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sexta-feira, 26 de junho de 2015

Compreendendo o suicida



"Quando uma pessoa pensa em suicídio, ela quer matar a dor, mas nunca a vida" (Augusto Cury)

Compreender não significa concordar, mas é o primeiro passo para que possamos ajudar e até mesmo perdoar uma pessoa.

Em sua conhecida frase acima citada, o psiquiatra e escritor Augusto Jorge Cury foi bem certeiro em reconhecer que o suicida, ao fugir da dor imediata, procura de alguma maneira a vida. Tal pessoa faz isso de um modo errado, mas, no fundo, o seu desejo é se sentir bem.

Não nego que o suicídio seja uma fraqueza do ser humano diante dos desafios e que tal indivíduo perde a oportunidade de superar os obstáculos e de ter novos aprendizados.

Como havia respondido a um amigo durante um debate em grupos do Facebook, "boa parte de todas as religiões apregoam o suicídio como sofrimento" e que, de acordo com a sua interpretação da Bíblia, citando ele o Apocalipse, "ficarão de fora os cães e os feiticeiros, e os que se prostituem, e os homicidas, e os idólatras, e qualquer que ama e comete a mentira". No entanto, acredito na superioridade da graça divina contra qualquer ato humano falho e creio que Deus nos vê de maneira diferente com uma compreensão sem igual.

Assim, reitero o pensamento de que a melhor atitude a ser feita é buscarmos compreender um suicida. Não cabe a mim (ou a nenhum ser humano) julgar o seu próximo que se matou. Mesmo quem nunca tentou suicídio certamente já procurou se evadir de diversas situações conflitantes da vida que precisava resolver, quer seja evitando-as ou simplesmente adiando de maneira até inconsciente.

Ao homem, como peregrino nesta Terra, só resta amar e acolher tal como nos ensinou Jesus em seus dias. O Mestre a ninguém condenou. Antes estendeu a mão, reconciliou, orientou e ensinou. Cabe a nós, que julgamos ser seus discípulos, fazermos o mesmo.

Um ótimo final de semana a todos!


OBS: Ilustração acima (Jesus ajudando um suicida) extraída do Blog do QUEMEL.

domingo, 21 de junho de 2015

Transpetro terá que reparar dano ambiental na Baía de Sepetiba!



No fim da semana passada, os moradores dos municípios Mangaratiba e de Itaguaí foram surpreendidos com a notícia sobre o vazamento do oleoduto da Petrobrás que poluiu a Baía de Sepetiba. O desastre ecológico ocorreu na madrugada de sexta-feira (19/06). O óleo escorreu pelo rio Itinguçu, desceu pela cachoeira e desaguou no mar, alcançando as praias de Coroa Grande e de Itacuruçá a ponto de impactar nocivamente uma importante área de manguezal.

Apesar dos trabalhos de contingência que foram feitos no local pela Transpetro (subsidiária da Petrobrás), estima-se que o volume do derrame tenha sido de no mínimo 30 mil litros, o que compromete a pesca e a vida marinha, bem como pode trazer consequências negativas para o turismo em Mangaratiba. Segundo a bióloga do Instituto Boto Cinza, Kátia Silva, existe uma preocupação com os cetáceos da baía que estão em risco de extinção:

"Os botos podem morrer por contaminação em contato direto com o óleo ou pela alimentação pois o manguezal, berçário de peixes, mariscos e caranguejos, devido as suas raízes, está sendo uma barreira natural para que óleo não invada de uma vez só o mar"

Evidentemente, a Transpetro terá que pagar uma pesada multa pelo prejuízo ecológico que causou em nossa região, além de estar sujeita a indenizar os pescadores e quem tenha sido diretamente afetado com o acontecimento. E, no arbitramento dos valores, entendo que há que se levar em conta a reincidência da empresa. Isto porque, pouco tempo atrás, aconteceu outro vazamento em Angra dos Reis, o que foi até motivo de uma audiência pública no município vizinho dia 29 de maio.

