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sábado, 30 de maio de 2015

Como acabaremos com o DNA cultural da corrupção brasileira?




Não gosto quando ouço alguém me dizer que o Brasil é "um país corrupto" devido ao fato de "Portugal ter enviado para cá ladrões, assassinos e outros tipos de criminosos" durante o processo de colonização. Afirmações assim, além de serem flagrantemente preconceituosas (pois significaria termos herdado o caráter pela genética), configuram um tremendo erro em relação à História. Isto porque, embora a terra oficialmente "descoberta" por Pedro Álvares Cabral tenha recebido pessoas degredadas, jamais chegamos a ser, em essência, uma colônia penal, a exemplo do que foi Austrália em relação ao Império Britânico, hoje uma nação desenvolvida e considerada de primeiro mundo.

Entretanto, há que se levar em conta a mentalidade cultural motivadora da ocupação do território brasileiro em seus principais casos até 1808, ano da chegada da família real. De fato, enquanto os Estados Unidos foram uma colônia de povoamento para aliviar as tensões religiosas na Inglaterra, o Brasil caracterizou-se mais por ser um infeliz lugar de exploração econômica. Assim foi desde o início da extração da quase extinta Caesalpinia echinata, passando pela monocultura da cana-de-açúcar, depois pelo ciclo do ouro, até chegar no comecinho do plantio do café, quando D. Pedro I proclamou a Independência em 1822.

Sem dúvidas não podemos negar que, na nossa colonização, quando o estrangeiro aportava aqui, o seu objetivo costumava ser o de enriquecimento rápido com alguma atividade para então retornar à Europa. Mesmo os que adquiriam terras e outros bens no Brasil (da mesma maneira que seus descendentes nascidos aqui) sentiam-se mais portugueses do que brasileiros desejando desfrutar de uma futura vida luxuosa na metrópole de origem. Aliás, eram todos súditos do rei e muitos pretendiam obter favores e promoções junto à Corôa portuguesa, como muito bem explicou a historiadora Denise Moura numa matéria publicada pela BBC Brasil de 04/11/2012:

"Quando Portugal começou a colonização, a coroa não queria abrir mão do Brasil, mas também não estava disposta a viver aqui. Então, delegou a outras pessoas a função de ocupar a terra e de organizar as instituições aqui (...) Só que como convencer um fidalgo português a vir para cá sem lhe oferecer vantagens? A coroa então era permissiva, deixava que trabalhassem aqui sem vigilância. Se não, ninguém viria"

Apesar dos quase dois séculos de emancipação política brasileira, verifica-se até hoje que o pensamento de exploração não se modificou entre os ladrões do dinheiro público. A grande maioria desses corruptos sonha em comprar uma mansão em Miami, abrir conta na Suíça, dirigir carro importado de última linha e ostentar lá fora o que se apropriou ilicitamente aqui. Inclusive, o próprio D.  João VI teria deixado o seu belo exemplo quando depenou o Banco do Brasil, instituição que ele mesmo fundara, e se mandou com os nossos recursos para Portugal.

Ora, essa é a mentalidade cancerosa que precisa mudar no Brasil e aí lamento o fato da Igreja não ter conseguido implantar uma cultura de base bíblica que valorizasse a integridade do indivíduo e o seu amor pela terra. Pois como se percebe da leitura das Escrituras Sagradas, principalmente dos livros do Antigo Testamento, os israelitas do passado foram muito bem ensinados pelos profetas a amarem o massacrado país deles, tantas vezes devastado por sangrentas guerras. São diversas as passagens que, metaforicamente, chamam Israel de "vinha" ou "figueira" e valorizam os símbolos nacionais judaicos como o Monte Sião (lugar onde ficava o Templo de Jerusalém), o sacerdócio religioso, as festas típicas do calendário deles e o primeiro diploma ético-jurídico que tiveram - a Lei de Moisés. O desejo de retorno à Terra Prometida, gerado com as invasões assírias e mais ainda com o exílio babilônico (século VI a.C.), certamente serviu de fonte inspiradora nos 2000 anos da diáspora judaica imposta pelos romanos a ponto de terem construído, já desde o século XIX, uma sólida base ideológica do vitorioso movimento sionista até 14 de maio de 1948, data da criação do Estado de Israel.

Um povo que não possui identidade e nem preserva o respeito em relação à sua terra corre o sério risco de ser assimilado/dominado por outras culturas estrangeiras. Por isso, mais do que nunca precisamos aprender a amar o Brasil e a cultivar valores corretos. Através das escolas, dos ambientes religiosos saudáveis, das instituições sociais sérias e da boa convivência familiar, devemos manter a esperança de formar uma nova geração com princípios éticos mais elevados, o que, por sua vez, poderá se refletir na condução da política, na aplicação da justiça, na elaboração e no cumprimento das leis, bem como na gestão da coisa pública.

Lutemos por um país assim, meus amigos! E viva o Brasil!


OBS: A ilustração usada acima refere-se à cerimônia do beija-mão na corte carioca de D. João VI, em que os súditos faziam os seus pedidos ao rei, um típico costume da monarquia portuguesa que entrou para o nosso folclore.

sexta-feira, 29 de maio de 2015

Por um futebol mais limpo...




Um dos assuntos desta semana foram as assinaturas obtidas pelo senador Romário (PSB-RJ) para instaurar uma CPI com a finalidade de investigar as denúncias de corrupção na CBF de olho na Copa de 2014. Foi o que escreveu o ex-jogador da seleção brasileira em sua conta no Twitter:

"Vamos investigar os contratos irregulares para a realização de partidas da seleção brasileira e outros campeonatos. Não podemos mais esperar para instalar a CPI. Este é o momento e temos chances de ter colaboração de outros países."

Sem dúvida que as recentes prisões dos altos dirigentes do futebol, feitas com a decisiva participação do FBI, estão gerando um aquecimento na opinião pública do país, o que favorece a propositura de uma CPI no Congresso. Porém, penso que as investigações sobre a Copa precisam ir mais além. Por exemplo, fico a indagar sobre os gastos exorbitantes que tivemos com a construção desses estádios caríssimos em que haveria inúmeras suspeitas de ineficiência e de superfaturamento nas obras.

Porém, ao mesmo tempo em que o senador Romário deseja combater a corrupção no futebol (uma atitude mais do que plausível), muitos torcedores deveriam se auto-questionar a respeito do papel de trouxa que faz quando gasta tempo e dinheiro indo aos estádios. As pessoas soltam fogos e comemoram o gol marcado por seu time no campeonato, mas ignoram a safadeza existente nos clubes e entre os poderosos dirigentes esportivos.

Outrossim, penso que o futebol em si não merece ser penalizado e aí umas das coisas que o Congresso poderia ficar atento seria quanto à moralização das competições e do esporte. Os clubes, embora sejam entidades privadas, são também instituições tradicionais da sociedade que continuam despertando amor e paixão nos brasileiros. Logo, há que se exigir uma conduta cada vez mais ética e exemplar dos mesmos de modo a justificar leis prevendo também o afastamento temporário das equipes nos jogos por estarem seus clubes envolvidos em corrupção.

Cada vez mais o futebol está sendo visto por um novo ângulo. Do mesmo modo como um time hoje pode ser eliminado por atos de violência ou racismo praticados pelos torcedores, a corrupção dos dirigentes de clubes também não pode ficar esquecida. E, quanto a essa luta, estou com o Baixinho, desejando que Romário consiga marcar mais esse belíssimo gol através da política.


OBS: A foto acima acima foi extraída de uma notícia da Agência Brasil sendo os créditos autorais atribuídos a Marcelo Camargo, conforme consta em http://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2015-05/romario-comemora-prisao-de-jose-maria-marin

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Estou trabalhando na Câmara...




