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domingo, 29 de março de 2015

A entrada triunfal e o modelo do governante humilde



Quando se aproximaram de Jerusalém e chegaram a Betfagé, ao monte das Oliveiras, Jesus enviou dois discípulos, dizendo-lhes: "Vão ao povoado que está adiante de vocês; logo encontrarão uma jumenta amarrada, com um jumentinho ao lado. Desamarrem-nos e tragam-nos para mim. Se alguém lhes perguntar algo, digam-lhe que o Senhor precisa deles e logo os enviará de volta". Isso aconteceu para que se cumprisse o que fora dito pelo profeta: "Digam à cidade de Sião: ‘Eis que o seu rei vem a você, humilde e montado num jumento, num jumentinho, cria de jumenta’". Os discípulos foram e fizeram o que Jesus tinha ordenado. Trouxeram a jumenta e o jumentinho, colocaram sobre eles os seus mantos, e sobre estes Jesus montou. Uma grande multidão estendeu seus mantos pelo caminho, outros cortavam ramos de árvores e os espalhavam pelo caminho. A multidão que ia adiante dele e os que o seguiam gritavam: "Hosana ao Filho de Davi! " "Bendito é o que vem em nome do Senhor! " "Hosana nas alturas!" Quando Jesus entrou em Jerusalém, toda a cidade ficou agitada e perguntava: "Quem é este?" A multidão respondia: "Este é Jesus, o profeta de Nazaré da Galiléia". (Mateus 21:1-11; NVI - destaquei) 

Na última semana que antecede o Domingo de Páscoa, os cristãos tradicionalmente celebram o chamado "Domingo de Ramos", comemoração que relembra a entrada de Jesus na cidade de Jerusalém descrita pelos evangelhos. Trata-se de um episódio que, nos sinóticos, é seguido pela purificação do Templo judaico, quando o Mestre havia expulsado de lá os cambistas e vendedores de animais.

Entretanto, umas das cenas que mais caracteriza esse momento bíblico refere-se ao fato de ter Jesus montado num humilde jumentinho que, no relato de Mateus acima citado, seria então um animal bem novo necessitando até da companhia da mãe para ser periodicamente amamentado. E, como bem podemos observar pela leitura do texto, Jesus realmente planejou tudo aquilo consciente da passagem profética do livro de Zacarias.

Ora, antes mesmo daquela época, já era costume que um rei fosse honrado cavalgando um animal. Assim havia feito Davi na coroação de Salomão quando fez o herdeiro do trono entrar em Jerusalém montado na sua mula (conf. 1Rs 1:33-44). Por sua vez, o estender dos mantos pelo caminho do messias também guardava um significado semelhante como ocorreu na unção de Jeú como novo monarca de Israel (2Rs 9:13). Aliás, até na nossa história, encontramos as idealizações do Grito da Independência e da Proclamação da República com os seus principais personagens, D. Pedro I e Marechal Deodoro, em cima de um cavalo, a exemplo dos célebres quadros de Pedro Américo e Henrique Bernardelli, respectivamente.

Mas afinal de contas, por que teria Jesus se inspirado na leitura de Zacarias 9:9 ao invés de se apresentar de maneira que sugerisse um porte rígido e marcial, talvez sobre um daqueles imponentes cavalos árabes? Bem, se formos ao texto do profeta, acredito que encontraremos lá algo que nos leve à resposta desejada:

Alegre-se muito, cidade de Sião! Exulte, Jerusalém! Eis que o seu rei vem a você, justo e vitorioso, humilde e montado num jumento, um jumentinho, cria de jumenta. Ele destruirá os carros de guerra de Efraim e os cavalos de Jerusalém, e os arcos de batalha serão quebrados. Ele proclamará paz às nações e dominará de um mar a outro, e do Eufrates até aos confins da terra. (Zacarias 9:9-10 - o destaque é meu)

Acredito, meus amigos, que a reivindicação messiânica exposta no episódio da Entrada Triunfal teve por objetivo promover uma inversão de valores. Antes de subir de Jericó para Jerusalém, a mãe de Tiago e João havia formulado um pedido bem "nepótico" a Jesus, querendo que seus dois filhos ocupassem as posições de maior destaque em seu futuro reino, assentando-se um à direita e o outro à esquerda. Mas a este respeito o Mestre muito bem respondeu quando os demais discípulos se indignaram contra a pretensão dos dois apóstolos:

Jesus os chamou e disse: "Vocês sabem que os governantes das nações as dominam, e as pessoas importantes exercem poder sobre elas. Não será assim entre vocês. Pelo contrário, quem quiser tornar-se importante entre vocês deverá ser servo, e quem quiser ser o primeiro deverá ser escravo; como o Filho do homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos". (Mateus 20:25-28) 

O ministério de nosso senhor certamente teve um propósito diferente dos demais governantes e líderes revoltosos de seu tempo. Jesus veio com uma nova proposta que chamava de "Reino de Deus" onde os valores divergem da relação dominadora entre o monarca e seus súditos. Caberia ao rei e a seus ministros servirem ao povo buscando satisfazer às necessidades da população. E ainda que os presentes no episódio em comento não devessem ter tal concepção (suponho que muitos ali preferissem um messias montado num cavalão poderoso usado pelos soldados), será que aquele ato profético não teria deixado as pessoas com uma pulga atrás da orelha?