A Comissão de Meio Ambiente da ALERJ solicitou laudos à Secretaria Estadual do Ambiente para dimensionar o ocorrido e aguarda informações da polícia. Nas próximas semanas, deve ser feita uma audiência pública para discutir os impactos e mitigações do vazamento com a comunidade local, ambientalistas, técnicos de governos e a Transpetro. Logo, as populações dos municípios de Itaguaí e Mangaratiba devem ficar atentas quanto a essa oportunidade de se manifestarem. Não só com o intuito de reivindicar uma reparação de danos como também para repensar o futuro da região, cabendo refletir se vale a pena continuar vivendo com um risco ambiental em nome de um falso progresso que não beneficia a maior parte do coletivo.

Mangaratiba, ao lado de Angra dos Reis, situa-se dentro da região conhecida como Costa Verde, um dos destinos turísticos mais procurados do país e que abriga grande parte da Mata Atlântica ainda preservada. Porém, com tantos empreendimentos econômicos impactando a natureza, esse nosso paraíso cada vez mais tem sido degradado, o que daqui uns anos corre o risco se tornar irreversível. Não podemos deixar!

Uma ótima semana a todos!


OBS: A imagem acima trata-se de uma foto divulgada pelo Instituto Boto Cinza.

sábado, 20 de junho de 2015

Um pouco de saudosismo poético...

 


Quando estou pelo Centro de Mangaratiba e preciso "matar o tempo", às vezes fico lendo os escritos do chamado "Beco da Poesia". Este trata-se de uma pequena via que passa ao lado do prédio histórico Solar Barão do Sahy, sendo perpendicular à Rua Coronel Moreira da Silva e à Avenida Vereador Célio Lopes, onde fica a praia.

Existem vários poemas no local, obras dos mais diversos autores da nossa literatura. Porém os que eu mais gosto de ler são aqueles que falam com saudosismo do agradável passado dessa região. Um deles, o MACAQUINHO, de Alberto Rodrigues da Silva, refere-se ao apelido do antigo trem de passageiros que vinha do Rio de Janeiro até à cidade:

"O trem parte
da estação
de Mangaratiba,
Macaquinho, Macaquinho,
que embala
tantas vidas,
veranistas, trabalhadores,
acampadores do Sahy,
Ribeira, Ibicuí, Muriquiiiiiiii
piuíííííííí, piuíííííííí...
A gente olha
a imagem bela,
o mar se perde pela janela."

Bons tempos deveriam ser aqueles em que a paisagem ainda não se achava tão agredida pela especulação imobiliária e os danosos empreendimentos portuários que fizeram na região da Costa Verde?! Não lembro se cheguei a viajar no tal do Macaquinho, porém meus pais fizeram a viagem. Segundo conta minha mãe, muitos mochileiros curtiam aquele incrível passeio nos anos 70. Aliás, antes da Rio-Santos ser inaugurada, talvez fosse o melhor meio de transporte do carioca que pretendia se aventurar pelas praias do litoral sul-fluminense.

Outro poema do "beco" que também me chama a atenção seria o XOTE DE MANGARATIBA que, embora conste no local como atribuído apenas a Humberto Teixeira, chegou a ser cantado pelo famoso Luiz Gonzaga. E foi o que confirmei na matéria Belezas de cidade fluminense levaram o Rei do Baião a gravar xote 'Mangaratiba' publicada numa página da EBC e também no Youtube.

Ôi, lá vem o trem rodando estrada arriba
Pronde é que ele vai?
Mangaratiba! Mangaratiba! Mangaratiba!
Adeus Pati, Araruama e Guaratiba
Vou pra Ibacanhema, vou até Mangaratiba!
Adeus Alegre, Paquetá, adeus Guaíba
Meu fim de semana vai ser em Mangaratiba!
Oh! Mangarati, Mangarati, Mangaratiba!
Mangaratiba!
Lá tem banana, tem palmito e tem caqui
E quando faz liar, tem violão e Parati
O mar é belo, lembra o seio de Ceci
Arfando com ternura, junto à praia de Guiti
Oh! Mangarati, Mangarati, Mangaratiba!
Mangaratiba!
Lá tem garotas tão bonitas como aqui:
Zazá, Carime, Ivete, Ana Maria e Leni
Amada vila junto ao mar de Sepetiba
Recebe o meu abraço, sou teu fã
Mangaratiba!
Mangaratiba! Mangaratiba!

