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sábado, 16 de julho de 2016

Uma espécie cada vez mais dividida




Ultimamente tenho refletido sobre o acelerado desenvolvimento científico da humanidade que, já nesta década, alcançou um nível de tecnologia que muito me faz lembrar os desenhos animados da Hanna-Barbera assistidos em minha infância - Os Jetsons. Para quem não pegou essa época, a série exibida no Brasil pelo SBT, tendo como tema a era espacial, mostrava o cotidiano de uma família que vivia num ambiente futurista de cidades suspensas com carros voadores, trabalho automatizado, toda sorte de aparelhos eletrodomésticos e de entretenimento, robôs servindo como criados, relógios com câmeras digitais utilizados para fins de comunicação, etc.

Curiosamente, parte desse imaginário ficcional tornou-se realidade nos dias atuais com a invenção dos telefones celulares com acesso à internet, os quais transmitem imagens e conversas de áudio. No Japão, a robótica encontra-se surpreendentemente bem desenvolvida enquanto que, na China, já existe o trem de alta velocidade capaz de levitar sem precisar mais de trilhos. Além disso, é esperado para as próximas décadas o envio da primeira missão tripulada a Marte onde, no decorrer deste século, pretende-se construir uma colônia habitada por humanos para a exploração econômica do planeta vermelho.

Se você considera tudo isso um enorme avanço, espere o que nossos netos, bisnetos e tataranetos ainda poderão testemunhar no tempo deles, caso o desenvolvimento científico mantenha-se numa velocidade igual ou maior que na atualidade. Pois não tenho dúvidas de que as gerações futuras poderão não só explorar o espaço, viajando para outros sistemas solares, como também aumentaremos a nossa longevidade, migraremos de corpos com a preservação da consciência, criaremos descendentes transgênicos mais inteligentes por meio da reprodução in vitro (gerados num útero artificial) e talvez façamos até seres adaptados à gravidade e a atmosfera de outros mundos, conforme à nossa imagem e semelhança.

Entretanto, uma grande multidão na superfície terrestre caminha bem distanciada dessas inovações discutidas nos laboratórios, reproduzindo a miséria pelo planeta e trazendo consigo inúmeros problemas capazes de ameaçar a concretização desse futuro prodigioso da nossa espécie. Aliás, conforme alguém comentou num outro blogue com relação à charge acima,  

"Eis os nossos desconectados sociais…sem nome, sem emprego, sem cidadania, sem teto, sem comida, sem internete…"

Ocorre que, além dos pobres marginalizados nas ruas das cidades brasileiras, temos também muitos outros aqui e lá fora que se acham excluídos, sendo incapazes de acompanhar as tendências modernas. Cuida-se, por exemplo, da maioria dos trabalhadores ativos que, mesmo estando ainda empregados, também ficariam de fora do mundo novo por não estarem capacitados para participar do padrão a ser criado. E, neste sentido, a maior parte da humanidade seria um peso para o futuro juntamente com a cultura que lentamente evolui de maneira que algum dia poderá haver a divisão do Homo sapiens em dois grupos.

No livro espírita Os Exilados da Capela (1949), Edgard Armond pressupôs a existência de uma civilização muito desenvolvida, moral e intelectualmente, que habita o quarto planeta em órbita de Capella, estrela da constelação do Cocheiro. Segundo o autor, um grupo de "capelinos" não correspondeu à evolução moral dessa civilização e seus espíritos teriam sido banidos para o planeta Terra há cerca de cinco milênios atrás, dando início à jornada civilizacional humana por meio de sucessivas encarnações.

Pois bem. Como em todo mito sempre podemos encontrar um quê de verdade, nem que seja pelo aspecto psicanalítico, pondero sobre os sentimentos de separação/união que acompanham a ambígua humanidade em sua progressiva trajetória cheia de recuos e avanços. Ou seja, por não sabermos conviver com o outro, pretendemos, mesmo inconscientemente, a exclusão daqueles considerados inferiores, inaptos ou fora dos padrões. Tanto é que pensadores anti-sociais já tiveram até a ousadia de defender a eliminação de parte da população mundial inspirando ainda mais as ideias sensacionalistas sobre conspiração.

Todavia, o temor de que a humanidade possa ser extinta um dia devido ao seu próprio comportamento não seria infundado. Além dos riscos de uma guerra nuclear, ocorrer um grande atentado terrorista ou as consequências do aquecimento global piorarem, cientistas não descartam que a inteligência artificial ou o surgimento de um super vírus possam acabar com a nossa espécie. E, por diversas vezes, o astrofísico Stephen Hawking declarou que, se não forem as máquinas nem os alienígenas, nós mesmos iremos nos auto-exterminar.

Como o futuro é um mar de possibilidades, prefiro acreditar na solução educacionista, apostando na inclusão social para que o desenvolvimento científico ocorra harmonicamente. Pois não dá para concordarmos com uma produção de conhecimento incapaz de proporcionar qualidade de vida para a população, sendo urgente dialogarmos com as necessidades de todo o coletivo humano e darmos uma atenção maior com os valores éticos. Pois é assim que conseguiremos realmente prosseguir no caminho de um projeto de harmonia e felicidade junto com as descobertas maravilhosas da ciência.


OBS: Texto publicado de minha autoria originalmente no blogue da Confraria dos Pensadores Fora da Gaiola, na presente data, sendo que a ilustração acima referente à charge do Angeli, publicada no jornal Folha de S. Paulo, conforme consta no Blog do Gusmão em http://www.blogdogusmao.com.br/v1/2009/09/17/charge-do-angeli/

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