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segunda-feira, 28 de março de 2016

E o dia depois do impeachment?




Agora com o impeachment de Dilma cada vez mais próximo de acontecer, surge em minha mente uma pergunta que não quer calar:

Como ficará a política brasileira após o despejo da presidente do Palácio da Alvorada e uma possível prisão do Lula?

Aquilo que para muitos vai ser um momento de triunfo poderá se tornar um grande problema para quem chegar ao poder quando a oposição deixar de ser "pedra" para se tornar "vidraça", passando a ser cobrada nas ruas pelo cidadão insatisfeito.

Certamente que a economia não deverá se recuperar de imediato. Temer precisará conquistar a confiança dos investidores internacionais, controlar a inflação, promover o aumento do consumo no momento certo, enxugar a máquina administrativa (isto poderá implicar em demissões no funcionalismo) e preservar o poder aquisitivo das famílias brasileiras. Possivelmente já não contará mais com o PT e o PCdoB no governo e, ainda que não tenha manifestado interesse no impeachment até o momento (quem acredita em sua imparcialidade?), enfrentará a resistência dos sindicatos da CUT, dos camponeses do MST, dos estudantes da UNE e da UBES, além da obstrução dos parlamentares que hoje são governistas e amanhã já não serão mais. 

Diferente de Collor, o PT pretende resistir ao impeachment até os acréscimos do segundo tempo. Para isto, continuará mobilizando a sua militância organizada, apoio que o primeiro presidente diretamente eleito após o fim do regime militar não tinha exceto entre os cidadãos bairristas de seu próprio estado. Logo, tudo indica que faz parte da estratégia petista para tentar retornar ao poder em 2018 plantar na sociedade o sentimento de que todas essas investigações da Lava Jato são um "golpe" do Judiciário junto com as elites. Tal argumento trata-se agora de um pequeno grão de mostarda mas que poderá ser fertilizado após a saída de Dilma (recebendo mais adubo ainda caso ocorra a prisão do Lula) até se tornar uma grande árvore. Ou melhor dizendo, uma terrível praga.

Ora, será que as pessoas não questionarão o fato de que o processo contra Cunha no Conselho de Ética da Câmara caminha a passos de tartaruga, mesmo sendo o deputado um dos réus da Lava Jato, enquanto o da presidenta corre disparadamente na velocidade da luz com  parlamentares participando das sessões até nas segundas e sextas-feiras?!

E como fica o envolvimento de políticos do PMDB nos escândalos do petrolão tendo os membros do maior partido aliado do governo se beneficiado mais do que os do PT?!

Mais do que nunca toda essa guerra fez com que eu me lembrasse do filme The Day After ("O Dia Seguinte"), dirigido por Nicholas Meyer. Exibido nos cinemas durante a década de 1980, a produção mostrou como seria o conflito sem vencedores caso os EUA e a URSS, as duas super potências da época, usassem os seus poderosos arsenais atômicos num ataque bélico entre si. Pois fica evidente que, num holocausto nuclear, a contaminação do mundo causada pela radioatividade impediria que qualquer um dos lados consiga ocupar o território. E, deste modo, pode-se afirmar que uma polarização política tão acirrada na sociedade brasileira, diante de um problema gigantesco como é a nossa crise econômica, talvez não proporcionar um ganho estável a ninguém.

Outrossim, sabemos que as manifestações de rua pró-governo são garantidas mais pela presença da militância do que pela população e devemos admitir também que, nos protestos contra a presidente e o PT, há um predomínio maior da classe média. Logo, o povão ainda não aderiu a nada e nem deverá sair de casa para defender qualquer um dos lados de modo que, nas eleições presidenciais de 2018, a escolha do voto poderá ser de quem tiver proporcionado bem estar social por meio da economia uma vez que os programas assistenciais já fazem parte do cotidiano do brasileiro e ai do governante que tentar retroceder.