Atualmente, como disse, já não há mais o trem de passageiros. Na primeira gestão do prefeito Evandro Capixaba, no momento preso em Bangu, inventaram um projeto chamado "Trem dos mares". E, como era de se esperar, a proposta nunca saiu do papel sendo que as únicas locomotivas que continuam perturbando o sossego dos moradores daqui são as da MBR (Minerações Brasileiras Reunidas), empresa controlada pela Vale do Rio Doce.

Também é uma pena que hoje em dia as nossas praias da baía de Sepetiba já não sejam mais tão limpas como antigamente. Porém, ainda há belezas e bananas no município. Aliás, como se traduz o nome da cidade do tupi, mangará seria aquele "coração" da bananeira enquanto tiba significa muita quantidade. Logo, este deveria ser o lugar de muitas bananas nos tempos dos valentes índios tamoios.

Bem, não posso dizer que sinta dificuldades de comprar essa fruta rica em potássio pois quase sempre acho alguém vendendo uns lotes pela manhã na praça principal de Muriqui, distrito de Mangaratiba onde passei a morar desde agosto/2012. Geralmente pago uns três reais a dúzia. Contudo, quando criança, recordo que os morros da Rio-Santos exibiam uma quantidade b em maior de bananeiras sendo que, naqueles anos de minha infância, achava um montão delas no quintal da vovó, o qual parecia ter uma extensão enorme.

Inaugurado em um ano antes de eu me mudar pro município, o Beco tem as suas paredes decoradas com uma antologia poética, passando por estilos como o barroco e o cubista, chegando aos tempos modernos e contemporâneos de poetas como Manoel Bandeira. Como se pode ver na foto, foram instalados postes de iluminação e bancos, onde as pessoas podem se sentar e conhecer os grandes nomes de toda a história de nossa poesia, num agradável ambiente ao ar livre. Enfim, cuida-se de um lugar imperdível para quem visita Mangaratiba.




OBS: Ilustrações acima extraídas do Mapa de Cultura que é um site do governo estadual do Rio de Janeiro.

domingo, 14 de junho de 2015

As comissões permanentes do Legislativo




Nossa população costuma reclamar constantemente dos seus parlamentares como se os mesmos nada fizessem pelo coletivo. Criticam muitas das vezes com justificável indignação. Porém, há momentos em que a revolta do eleitor torna-se flagrantemente incoerente tendo em vista que só uma minoria de cidadãos é que participa dos trabalhos nas casas legislativas.

De qualquer modo, compreendo melhor as atitudes errantes do povo do que a das nossas autoridades. Estas, afinal de contas, conhecem as leis, isto é, os seus direitos e deveres. Já a grande maioria da população brasileira não recebeu o devido preparo na escola e menos ainda dentro de casa para o exercício da cidadania. Logo, a melhor maneira de ensinar o nosso compatriota é informá-lo acerca dos canais de participação disponíveis para que ele possa trazer suas demandas ao Estado. E um dos meios existentes que pouca gente utiliza seriam as comissões permanentes, as quais, além de serem órgãos de estudo das matérias submetidas à deliberação do Legislativo, podem preparar, por iniciativa própria, proposições atinentes à sua competência, não podendo deixar de prestar um atendimento ao público.

Dependendo da Câmara Municipal ou Assembleia Legislativa, bem como da disposição de seus integrantes, as comissões poderão ser mais ou menos comunicativas. Algumas divulgam um e-mail e/ou um formulário do tipo "fale conosco" para o cidadão entrar em contato. Outras, porém, só podem ser acessadas do modo antigo que é através do protocolo da Casa. Mas seja como for, qualquer petição endereçada às comissões, tão logo seja recebida, terá que ser lida e apreciada, não podendo o requerente ser discriminado pelo simples fato de ser um eleitor comum ou ter apresentado um texto com redação simples (ainda que contendo erros gramaticais ou de ortografia).

