Páginas

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

E a qualidade da água que bebemos?!




Nesta quinta (29/10), levei ao Ministério Público uma representação conta a CEDAE. Soube pelas redes sociais que a água em meu Município encontra-se contaminada pelo esgoto, como consta nas análises das contas de consumo enviadas para os endereços dos clientes da empresa estadual.

Confesso que a notícia me alarmou e que não vi outra alternativa senão encaminhar o caso em mãos diretamente às autoridades do MP, viajando até às Promotorias de Justiça de Tutela Coletiva de Angra dos Reis que têm competência territorial sobre Mangaratiba. Entendo que a nossa população não pode continuar vulnerável a ter problemas de saúde em decorrência disso. Pois, como sabemos, muitos óbitos nesse país ocorrem devido à ingestão de água contaminada.

Verdade é que estamos diante de um problema que causa enorme preocupação para a saúde pública porque, como se tornou público e notório, Mangaratiba teve um surto de hepatite A no ano de 2012. E não queremos que o caso torne-se a se repetir na cidade. Assim, compartilho a seguir o texto da denúncia apresentada ao Ministério Público para que todos tomem conhecimento:


EXMO(A). SR(A). DR(A). PROMOTOR(A) DE JUSTIÇA DA ___ PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE TUTELA COLETIVA DO NÚCLEO DE ANGRA DOS REIS







                Eu, RODRIGO PHANARDZIS ANCORA DA LUZ, brasileiro, casado, advogado inscrito na OAB/RJ sob o n.º 130.647 e no CPF/MF sob o n.º (...), venho, COM URGÊNCIA, expor e solicitar o que segue.

No dia 27/10/2015, o sr. Mauro Guedes publicou uma postagem da rede social do Facebook, grupo de debates denominado “Mangaratiba Combatendo a corrupção com Renovação!!!!”, compartilhando a mensagem de que o sistema de abastecimento da Serra do Piloto (do qual o Centro de Mangaratiba e o bairro da Praia recebem o fornecimento de água da CEDAE) estaria com a seguinte composição, conforme consta na impressão em anexo:

Coliforme Totais............................... 81,2%
Escherichia Coli................................. 100%

                Ao verificar a conta de consumo da residência onde moro, a qual vem em nome de minhas sogra, Sra. Nelma Maria Cilense, pude verificar que no sistema de abastecimento de Muriqui, teria também composição semelhante ao da fatura que fora exibida nas redes sociais, porém com 84,2% de Coliformes Totais.
                Tal notícia nas redes sociais alarmou vários integrantes do referido grupo de discussão, tendo em vista as danosas consequências para a saúde humana o consumo de água com a mencionada bactéria. Isto porque várias doenças podem ser causadas, gerando, inclusive, a morte da pessoa como se manifestou uma usuária com o nome de “Enfermeira Priscilla” Frederico, comentando a postagem do Dr. Mauro Guedes:

“E. Colli faz uma gastrinterite que leva a morte nem 3 dias se não for detectada rapidamente por um bom médico e também sepcemia e responsável pela infecção urinária. Junto aos coliformes gastrinterite grave até disenteria.” (Editado)
       

   Segundo dispõe o artigo 22 do Código de Defesa do Consumidor, os serviços públicos, dentre os quais se inclui o saneamento básico, devem ser seguros. É o que pode ser lido a seguir:

“Art. 22. Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos.
Parágrafo único. Nos casos de descumprimento, total ou parcial, das obrigações referidas neste artigo, serão as pessoas jurídicas compelidas a cumpri-las e a reparar os danos causados, na forma prevista neste código.”

                Em razão da gravidade da situação, em que há fundado risco de contaminação da população de Mangaratiba, lembrando também que, em 2012 houve um surto de hepatite A na nossa cidade (ver impressões em anexo extraídas do portal do G1 na internet), deve o Ministério Público agir com o máximo de rapidez possível para evitar danos à população. Afinal, há vidas humanas em risco.

                Como se sabe, cabe ao Município prestar o serviço de abastecimento de água sendo que, no caso de Mangaratiba, a sua execução é feita através da CEDAE. De qualquer modo, entendo que existe aí uma responsabilidade solidária entre o Poder concedente e a concessionária, devendo ambos figurarem como investigados num inquérito e réus em ação judicial.