Hoje em dia, 125 aós após a Proclamação da República, muitos políticos brasileiros quando se candidatam nas eleições dizem que querem servir ao povo. Só que, na verdade, tudo não passa de mera demagogia pois o que temos visto por aí são prefeitos, governadores e parlamentares sendo muito bem servidos e ainda roubando o dinheiro público. Parece que o absolutismo monárquico ainda se encontra bem entranhado na maneira de pensar da sociedade brasileira não passando os discursos nos palanques de uma falsa humildade.

O fato é que só conseguiremos seguir os grandiosos passos do Mestre através de atitudes coerentes. Quer venhamos a exercer uma liderança política ou religiosa, precisamos cultivar um permanente hábito de doação em nossas vidas como fez Jesus ao se entregar "em resgate por muitos". Pois só assim estaremos revolucionando essa triste realidade de submissão e de exploração que acompanha a humanidade há milênios.

Um ótimo domingo a todos!


OBS: A ilustração acima refere-se ao afresco Entrada triunfal em Jerusalém, 1320, pintado por Pietro Lorenzetti (c. 1285 — 1348), o qual se encontra na Basílica de São Francisco, Assis, Itália, conforme extraído do acervo virtual da Wikipédia em http://pt.wikipedia.org/wiki/Domingo_de_Ramos#/media/File:Assisi-frescoes-entry-into-jerusalem-pietro_lorenzetti.jpg

sexta-feira, 27 de março de 2015

O voo 4U 9525 e a necessidade de combatermos melhor a depressão




Os acontecimentos noticiados pela mídia acerca da tragédia do Airbus A320 evidenciam cada vez mais a necessidade dos governos investirem melhor no tratamento terapêutico e preventivo da saúde mental.

Muito perplexa quanto ao comportamento do copiloto do avião da Germanwings que caiu na terça-feira (24/03) nos Alpes franceses, a Europa ainda tenta compreender o que teria levado Andreas Lubitz a derrubar deliberadamente a aeronave matando outras 149 pessoas. Pairam algumas suspeitas sobre o estado psíquico desse jovem de apenas 28 anos, o qual teria sofrido de depressão e talvez se encontrasse inapto para trabalhar (de licença médica). Há quem levante a hipótese que o fim de um namoro possa ter contribuído para o ocorrido com o voo 4U 9525.

Entretanto, em que pesem as dúvidas de que as ações do copiloto não teriam sido motivadas por problemas mentais, há diversos casos no mundo em que indivíduos resolveram praticar seus atos suicidas a ponto de causarem a morte de outros. E, se a Lufthansa de fato realizou um teste psicológico em Andreas após lhe dar treinamento e ainda o fez passar por constantes avaliações médicas, sabemos que, em geral, há muito menos monitoramento por aí quanto ao temível comportamento humano.

Em seu texto Agenda política do século XXI e a depressão, publicado em 26/08/2014, Fabio Feldmann comentou sobre a importância de se dar uma maior relevância a esse tema. Segundo ele, "a depender das circunstâncias, todos estão sujeitos aos altos e baixos da roda gigante que é a vida", porém chamou a atenção para a necessidade de enfrentarmos adequadamente a questão:

"Como a depressão nos afeta? Como a desigualdade social torna mais vulnerável pessoas com menos possibilidades de um correto diagnóstico e de escolhas para o seu enfrentamento? Existe uma pré disposição genética à depressão? Todas essas perguntas deveriam estar na agenda do debate político do Brasil, com o objetivo de se estabelecer uma política pública eficaz para podermos lidar com a depressão."

É preciso reconhecer que o mundo (e menos ainda países atrasados como o Brasil) está apto para lidar com os problemas da saúde mental adequadamente. Por aqui então temos uma enorme carência de terapeutas no SUS, nas escolas públicas e em diversas instituições estatais. Também o setor privado nacional pouco investe em psicologia inexistindo dentro da nossa sociedade uma devida valorização dos profissionais da área.

Mais do que nunca acredito que este será o século da saúde mental. Dentro de algumas décadas, governos precisarão adotar programas urgentes de combate à depressão e outros distúrbios psíquicos de modo que o assunto acabará sendo debatido em campanhas eleitorais entre os candidatos. Não tardará para que crianças comecem a ser rotineiramente monitoradas afim de não desenvolverem essa terrível doença incapacitante. Afinal de contas, estamos diante de algo que, efetivamente, anda afetando o cidadão moderno a ponto de gerar situações de grave perigo para a coletividade que, não raras vezes, mostram-se imprevisíveis.


