Páginas

domingo, 5 de junho de 2016

Os cristãos e o meio ambiente



"Se você passar por um ninho de passarinho junto ao caminho, seja numa árvore ou no chão, e a mãe estiver sobre os filhotes ou sobre os ovos, não apanhe a mãe com os filhotes. Você poderá apanhar os filhotes, mas deixe a mãe solta, para que tudo vá bem com você e você tenha vida longa." (Deuteronômio 22:6-7; NVI)

Já ouvi muitas críticas sobre o fraco envolvimento dos cristãos, em especial dos evangélicos pentecostais, com as causas do meio ambiente. Uns chegam a dizer que "os crentes são contra a ecologia" porque alguns pastores fazem suas equivocadas associações entre a preservação ambiental com os demonizados movimentos de Nova Era já que muitos ambientalistas também seriam esotéricos, budistas, seguidores de alguma religião hindu, umbandistas, etc.

Por sua vez, já me deparei com argumentos ainda mais estúpidos partindo de cristãos fundamentalistas. Por exemplo, uns falam que, pelo fato da Igreja esperar uma volta literal de Jesus, seria quase inútil preocupar-se com a preservação ambiental do planeta posto que "tudo aqui vai pegar fogo" nos últimos tempos. Como se, nesta visão escatológica, Deus não fosse pedir contas das nossas ações e omissões.

Entretanto, é preciso haver discernimento e compreensão acerca do tema. Aliás, como muito bem ensina a Bíblia, a  natureza é uma "criação" de Deus. Logo, seguindo esta linha, cuidar dos diversos ecossistemas e preservar a natureza devem ser entendidos como um dever do cristão

Assim, pode-se afirmar, com base nas Escrituras Sagradas, que o Criador teria entregue ao homem essa responsabilidade de cuidado desde o início do planeta Terra (ver Gn 1.26-31) ainda que, para o ponto de vista cristão, os esotéricos, seguindo os passos do hinduísmo, estariam colocando mais ênfase na criação do que em Deus. Até mesmo porque a cosmovisão de certas religiões orientais quanto à Divindade não contempla a ideia de um Deus pessoal como os monoteístas creem.

Mas deixemos de lado as diferenças com as outras crenças, respeitando-as obviamente, e vamos teologizar sobre ecologia, valendo lembrar que, neste cinco de junho, é comemorado o Dia Mundial do Meio Ambiente. E aí uma das passagens bíblicas que mais me toca a esse respeito é a que foi acima citada do livro de Deuteronômio, o último da legislação de Moisés. 

Ora, o grande princípio que podemos extrair do Texto Sagrado em comento é que o homem deve aprender a usar a natureza sem destruí-la. A "mãe" dos pássaros, no caso, significa algo bem mais profundo pois, por meio dela, é que a vida se perpetua na Terra. Deste modo, se os "filhotes" forem apanhados do ninho, novos ovos serão chocados e a espécie não será extinta.

Interessante é a semelhança desse preceito com o quinto mandamento do Decálogo que nos fala sobre honrar pai e mãe,  no que se refere a ser bem sucedido, alcançando vida longa (conf. Ex 20:12 e Dt 5:16). E aí, se refletirmos também princiologicamente sobre o tema, iremos concluir sobre a nossa dependência da natureza criada por Deus tal como um filho pequeno também precisa de sua mãe. Ou seja, não podemos consumir exageradamente os recursos do planeta a ponto de secarmos a fonte, comprometendo a renovabilidade das coisas.

Observo que, devido à superficialidade interpretativa e aos preconceitos religiosos, pouco se ensina nas igrejas quanto ao cristão adotar uma ética ambiental no seu cotidiano. Pois, tão importante quanto o filho honrar a seus pais. é a humanidade respeitar a natureza sem a qual nem nós ou as demais espécies conseguimos tirar o nosso sustento.

Como havia compartilhado na primeira postagem feita hoje, Reflexão para o Dia Mundial do Meio Ambiente, o primeiro passo para tornarmos o nosso consumo mais consciente seria a redução deste e o combate ao desperdício. Isto significa também que, dentro de uma congregação religiosa, as pessoas precisam ser melhor educadas para mudarem determinados hábitos. Inclusive quando estão convivendo entre si numa, seja em família, num culto, num almoço comunitário, num retiro de Carnaval ou até numa reunião em espaço aberto a exemplo da Marcha para Jesus


Sinceramente, com ensinamentos tão maravilhosos na Bíblia, era para os cristãos estarem dando um show de bola de respeito ao meio ambiente. Não era para a Igreja ser criticada pelos místicos e esotéricos como uma instituição destrutiva. Aliás, enquanto os filhos de Deus não se manifestarem, isto é, não tomarem uma atitude no mundo, a natureza continuará a gemer, sofrendo até agora "as dores de parto", como bem escreveu poeticamente o apóstolo Paulo (Rm 8:22). Por isso, torço para que, cientes de que não somos os donos da Terra, mas, sim, seus cuidadores, possamos exercer com fidelidade o nosso ministério de mordomia e atuarmos na preservação de toda essa rica biodiversidade com a qual fomos graciosamente abençoados.

Viva o Dia Mundial do Meio Ambiente! E que a Igreja se mostre mais consciente no trato com a natureza!


OBS: Texto originalmente postado por mim no blogue da Confraria Teológica Logos e Mythos, sendo os créditos autorais da imagem acima atribuídos a Dario Sanches, no Flicker, conforme extraído numa página da Wikimedia Commons sobre o joão-de-barro em https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Flickr_-_Dario_Sanches_-_JO%C3%83O-DE-BARRO_(Furnarius_rufus)_(21).jpg

Nenhum comentário:

Postar um comentário