                Ante o exposto, solicito ao Ministério Público que tome as providências cabíveis, colhendo as provas necessárias e ingressando com uma ação civil pública com pedido de liminar para que seja eficazmente cessada.

Termos em que,
P. deferimento.


Mangaratiba, 29 de maio de 2015.

_________________________________________________
Rodrigo Phanardzis Ancora da Luz
OAB/RJ n.º 130.647

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

O consumidor não é obrigado a ter cartão de crédito e nem portar celular!



Durante este mês de outubro, eu e Núbia ligamos para a central de vendas da operadora Oi com o objetivo de alterarmos o plano pré-pago da linha dela (usamos juntos o mesmo celular) para um de "controle". No entanto, fomos surpreendidos com a resposta dada pela atendente de que seria necessário ter um cartão de crédito para fins de pagamento do serviço, o que considerei um absurdo, um tremendo abuso, e levei o caso direto para a Ouvidoria do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, enviando uma reclamação via internet. 

Também, neste mesmo mês, experimentei o dissabor de ter o meu token do Banco Itaú, aquele em formato chaveirinho, ser repentinamente desabilitado e eu me ver obrigado a utilizar o serviço agora prestado via torpedo SMS. Ou seja, a mesma linha que compartilho num único aparelho móvel com a minha esposa passará a ser destinada para o acesso de certas operações da conta corrente já que ela é igualmente cliente do Itaú e o sistema da instituição financeira não permite cadastrar um número de celular para dois usuários distintos. Sorte nossa que, no telefone que temos, dá para inserir dois chips, sendo um da Oi e outro da Vivo.

Ocorre que essas imposições das operadoras de telefonia e dos bancos podem ser consideradas como práticas abusivas uma vez que encurralam o consumidor a adquirir outros serviços e/ou produtos sem uma justificativa plausível. Segundo dispõe o artigo 39, inciso I da Lei Federal n.º 8.078/90, o Código de Defesa do Consumidor, é vedado "condicionar o fornecimento de produto ou serviço ao fornecimento de outro produto ou serviço". E, no meu entender, tal determinação legal vai além dos limites da chamada "venda casada", considerando a amplitude da expressão "fornecimento". Ou seja, caso não haja justa causa, de modo algum podem as empresas criar situações capazes de estabelecer uma dependência do consumidor quanto aos novos padrões que são impostos hoje à sociedade.

A meu ver, pagar faturas telefônicas com cartão de crédito ou usar o celular como um mecanismo de segurança nas transações bancárias devem ser comodidades extras que sirvam para facilitar a vida do consumidor, mas, jamais, para atrapalharem as pessoas. Conheço muita gente, por exemplo, que prefere não usar cartão de crédito para evitar gastos excessivos. Uns podem achar até prático a centralização de todas as despesas numa única conta-cartão enquanto para outros significa um perigo ter à disposição o "dinheiro de plástico", mesmo se guardado numa gaveta em casa.

Penso que o cidadão não pode aceitar coisas assim. Temos que reagir! Pois situações como essas precisam ser imediatamente denunciadas ao Ministério Público e demais órgãos de defesa do consumidor. Do contrário, daqui uns tempos, o povo brasileiro estará cada vez mais sufocado pela ditadura do consumismo, pagando para adquirir e manter diversos serviços até então dispensáveis, sem que haja políticas públicas capazes de promover a inclusão de toda a sociedade. Portanto, fiquemos de olho no que determinadas empresas andam fazendo e vamos botar a boca no trombone.

Uma ótima quarta-feira a todos!

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Coexistência dentro da família




Na vida estabelecemos relacionamentos voluntários e outros que não partem da nossa vontade. Enquanto o cônjuge/companheiro e os amigos seriam exemplos de relações escolhidas (pelo menos na nossa cultura atual os casamentos não são mais impostos pelos pais), eis que os parentes, afins, colegas de trabalho e vizinhos surgem em nossa caminhada independentes de os querermos conosco. Você simplesmente nasce numa família, quer goste dela ou não.

Pelo que observo, é nessa área de relacionamentos involuntários que surgem os maiores conflitos da humanidade. Desde que o mundo é mundo, irmãos já brigavam entre si como nos mostra a narrativa bíblica de Gênesis 4 sobre Caim e Abel (se bem que este foi apenas vítima da maldade do primogênito). Também as lendas gregas estão repletas de tragédias envolvendo pais e filhos assim como a historia de vários povos, inclusive na luta pelo poder político dentro das monarquias.