OBS:  A imagem acima refere-se à foto do perfil de Andreas no Twitter

domingo, 22 de março de 2015

Que jamais percamos a esperança!



"E a esperança não nos decepciona, porque Deus derramou seu amor em nossos corações, por meio do Espírito Santo que ele nos concedeu." (Romanos 5:5; NVI)
ou
"Ora, a esperança não confunde, porque o amor de Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado" (ARA) 

Uma coisa que jamais devemos perder na exaustiva caminhada de nossas vidas, meus amigos, é a esperança. Se desejamos contribuir para mudar o mundo e sua história, precisamos manter viva a chama da esperança, a qual, segundo ensinava o saudoso mestre pernambucano Paulo Freire (1921 - 1997) em seu livro a Pedagogia da Esperança (1997), seria necessária e urgente.

Há tempos que tenho desejado uma civilização melhor, quer venha a viver nela ou não. E, mesmo diante de acontecimentos negativos que se repetem, prefiro não desistir de lutar. Ainda que em diversos momentos faltem-me recursos e eu precise cuidar de questões pessoais e familiares, sentindo-me não raras vezes só em tais batalhas pela sobrevivência, percebo que jamais devo abrir mão totalmente de um ideal superior.

A esperança é algo que se encontra acima das convicções políticas e religiosas. Antes digo que ela seria a razão por trás da crença, o verdadeiro sustento do ativista social e nossa grande motivação. Por isso que em seu célebre texto o apóstolo Paulo estabelece uma relação com o Espírito Santo que pode ser compreendido na citação acima como uma divina inspiração que nos impulsiona rumo à construção do Reino dos céus nos corações humanos.

Ora, sem a esperança o homem vira um cadáver na sociedade, um vegetal sem vida que já nem percebe a luz solar. Em sua falta, as pessoas sucumbem à tristeza, ou tentam sublimá-la com distrações momentâneas, ficando incapazes de concretizar mudanças. É quando os sonhos terminam dando lugar ao estagnante conformismo.

Assim, ao invés de pensarmos que "isso não vai dar em nada" ou que "o Brasil nunca mudará", devemos procurar meios para transformar a perversa realidade de corrupção e de pobreza na qual esta prodigiosa nação encontra-se mergulhada. Logo é preciso reagir positivamente seguindo aquele sentimento belo que fala lá no fundo do nosso ser mas que nem sempre conseguimos captar nas nossas limitadas racionalizações. E aí tudo parece se resumir nesta comentada mensagem bíblica de Deuteronômio: "escolhe pois a vida".

Não tenho mais o que escrever no momento. Apenas digo que vale a pena voltarmos os olhos para o horizonte porque a primavera sempre vem por mais frio que seja o inverno.

Uma excelente semana para todos!


OBS: A ilustração acima refere-se a uma imagem alegórica do fotógrafo norte-americano Charles Wesley Gilhousen (1867 - 1927), tirada em 1915, a qual retrata um vislumbre de esperança, conforme extraído do acervo virtual da Wikipédia em http://fr.wikipedia.org/wiki/Espoir_(philosophie)#/media/File:Gilhouse_A_Ray_of_Hope.jpg

sábado, 21 de março de 2015

O problema das coincidências




Certa vez uma pastora evangélica do meio pentecostal disse-me não haver coincidências. O que existe, segundo ela, seria a "jesuscidência", dando a entender que os acontecimentos da vida seriam determinados pelo Cristo de Nazaré.

No entanto, não sei o que essa líder religiosa iria falar diante da repetição de fatos negativos, os quais também ocorrem com muita gente debaixo do céu, inclusive com os justos. Será que, neste caso, ela caracterizaria a situação como uma diabocidência ou imputaria a causa do evento ruim diretamente a Deus?!

Considero muito complicadas as interpretações do ser humano (e principalmente das mentes mais fechadas) diante das coincidências. Pois é uma tentação para qualquer um, ao invés de buscar respostas racionais, achar que é uma questão de sorte, destino, bênção, castigo de Deus, um ataque demoníaco, macumba de um vizinho invejoso, efeito de uma simpatia, intercessão de um santo, etc. Se, por exemplo, um sujeito desesperado reza para a Virgem Maria sobre algo que necessita e vem a receber uma boa notícia tempos depois acerca daquilo que havia pedido, tal homem pode convencer-se facilmente ter sido ajudado por Nossa Senhora. E não duvido que ainda vou ler comentários na internet de devotos da santa afirmando serem beneficiários de um milagre. Ou quem sabe terei mensagens de evangélicos radicais alegando ser "coisa de Satanás" tal atribuição à mãe de Jesus...

Até quando iremos perder tempo tentando identificar padrões onde eles não existem?! Chega de querermos conectar dados aleatórios a ponto de criarmos estúpidas crenças religiosas, as quais muitas das vezes tornam-se frutos de uma psicose não tratada.