Neste mês de maio, comecei a trabalhar na Câmara Municipal de Mangaratiba! Recebendo um convite do vereador José Maria de Pinho (PSB), fui nomeado assessor de seu gabinete, tendo ele me pedido que o ajudasse na elaboração de proposições legislativas e também contribuísse dando-lhe um apoio jurídico.

Sem criar nenhuma resistência, aceitei o cargo, enxergando uma oportunidade de trabalhar por Mangaratiba. Afinal, eu havia elaborado mais de 100 sugestões para a minha cidade, as quais encontram-se publicadas no Propostas para uma Mangaratiba melhor, outro blogue que administro. Logo, pensei na grande chance de começar a apresentar essas ideias por meio de quem possui um legítimo mandato popular.

Confesso que estou gostando muito desse meu novo trabalho pois tem a ver com as coisas que me dão prazer, as quais já fazia voluntariamente antes: discutir assuntos de política, criar projetos, defender opiniões, bem como estar junto dos principais acontecimentos do município onde vivo. E, se posso realizar tudo isso sendo remunerado para ter tempo de me dedicar melhor e com maior disponibilidade de pesquisa, por que não?

Quando me formei em Direito (final de 2004), pensava mais em advogar. Morando ainda na Região Serrana do Rio de Janeiro, atuei nas áreas de defesa do consumidor e de responsabilidade civil tão logo peguei minha carteira da OAB em abril de 2005. Simultaneamente, não deixei de ser um militante da política, coisa que já fazia desde o movimento estudantil secundarista em Minas Gerais (1993). Já estive filiado em partidos e colaborei com dois vereadores de Nova Friburgo, mesmo sem ter sido nomeado assessor deles (como advogava contra o Município, a legislação proíbe o profissional de atuar contra a Fazenda que o remunera). Mas, na sobra de um tempinho livre, sugeria algum projeto de lei municipal, ou uma emenda ao orçamento da Prefeitura, mandando o texto via e-mail.

Em 2011 (ano da enchente), deixei a Região Serrana e vim parar no Rio de Janeiro, mudando-me uns oito meses depois, em agosto de 2012, para a localidade litorânea de Muriqui, 4º Distrito de Mangaratiba. Aqui não cheguei a advogar em larga escala, trabalhando mais como microempreendedor. As poucas vezes em que entrei no Fórum da Comarca foi em causa própria, para ajudar minha esposa e numa demanda da irmã dela contra a Telemar em Juizado Especial. Também propus uma ação popular pretendendo evitar que o ex-prefeito construísse um cais no meio da nossa praia, muito embora a obra ainda não tivesse sido licenciada pelo INEA.

Em maio de 2013, mesmo morando aqui há menos de doze meses, foi quando comecei a apresentar minhas propostas no referido blogue. Também continuei encaminhei algumas representações para o Ministério Público via internet e, neste ano, participei de movimentos sociais contra a corrupção, os quais culminaram com a prisão do ex-mandatário Evandro Capixaba (ler artigo Vitória do povo: prefeito de Mangaratiba é preso!).

Ainda no mês de abril, antes mesmo do Zé Maria me chamar para conversar, senti que os ventos estavam me empurrando para dentro da política. Não sei bem explicar, mas sinto que essa minha passagem pela Câmara de Mangaratiba talvez seja parte de alguma missão que tenho pela frente de modo que não vejo o trabalho atual como um "emprego" e menos ainda uma "renda extra". É algo que, além disso, está me realizando.

Sei que nem tudo são flores e que, como ocorre em praticamente toda tarefa, existem obstáculos para serem contornados ou superados. A realidade de uma Câmara Municipal não é a mesma do cotidiano forense e nem da iniciativa privada. Muitas vezes as coisas não se desenrolam como desejamos e as pautas obrigam um assessor a agir com paciência diante das circunstâncias. Nessas horas, há que se buscar sabedoria e prudência no trato com outros colegas bem como com demais funcionários da Casa. Entretanto, peço a Deus que me auxilie afim de que eu caminhe sempre com fé, determinação, integridade e não me falte criatividade para continuar sugerindo novos projetos para o município.

Como assessor do vereador José Maria, aproveito para colocar-me à disposição do público com a finalidade de ouvir as necessidades da população de Mangaratiba fazendo, sempre que possível, uma ponte do eleitor com o gabinete dele. Por isso, enquanto estiver na Câmara, quero prontificar-me para receber sugestões e conhecer as opiniões das pessoas. Qualquer participação construtiva será muito bem vinda!




OBS: A primeira imagem refere-se ao prédio da Câmara Municipal de Mangaratiba enquanto a segunda foto foi tirada nesta última terça-feira (26/05) junto com o vereador Zé Maria na sala de espera do seu gabinete.

sábado, 23 de maio de 2015

Coragem!



"Depois da morte de Moisés, servo do Senhor, disse o Senhor a Josué, filho de Num, auxiliar de Moisés: 'Meu servo Moisés está morto. Agora, pois, você e todo este povo, preparem-se para atravessar o rio Jordão e entrar na terra que eu estou para dar aos israelitas. Como prometi a Moisés, todo lugar onde puserem os pés eu darei a vocês. Seu território se estenderá do deserto ao Líbano, e do grande rio, o Eufrates, toda a terra dos hititas, até o mar Grande, no oeste. Ninguém conseguirá resistir a você, todos os dias da sua vida. Assim como estive com Moisés, estarei com você; nunca o deixarei, nunca o abandonarei. Seja forte e corajoso, porque você conduzirá esse povo para herdar a terra que prometi sob juramento aos seus antepassados. Somente seja forte e muito corajoso! Tenha o cuidado de obedecer a toda a lei que o meu servo Moisés lhe ordenou; não se desvie dela, nem para a direita nem para a esquerda, para que você seja bem sucedido por onde quer que andar. Não deixe de falar as palavras deste Livro da Lei e de meditar nelas de dia e de noite, para que você cumpra fielmente tudo o que nele está escrito. Só então os seus caminhos prosperarão e você será bem sucedido. Não fui eu que lhe ordenei? Seja forte e corajoso! Não se apavore, nem se desanime, pois o Senhor, o seu Deus, estará com você por onde você andar.'" (Js 1:1-9; NVI)

Umas das passagens bíblicas que considero bem motivadora seria esse comecinho do Livro de Josué quando Deus anima o novo líder do povo de Israel que havia ficado no lugar de Moisés. Segundo o texto acima traduzido da Nova Versão Internacional, seria preciso "coragem" afim de que os israelitas conquistassem a Terra da Promessa.

No entanto, como podemos perceber claramente da leitura acima, caberia a Josué ser corajoso não apenas para enfrentar as batalhas militares contra as cidades fortificadas dos cananeus, mas também trilhar o caminho correto de Moisés em todas as suas ações. Deveria ele agir com constância, firmeza e determinação.

Refletindo sobre o assunto, vejo que muitas vezes a coragem seria o elemento que costuma faltar na vida de muita gente, inclusive na minha. Por causa de nossa inércia, deixamos de ser bem sucedidos em diversas áreas, quer seja no campo profissional, nas relações familiares, no cuidado com a saúde e também no tocante à espiritualidade. Apensas exemplificando, um candidato ao vestibular viciado em internet, mesmo sabendo que precisa estudar com afinco para a prova, nunca ousa desconectar-se do Facebook para começar a resolver os problemas de Química. Igualmente, uma paciente obesa está sempre adiando o início de sua dieta comendo mais um pedaço de torta hoje, uma pizza inteira amanhã...