Confesso que há algum tempo venho usando a Comissão de Defesa do Consumidor da ALERJ aqui no Estado do Rio de Janeiro. Geralmente entro em contato mais para representar contra empresas que estão prestando um mal serviço a seus clientes. Após o recebimento da mensagem que envio, o fornecedor é oficiado pelo órgão e, depois, fica obrigado a responder à CODECON mandando uma cópia ao reclamante. Então, de posse da carta-resposta, passo a usar o documento recebido como uma prova para diversos fins tais como a abertura de processo judicial, peça de informação para a imprensa, o encaminhamento de "denúncias" ao Ministério Público, etc.

Neste mês de junho/2015, porém, fiz um uso diferente da Comissão de Defesa do Consumidor da ALERJ. Ao invés de me comunicar somente com o canal para o envio de representações contra empresas, acessei o "fale conosco" com a finalidade de requerer uma indicação, no sentido de que o DETRO crie duas novas linhas de ônibus intermunicipais aqui em minha região do sul-fluminense. Uma entre Mangaratiba e Angra dos Reis e outra de Mangaratiba para Rio Claro. Argumentei que, devido à falta de um transporte direto, o passageiro é obrigado a pegar uma condução até à divisa dos municípios para depois embarcar em outro coletivo. Por exemplo, se quero ir até à cidade vizinha de Angra, tenho que, primeiramente, chegar em Conceição de Jacareí e lá seguir viagem num veículo de linha urbana. E, se vou até à rodovia Rio-Santos (BR-101) e pego um ônibus da Costa Verde vindo do Rio de Janeiro, o motorista, caso venha a parar, cobrará um valor bem salgado de tarifa A que para as minhas condições (e da maioria do consumidor brasileiro) não compensa pagar.

Pois bem. Foi só eu usar o "fale conosco" da ALERJ, no dia 06/06, que, nesta última sexta-feira (12/06), recebi uma resposta por e-mail dizendo:

"Sr. Rodrigo Phanardzis Ancora da Luz,

Conforme a sua sugestão de indicação de 2 linhas de ônibus Mangaratiba/Angra dos Reis e Mangaratiba/Rio Claro, segue em anexo a publicação do Diário Oficial datado em 11/06/2015,  com a referida indicação feita pelo Deputado Luiz Martins.
Att.
Vania Kfuri Perdigão
Tel: 2588-1637"

Já respondi agradecendo à assessora e ao parlamentar, aproveitando para pedir informações de como fazer o acompanhamento posterior para que tenhamos uma resposta do DETRO (se realmente costuma haver uma resposta deles) e que outras providências a ALERJ poderá tomar na hipótese de não haver cumprimento pelo Poder Executivo Estadual. Pois, como bem sabemos, uma boa parte das indicações feitas pelo Legislativo acabam sendo ignoradas já que se tratam apenas de reivindicações. No entanto, há que se distinguir um requerimento comum (que qualquer cidadão pode fazer) de um pedido aprovado no Plenário de uma Assembleia Legislativa já que, neste caso, passa a haver um certo respaldo, digamos assim.

Além das comissões que defendem o consumidor, os parlamentos costumam ter outros órgãos semelhantes que interessam ao cidadão comum e podem receber reclamações/sugestões relacionadas a assuntos de suas respectivas competências. Aqui na minha pequena Mangaratiba, por exemplo, uma única comissão da Câmara dos Vereadores trata de educação, saúde, ação social e meio ambiente. Logo, caso o cidadão se interesse por denunciar algo sobre a falta de médicos num hospital e a precariedade das salas de aula de uma escola, ele tem como peticionar para um único órgão que tratará acerca dos dois assuntos. Já em Câmara Municipais de cidades maiores, bem como nas Assembleias Legislativas dos estados, existem comissões específicas para a saúde, educação, ação social, meio ambiente, defesa do consumidor, transportes, direitos humanos, agricultura, pesca e outros temas mais.

Finalmente compartilho o entendimento de que cabe às comissões receberem não somente reclamações/sugestões em relação aos problemas do cotidiano, mas também se abrirem para ideias dos cidadãos e das entidades das sociedade civil quanto aos projetos de lei. Em vários lugares, já existem comissões de legislação participativa, as quais, seguindo a inovadora iniciativa adotada pela Câmara Federal em 2001, cumprem especificamente esse papel. Porém, quando não houver um canal de comunicação semelhante numa casa de leis, considero que cabe à comissão permanente existente recepcionar e adequar sugestões de proposições de matéria atinente à sua esfera de atuação.