Há que se ter sempre cautela, meus amigos! Se nos faltar o devido discernimento, corremos o sério risco de cair num terrível auto-engano deixando de usar a lógica nas nossas análises e decisões. Dai ser indispensável aprendermos a levar em conta as probabilidades comuns a todos os eventos. Pois obviamente é muito mais fácil você sair à rua e se apaixonar por uma pessoa adequada ao seu perfil do que acertar sozinho na loteria vindo a ganhar 100 milhões de reais com apenas uma jogada. E para chegar a uma conclusão assim não depende de sorte ou azar, mas sim de cálculos matemáticos e estatísticos.

Já na década de 1950, Julian B. Rotter (1916 - 2014) introduziu em Psicologia o conceito de locus of control (o lugar do controle) afim de designar a percepção do indivíduo a respeito das causas subjacentes aos eventos existenciais. Para Rotter, o nosso comportamento muitas das vezes seria reforçado pelas ideias de recompensa e punição, a partir das quais são geradas crenças em torno das ações que devem ser tomadas. Logo, o locus of control seria a plataforma de onde a pessoa atribui significação de responsabilidade aos fatos ocorridos na vida.

Ao deslocar o locus of control para o lado externo (culpando a outros) o indivíduo pode muito bem estar fugindo de suas responsabilidades caracterizando uma atitude imatura como se ele estivesse sempre certo e o mundo inteiro errado. E, infelizmente, é o que muita gente costuma fazer devendo cada um de nós agirmos com cuidado acerca dessa análise afim de constatarmos corretamente qual a nossa exata parcela de contribuição.

Caros leitores, o que a vida cada vez mais me ensina é que devo saber creditar aos acontecimentos do mundo físico os resultados que obtenho. Principalmente as minhas ações e omissões! Assumir que sou a causa torna-se então uma revelação libertadora que muito pode ajudar a ter o controle da própria história, mesmo sabendo que não alcançarei tudo o quanto desejo. E aí já não preciso mais ficar tirando falsas conclusões acerca da coincidência dos fatos que se repetem sabendo que Deus como a Causa Primeira do Universo não retira da humanidade o poder de decidir muitos aspectos de seu destino pelas escolhas que fazemos no uso do livre arbítrio.

Um ótimo descanso semanal para todos!


OBS: A ilustração acima refere-se à uma foto da NASA tirada em 1976 quanto à superfície do planeta Marte aparentando ilusoriamente uma face humana conforme o ângulo de visão do observador.

segunda-feira, 16 de março de 2015

Não deixe que oportunistas tirem proveito das manifestações!




Os protestos ocorridos ontem pelas principais cidades do país foram, em geral, manifestações pacíficas e democraticamente legítimas. Milhões de pessoas foram às ruas pedindo um basta na corrupção e expondo a impopularidade do atual governo que, além de não estar combatendo satisfatoriamente a roubalheira, tem arrochado a vida do brasileiro com aumentos na tarifa de energia elétrica, prejudicando direitos trabalhistas e conduzindo mal os rumos da nossa economia.

No entanto, fiquei perplexo com a presença oportunista de uma minoria de manifestantes que aproveitaram aquele momento de cidadania para pedirem coisas absurdas como uma intervenção militar. Até mesmo a campanha pelo impeachment da presidente Dilma, contra quem ainda não existem provas fundadas sobre o envolvimento de corrupção no caso da Petrobrás, mostrou-se algo prematuro e insensato.

Ora, por que esses pequenos grupos de descontentes com a democracia não passam a clamar por uma reforma política capaz de dificultar a corrupção e que permita um controle maior da sociedade sobre os atos dos agentes públicos?!

Por que não fundam um partido sólido com princípios éticos elevados e regras estatutárias que assegurem ao filiado comum voz e vez na nova agremiação ao invés de desejarem a entrega dos rumos do país a militares que jamais teriam legitimidade democrática para governar?!

No entanto, devemos ter sempre em mente a memória dos golpes que assaltaram a nossa história. Pois, desde os tempos da Proclamação da República, oportunistas de plantão sempre buscaram ocasiões para forjarem uma falsa representatividade popular quanto às suas pretensões. Assim ocorreu em novembro de 1889 e também no triste ano de 1964, sendo que agora uma meia dúzia de reacionários quer repetir novamente esse filme.

Acho difícil que a essa altura do campeonato tenhamos um novo golpe militar no país, embora seja sempre prudente os setores esclarecidos da sociedade ficarem atentos quanto a manobras do tipo. Felizmente não vejo nas Forças Armadas nenhum general instigando o povo contra a democracia, porém sempre existem aqueles políticos espertalhões, a exemplo do deputado Jair Bolsonaro, que tentam tirar vantagens afim de ganharem popularidade com discursos contrários à ordem constitucional.