Talvez um dos motivos de haver tantos problemas relacionais num ambiente familiar seria o fato de um exigir do outro algo mais do que a responsabilidade e o respeito. Surge entre parentes uma situação de afetos não correspondidos e de obrigações que passam a ser desproporcionalmente cobradas. O ciúme arde entre irmãos e pais projetam nos filhos os próprios sentimentos. Um ente começa a assediar o outro querendo receber excessiva atenção e influenciar nas escolhas existenciais que cabe somente ao próprio sujeito decidir, a ponto de sufocarem a liberdade individual.

A listagem de conflitos é enorme. Não tenho tempo e nem conhecimento para falar a respeito de todos os itens. Acho que nem um psicólogo com especialização e curso de doutorado saberia explicar tudo na vastidão do universo do comportamento humano. Porém, com base na experiência ensinada pela vida, chego à conclusão de que basta às pessoas se respeitarem e cumprirem com seus papéis. Parentes não precisam se tornar amigos íntimos, mas eles podem se amar. E pra amar não é necessário você simpatizar, identificar-se ou até mesmo gostar do outro com grande admiração.

Analisando as Escrituras, vejo que a Bíblia ordena aos filhos obedecer e honrar aos pais. Contudo, se interpretarmos o mandamento do Decálogo como via de mão dupla, concordaremos que o dever é recíproco. Ou seja, devem os pais respeitarem os filhos, o que significa reconhecerem os limites da intimidade e da vida privada do descendente, não tomando atitudes assediadoras tipo se intrometerem nos relacionamentos afetivos, na educação dos netos, nas escolhas profissionais, na fé religiosa ou no estilo de vida que o outro quer definir para si. Daí o apóstolo Paulo recomendar aos pais que "não provoqueis vossos filhos à ira" (Efésios 6:4) e também que "não os irriteis, para que não fiquem desanimados" (Cl 3:21).

Já encontrei muitos pais nas igrejas chorando pela partida do "filho pródigo" que teria se afastado "dos caminhos do Senhor". Entretanto, em muitos desses casos foi a própria família quem expulsou o rapaz ou a moça da esfera relacional, empurrando-o(a) para os abismos desse mundo hostil em que o amigo do bar acaba se tornando mais compreensível do que um parente religioso, moralista e julgador. Entre os homossexuais, por exemplo, muitas são as queixas dos filhos acerca do comportamento nada amoroso de seus respectivos pais cristãos e dos irmãos da igreja, os quais, nessas horas, parecem ignorar a maneira inclusiva como Jesus lidou com a humanidade 100% pecadora.

Acho que nem preciso entrar no mérito se homossexualidade seria opção ou condição do indivíduo bem como a respeito de ser conduta reprovável, segundo a Bíblia. Tal debate não seria aplicável a esse artigo pois, independentemente dos nossos valores éticos e culturais, precisamos aprender a considerar o outro como um ser humano digno. O pai pode não concordar com as escolhas do filho, mas não deve romper o relacionamento com ele ou estabelecer condicionantes absurdas, aquelas do tipo "só falo com você se fizer isso ou deixar aquilo", visto que não compete ao genitor causar tais intromissões, sob pena de estar violando o livre arbítrio de alguém.

Termino esse texto deixando que cada qual reflita por si sobre até que ponto tem sido intolerante ou radical nos seus relacionamentos. Há casos em que as pessoas precisarão até de uma terapia e aí devemos ser corajosos para buscar ajuda. Afinal, trata-se de aprender os limites da coexistência, quer seja na teoria como na prática, o que, na certa, impõe a todos o dever de conduzir convenientemente as atitudes individuais tomadas.

Uma ótima semana aos meus leitores!

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Um evento que poderá marcar Muriqui e Mangaratiba...




Estou contando as horas para o início do festival de jazz e blues previsto para ocorrer neste final de semana aqui em Muriqui, 4º Distrito de Mangaratiba, litoral sul do Estado do Rio de Janeiro. Apesar da saúde e os serviços públicos em geral andarem tão mal neste Município, ao menos assistiremos um evento de qualidade. Se está sendo apropriado ou não, agora não seria motivo para questionamentos. E, pelo que sei, o show já estava sendo articulado há um tempão desde a gestão passada quando o Sr. Roberto Monsores era o secretário de turismo do (des)governo Capixaba. Aliás, umas das poucas secretarias que, a meu ver, trabalhava bem na Prefeitura.