Depois de começar a trabalhar como assessor parlamentar na Câmara Municipal de Mangaratiba, tenho repensado cada vez mais o Legislativo brasileiro e quero contribuir para que experimentemos avanços principalmente nas cidades onde moramos. Além de reformar a política, é fundamental que também ocorra uma divulgação daquilo que já existe para que o próprio cidadão interessado possa fazer o Parlamento funcionar.

Uma ótima semana a todos!


OBS: Imagem: ALERJ reprodução.

quarta-feira, 10 de junho de 2015

Sociedade e governo justos



"Eis aí está que reinará um rei com justiça, e em retidão governarão príncipes. Cada um servirá de esconderijo contra o vento, de refúgio [abrigo ou cobertura] contra a tempestade, de torrentes de águas em lugares secos e de sombra de grande rocha em terra sedenta. Os olhos dos que vêem não se ofuscarão, e os ouvidos dos que ouvem estarão atentos. O coração dos temerários [precipitados] saberá compreender, e a língua dos gagos falará pronta e distintamente." (Is 32:1-4; ARA)

Na passagem bíblica acima reproduzida, Isaías fala sobre o governo de um justo monarca que, num contexto imediato da época do autor, poderia ser o rei Ezequias, sendo que muitos cristãos logo identificam esse trecho das Sagradas Escrituras como uma das referências proféticas do Antigo Testamento a Jesus de Nazaré (antes de seu nascimento). No entanto, pode-se considerar também que a citação em tela corresponde a um anseio das pessoas íntegras em todos os tempos e lugares, expressando tudo aquilo que desejamos em relação ao nosso querido país.

Talvez alguém venha a dizer que esse trecho do livro de Isaías esteja alimentando a crença num messianismo infantil configurado na vinda de um "salvador da pátria", no sentido de que algum dia teríamos um governante capaz de resolver todos os nossos problemas. Porém, não interpreto a mensagem por este ângulo pois o texto fala de um ministério de homens retos (os "príncipes") e da solidariedade assistencial entre as pessoas. Ou seja, o "rei", que hoje seriam os nossos prefeitos, governadores e a presidenta, não agirá sozinho na promoção da justiça social.

Muitas vezes o povo culpa os governantes pelo fracasso dos projetos coletivos, mas há um esquecimento de que todos têm uma parcela de responsabilidade pelos resultados em maior ou menor grau. E, numa democracia participativa, na qual somos chamados para contribuir com propostas e opiniões, tornamo-nos ainda mais responsáveis! Até mesmo porque hoje em dia é a população quem elege os seus legisladores e gestores diferentemente de uma monarquia absolutista da Antiguidade, valendo afirmar que o cidadão frequentemente se corrompe a ponto de trocar o seu apoio político por benefícios individuais tais como o recebimento de dinheiro, a nomeação para cargos públicos, a obtenção de emprego para algum parente, a solução de um problema pendente da prática de atos oficiais, o favorecimento em negócios institucionais, etc...

É compreensível que um ser humano vivendo em estado de necessidade, debaixo de um condicionamento escravizador, encontre dificuldades de pensar no bem estar do seu próximo quando o mesmo precisa salvar primeiramente a sua pele. Contudo, a partir do momento em que uma sociedade se direciona por interesses egoístas, ou sucumbe ao comodismo paralisante dos prazeres, ocorre um adoecimento coletivo capaz de criar um ambiente generalizado de injustiças. É o que estamos vivendo hoje neste país em que, apesar de algumas exceções, cada qual quer cuidar mais de seus próprios negócios.

Na profecia de Isaías, embora as adversidades naturais não cessem, eis que o reinado justo vem corresponder à atitude amorosa entre as pessoas de uma sociedade, o que permite ao povo superar os desafios que se apresentam fortalecendo a unidade nacional. Por isso o enfrentamento de enchentes, secas, terremotos, guerras, carestias e de enfermidades abranda-se quando ocorre uma cooperação mútua com os mais fortes socorrendo os fracos na medida de suas possibilidades. Já num país corrompido, as catástrofes e a miséria alheia chegam a ser vistas como oportunidades para os espertos se darem bem em cima de cada necessidade.