Em seu livro Coragem para Evoluir, o qual comecei a ler neste mês de maio, Luciano Vicenzi aborda a questão central das escolhas chegando a citar o grande pensador da humanidade Aristóteles. Para o autor, que é administrador de empresas e também professor de Conscienciologia, a coragem entra como o sustentáculo de nossas decisões:

"O filósofo grego Aristóteles (384 - 322 AC.) ressalva sua importância colocando-a como a virtude que permite o desenvolvimento das outras, estabelecendo uma correlação direta com a vontade. Efetivamente, não podemos falar de coragem sem nos referir à força de vontade propulsora de qualquer ação humana em direção a estágios evolutivos mais avançados. Alcançar novos patamares não requer apenas mudança na forma de pensar e sentir sobre algo, mas também uma reflexão profunda sobre a qualidade de determinação aplicada na direção dos objetivos prioritários que estabelecemos. É essencial verificar com clareza onde exatamente se quer chegar e o quanto se quer. Cada conquista exige sua cota de esforço e suor. A vida, em qualquer dimensão, é um constante sistema de escolhas. Optar por alguma coisa sempre implica na renúncia de outra. A condição em que nos encontramos atualmente é resultado das escolhas do passado, assim como o futuro depende de nossas atitudes no presente. A coragem é a vontade que sustenta a decisão tomada, exigindo um novo posicionamento mental diante dos antigos referenciais de comportamento." (1ª edição. Rio de Janeiro: Instituto Internacional de Projeciologia e Conscienciologia, 2001, págs. 24-25)

Verdade é que estamos a falar de algo que depende exclusivamente de nossas ações! Não me refiro ao resultado alcançado, mas, sim, à atitude corajosa que precisamos ter diante das circunstâncias que se apresentam no cotidiano. Pois mesmo fazendo constantes orações a Deus e ainda tomando conhecimento das coisas corretas a serem postas em prática, existem aqueles difíceis momentos de enfrentamento quanto ao desânimo, ao medo, às opiniões alheias contrárias ao que escolhemos, ao comodismo, à preguiça mental, aos equivocados sentimentos de culpa e ao sofrimento relativo às perdas.

Creio que junto com a atitude corajosa vem a fé. Ter a consciência de que não caminhamos por aí sozinhos, podendo contar com o amparo divino em todo o tempo pelos lugares onde andamos, contribui consideravelmente para que nos posicionemos com firmeza afim de superarmos os obstáculos. Por isso sempre que ficamos acovardados diante das situações, indo por atalhos anti-éticos, torna-se sugestivo reavaliar a nossa fé.

Inegavelmente o exercício da coragem pode depender de um processo educativo de disciplina experimentado por cada pessoa até que ela se torne capaz de vencer os seus altos e baixos. Contudo, um dos resultados das condutas corajosas seria o desfrute de nossa liberdade. Pois foi o que aconteceu com os antigos israelitas ao conquistarem a Terra Prometida, os quais já não precisavam mais se sujeitar à escravidão de outros povos porque passaram a dispor de um território onde poderiam plantar, colher, criar seus animais, edificar casas e cidades.

Da mesma maneira, amigos, acredito que, se formos corajosos, poderemos alcançar grandes coisas em nossa existência, quer seja no plano individual ou coletivo. Assim sendo, vale a pena nos esforçarmos e jamais desistirmos. Se caímos, vamos nos levantar dando a volta por cima. E, na hipótese do nosso próximo ficar prostrado ou abatido, que possamos vir rapidamente ao seu encontro e reanimá-lo como fez Deus com o novo líder de Israel, após a impactante morte de Moisés.

Um ótimo domingo a todos e que sejamos corajosos como Josué!


OBS: Ilustração acima extraída de http://trilhasdesaopaulo.sp.gov.br/trilhas/rafting-no-rio-paraibuna-no-pesm-na-nucleo-santa-virginia/attachment/media-rafting-no-rio-paraibuna-03/

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Dia das mães com atraso, mas em porção multiplicada...




Embora tenha passado o 2º domingo do mês em Mangaratiba, curti este último final de semana em dose mais do que triplicada na capital federal.

Tendo minha mãe se mudado para Brasília no mês de fevereiro do corrente ano, dessa vez tive que viajar mais de 1.000 quilômetros para vê-la. Porém, não há distância capaz de separar as pessoas quando elas se dispõem a estarem juntas e, principalmente, cultivarem os laços que as unem. Então, apesar de todas as dificuldades e compromissos, saí com Núbia de Mangaratiba ainda na semana passada e voamos para o DF fazendo uma conexão em Campinas pela companhia Azul.

Em duas vezes anteriores eu havia passado por Brasília. A primeira delas foi numa manifestação política, em 1993, aos 17 anos, quando viajei escondido da família junto com o pessoal da União Juizforana de Estudantes Secundaristas (UJES), entidade da qual era diretor de imprensa. Já a segunda ocasião coincidiu com o passeio que eu e Núbia fizemos à Amazônia no ano 2000. Partindo do Rio de Janeiro, fomos diretamente para Palmas e de lá seguimos pra Marabá e depois Altamira, no Centro do Pará. Só que em nenhum daqueles momentos cheguei a dormir na capital do nosso país e menos ainda percorrido seus pontos turísticos.

Confesso que Brasília surpreendeu-me positivamente por sua organização e sua enorme diversidade de locais destinados para o lazer. A cidade pode não ter praia, mas tem o Lago Paranoá. E ambientes culturais é o que não falta pois o que existe lá de shows, exposições, barzinhos e outros eventos não está no gibi.

Entretanto, não ficamos apenas em Brasília. No sábado, o companheiro de minha mãe, Toninho (o mesmo pianista da postagem anterior Um piano em minha noite), levou-nos de carro para conhecer o Palácio da Alvorada (residência oficial da Dilma) e a histórica Pirenópolis já no Estado de Goiás. Lá almoçamos uma comida típica no restaurante Dona Cida e visitamos a matriz da cidade. Esta havia sido devastada por um terrível incêndio em 2002 e foi extraordinariamente reconstruída.


Quanto ao domingo, aí sim eu visitei melhor Brasília, tendo nós conhecido a Ermida de Dom Bosco, a Ponte JK, a Praça dos Três Poderes e a Catedral Metropolitana de Nossa Senhora Aparecida. Onde mais nos demoramos foi no Congresso Nacional em que tivemos um passeio guiado por dentro das duas casas do nosso Legislativo: a Câmara dos Deputados e o Senado Federal. Minha mãe e Toninho ficaram do lado de fora nos aguardando enquanto a guia Cláudia (também funcionária de lá) explicava sobre os principais ambientes e suas obras de arte. Quando saímos do prédio, fomos direto almoçar pois já eram duas da tarde e, devido ao cansaço das duas mulheres, voltamos para casa mais cedo.

Na Catedral de Brasília, chamou-me a atenção uma réplica que encontrei da Pietà de Michelangelo. Achei também o ambiente alegre devido ao colorido de seus vitrais tratando-se indubitavelmente de um belo presente que o saudoso Niemeyer deixou para a nação. Aliás, foi o primeiro monumento que a cidade recebeu, algo digno de ser visitado pela nossa gente brasileira e também do mundo inteiro.


Como sou um cara ecologista, não quis terminar minha visita sem ir ao Parque Nacional de Brasília. Aproveitando o sossego da manhã desta segunda-feira, consegui que minha mãe e Toninho nos levassem rapidamente até lá. Pena que não deu pra andar em nenhuma das trilhas, mas fomos até o centro de educação ambiental da unidade e vimos uns macacos pregos no caminho perto da piscina de água natural.