Mas por que irei reclamar disso agora?! Sou da oposição, trabalhei contra o Capixaba e agora denuncio as covardias do atual governo Ruy. Porém, torço por Mangaratiba e encaro o festival de jazz e blues como uma grande oportunidade para o Município se promover internacionalmente assim como se tornou a Copa do Mundo para o Brasil em 2014 e os jogos olímpicos para o Rio de Janeiro em 2016. Foi um absurdo gasto a construção desses estádios (até hoje não entendo por que fizeram um novo Maracanã), mas, depois que a grana já tinha saído dos cofres públicos, o melhor que podíamos fazer em meados do ano passado era torcer para seleção e nunca pela Alemanha...

Uns na cidade vão me agradecer por estar divulgando o show de blues e outros me criticarão. Só que não estou nem aí para o que pensam ou falem de mim. Quero mesmo é que o festival aconteça, seja um sucesso, a chuva passe logo, Muriqui lote de turistas e eu venda bastante sorvetes da Moleka para complementar a minha renda familiar. E, independente disso, meu desejo é valorizar o lugar onde vivo!

Na página de um outro blogueiro, o escritor assim postou sobre o evento no artigo MANGARATIBA JAZZ & BLUES FESTIVAL

"Não estou acreditando que isto vai acontecer. Pela primeira vez na história, Mangaratiba terá um evento que vai me forçar a assisti-lo. 
De 23 a 25 de outubro, está programado o Mangaratiba Jazz e Blues com grandes nomes do jazz e blues nacional e internacional. E será - será mesmo? - em Muriqui, bem pertinho do meu retiro.
Entre as atrações, o sexteto do americano Delfeayo Marsalis, o saxofonista Leo Gandelman, a big band Big Time Orchestra, o americano José James, o guitarrista angolano Nuno Mindelis, o saxofonista Gary Brown, o blues man Marcos Ottaviano, a cantora Topsy Chapman & Solid Harmony, os blueseiros do Blues Etílicos, dentre outros. " (Extraído do blogue Mangaratiba na presente data)

Assim como o Sr. Lacerda, dono do referido blogue, também não estou acreditando. E posso não ser fã de jazz e nem de blues, mas quero ir lá na praia assistir. Posso gostar de ouvir louvores religiosos, mas por que deixaria de curtir uma boa música secular?! Posso não beber cerveja e menos ainda cachaça, mas não me sentiria na "roda dos escarnecedores" como muitos cristãos fanáticos consideram. Aliás, acho super saudável um crente se ligar em cultura, seja brasileira ou internacional.

Pois bem. Como este meu blogue é lido mais fora do Município do que dentro (motivo pelo qual criei o Propostas para uma Mangaratiba melhor só para tratar especificamente das questões locais/regionais), quero aproveitar esse espaço que tenho para fazer uma propaganda do festival. E por que não?! Afinal, sou um defensor do desenvolvimento do turismo como uma promissora atividade para a Costa Verde se desenvolver sustentavelmente já que não há condições de termos um parque industrial por aqui. E, sendo assim, as programações culturais, os passeios ecológicos, os circuitos gastronômicos, a frequência das praias e as atividades náuticas têm tudo a ver com a cidade. Portanto, sem mais o que escrever, vou direto compartilhar a programação que está no site do festival: 


Para quem não conhece Muriqui e nem Mangaratiba, é bem fácil de chegar aqui. Partindo do Rio, basta seguir pela Avenida Brasil e pegar a rodovia Rio-Santos. Passou o primeiro túnel, a entrada de Muriqui fica logo à esquerda. E, quem vier pela manhã ou à tarde no domingo (desde que esteja fazendo sol), provavelmente vai me encontrar vendendo picolé na praia. Por apenas R$ 2,50 você saboreia um delicioso sorvetinho!

Boa diversão a todos!