É de comezinha sabença no meio jurídico, inclusive entre os calouros de uma faculdade de Direito, não haver qualquer legalidade, nem sentido, pedir uma intervenção militar. Conforme bem se posicionou ontem o ex-ministro do Supremo Dr. Carlos Velloso, numa entrevista exibida pelo Fantástico, as Forças Armadas têm a obrigação de proteger o Estado democrático:

"Uma intervenção militar seria algo inusitado, fora da lei, fora da Constituição, ao arrepio da lei, ao arrepio da Constituição. Vale evocar Rui Barbosa no ponto quando ele afirmou diante do Supremo Tribunal Federal, 'fora da lei não há salvação'. Temos que sempre nos comportar dentro da lei. No momento em que a lei, que a violação da lei prejudica alguém e nos colocamos em silêncio, amanhã poderá ser nós, sermos nós aqueles atingidos por quem está violando a lei. Sempre dentro Constituição, sempre com observância da lei"

Por sua vez, quanto ao pedido de impeachment da presidente Dilma, aplaudo de pé as colocações de outro ex-ministro do STF, o Dr. Ayres Britto, ao declarar no noticiário que a liberdade de expressão permite que os manifestantes discutam temas como esse muito embora não veja, no atual momento, nenhuma base jurídica para que isso venha a acontecer:

"Pedir o impeachment enquanto manifestação livre de vontade, tudo bem. Agora, concretamente, vamos convir, a presidente da República no curso deste mandato que mal se inicia não cometeu nenhum crime que é pressuposto do impeachment. Seja à luz do artigo 85 da Constituição, seja à luz da lei 1079, de 1950, versando sobre crimes de responsabilidade e por consequência, impeachment, não há a menor possibilidade de enquadramento da presidente da República nessas normas, sejam constitucionais, sejam legais;"

Como um cidadão que se sente indignado com tanta safadeza na política e mal uso do dinheiro público, penso que o foco dessas manifestações deve ser o combate efetivo à corrupção e a proteção dos direitos dos trabalhadores diante dos recentes ajustes econômicos. Se de fato o governo está disposto a ouvir a sociedade, deve considerar a hipótese de revogar as impopulares medidas provisórias 664 e 665 impostas no apagar das luzes do ano passado. Aliás, considero que foi um tiro no pé a edição das duas MPs que contrariam tudo aquilo que foi prometido em campanha pela atual mandatária.

Finalmente, faço aqui meu apelo aos cristãos de verdade neste país para que a Igreja posicione-se diante desse momento de crise política. Como havia colocado na postagem anterior, O avivamento que o Brasil precisa, poderíamos ser a resposta para essa geração em busca de um rumo certo para seguir. E, neste sentido, mais do que nunca devemos nos manifestar pacificamente oferecendo soluções sem abrir mão dos princípios éticos básicos do Evangelho.

Que Deus ilumine o Brasil!


OBS: Imagem acima extraída de uma notícia da EBC sendo os créditos autorais atribuídos a Marcelo Camargo / Agência Brasil.

sábado, 14 de março de 2015

O avivamento que o Brasil precisa




Tenho acompanhado pelos jornais os vergonhosos acontecimentos sobre as denúncias de corrupção na política e a insatisfação da sociedade brasileira com os seus representantes eleitos em todas as três esferas estatais (União, estados e municípios). Fala-se por aí até no impeachment da presidente, na volta dos militares e também em diversas manifestações de rua, as quais não deixam de ser reações legítimas garantidas pela Constituição considerando que se trata de um direito de todos reunirem pacificamente nos locais públicos.

No entanto, fico a pensar no papel da Igreja neste cenário visto que poderíamos ser a resposta para essa geração em busca de um rumo certo para seguir. E aí, lendo uma interessante entrevista do ativista cristão norte-americano John Perkins, publicada na edição n.º 353 da Revista Ultimato, pude refletir sobre o quanto temos falhado em nossa evangelização. Pois como bem respondeu o ilustre entrevistado,

"Não lemos a Bíblia em busca da justiça - por isso é fácil tolerarmos a injustiça. Lemos a Bíblia à procura de nossas próprias bênçãos (...) Vejo que a injustiça no mundo é consequência da ganância econômica, por isso enxergo a justiça basicamente como uma questão econômica e de governança. Quando não partimos da igualdade de todas as pessoas, não percebemos essa ganância e os seus efeitos; (...) Estou envolvido em desenvolvimento comunitário como um modo de diminuir a distância da desigualdade e também da hostilidade cultural e racial" - Págs. 46 e 47 

Quantas coisas as inúmeras congregações eclesiásticas espalhadas pelo país não poderiam realizar no sentido de organizar as comunidades onde se encontram através de projetos de inclusão social e de geração de renda?!