Recomeçando minhas atividades esta semana, sei que levarei ótimas lembranças desse passeio e espero retornar outras vezes para rever minha mãe. Núbia ficou muito feliz e, na medida do possível, tem aproveitado. Particularmente, sinto-me feliz em proporcionar a ela esses momentos ainda que me privando de coisas mais intensas, sendo certo que a verdadeira aventura da vida não reside necessariamente nos experimentos radicais.

Assim, termino esse texto com meus agradecimentos a minha mãe, Toninho e, principalmente, a Deus por todos esses dias, desejando que bênçãos sejam derramas na vida de todos que hoje são instrumentos do Altíssimo em favor de mim e de Núbia.



OBS: A primeira ilustração refere-se à foto que tirei com minha mãe no Parque Nacional de Brasília enquanto que as demais referem-se a mim e Núbia respectivamente em: na cidade de Pirenópolis, na Catedral Metropolitana de Brasília e em frente ao Congresso Nacional.

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Um piano em minha noite...




Nesta minha passagem pela capital federal, tive a oportunidade de acompanhar ao vivo o programa Um Piano ao Cair da Noite, transmitido pela Brasília-Super Rádio FM, o qual vai ao ar de segunda à sexta-feira, sempre às 18 horas, com a apresentação de Lúcia Garofalo. Hospedado na residência de Toninho, que toca lá às quinta-feiras, fomos ao palco da emissora situado no Conjunto Nacional de Brasília, o mais antigo shopping da cidade.

A programação foi bem interessante e variada sendo que hoje houve a participação especial de Márcio Valle, cantor lírico do coro do Teatro Municipal de São Paulo. Ele atuou nas músicas Nel Blù Dipinto di Blù (Domenico Modugno e Franco Migliacci), Granada (Augustin Lara) e Fascinação (Fermo Dante Marchetti). Já as demais, What the Worl Needs Now Is Love (Burt Bacharach e Hal David), Como uma Onda (Lulu Santos e Nelson Motta), Night and Day (Cole Porter), Vida de Viajante (Luiz Gonzaga e Hervê Cordovil), How Deep Is Your Love (Barry, Robin e Maurice Gibb), O Que É, o Que É? (Gonzaguinha), Serenata (Franz Schubert) e Et si Tu N'Existais Pas (Toto Cutugno, Pasquale Losito e Vito Pallavicini) foram tocadas somente por Toninho.

Através desta oportunidade, pude acrescentar uma significativa experiência à minha limitada cultura musical já que minhas atenções geralmente estão mais voltadas para política, filosofia, ecologia, assuntos teológicos e os desagradáveis problemas do cotidiano. Aliás, pode-se considerar saudável alguém terminar o dia ouvindo algo de qualidade e se desligando das situações estressantes enfrentadas nas horas anteriores, sendo este um hábito que eu precisava de alguma maneira introduzir em minha vida no pequeno município praiano onde moro.

Com a cultura tão em baixa ultimamente, em que inúmeros funks proibidões e sertanejos fazendo apologia ao álcool multiplicam-se por aí, inegavelmente que escutar o toque do piano entre a Ave Maria e A Voz do Brasil acaba sendo uma heroica resistência. Porém, é graças a essas iniciativas como a da Brasília Super-Rádio FM que um grupo remanescente de pessoas ainda pode desfrutar de uma programação de qualidade. Os clientes do Conjunto Nacional quando passam em frente ao palco da rádio rumo ao banheiro do shopping, ao "cair da noite", podem apreciar algo de belo e instrutivo.

Faz 21 anos que Toninho se apresenta no programa Um Piano ao Cair da Noite. Este há cerca de três décadas anima a noite dos brasilienses, podendo ser sintonizado na frequência 89,9 MHz ou na internet pelo site http://www.superfm.com.br/, algo que vale a pena os leitores da blogosfera e os moradores de minha cidade conhecerem.





OBS: As fotos acimas foram tiradas no palco da Brasília Super Rádio FM. Na primeira imagem temos da esquerda para a direita: o cantor lírico Márcio Valle, eu, a apresentadora Lúcia Garofalo e o pianista Toninho. Já na segunda estão Toninho e eu junto ao cartaz do programa.

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Abolindo até o fim as consequências da escravidão




"A batalha da abolição, como perceberam alguns abolicionistas, era uma batalha nacional. Esta batalha continua hoje e é tarefa da nação. A luta dos negros, as vítimas mais diretas da escravidão, pela plenitude da cidadania, deve ser vista como parte desta luta maior. Hoje, como no século XIX, não há possibilidade de fugir para fora do sistema. Não há quilombo possível, nem mesmo cultural. A luta é de todos e é dentro do monstro." (José Murilo de Carvalho

Hoje celebramos no país mais um ano da abolição da escravatura desde que a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea, em 13 de maio de 1888. Esta é uma data que não pode ser jamais esquecida para que possamos construir um futuro diferente daquilo que foi o nosso passado de dores.

Incrível como que o Brasil foi o último país a proibir o comércio de escravos no Atlântico! O mundo já tinha conquistado significativos avanços tecnológicos no século XIX como o navio a vapor, o telégrafo, o telefone e a fotografia, porém as nossas lavouras continuavam utilizando a mão-de-obra cativa na produção do café. A bebida que europeus e norte-americanos apreciavam em suas mesas era tingida do sangue de milhões de afrodescendentes que viviam aqui em péssimas condições de existência.

Mais do que a contribuição dada pela princesa Isabel, devemos reconhecer o papel heroico dos abolicionistas que atuaram decisivamente por décadas até que a escravidão viesse a ter um fim definitivo. Tratou-se de uma luta árdua e que nem sempre era compreendida pela sociedade, ou por seus representantes no Parlamento, muitos dos quais foram ricos fazendeiros escravocratas. E teria sido graças a homens guerreiros, como Joaquim Nabuco e José do Patrocínio, fundadores da Sociedade Brasileira Contra a Escravidão, no Rio de Janeiro, que a maneira de pensar das pessoas começou a mudar decisivamente. O jornal O Abolicionista, de Nabuco, e a Revista Ilustrada, de Ângelo Agostini, serviram de inspiradores modelos a outras publicações antiescravistas que surgiram na época de modo que advogados, artistas, intelectuais, jornalistas e outros políticos engajam-se no movimento.

Apesar de formalmente libertos, muitos afrodescendentes permaneceram socialmente excluídos por quase toda a República. O racismo ainda sobreviveu à abolição e as consequências desse apartheid perdurou devido aos condicionantes econômicos que até hoje dificultam a ascensão dos cidadãos mais humildes. Faltaram políticas públicas nas áreas de educação, geração de trabalho e renda, informação, participação comunitária, direitos humanos, resgate cultural, etc. Os ricos continuaram cada vez tendo mais recursos enquanto os pobres menos no processo de crescimento econômico da nação. E aí a cor da pele coincidiu com essa realidade desigual sendo que a discriminação racial por muito tempo também coexistiu com a gritante falta de oportunidades.

Inegavelmente que a Constituição de 1988 trouxe mais dignidade para todos. Um novo Brasil passou a ser construído e, em anos mais mais recentes, tivemos aqui a política de quotas nas universidades e agora no serviço público. Dentro da própria sociedade surgiram movimentos que passaram a valorizar a negritude, incluindo a beleza do afrodescendente que até então não aparecia nas propagandas de jornais e revistas.