Caminhadas a altares




A vida de Abraão pode ser caracterizada por duas coisas que o patriarca costumava fazer: (i) suas peregrinações em busca de uma terra para se fixar com os seus animais; e (ii) o erguimento de altares para ir renovando/aprofundando o relacionamento que teve com Deus. Cada lugar onde viveu tem uma significação espiritual demonstrando para nós uma progressiva caminhada de elevação até alcançar o nível mais alto em Gênesis 22, quando o Senhor resolve prová-lo pedindo que levasse o filho Isaque para ser sacrificado (claro que um anjo impediu-o de consumar a oferta).

Tão logo chegou a Canaã, Abraão levantou um altar a Deus em Siquém, junto ao carvalho (ou terebinto) de Moré. Naquele tempo, as grandes árvores eram usadas como locais de culto religioso pelos povos do antigo Oriente Próximo (e em outras culturas pelo mundo também). E, apesar desse costume ser considerado "pagão", Abraão não estava procurando por outras divindades, mas apenas pelo Senhor, tendo recebido ali a confirmação a respeito da futura posse da terra à sua descendência (Gn 12:6-7).

A respeito dos terebintos/carvalhos, vale transcrever aqui um interessante comentário feito pelo rabino Arieh Kaplan (1934-1983) traduzido por Adolpho Wasserman: 

"(...) O terebinto da Torá é uma grande árvore (Pistácia atlântica) da família da sumac, também relacionada ao pistácio. Também, algumas vezes, é identificada com o carvalho. O terebinto podia viver por milhares de anos, chegando a alcançar, muitas vezes, o diâmetro de 6 m. O Terebinto de Moré poderia ter sido uma árvore particularmente grande e que serviria como marco na área (...)" - A Torá Viva - Os cinco livros de Moisés e as Haftarot. São Paulo: Maaynot, 2000, pág. 56.

Pouco nos é relatado na Bíblia sobre essa passagem de Abraão por Siquém e depois pelo local seguinte, entre as cidades de Betel e de Ai, onde outro altar foi edificado. Talvez o nome Betel (em hebraico Beth El), cujo significado em nossa língua seria "Casa de Deus", constitui a única pista que as Escrituras dão acerca dessa experiência sagrada. Ou seja, Abraão parece ter subido mais um degrau na sua intimidade relacional com o Senhor. Só que agora não mais debaixo de um carvalho, mas, sim, num monte (os povos antigos também faziam seus cultos religiosos nos altos das montanhas).

Vale ressaltar que, nas narrativas bíblicas sobre os velhos patriarcas hebreus anteriores a Moisés, inexiste a rígida observância de regras rituais na forma como ocorrerá nos livros seguintes da legislação mosaica. Abraão é mostrado como um homem comum que, ao escutar o chamado divino, deixa a casa paterna e sai a procura da Terra Prometida (Gn 12:1-6). Nesta busca é que ele vai aos poucos amadurecendo na fé e se santificando.

Entretanto, ocorreu que houve um período na vida de Abraão em que ele não ergueu altares ao Senhor. Ao deixar Betel e prosseguir até à região do deserto do Neguebe, no sul de Israel, o patriarca deparou-se com a triste realidade da fome. Deixando-se levar pela necessidade, ele atravessa então a fronteira de Canaã com o reino do Egito onde resolve se fixar.

Ora, o Egito, segundo podemos verificar pela sua geografia, tratava-se de um país próspero nos tempos bíblicos. O volumoso rio Nilo, tão extenso quanto o nosso Amazonas, era uma fonte permanente de água para a sua gente, proporcionando o abastecimento das casas, a irrigação das lavouras e a dessedentação dos animais, o que assegurava desenvolvimento econômico e atraía estrangeiros de inúmeros países. Ali, através da beleza de sua esposa Sara, a qual Abraão apresentou como sendo sua irmã, muitos benefícios foram concedidos pelo rei ao patriarca hebreu.

"Quando Abrão chegou ao Egito, viram os egípcios que Sarai era uma mulher muito bonita. Vendo-a, os homens da corte do faraó a elogiaram diante do faraó, e ela foi levada ao seu palácio." (Gn 12:14-15; NVI)

Só que não era esse o plano de Deus para a vida de Abraão! O Senhor havia lhe destinado uma terra cuja posse seria entregue à sua descendência. Esta deveria nascer de um casamento legítimo com Sara, a qual não poderia jamais pertencer a outro homem. E, mesmo que fosse o sujeito mais poderoso do mundo antigo, como eram os ricos faraós egípcios no segundo milênio antes de Cristo, a soberania divina encontra-se acima de todos os reis da Terra.