Pensemos, pois, num bairro da periferia de uma grande cidade vitimado constantemente pela violência policial e pelo tráfico de drogas com jovens se prostituindo, pais de família desempregados, pessoas morando em áreas de risco, falta de oportunidades, etc. Ora, será que a Igreja, além de orar, não pode mobilizar essa comunidade para que tentem transformar a realidade deles?! E que tal os pastores das congregações ali existentes não se unirem em torno de um projeto comum e convocar protestos pacíficos com a finalidade de cobrar providências das autoridades?!

Infelizmente não é isso que se costuma ver nos dias de hoje. O que mais vejo por aí são líderes religiosos cultivando a alienação e a obscuridade de pensamento, promovendo uma adoração emburrecida nos "cultos", apoiando candidatos corruptos nas eleições (quando eles mesmos não fazem do púlpito um palanque para si próprios), estimulando a ganância pela tal da "teologia da prosperidade" e iludindo o povo com falsas campanhas de bênçãos, as quais baseiam-se em pedidos de ofertas milionários como espécies de "exercício da fé". Para piorarem mais as coisas, os caras ainda instigam conflitos de relacionamento e de identidade entre os moradores do lugar através de uma segregação moral-religiosa altamente prejudicial ao diálogo.

Diante desse quadro complicado, um avivamento que busque renovação nas comunidades em prol da justiça social torna-se uma necessidade. E nós como seguidores de Jesus não podemos permanecer omissos diante de tanto sofrimento causado pela desigualdade e pelas condutas nocivas dos governantes. Pois é hora da Igreja de Cristo se mexer neste país, colocar seus joelhos no chão e agir, integrando os bons valores da cidadania com os da espiritualidade inclusiva. Em outras palavras, seria promover diferença na sociedade. Isto é o que a nação aguarda que façamos.

Um ótimo domingo para todos!


OBS: Ilustração acima extraída de http://www.sinsep-pi.org.br/Cenario-politico-mostra-que-servidores-vao-precisar-de-mais-unidade-e-luta-por-reconhecimento-e-Estado-forte5592.html

quinta-feira, 12 de março de 2015

Até quando seremos um povo do barulho?!




Será que a poluição sonora no Brasil não tem raízes históricas profundas?!

Por esses dias eu comecei a ler o interessante livro de Laurentino Gomes1889: como um imperador cansado, um marechal vaidoso e um professor injustiçado contribuíram para o fim da monarquia e a proclamação da República no Brasil, em que, na página 72, o autor nos trás um curioso relato vindo do jornalista teuto-brasileiro Carlos von Koseritz (1830 — 1890) acerca do agitado cotidiano do Rio de Janeiro no final do século XIX: "Tudo roda e trepida pelas ruas, fazendo sobre o calçamento de paralelepípedos um barulho infernal". E prosseguiu mencionando a contribuição dada pela conduta perturbadora dos "vendedores de frutas, de jornais, de bilhetes, engraxates", os quais não deveriam economizar palavras e sons afim de tentar chamar a atenção do público para seus produtos.

Já outra testemunha da época, a escritora e educadora alemã Ina von Binzer (1856 — 1929), numa carta de 1881 enviada a uma amiga, classificou o Rio como a cidade mais barulhenta que ela havia conhecido e assim teria reclamado, segundo uma citada descrição de Evaristo de Moraes que Laurentino extraiu de "A Conspiração", em Hildon Rocha, Utopias e realidades da República, pág. 109 e seguintes desta obra:

"Vendedores de água, vendedores de jornal (...), vendedores de balas, de cigarros, de sorvetes; italianos apregoando peixes; realejos e outros instrumentos, não se levando em conta os inúmeros pianos soando janelas afora, tudo isso atroa pelas ruas estreitas, onde os sons estridentes se prolongam indefinidamente. (...) Complete essa festa dos ouvidos com o crepitar dos foguetes queimados dia e noite. (...) Além do barulho ensurdecedor, (...) a sujeira e a desordem. As calçadas, principalmente nos bairros comerciais, são tão sujas como o leito das ruas." 

Em que pese essa herança cultural e histórica de nossos ancestrais, o certo é que a poluição sonora não proporciona benefício algum para o bem estar e para a saúde das pessoas. De acordo com a Organização Mundial de Saúde — OMS, o limite tolerável de ruídos ao ouvido humano é de 65 decibéis, pois, acima disso, o nosso organismo sofre de estresse, o qual aumenta o risco do surgimento de diversas doenças.

Como consequência da produção excessiva de ruídos podemos citar a perda da audição, a interferência com a comunicação, o sentimento de dor, prejuízos quanto ao sono, dificuldades de concentração no desempenho das mais diversas tarefas e vários incômodos. Entre os efeitos sobre a saúde humana em geral, tem-se registrado sintomas de grande fadiga, lassidão, fraqueza, aceleração do ritmo cardíaco, aumento da pressão arterial, impressão de asfixia, alteração do estado de humor, redução na capacidade de comunicação e interferências no aparelho digestivo. Acima de 85 decibéis, aumenta-se o risco de comprometimento auditivo, sendo que, quanto maior o tempo de exposição ao barulho, diretamente proporcional será o risco da pessoa sofrer danos em sua saúde.