Nessas horas, uma sociedade e um governo justos têm olhos para ver e ouvidos para ouvir. Em outras palavras, os anseios dos mais carentes não ficam ignorados. Antes há uma atenção humanitária quanto ao sofrimento do próximo fazendo com que tanto as políticas públicas como a liberalidade assistencial tornem-se ações eficientes para a satisfação das demandas sociais básicas.

Para que tudo isso seja alcançado é preciso ter um espírito compreensivo (verso 4). O "coração", segundo a concepção bíblica hebraica, seria o interior do homem que governa a prática de seus atos externos. Tem a ver com os nossos pensamentos, motivações, intenções, os sentimentos mais íntimos e, principalmente, com a base do caráter, incluindo-se aí a nossa vontade. Logo, se desejamos viver num mundo onde reine a justiça, torna-se indispensável o exercício da compreensão. Em outras palavras, devemos despertar o amor e a bondade existentes dentro da gente procurando nos colocar no lugar do outro que está sofrendo. Só assim é que realmente vamos caminhar rumo a um futuro glorioso construindo um patrimônio ético para as futuras gerações. Do contrário, será tudo enganação política e religiosa.

Um ótimo dia para todos!


OBS: Ilustração extraída de http://www.mda.gov.br/sitemda/sites/sitemda/files/imagem_destaque/15840791.jpeg

sexta-feira, 5 de junho de 2015

Prefeituras devem adequar as guardas municipais à Lei 13.022/2014




Tão logo foi aprovado o Estatuto Geral das Guardas Municipais, diversas controvérsias jurídicas e administrativas surgiram pelo país. Uma delas diz respeito aos planos de cargos e salários dos municípios tendo em vista a exigência de escolaridade de nível médio completo para a investidura no cargo, conforme previsto no artigo 10, inciso IV da citada norma legal.

Tal mudança mexe com a situação de inúmeras prefeituras, as quais contam com servidores públicos, em suas respectivas guardas, que possuem apenas o ensino fundamental recebendo baixos valores. E, além disso, muitos desses funcionários não tiveram a remuneração adequada à nova realidade do cargo.

Considerando a exigência da escolaridade de 2º grau, devem então os servidores das guardas municipais ser enquadrados conforme as exigências da legislação federal que nada mais é do que uma regra geral para todo o país. Com isso, a carreira desses nobres profissionais precisa ingressar imediatamente num nível mais elevado, tendo em vista que a evolução das atribuições do cargo torna imprescindível uma maior qualificação técnica do guarda municipal para o exercício de suas funções.

Diante disso, então como fica a situação daqueles servidores que apenas têm o 1º grau?!

Bem, a lei sancionada ano passado pela Dilma não diz nada a respeito de como fica a remuneração de quem não tem o 2º grau completo, mas o meu entendimento jurídico é que deve haver o mesmo pagamento de salários a todos da corporação, mesmo que os antigos não tenham concluído o nível médio. Em Barra Mansa (RJ), a Prefeitura de lá parece que está se posicionando para ajudar esses membros da corporação a completarem a escolaridade em dois anos, mesmo compreendendo que nem todos alcançarão a meta.

Todavia, pode gerar outra controvérsia jurídica caso algum governo municipal queira estabelecer diferentes remunerações conforme o grau de instrução do funcionário. Entretanto, considero que a lei municipal jamais pode fixar salários-base distintos para o mesmo cargo. Isto configuraria uma violação da isonomia, visto que, nesta hipótese, criaria tratamento desigual em razão da escolaridade entre os servidores ocupantes do mesmo cargo ao fixar salários-base diferenciados, a despeito do exercício das mesmas funções e carga horária, de modo a afrontar o artigo 39, parágrafo 1º, da Constituição Federal. Aliás, já existem precedentes do STF e do STJ no sentido de que "servidores que ocupam os mesmos cargos, com a mesma denominação e na mesma estrutura de carreira, devem ganhar igualmente".