Penso que ainda há muita coisa para ser concretizada afim de que possamos superar definitivamente as consequências ruins dos quase quatro séculos de escravidão no Brasil. Aos poucos vamos reescrevendo a nossa história e tornando a sociedade menos desigual de maneira que o estudo da escravidão negra (e indígena) servirá de importante lição para as futuras gerações. Aplicando-se o Estatuto da Igualdade Racial, por meio de políticas públicas inclusivas capazes de ir além das ações afirmativas, temos hoje uma eficaz ferramenta para que o futuro seja diferente da realidade dos séculos anteriores. Cuida-se de algo que não deve sofrer retrocessos, precisando ser ampliado também nos estados e nos municípios, além da esfera federal, até que, finalmente, sejamos um país de todos.


OBS: A imagem acima refere-se a uma missa campal de Ação de Graças que foi celebrada no Rio de Janeiro, em 17/05/1888, a qual reuniu cerca de vinte mil pessoas para comemorar a Lei Áurea junto com a Princesa Isabel. Extraí a foto do acervo virtual da Wikipédia em http://pt.wikipedia.org/wiki/Abolicionismo_no_Brasil#/media/File:Missa_17_maio_1888.jpg

terça-feira, 12 de maio de 2015

Os naturistas e o turismo no país




Em 04/06/2013, publiquei aqui o artigo Que tal termos uma grande rota turística percorrendo toda a Serra do Mar?, escrevendo sobre a importância do ecoturismo para o nosso país através da criação de uma trilha de longo percurso. Agora, no entanto, resolvi lembrar-me também dos naturistas, considerando a importância de que esse grupo, cada vez mais expressivo no Brasil, tenha mais espaços públicos oficializados nos diversos municípios do litoral e do interior. De preferência em locais paradisíacos!

A princípio, creio ser fundamental desmistificar o movimento naturista. Mal compreendidos até hoje, os naturistas são equivocadamente chamados de "nudistas" pelas pessoas que desconhecem o real propósito deles. Isso porque o naturismo não se restringe ao hábito de alguém simplesmente andar sem roupas! Segundo a definição de 1974, adotada pela Federação Brasileira de Naturismo, o "naturismo é um modo de vida em harmonia com a natureza, caracterizado pela prática da nudez social, que tem por intenção encorajar o auto respeito, o respeito pelo próximo e o cuidado com o meio ambiente". Ou seja, cuida-se de algo bem além do nudismo mas que também não deve ser confundido com o naturalismo e muito menos teria a ver com turismo sexual, prostituição ou atos de promiscuidade, etc.

Por outro lado, analisando a ideia pelo lado econômico, não podemos nos esquecer que se trata de um promissor nicho de mercado. O perfil dos praticantes do naturismo corresponde a famílias de uma classe média culta com pessoas de diversos ramos profissionais: médicos, juízes, advogados, empresários, professores universitários e até oficiais militares. Além do mais, estamos falando de uma galera super respeitadora do meio ambiente que não fica sujando as praias e nem faz bagunça ou aquela barulheira incômoda. Embora nem todos os frequentadores sejam adeptos do movimento ecológico, suas vivências trazem muitas coisas que se assemelham aos ambientalistas.

Pode-se dizer que, em países europeus, o naturismo já se tornou algo bem comum e popularizado fazendo parte dos destinos turísticos a reserva de uma área específica para as pessoas tomarem banho de sol nuas. Já no Brasil, temos algumas praias oficialmente reconhecidas em que uma das mais famosas seria a de Tambaba na Paraíba, a 17 km da capital João Pessoa. E, aqui no estado do Rio de Janeiro, poderíamos mencionar a Praia Brava (Cabo Frio), a do Olho de Boi (Búzios), do Abricó (Grumari/Rio de Janeiro) além de uma bem discreta na região de Trindade/Paraty.

Uma praia oficial de naturismo segue regras características do próprio movimento. Costumam ser protegidas por normas jurídicas e administradas com o apoio de uma entidade naturista através de convênio firmado com a prefeitura local. Assim, as próprias associações deles se encarregam da limpeza, da manutenção e da proteção do lugar utilizado. Inclusive inibindo o assédio de gente mal intencionada.

Aqui no meu município de Mangaratiba, considerando a extensão do seu bonito litoral e a existência de várias ilhas nas baías de Sepetiba e de Angra, penso que seria estratégico para o desenvolvimento do turismo regional termos uma área de naturismo legalizada, desde que seja bem organizada, segura e atrativa, sendo certo que o baixo quantitativo populacional daqui pode favorecer em muito a privacidade dos usuários. Junto com o reconhecimento da praia e sua promoção viriam  também novos investimentos como hotéis, pousadas, restaurantes e empreendimentos imobiliários. Só no Rio Grande do Sul, existe um clube/condomínio chamado Colina do Sol que é praticamente uma mini cidade, sendo certo que a nossa grande vantagem no RJ é que o inverno daqui costuma ser muito mais ameno se comparado ao frio intenso dos gaúchos nesta época do ano.

Torço para que um dia a minha ideia venha a ser bem compreendida pelo leitor e pela população brasileira de um modo geral. Criar mais espaços para os naturistas nos municípios, quer sejam litorâneos ou do interior, trata-se de uma proposta séria e que muito pode beneficiar o desenvolvimento do turismo no país, atividade esta que considero considero uma "indústria sem chaminés". Penso que a minha Mangaratiba, tanto como Angra dos Reis e Paraty, tem um imenso potencial a ser explorado e que existem reais condições de fazermos a cidade crescer sustentavelmente gerando mais empregos e oportunidades de negócios de uma maneira organizada. E, neste sentido, a recepção de visitantes naturistas ajudaria em muito a região da Costa Verde, assim como pode servir para inúmeros outros municípios do Rio de Janeiro e dos demais estados da federação.

Uma ótima terça-feira a todos!


OBS: A foto acima foi extraída do site da Associação Naturista da Praia do Abricó em http://www.anabrico.com/

domingo, 10 de maio de 2015

O dia das mães e sua mercantilização




Que essa curiosidade não chegue aos ouvidos dos religiosos fundamentalistas! Pesquisando hoje na internet, fiquei sabendo que a mais antiga comemoração dos dias das mães tem suas origens mitológicas no paganismo. Na Grécia antiga, a entrada da primavera era festejada em honra de Rhea, a Mãe dos Deuses. Informa a Enciclopédia Britânica que:

"Uma festividade derivada do costume de adorar a mãe, na antiga Grécia. A adoração formal da mãe, com cerimônias para Cibele ou Rhea, a Grande Mãe dos Deuses, era realizada nos idos de março, em toda a Ásia Menor." - Enciclopédia Britânica, (1959), Vol.15, pág..849 apud Wikipédia in http://pt.wikipedia.org/wiki/Dia_das_M%C3%A3es 

Bem, é melhor eu fiar quieto senão daqui a pouco ouviremos gente dizendo que o dia das mães é coisa do demo, muito embora a Bíblia ensine no 5º mandamento do Decálogo que devemos honrar pai e mãe. Mas, por outro lado, há que se ter cautela nos dias atuais apenas com a mercantilização dessa data. Isto sim seria verdadeiramente preocupante! Aliás, a própria idealizadora do "Dia das Mães", a metodista norte-americana Anna Jarvis, após ter conseguido que o então presidente Thomas Woodrow Wilson reconhecesse as suas comemorações, em 09/05/1914, veio a lamentar por sua criação.

A meu ver, embora haja toda essa nefasta comercialização do Mother's Day, penso que a data precisa ser mantida e recupere o seu objetivo original assim como o Natal de Jesus. A melhor dádiva que um filho pode dar à sua mãe é a sua presença, não abandonando-a nas horas de dificuldade, dando-lhe alegrias verdadeiras, respeitando-a e amando-a.