Estabelece a NBR 10.151 da ABNT que o critério básico de ruído para áreas residenciais deve ser de no máximo 45 decibéis! E a Resolução n.° 001, de 08 de março de 1990 do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA), bem como a Lei do Estado do Rio de Janeiro n.° 4.324, de 12 de maio de 2004, adotam os critérios da mencionada NBR da ABNT para efeito de controle de emissão de ruídos. No seu artigo 225 caput, diz a nossa Constituição da República de 1988 ser direito de cada um usufruir de um meio ambiente ecologicamente equilibrado, estabelecendo ainda que é da competência de todos os entes políticos, inclusive do Município, "proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas" (art. 23, VI).

É certo que o ruído possui natureza jurídica de agente poluente capaz de afetar o bem estar do ser humano (e dos animais), ainda que se diferencie em alguns pontos de outros agentes poluentes, como os da água, do ar, do solo, especialmente no que diz respeito ao objeto da contaminação. Assim, torna-se indispensável o Poder Público identificar e avaliar sistematicamente os impactos ambientais gerados pela produção de ruídos a fim de evitar a poluição sonora das áreas habitadas. E uma das maneiras de se promover isso se faz pelo planejamento do desenvolvimento que é um dos mais importantes instrumentos de proteção popular diante das vibrações sonoras.

Mas quando é que a redução do ruído nas áreas residenciais e de recreação se tornará o fim prioritário dos planos ambientais e de desenvolvimento aqui no nosso país?! Sinceramente, acho muito difícil algo desse nível acontecer até que o brasileiro tome consciência da importância de zelar por sua saúde e pelo seu bem estar, bem como reconhecer o direito de seu vizinho não se sentir incomodado pela barulheira produzida.

Na localidade de Muriqui na qual moro, um baleário do litoral sul-fluminense, sofremos anualmente com terríveis problemas de poluição sonora na época da alta temporada turística. Principalmente os moradores que vivem perto da orla marítima onde é muito comum uns mal educados pararem seus carros de som impondo a todos que ouçam esses funks horrorosos num ensurdecedor volume. Assim como o Rio de Janeiro nos tempos de D. Pedro II, fogos de artifício podem ser disparados a qualquer hora do dia nas cidades brasileiras sem que se trate de uma ocasião festiva. E o que dizer daquelas igrejas neo-pentecostais (não vou generalizar todas as instituições desse ramo do protestantismo) que celebram seus "cultos de adoração" ao som de gritarias e sem a devida proteção acústica em que seus líderes chegam a alegar "perseguição religiosa" quando simplesmente são notificados a cumprir aquilo que manda a lei?!

Percebendo essa necessidade de termos normas jurídicas ainda mais eficazes para combater a poluição sonora e considerando que é da competência do Município legislar sobre assuntos de interesse local, cheguei a redigir um anteprojeto de lei acerca do assunto. E, como não sou de me conformar com uma situação errada, resolvei compartilhar com a sociedade daqui postando um artigo dia 02/06/2013 no blogue Propostas para uma Mangaratiba melhor onde apresentei a minha ideia. Em novembro daquele ano, recebi um comentário da ilustre secretária municipal de meio ambiente Natacha Kede informando ter encaminhado a sugestão para análise da Procuradoria da Prefeitura.

Embora até hoje eu desconheça sobre a apresentação de algum projeto de lei do Poder Executivo Municipal tratando de maneira satisfatória sobre o combate à poluição sonora (e menos ainda visto uma ação fiscalizatória das autoridades locais capaz de por fim a essa bagunça que se repete todos os verões aqui no município de Mangaratiba), acho que vale a pena lutar pelos nossos direitos. Quem sabe um dia as futuras gerações percebam a importância de usufruir de um meio ambiente ecologicamente equilibrado em todos os seus aspectos, não é mesmo?! E que ninguém venha me dizer aquela autoritária frase "os incomodados é que se mudem" porque não desistirei fácil dessa briga que os brasileiros dos séculos futuros talvez venham a reconhecer como justa quando, finalmente, nossos netos, bisnetos ou tataranetos passarem a habitar cidades mais tranquilas.

Desejando a todos um excelente dia e parafraseando os dizeres em latim da bandeira de Minas Gerais, escrevo estas frases finais do texto de hoje:

Sossego Quae Sera Tamen!


OBS: Imagem acima oriunda do site http://maispinhais.com.br/2012/05/poluicao-sonora/

segunda-feira, 9 de março de 2015

Deus em Jesus e em nós...