Ainda que nenhum altar tivesse sido erguido no Egito, Deus não esqueceu de seu servo. Por isso o Senhor castigou o governante egípcio que, ao saber por algum meio do matrimônio de Sara com Abraão, entendeu o motivo da repreensão divina e mandou que deportassem o casal com todos os bens adquiridos.

"Mas o Senhor puniu o faraó e sua corte com graves doenças, por causa de Sarai, mulher de Abrão. Por isso o faraó mandou chamar Abrão e disse: 'O que você fez comigo? Por que não me falou que ela era sua mulher? Por que disse que ela era sua irmã? Foi por isso que eu a tomei para ser minha mulher. Aí está a sua mulher. Tome-a e vá!'. A seguir o faraó deu ordens para que providenciassem o necessário para que Abrão partisse, com sua mulher e com tudo o que possuía." (Gn 12:17-20)

De volta à Terra Prometida, Abraão restabelece o altar que erguera no monte próximo a Betel. Ele retorna pelo mesmo caminho através do qual havia se afastado, atravessando novamente o deserto do Neguebe. Recorda-se do lugar onde, no princípio, havia armado a sua tenda e torna a invocar o nome do Senhor ali.

"Saiu, pois, Abrão do Egito e foi para o Neguebe, com sua mulher e com tudo o que possuía, e Ló foi com ele. Abrão tinha enriquecido muito, tanto em gado como em prata e ouro. Ele partiu do Neguebe em direção a Betel, indo de um lugar a outro, até que chegou ao lugar entre Betel e Ai onde já havia armado acampamento anteriormente e onde, pela primeira vez, tinha construído um altar. Ali Abrão invocou o nome do Senhor." (Gn 13:1-4) 

Meus amados, todos nós nos desviamos de Deus nos nossos caminhos. Muitas vezes as diversas necessidades vêm nos tirar do propósito original de vida que o Senhor um dia preparou para que nos realizássemos dentro da sua vontade soberana. Aí fazemos escolhas erradas, aceitamos propostas sedutores que parecem ser financeiramente mais vantajosas, deixamos a família em segundo plano, arriscamos/relaxamos a aliança do casamento e nos esquecemos de cuidar do lado espiritual. Até na condução de um ministério eclesiástico também podemos nos afastar do Senhor procurando atalhos a fim de lotar templos, alcançar fama, prestígio, contribuições financeiras e poder político, mas que nem sempre promovem a edificação das pessoas como Jesus ensinou a seus discípulos.

Seja qual foi o rumo errado que tomamos, Deus nos quer de volta à sua Canaã espiritual. Ele deseja que restauremos o relacionamento, reiniciando do mesmo ponto onde nos desviamos. E, certamente, seremos novamente acolhidos com o seu terno amor e as muitas misericórdias.

De volta à Terra Prometida, Abraão ainda vai edificar novos altares ao Senhor e experimentar uma intimidade relacional cada vez maior, o que caracterizará a celebração de uma futura aliança e importará na mudança de nomes do casal (de Abrão para Abraão e de Sarai para Sara), como podemos ler no capítulo 17. No tempo devido, o milagre acontece na vida daquela família e a esposa, mesmo já idosa e até então considerada estéril, gesta um filho do seu marido colocando na criança o nome de Isaque. 

Concluo esse texto, amados, lembrando da fidelidade do Senhor para conosco. Em Cristo, temos uma aliança eterna com Deus e jamais seremos abandonados. Por isso, devemos nos inspirar em Abraão, o "pai da fé", sendo certo que chegará a hora do cumprimento do propósito divino nas nossas vidas. Tudo conforme a vontade do nosso Pai Celestial e não a nossa! Pois, como a Bíblia e a experiência nos mostram, o Senhor tem sempre o melhor pro seu povo. Creia e não desista!

Tenham todos uma ótima quinta-feira com Jesus. 


OBS: A ilustração acima refere-se a uma obra do artista húngaro József Molnár (1821 - 1899). Extraí a imagem do acervo virtual da Wikipédia, conforme consta em https://pt.wikipedia.org/wiki/Abra%C3%A3o#/media/File:Moln%C3%A1r_%C3%81brah%C3%A1m_kik%C3%B6lt%C3%B6z%C3%A9se_1850.jpg