No Brasil, o segundo domingo de maio foi oficializado em 1932 por Getúlio Vargas, atendendo aos pedidos feitos pelas feministas da época. E, em 1947, a data passou a fazer parte do calendário oficial da Igreja Católica. Tal como nos EUA, temos aqui os mesmos problemas com a mercantilização dessas comemorações familiares, sendo isto algo que apenas precisamos aprender a lidar, evitando que a compra de bens materiais se torne mais importante do que as carinhosas atitudes de afeto.


OBS: Ilustração acima extraída do acervo virtual da Wikipédia em http://pt.wikipedia.org/wiki/Dia_das_M%C3%A3es#/media/File:Mothers%27_Day_Cake.jpg

segunda-feira, 4 de maio de 2015

O Salmo 16 e a plena satisfação do homem em Deus




Embora o Salmo 16 não seja lá tão recitado quanto o 23 ou o 91, trata-se de um texto da Bíblia que exprime uma total confiança e satisfação do escritor sagrado no Senhor. Após fazer a sua confortante leitura neste último sábado, pude constatar um sereno estado de tranquilidade de um poeta que descobriu em Deus a inesgotável Fonte de vida e de prazer interior.

Neste hino, cuja autoria é atribuída ao rei Davi, não me parece que o salmista estivesse passando por uma crise presente capaz de o abalar. Observo em suas palavras um sentimento de superação e de equilíbrio, apesar de ele começar a oração pedindo o socorro divino (verso 1), de modo que, mesmo se estivesse suportando alguma dificuldade, a sua alma estava na mais profunda paz.

Durante a leitura, chamou a minha atenção o desapego do autor no tocante às coisas materiais quando ele diz não possuir outro bem senão o Senhor (v. 2), declarando, metaforicamente, ser Deus a "porção" de sua herança", o seu "cálice" e o sustento de sua "sorte" (v. 4). Ou seja, o texto expressa a consciência de que todos os recursos desta Terra seriam transitórios e perecíveis de maneira que o homem só alcança a verdadeira Vida no relacionamento que estabelece com o seu Criador.

Assim, essa vida em Deus torna-se para o salmista o que há de mais excelente em todo o Universo, ainda que Davi fosse um rico monarca de Israel morando num palácio em Jerusalém. Pois ele acha no Senhor sabedoria, segurança, bem como uma inegável alegria. E, num vislumbre da eternidade, já não teme mais a morte física por se sentir, a meu ver, tão arraigado no Autor da Vida a ponto do mero falecimento do corpo ser incapaz de destruí-lo:

"porque tu não me abandonarás no sepulcro, nem permitirás que o teu santo sofra decomposição. Tu me farás conhecer a vereda da vida, a alegria plena da tua presença, eterno prazer à tua direita." (versos 10 e 11 conforme a tradução da Nova Versão Internacional)

Estes versos acima transcritos, embora citados no Novo Testamento quando Pedro e Paulo falam da ressurreição de Jesus (conf. Atos dos Apóstolos 2:25-28; 13:35), eis que, no Salmo 16, têm uma aplicação imediata ao próprio escritor e aos homens que se consagravam a Deus em santidade. De qualquer modo, está implícita na mensagem a ideia da eternidade da alma que seria o real sentido de alguém se levantar dentre os mortos. Cuida-se de algo que muitos consideram como "multi-existencial", projetando a vida consciente para além da atividade cerebral.

A nossa mente envolvida nas questões materiais talvez não consiga compreender em detalhes esses "caminhos da vida", os quais permanecem ainda que meio misteriosos para a humanidade. Contudo, devido ao elevado nível relacional do poeta bíblico com Deus, quaisquer inquietações acerca do além-túmulo estavam pacificadas para ele. A Divina Presença tornava Davi completo a ponto dele se tornar participante da vida eterna estando ainda na sua peregrinação terrena. Logo, a plena satisfação desfrutada no Criador bendito certamente iria se perpetuar por todos os tempos.

Acredito, meus amigos, que esse desejado estado de plenitude espiritual só conseguimos alcançar pelo total desapego das riquezas, dos prazeres, da fama, das compulsões, das manias, dos rancores e das preocupações com as coisas do cotidiano. Muitos de nós, na qualidade de aprendizes da escola da vida, estamos apenas no começo dessa caminhada. Porém cada progresso que fazemos hoje já proporciona enormes benefícios para o nosso ser aproximando-se mais de Deus.

Uma ótima semana a todos e tenham uma segunda-feira abençoada.


OBS: A ilustração acima refere-se ao quadro Davi Tocando a Harpa (1670) do artista holandês Jan de Bray (c.1627 – 1697), conforme extraído do acervo virtual da Wikipédia em http://en.wikipedia.org/wiki/Psalms#/media/File:David_Playing_the_Harp_1670_Jan_de_Bray.jpg

domingo, 3 de maio de 2015

Que possamos domesticar a nossa selvageria!



"Um ramo surgirá do tronco de Jessé, e das suas raízes brotará um renovo. O Espírito do Senhor repousará sobre ele, o Espírito que dá sabedoria e entendimento, o Espírito que traz conselho e poder, o Espírito que dá conhecimento e temor do Senhor. E ele se inspirará no temor do Senhor. Não julgará pela aparência, nem decidirá com base no que ouviu; mas com retidão julgará os necessitados, com justiça tomará decisões em favor dos pobres. Com suas palavras, como se fossem um cajado, ferirá a terra; com o sopro de sua boca matará os ímpios. A retidão será a faixa de seu peito, e a fidelidade o seu cinturão. O lobo viverá com o cordeiro, o leopardo se deitará com o bode, o bezerro, o leão e o novilho gordo pastarão juntos; e uma criança os guiará. A vaca se alimentará com o urso, seus filhotes se deitarão juntos, e o leão comerá palha como o boi. A criancinha brincará perto do esconderijo da cobra, a criança colocará a mão no ninho da víbora. Ninguém fará nenhum mal, nem destruirá coisa alguma em todo o meu santo monte, pois a terra se encherá do conhecimento do Senhor como as águas cobrem o mar. Naquele dia as nações buscarão a Raiz de Jessé, que será como uma bandeira para os povos, e o seu lugar de descanso será glorioso." (Isaías 11:1-10; NVI)

Não é por menos que o Livro de Isaías é considerado por alguns pensadores cristãos como sendo um "Evangelho do Antigo Testamento", visto que encontramos ali inúmeras mensagens capazes de transmitir esperança e consolação apontando para uma futura era de ouro da humanidade, quando reinarão a justiça e a paz. No capítulo 11, lemos uma passagem que é muito comentada nos sermões religiosos, a qual fala na vinda de um novo Davi brotando do "tronco de Jessé", o qual é entendido como o Messias identificado pela cristandade com a pessoa do mestre Jesus de Nazaré.

Prosseguindo, eis que o texto bíblico descreve simbolicamente sobre essa aguardada paz que representa o oposto de tudo aquilo que anda acontecendo no mundo de hoje cheio de guerras, atentados terroristas, assassinatos covardes, roubos, estupros, agressões físicas baseadas nos motivos mais fúteis, intolerâncias religiosas, atitudes desrespeitosas para com o idoso, etc. Repetem-se até os nossos dias os comportamentos mais vis da humanidade, os quais podem ser muito bem ilustrados pelos homicídios de Caim e de seu descendente Lameque, conforme se observa no capítulo 4 de Gênesis.

Contudo, tendo Isaías vivido numa época também violenta e desumanizada, ele não perdeu as esperanças. Antes o profeta encorajou o seu povo a buscar uma reconstrução nacional depois que as tropas do exército assírio havia devastado as cidades de Judá, dominando o reino de Israel, exilando parte da população pelas terras estrangeiras conquistadas e submetendo os diversos povos do Oriente Médio. Por isso o texto proclama que de um tronco decepado brotará um "renovo" que, em seu tempo, talvez pudesse significar o reinado de Ezequias, sendo certo que, no governo daquele monarca considerado justo, ainda faltou muita coisa para que se alcançasse a tão desejada paz messiânica e fosse promovida por completo a justiça social em favor dos pobres da terra.