Pensando no melhor plano de controle para esse caos (pelo menos politicamente) é que defendo novas eleições presidenciais ainda para este ano sendo que a única maneira de termos isso, uma vez que ainda não somos parlamentaristas, seria anulando os votos da chapa Dilma/Temer pelo TSE. A procedência da ação movida pelo PSDB na Justiça Eleitoral não empossaria de imediato o segundo colocado que foi o senador Aécio Neves, mas importaria na realização de um outro pleito em que tanto os governistas quanto a oposição terão a chance de entrar numa disputa de igual para igual sem que qualquer um deles consiga usar a máquina estatal em seu favor. Afinal, nada mais justo do que permitir ao povo ser neste momento o juiz dos fatos e todos respeitarmos quem vier a ser eleito até o final de 2018.


OBS: A ilustração acima refere-se a umas das cenas do filme The Day After.

3 comentários:

  1. Na semana passada, durante o debate no plenário do Senado, Cristovam Buarque disse que o país precisa encontrar uma saída negociada para o impasse que se criou em torno da legitimidade ou não do mandato da presidente Dilma Rousseff:

    "O ideal era que não nos debrucemos a favor ou contra o impeachment apenas, mas também como superar este momento. É claro que é de foro íntimo. Mas se a Presidente Dilma renunciasse, resolveríamos essa guerra sectária".

    Segundo o senador, preocupa, neste momento, menos se haverá ou não impeachment da presidente Dilma Rousseff já que, em qualquer das duas alternativas, o Brasil caminhará para uma disputa sectária, o que pode levar a violências gravíssimas.

    "E, depois que elas começarem, elas não pararão antes de anos e anos e anos. E isto nós não estamos discutindo: o day after, o dia seguinte, com impeachment ou sem impeachment.

    Para o senador, no entanto, o país ainda não caiu numa guerra sectária, mas já caiu, numa guerra verbal:

    "E é muito fácil passar da violência verbal para a violência física. Difícil vai ser parar isso depois"

    Cristovam entende que as manifestações e hostilidades contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Teori Zavaski, que determinou o envio das acusações contra o ex-presidente Lula da justiça comum ao STF, pode ou não ser algo solto, mas preocupa, na medida que torna visível algo que já vem acontecendo na mesma proporção, só que envolvendo pessoas menos célebres.

    "Não foi um fato isolado, ainda que tenha sido o primeiro. E não foi o primeiro – é que, como foi na casa de um ministro, todo mundo despertou. Mas estão começando a pipocar coisas assim – inclusive, houve vandalismo contra o PT numa sede. A gente tem de protestar também. Não pode deixar que aconteçam coisas como aquela, não sei em que Estado foi, contra uma sede do PT."


    Fonte: http://www.cristovam.org.br/novosite/cristovam-pede-saida-negociada-e-preve-tensao-social-com-ou-sem-impeachment/

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  2. Uma coisa a gente tem de ver: Se a Lava Jato for para o brejo, Lula voltará nos braços do povo em 2018, como
    candidato único, apoiado por todos os partidos. Ou não, Rodrigão? (rsrs)

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    1. Boa pergunta, Levi!

      Por todos os partidos, não... Mas penso justamente que, se Lula chegar a ser preso, aí que ele volta nos braços do povo em 2018, mesmo indicando outro no seu lugar.

      O maior problema não está no Lula, mas na imagem que ele ainda possui. E, se Moro ou o STF não o condenarem, o sentimento de impunidade ajudará a oposição, ainda que ele possa utilizar-se da sentença de absolvição a seu favor.

      Certamente que esse mandato tampão de Dilma é que levaria o PT ao fim pelo desgaste já causado, sendo poucas as chances da economia voltar a ser satisfatória para a população.

      Mas como poderá ser com o Temer se ele não acertar? Neste caso, Lula (ou o lulismo) retornaria forte em 2018. Isto porque, na cabeça de muitos, a economia andou bem nos dois mandatos que teve como presidente.

      Para concluir eu diria que precisa ser definido quais seriam os pontos de sucesso e de fracasso da Lava Jato do ponto de vista político, bem como quais as melhores alternativas para sairmos da crise de maneira que sou um defensor de novas eleições presidenciais este ano no Brasil.

      Enfim, 2016 é o momento certo para o povo trazer em seus braços uma alternativa da oposição.

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