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domingo, 3 de abril de 2016

A questão dos casamentos "poliafetivos"




Essa não foi piadinha de primeiro de abril! Li numa nota do jornal O GLOBO na internet que o primeiro casamento "poliafetivo" do Rio de Janeiro, com duas mulheres e um homem, foi assinado na última sexta (01/04), às 11 horas, no 15º Ofício de Notas da Comarca. De acordo com a reportagem, o marido é funcionário público, tem 33 anos, e mora em Madureira numa casa de um quarto com as duas esposas, ambas com 21 anos. Uma delas é dona de casa e a outra estudante de técnica em enfermagem (clique AQUI para ler a matéria na íntegra).

Embora eu tenha lá as minhas discordâncias sobre esses tipos de relacionamento fora dos padrões familiares tradicionais, respeito a liberdade individual de cada um e considero necessária a proteção institucional do Estado para que injustiças não ocorram amanhã numa eventual separação ou viuvez no que diz respeito à partilha da herança, pensionamento do INSS, direitos sobre os bens adquiridos em conjunto, etc.

No caso em tela, não seria nenhuma novidade um homem casar-se com duas ou mais mulheres. De acordo com a Bíblia, nas épocas de Moisés e do rei Davi, isso era possível segundo as leis da Torá e o marido deveria tratar as duas esposas com igualdade mesmo se uma delas estivesse na condição de escrava (Ex 21:10). O cristianismo, porém, surgiu monogâmico e, lá pelos séculos X e XI, os judeus decidiram abolir de vez a poligamia através de um édito pronunciado por todos os rabinos da Europa sob a liderança de Rabeinu Guershon (965-1028), persistindo o costume apenas numas raras comunidades heterodoxas das duas religiões e entre os muçulmanos. 

Ainda assim, quando a poligamia vigorou, havia regras. Por exemplo, um cara não podia casar-se com a irmã da esposa estando esta viva a fim de que não houvesse rivalidade entre as duas (Lv 18:18), o que talvez fosse justificável por causa dos acontecimentos perturbadores do matrimônio de Jacó com Lia e Raquel (Gn 29:23 - 30:24). Também era moralmente reprovável levar as duas para a cama de uma só vez, o que importa numa distinção bem clara da filosofia supostamente libertária do "poliamor".

Não discordo de quem afirme que os valores mudam conforme o tempo e o espaço, Tudo bem que a vida não é perfeita e jamais se desenvolve para todos dentro de um único padrão. Em tempos de guerra, mesmo nas sociedades ocidentais, foi tolerado um homem ter duas ou mais mulheres devido á redução da população masculina. Em diversos lugares do Nordeste brasileiro, ainda é comum uma bigamia informal acontecer e ninguém falar nada.  Porém, pode parecer conservador o que vou dizer, mas o fato é que, apesar de todos os métodos contraceptivos, a finalidade de um ato sexual é procriar formando uma nova família e não existe amor conjugal sem incluir o relacionamento sexual. Pelo menos em nossa fase adulta e início da terceira idade!

Sendo assim, entendo que a responsabilidade em relação à procriação deverá existir sempre de modo que a maneira como nos organizamos pode comprometer o bem estar psicológico e a formação da futura prole. E, justamente porque a natureza nos mostra ser impossível um homem relacionar-se sexualmente de uma só vez pelas vias normais com mais de uma mulher (para isto ele precisaria ter dois pênis), tal raciocínio pode aplicar-se igualmente ao campo das nossas afetividades em que ficaria inviável dar atenção plena às duas esposas.

Bem, essa é a minha opinião e quero ter a liberdade de expor em paz o meu pensamento ainda que hoje em dia o politicamente correto seja bater palmas para um monte de comportamentos fora do convencional. Pois se muita gente acha lindo um casal gay misturar o material genético deles para fertilizar o óvulo de uma doadora desconhecida, colocando o ovo fecundado no ventre de outra mulher que lhes gerará uma criança juridicamente sem mãe, tenho todo o direito de discordar. E, se atuasse como juiz numa ação de reconhecimento de maternidade, seria capaz de dar procedência para aquela que gestou o bebê em seu ventre, podendo entregar-lhe até a guarda.

Entretanto, independentemente das minhas convicções morais, se fosse tabelião, não negaria a uma dupla de homossexuais o direito de formalizarem uma união civil mesmo que leve o nome de casamento, bem como admitiria as situações de poligamia, quer se tratasse de um homem e duas esposas, uma fêmea com vários machos, três mulheres, quatro pessoas, etc. Obviamente só não permitiria alguém se casar com animais ou crianças. Afinal, a infância precisa ser protegida e lamento que tantos bebês estejam vindo ao mundo em ambientes familiares com forte potencial para serem problemáticos.

Para esse carioca da Zona Norte do Rio que se casou com as duas jovens no começo do mês, não quero desejar nenhum mal. Já que foi esse o caminho que escolheram, então que baseiem suas relações nas orientações e costumes do Antigo Testamento da Bíblia, podendo se inspirar ainda nos muçulmanos e em alguns grupos minoritários dos mórmons sem que precisem deixar de ser cristãos, caso seja o cristianismo a religião que seguem. Pois assim poderão levantar uma casa com mais solidez do que edificarem no terreno arenoso da ideologia do "poliamor".


OBS: Ilustração acima extraída de http://overtbuzz.com/image.php?src=nsPuwO6FCF4ZYsjRFngG2ULRBMBCt5JRyzm4osK18O07hkYWHf

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