Assim, vejo que os municípios não terão outra alternativa senão se adequarem às atuais exigências da legislação federal, inclusive no que diz respeito aos novos editais de concurso público. Sei que isso poderá excluir algumas pessoas com escolaridade incompleta para que tenham o direito de concorrer ao cargo, mas há que se compreender também as necessidades de termos mão-de-obra mais qualificada já que hoje as guardas estão se tornando verdadeiras "polícias municipais" colaboradoras da segurança pública.

Finalmente, há que se observar a necessidade de capacitação específica prevista nos artigos 11 e 12 da lei. Isto vai exigir que, de acordo com as demandas de uma cidade, os municípios criem suas próprias escolas de formação, treinamento e aperfeiçoamento dos integrantes da guarda. Entretanto, acho que, na maioria das prefeituras, as coisas não deverão acontecer sem o apoio dos governos estaduais. Ou seja, muitos guardas vão acabar sendo treinados pela PM.


OBS: Créditos autorais da foto acima atribuídos a Carlos Bassan/Prefeitura de Campinas, conforme extraí de uma página de notícias do Senado em http://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2014/08/12/sancionado-estatuto-geral-das-guardas-municipais

Façamos do Brasil um país pensante!




Nos últimos anos, o Brasil ampliou o acesso à educação como todos sabemos. Porém, a sociedade ainda aguarda uma significativa melhoria na qualidade do ensino ministrado nas escolas públicas.

Quando se fala em qualificar o ensino, há que se incluir aí um modelo de educação que forme livres pensadores. Ou seja, alunos com senso crítico capazes de refletir, agir com dinamismo e exercitar a criatividade. Não basta o educando acumular conhecimento teórico memorizado, pois é necessário compreender e saber como aplicar a informação recebida.

Como havia comentado na postagem de 23/05 deste blogue (Coragem!), tenho feito a leitura do excelente livro Coragem para evoluir do administrador de empresas Luciano Vicenzi, o qual dedicou algumas páginas de sua instrutiva obra para tratar da instituição escola, comentando acerca dos estímulos à criatividade dado aos alunos em alguns modelos de ensino mais avançados. Segundo ele, estes seriam trabalhos que buscam desenvolver a habilidade do educando a fim de tornar o estudo algo divertido, sem deixar de ser produtivo.

Acontece que essas inovações no sistema ainda constituem exceções dentro da escola brasileira. Segundo o citado autor, o modelo atual de educação mais comum "pouco ensina a pensar, mas, prioritariamente, obedecer". E complementa:

"As manifestações mais espontâneas, diferentes daquelas preestabelecidas há várias gerações, sem qualquer revisão, são imediatamente reprimidas. Parte-se do princípio de que o diferente pode ser perigoso. Quando começariam a despontar as qualificações da consciência para a vida, sobrevem o reforço dos comportamentos da ideologia dominante, a massificação das repressões, autoritarismos e condicionamentos predeterminados. O indivíduo, ainda em formação, tem as posturas mais originais tolhidas, sem uma análise mais profunda das raízes e conseqüências dessas atitudes, da validade ou do conteúdo informacional das mesmas. Os próprios colegas, quando já trazem assimiladas as formas de repressão que lhes foram impostas, passam a pressionar esta criança que, discordando desse modo de agir, vê-se deslocada." (1ª edição. Rio de Janeiro: Instituto Internacional de Projeciologia e Conscienciologia, 2001, pág. 43)

Até quando teremos instituições de ensino que ainda reprimem o saber, a criatividade e a iniciativa de pesquisa?!

O fato é que precisamos tomar a consciência de que as escolas brasileiras e o próprio ambiente social no país ainda não são propícios para o desenvolvimento da criatividade. Não é por menos que somos importadores de tecnologia de ponta e perdemos inúmeros cientistas brilhantes para o estrangeiro. Também muitas crianças talentosas diferentes das demais não desenvolvem o aprendizado nessas instituições e, contrariamente ao que se deseja, saem das aulas bloqueadas para o aprendizado.