Para nós cristãos, mesmo tendo sido Jesus da Galileia um rei sem palácio, sabemos que ele transmitiu valiosos ensinamentos aos seus discípulos e plantou uma semente sobre o amor quando andou pelas poeirentas cidades da Palestina. Apesar de todos os equívocos históricos cometidos pela Igreja, o Mestre influenciou o mundo com o seu pensamento avançado a ponto de inspirar as legislações humanitárias que temos hoje. Aliás, nosso Senhor pode ser considerado como um grande intérprete da Lei de Moisés quando direcionou os seus preceitos éticos para o perdão, a integração das pessoas rejeitadas da sociedade e o amparo aos humildes, sem precisar revogar qualquer letrinha da norma do povo israelita.

Entretanto, como coloquei acima, o que Jesus teria feito foi lançar a semente do amor, passando para a humanidade redimida a tarefa de continuar a obra que começou. A esperada era messiânica de paz e de justiça ainda precisa ser estabelecida por nós, por meio das atitudes justas que tomamos no cotidiano, e, principalmente, modificando o nosso caráter pessoal. Ou seja, precisamos nos reavaliar por completo e mudar de maneira decisiva.

Refletindo sobre o texto profético que reli com minha esposa Núbia este final de semana, lembrei-me das feras selvagens que habitam o nosso interior. Ou seja, temos dentro de nós um "lobo" e também um "cordeiro" capazes de praticar tanto o mal quanto o bem, conforme as escolhas de vida que fazemos. Como escrevi num artigo postado neste blogue dia 14 de maio de 2011, Um outro mundo é possível!, abordando esse mesmo trecho das Escrituras Sagradas, eis que

"a (re)construção do Paraíso na Terra não significa que o leão, o leopardo, o lobo, o urso e a serpente deixarão de existir. Nossas feras interiores continuarão sempre existindo com o nosso lado cordeiro, dócil e meigo, mas apenas precisarão ser pacificados. Pois jamais deixaremos de ser entes profundamente humanos como foi o Messias Jesus, de modo que o futuro não será feito de santos perfeitos, mas sim de gente que busca se elevar espiritualmente através de um contínuo aperfeiçoamento de seus valores éticos que precisam também refletir sobre o nosso comportamento." (destaquei)

Olhando para dentro de mim, admito que consegui mudar muito pouca coisa dentro desses quatro anos quando havia publicado a referida postagem de 2011 e reconheço que uma vida inteira pode ser insuficiente para nos aperfeiçoarmos na totalidade. Não nego que amadureci um bocadinho, aprendi com alguns erros e acertos, caí e ainda continuo nos mesmos desvios de conduta, conservando, infelizmente, um idêntico potencial para as coisas ruins que sempre existiram em minha vida. E acredito que essas tendências nocivas permanecem conosco até os nossos corpos serem levados para o túmulo. Cabe ao homem, porém, aprender a dialogar com as suas inclinações negativas pela auto-compreensão, sem deixar-se engessar pela culpa, mas buscando tratamento com a regeneradora graça divina.

No caso da agressividade, que é um dos terríveis males de nossa espécie, temos muito o que aprender afim de que possamos viver amanhã numa sociedade menos violenta. Trata-se de um instinto que compõe a natureza animal e que talvez esteja até relacionado com a sobrevivência de cada um no meio da natureza. Só que, como seres conscientes que somos, devemos ser capazes de domesticar essa selvageria latente fazendo uso de todos os recursos possíveis para a prática de uma auto-disciplina.

Por outro lado, como as condutas humanas nem sempre resultam de escolhas pessoais, mas também recebem uma certa dose de estímulo do meio, considero que poderemos tentar prevenir a violência na sociedade criando ambientes pacíficos os quais se tornem propícios para uma convivência harmônica. Sei que não será nada fácil porque depende das escolhas de cada um e também porque o bom exemplo começa dentro de casa de modo que, se uma criança é educada por pais agressivos, ela tende a perpetuar o mesmo comportamento quando chega à idade adulta. Claro que há exceções, mas o que quero dizer é que muitos trazem consigo feridas da violência marcadas lá na infância, precisando da nossa ajuda e compreensão para que consigam superar todos esses traumas.

Portanto, meus amados, como eu havia concluído no artigo de quatro anos atrás, precisamos continuar orando (e agindo) "para que o Espírito do SENHOR possa nos instilar o desejo de compreensão da humanidade" e "haja o despertar da consciência messiânica em cada ser humano". Fazendo isso, acredito que iremos trazer para as nossas relações pessoais o Jardim do Éden que Deus plantou no nosso interior.

Um ótimo domingo para todos com muita paz!


OBS: A ilustração acima trata-se da gravura Paz (1896) feita pelo artista inglês William Strutt (1825 – 1915), o qual baseou-se em Isaías 11:6-7. Extraí a imagem do acervo virtual da Wikipédia.

sábado, 2 de maio de 2015

Por onde Dom Pedro andou




Quem passa pelo município fluminense de Itaguaí rumo às praias da Costa Verde geralmente desconhece os interessantes atrativos do lugar. Apesar do ambiente caótico da área central da cidade e da destruição paisagística que o empresário Eike Batista causou na Ilha da Madeira com o seu ambicioso empreendimento portuário, eis que existem ainda alguns recantos no pé da Serra do Mar como as localidades de Mazomba, Raiz da Serra e a Ilha de Itacuruçá, sendo esta pertencente também a Mangaratiba.

Em Raiz da Serra, encontramos um histórico caminho com pedras em estilo pé-de-moleque (foto), mais conhecido como a "Estrada Calçada", e que teria sido construído há mais de três séculos pelos padres jesuítas, ligando hoje Itaguaí ao município vizinho de Piraí. Por lá passou D. Pedro I quando partiu do Rio de Janeiro, em 14 de agosto de 1822, rumo a São Paulo afim de proclamar a Independência às margens do rio Ipiranga no dia 7 de setembro daquele ano. Após ter passado a sua primeira pernoite na Fazenda Real de Santa Cruz, o jovem príncipe seguiu para a antiga São João Marcos (atualmente município de Rio Claro), onde ficou as duas noites na Fazenda das Três Barras. Para tanto precisou romper a serra justamente nessa área rural de Itaguaí que conhecemos pelo nome de Serra do Matoso.

Na manhã deste primeiro sábado de maio, decidi então percorrer o caminho utilizado por D. Pedro há quase duzentos anos atrás. Mesmo se não desse para fazer a travessia, pretendia ao menos buscar informações em Raiz da Serra, visto que havia perdido o primeiro ônibus para lá, o qual parte de Itaguaí bem cedo por volta das sete horas. Peguei então uma condução até o bairro de Teixeira e logo coloquei o pé na estrada em direção ao meu destino.

Alcançando Raiz da Serra, tive a tremenda sorte de conseguir uma carona num caminhão que estava subindo a Serra do Matoso. Era um pessoal que iria fazer uma entrega na localidade de "Três Vendas" já no interior de Piraí. Através deles, peguei ótimas informações e pude contemplar a belíssima paisagem que se descortinava à minha frente, podendo ver boa parte da Baixada Fluminense e Zona Oeste do Rio de Janeiro. Quanto mais avançávamos, mais encantador ficava o cenário até passarmos por um lindo mirante onde esportistas fazem seus saltos de voo livre.

