardes de sábado. Contudo, o crítico da política trocou o sinônimo vulgar de lésbica para "delação", que seria um nome coloquial para o benefício jurídico da tão festejada colaboração premiada. Isto porque, graças à sua aplicação é que muitos delitos passaram a ser descobertos pelas autoridades de investigação, levando inúmeros políticos e empresários ricos para a cadeia como jamais se viu em toda a nossa história:

"Maria delação,
Delação, delação.
De dia, mordomia.
De noite, a prisão."

Como se vê, meus leitores, a situação no país pode estar uma calamidade nacional, com milhões de desempregados, mas ainda assim o brasileiro, em sua pacificidade passiva, consegue encontrar bons motivos para se alegrar (ou anestesiar-se) e não sentir o lado esquerdo do peito tão deprimido com as más notícias. Ou seja, o nosso povo tenta levar a vida na brincadeira e faz com que a tragédia, nesses três dias, vire um animado samba.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

No meu velório, vou querer festa

Hoje um amigo do Facebook (e que também é blogueiro) escreveu o seguinte:

"Silêncio num enterro um c*, enterro é pra chorar gritar, desabafar, prometer, e defender a honra de um morto. Boca foi feita pra falar, já vamos passar a eternidade em silêncio absoluto, na vida que o silêncio só dure um minuto." (Esdras Gregório)

Concordo em parte com ele pois entendo que, respeitando alguns momentos de silêncio, as pessoas também precisam expor seus sentimentos sem reter as emoções. Principalmente os que são da família e amigos mais próximos do morto. Segundo a Bíblia, José, filho de Jacó,  vivenciou com intensidade o falecimento do pai lançando-se sobre seu rosto, chorando e beijando o corpo (Gn 50:1).

Em algumas culturas africanas e asiáticas, os funerais são muito estimados pelas populações tradicionais. Há lugares em que a despedida de quem já se foi chega a durar vários dias. Cuida-se dr algo que para nós pode parecer estranho e aparentemente doloroso, mas creio que deva ajudar na superação da perda.

Devido a razões econômicas, pois vivemos numa sociedade onde tempo é dinheiro, dificilmente teríamos funerais como os de uma tribo ou aldeia de certas regiões do planeta onde as pessoas vivem comunitariamente. Porém, penso que devemos resgatar um pouco mais de convívio humano nessas ocasiões, a princípio indesejadas, tal como era feito no Brasil de antigamente até à primeira metade do século XX. Inclusive no Nordeste, quando era costume "beber o defunto".

No Oriente, dizem que, quando um homem chega aos quarenta, deve comprar o seu caixão. Mas eu, porém, prefiro não antecipar esse gasto até porque o dinheiro investido poderá valer mais no dia de minha morte e/ou o caixão não mais servir por se deteriorar com o tempo. Isso sem contar que acho anti-ecologico continuarmos enterrando pessoas (se meu candidato a prefeito tivesse ganho, iríamos propor um crematório municipal em Mangaratiba) tendo em vista os impactos diversos causados por um cemitério. Mas respeito o direito de cada um pois há quem insista em ter um enterro mesmo não estando mais aqui para participar.

Seja como for, sou a favor de que façamos velórios bem animados e festivos para ajudar os presentes a suportarem o momento doloroso. Por isso, não canso de dizer à minha esposa que, quando eu morrer, quero que ela sirva bolo e guaraná (nada de álcool) para os convidados. E tem que ser de chocolate pois é o meu sabor preferido! Só espero que ela ou quem estiver vivo se lembre.

Boa semana a tod@s!


sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

A dor do outro

Boa tarde.

Posso não ser petista e nem admirador de Lula, mas acho que ainda sou um ser humano. Aliás, sou defensor da Lava Jato e quem estiver envolvido com falcatrua, independente da filiação partidária do indivíduo, espero que seja corretamente responsabilizado.

No entanto, não desejo o mal de nenhum dos réus nesses processos e nem de seus familiares por mais que tenham nos roubado. Basta que lhes seja feita Justiça e o país consiga recuperar o dinheiro ilicitamente desviado dos cofres públicos.

Seja como for, o que mais me frustra é o fato do povo brasileiro escolher mal os seus representantes nos anos pares, reelegendo pessoas que foram até condenadas em primeira instância por crimes cometidos na Administração Pública...

Apesar de nem conhecer o Lula pessoalmente, expresso meus sentimentos pelo falecimento de sua esposa, dona Marisa Letícia, o que externaria a qualquer outro ser humano. E independe dos acontecimentos políticos, torço para que o ex-presidente encontre forças para superar essa perda.

Um feliz descanso semanal a todos!