Criar um Brasil pensante neste alienante século XXI não será tarefa fácil. Além da escola, há que se levar em conta o ambiente familiar do indivíduo, a influência da religião (quase sempre emburrecedora), os diversos grupos de convivência social entre os quais costumam faltar estímulos para um debate instrutivo e também as redes de internet em que a leitura de textos vem sendo substituída por rápidas "curtidas". Porém, é preciso mudar com ousadia essa realidade sendo importantíssima a atitude motivacional do líder a exemplo não só dos professores como também dos pais, dos gestores empresariais, dos chefes das repartições públicas, dos ministros eclesiásticos e dos próprios pensadores em geral, tornando-se todos conscientes desse elevado dever ético para com a humanidade.

Um ótimo final de semana a todos!


OBS: A ilustração acima refere-se a uma foto da escultura feita em bronze O Pensador (1904), do artista francês François-Auguste-René Rodin (1840 — 1917), a qual se encontra no Museu Rodin, Paris, França, conforme extraído do acervo virtual da Wikipédia em http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Paris_2010_-_Le_Penseur.jpg

terça-feira, 2 de junho de 2015

O Estado Islâmico e as omissões do governo brasileiro




Mais uma vez o mundo se viu chocado com a exibição de imagens de um vídeo obtido pela BBC que documenta a violenta tortura de um adolescente sírio de 14 anos pelos terroristas do Estado Islâmico.

Assistindo a essas repetidas notícias de atrocidades cometidas no Oriente Médio por tal organização, tenho cada vez mais apoiado as ideias de intervenção militar terrestre naquela região através da ONU e dos países da Liga Árabe. Pois, se nada for feito neste sentido, os jihadistas vão acabar alcançando o objetivo que propõem: estabelecer um "califado" entre o Iraque e a Síria. E, se isto for concretizado, representará um verdadeiro perigo para a humanidade.

As imagens do referido vídeo mostram o rapaz de nome Ahmed encapuçado, amarrado pelos pulsos, com os braços levantados e suspenso do chão, sendo covardemente espancado por dois militantes do Estado Islâmico, todos vestidos de preto. Um dos homens tem uma faca e uma pistola na mão, o outro uma metralhadora AK-47. Além das agressões, o jovem também foi sujeito a electrocussão, um "castigo" pelo seu envolvimento, ainda que inconsciente, numa conspiração contra os terroristas.

Quando me deparo uma notícia dessas, não consigo acreditar que, no ano passado, durante uma reunião das Nações Unidas, a nossa presidenta chegou a criticar os bombardeios dos Estados Unidos ao Estado Islâmico, alegando que o Brasil "sempre vai acreditar que a melhor forma é o diálogo". Uns três dias depois, Dilma resolveu negar que teria defendido um diálogo com os integrantes do grupo radical, mas aí já era tarde.

Sinceramente, um país que pretende obter a cadeira de membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, ao lado das grandes potências, não pode assumir uma postura tão estúpida diante do ameaçador terrorismo que se espalha por todo o planeta. O Itamaraty deveria rever urgentemente as suas posições omissas a fim de que a nossa política externa passe a prestar socorro aos que sofrem perseguição religiosa em todo o mundo.

Pelo que tenho observado, o petismo ainda se mostra cego quanto a essas questões e não soube desconstruir por completo as sua arcaicas concepções anti-americanistas dos anos 70, as quais não levam em conta os atrasos mentais do radicalismo islâmico. Se por aqui os ativistas de esquerda são capazes de defender bandeiras ousadas do feminismo e das causas dos homossexuais, a exemplo do casamento igualitário, deveriam lembrar-se que, se vivessem no Oriente Médio, já teriam sido executados há tempos por violação das regras do Corão. Logo, trata-se de uma burra incoerência não condenarem as ações desses jihadistas sanguinários.

Mais do que nunca, nós brasileiros precisamos nos solidarizar com a causa das minorias curdas e cristãs hoje massacradas por esse Estado Islâmico. Como discípulo de Jesus, peço às igrejas em meu país que não apenas orem a Deus como também passem a defender uma intervenção militar terrestre no Oriente Médio em que as nossas forças armadas integrariam uma missão de paz da ONU. Acima de tudo, precisamos lutar pela liberdade das pessoas e não podemos de maneira alguma tolerar que o terror se instale em qualquer região do planeta.

Chega dessa covardia!


OBS: Imagem acima referente ao vídeo obtido pela BBC.