Ao desembarcar nas Três Vendas, orientei-me com alguns moradores sobre a tal Estrada Calçada afim de descer por ela retornando para Raiz da Serra. Não foi difícil encontrar o caminho sendo que, minutos depois, lá estava eu fazendo o sinuoso trajeto de D. Pedro, porém no sentido inverso. E confesso que foi uma travessia bem fácil perto de outras que já havia realizado anteriormente, precisando apenas ter uma certa dose de atenção para não escorregar em alguma pedra molhada.

Infelizmente, um significativo trecho desse caminho histórico encontra-se mal cuidado e cheio de mato. A monumental inscrição em letras de bronze, deixada pelo rei numa rocha (a Pedra de Santo Antonio), pareceu-me parcialmente deteriorada. E lamentei não ter visto nem ao menos um memorial que os governantes atuais pudessem colocar ali para lembrar o povo de seu passado, assim como notei a falta de melhores informações quanto ao cenário visto de cima, sobre o início da trilha que conduz ao "Mirante do Imperador", com seus 628 metros de altitude, de onde muitos aventureiros descem fazendo rapel.

Antes de dar três horas da tarde, concluí a travessia e fiquei aguardando a kombi partindo de Raiz da Serra para Itaguaí já que o ônibus só iria passar lá pelas 17 horas. Cansado e com fome, comi dois pacotes de Torcida sabor pimenta mexicana num boteco bem pertinho e fiquei conversando com o assessor do prefeito de Seropédica que, coincidentemente, esteve no local. Por volta das quatro e pouco, estava eu já tranquilinho na minha casinha em Muriqui.

Refletindo sobre o estado em que se encontra a Rota da Independência, pensei na necessidade dos governos investirem um pouco de dinheiro e de ideias ali. Afinal de contas, estaremos comemorando o bicentenário da nossa emancipação política de Portugal daqui uns sete anos, em 07/09/2022, sendo que esse caminho histórico usado por D. Pedro poderia perfeitamente ser aproveitado turisticamente afim de trazer desenvolvimento sustentável para muitos municípios dos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo.

Embora pareça uma ideia recente para nós, eis que o conceito sobre as trilhas de longo curso existe há cerca de um século tendo sido já amplamente testado com sucesso em vários lugares do mundo. Em alguns países, como nos Estados Unidos e República Dominica, tais vias são consideradas corredores ecológicos integrando os sistemas de unidades de conservação da natureza.

Através de um trabalho em conjunto entre o governo federal e as prefeituras dos municípios envolvidos, acredito ser possível realizar esse projeto na região, o que ganharia uma enorme importância tanto para ajudar na conservação do entorno do Parque Estadual do Cunhambebe como também desenvolver o ecoturismo. Isto porque, na proximidade dos diversos acessos da Rota da Independência, o Ministério do Turismo pode inventariar e cadastrar hotéis, albergues, pousadas, restaurantes, sítios de lazer, etc.

Conforme se diz, o turismo deve ser considerado uma indústria sem chaminés e, se desenvolvido com sustentabilidade, tem o potencial de contribuir para a conservação do nosso tão agredido meio ambiente ao gerar emprego e renda para as populações do campo. Portanto, fica aí minha sugestão para que os governantes pensem na proposta de elaborarem um surpreendente projeto para a Rota da Independência.


OBS: Ilustração acima extraída de uma página da Prefeitura de Itaguaí na internet conforme consta em http://itaguai.rj.gov.br/pmi/onde-ir/

sexta-feira, 1 de maio de 2015

Uma sexta-feira de apoio aos nossos professores




Hoje é 1º de maio, data em que se festeja o Dia do Trabalhador. No entanto, a maioria dos brasileiros não tem muito o que comemorar, principalmente os nossos professores que, nesta mesma semana, foram violentamente reprimidos pela polícia do governador paranaense Sr. Beto Richa (ler meu artigo de ontem Um país que massacra os seus professores!).

Entretanto, não são apenas os professores do Paraná que estão se manifestando! Há mais movimentos dos profissionais da educação ocorrendo por outros estados da federação. Na noite de ontem, os professores da rede pública de São Paulo, em greve desde 13 de março, realizaram um protesto em frente à sede da Secretaria Estadual da Educação. Eles chegaram ao local depois de uma caminhada que começou na Avenida Paulista, onde ocorreu uma assembleia no vão-livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp), que decidiu pela manutenção do movimento. Concentrados na Praça da República (onde fica a secretaria paulista), carregavam pacotes de sal para demonstrar insatisfação com os salários, dando uma verdadeira aula de história e de cidadania para o país. Foi o que explicou a presidenta do Sindicato dos Professores no Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), Sra. Maria Izabel Azevedo Noronha:

"O sal significa a relação com o salário. É daí que vem a origem da palavra salário. Tem a ver com alimentação e com vida"

Observo que a educação no Brasil apresenta como seu principal problema a baixa remuneração paga aos professores. Com salários insuficientes para proporcionar uma vida digna, temos hoje uma evasão de profissionais na educação e uma insatisfação permanente de quem trabalha cotidianamente nas salas de aula tentando transmitir algum conteúdo e princípios às nossas crianças. O ato de ensinar, coisa que pode ser feita até debaixo de uma árvore, jamais se concretiza sem o trabalho do docente, o qual necessita de condições adequadas de existência para a produção do conhecimento, experimentar novos métodos de aprendizagem, reciclar suas próprias ideias, participar de palestras e congressos, bem como descansar, estar com a família, colocar comida em casa, cuidar da saúde, educar os próprios filhos, etc. Por isso os professores fazem seus respectivos pedidos de reajuste salarial específicos em cada estado que, no caso de São Paulo, seria a reposição de 36,74%.

A principal reivindicação dos profissionais tem sido o cumprimento da Lei do Piso Nacional dos Professores da Rede Pública. Pela norma vigente, o piso salarial nacional do magistério da educação básica é R$ 1.567,00 e deve ser pago em forma de vencimento inicial. Fora isto, a categoria pede a aprovação do Plano Nacional de Educação (PNE), que direciona as políticas para a área nos próximos dez anos, a destinação de 100% dos royalties do pré-sal para o setor, e a definição de diretrizes nacionais de carreira para os profissionais da educação básica.

Penso que toda essa crise no ensino (um problema que vem de muitas décadas) pode ser superada com um pouco de vontade política e o envolvimento do restante da sociedade nas reivindicações. Nossos governantes têm hoje a oportunidade de ouro de escrever uma nova história para a Brasil. Mesmo com a economia passando por turbulências e as vergonhosas roubalheiras na Petrobrás, o dinheiro dos royalties nos próximos anos do pré-sal parece-me suficiente para revolucionar a educação no país. Isto se houver seriedade na administração dos recursos e os profissionais sejam devidamente valorizados.

Assim, mais do que nunca devemos nos sensibilizar com a causa dos professores de todos os estados dando a eles o devido apoio. Ao invés das pessoas se queixarem que seus filhos estão sem aula por causa das greves, os pais de alunos deveriam comparecer aos protestos na companhia dos estudantes sabendo que a luta desses profissionais é também a nossa. Pois, sem educação, não conseguiremos jamais nos tornar uma nação de primeiro mundo com trabalhadores qualificados e um povo incapaz de ser facilmente manipulado por políticos espertalhões. Portanto, em nossas mãos encontra-se a caneta do futuro em que temos a chance de redigir com determinação e garra as próximas páginas desse livro chamado Brasil.

Um ótimo dia a todos os trabalhadores e que possamos comemorar essa data com consciência e coragem.


OBS: Ilustração acima extraída de uma página da Agência Brasil de Notícias em http://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/sites/_agenciabrasil/files/gallery_assist/27/gallery_assist670232/11052011MCA_7876.jpg