"E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como a do unigênito do Pai." (Evangelho de João 1:14; ARA)

Para a grande maioria dos cristãos seguidores da ortodoxia religiosa (católicos e protestantes) Jesus é visto historicamente como Deus: a segunda pessoa da Santíssima Trindade e/ou o Verbo divino encarnado. Já para outros grupos minoritários do próprio cristianismo (gnósticos e espíritas) ou de religiões diversas, a exemplo de uma parte dos judeus e dos muçulmanos, o Mestre é considerado alguém igual a todos os demais da nossa espécie. Em outras palavras, ele seria um espírito evoluído que veio à Terra, um profeta ou um grande pensador da humanidade.

Não vou me meter nessa antiga e interminável controvérsia sobre a natureza de Cristo, a qual já foi motivo de inúmeros conflitos sangrentos no decorrer da história eclesiástica. As doutrinas dos variados grupos religiosos e as crenças individuais das pessoas tornam-se de pouca relevância para quem almeja desenvolver uma fé madura colocando-se na condição de eterno aprendiz ao invés de se arrogar dono da verdade. Aliás, na própria Bíblia encontramos uma pluralidade de concepções teológicas entre seus muitos personagens os quais tornaram-se homens de elevada estima pelas atitudes de fé desempenhadas diante das circunstâncias que enfrentaram. E todos eles certamente têm algo de útil a nos ensinar ainda que seja com os erros cometidos.

Pode-se dizer que a palavra cristo (gr. khristós) seria uma tradução grega para messias (hebr. mashíach), a qual quer dizer "ungido". Assim, na história de Israel, houve muitos homens que foram ungidos a exemplos dos reis e dos sacerdotes. E, na época do exílio babilônico (século VI a.C.), o capítulo 45 do livro de Isaías menciona o monarca Ciro da Pérsia como sendo um ungido do Senhor. Ou seja, um governante estrangeiro e de outra religião foi significado como uma espécie de "messias" para os judeus daquele tempo já que ele libertou a Israel autorizando o retorno do povo para a Terra Santa bem como permitiu a reconstrução do Templo de Jerusalém que fora destruído décadas antes por Nabucodonosor.

Contudo, para nós cristãos, Jesus da Galileia é compreendido como o nosso modelo de vida e o melhor revelador do caráter divino. Nele, a plenitude de Deus se fez acessivelmente manifesta por meio de seus atos amorosos para com o próximo. Pois, mesmo com suas condicionantes humanas, o Mestre buscou esforçadamente transcender as muitas limitações dos planos físico e cultural, não se negando a aliviar o sofrimento das pessoas, curando a filha de uma mulher estrangeira (mesmo entendendo inicialmente que seu ministério restringia-se às ovelhas perdidas de Israel), perdoando seus malfeitores na cruz, ensinando os discípulos a se preocuparem com as necessidades do próximo no caso da multiplicação dos pães, etc.

Em Jesus a mensagem divina para a humanidade se tornou concreta e palpável, tendo sido nosso Mestre o Cristo para a sua geração e para todas as outras posteriores. Nunca ninguém amou como ele! Porém, ainda que tendo um exemplo tão motivador, Deus quer contar hoje com pessoas igualmente dispostas a seguir as pegadas do Homem de Nazaré. Pois ainda que estejamos bem distantes da elevada estatura ética de Jesus, podemos e devemos desenvolver o nosso caráter afim de que nos tornemos seres humanos melhores capazes de inspirar a muitos de nossos irmãos como bem escreveu o apóstolo Paulo à Igreja:

"Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo" (1ª Epístola aos Coríntios 11:1)

Amados, creio que, se pudermos ter um pouquinho de Deus nas nossas vidas, não somente estaremos edificando a nós mesmos como também o ambiente social onde vivemos. Deixando de lado o livre curso dos nossos sentidos (egoísmo, iras, ganância, embriaguez, paixão lasciva, etc), podemos nos direcionar para condutas que são verdadeiramente amorosas e nos esforçarmos a cada dia afim de que uma boa ação se realize. Mesmo falhando ou tropeçando, precisamos seguir em frente com motivação no Evangelho do Reino do Senhor. E creio que nos comportando assim o mundo um dia conseguirá ver a Luz Divina brilhando nos rostos dos justos como bem ensinam as Sagradas Escrituras:

"Mas a vereda dos juros é como a luz da aurora,
que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito."
(Provérbios 4:18)

Uma ótima semana a todos e que o Altíssimo possa guiar a nossa caminhada!


OBS: A ilustração acima refere-se a uma obra do artista Paul Gustave Doré (1832 - 1883), a qual foi extraída do acervo virtual da Wikipédia conforme consta em https://pt.wikipedia.org/wiki/Fiat_Lux#mediaviewer/File:Creation_of_Light.png

sexta-feira, 6 de março de 2015

O desenvolvimento da política e da democracia nos municípios brasileiros




Curioso como que, após um quarto de século da Constituição de 1988, os municípios brasileiros em sua grande maioria continuam gozando de uma menor democracia do que no âmbito da União Federal e de seus respectivos estados. Falo das oportunidades de participação cidadã dentro da política local, do processo de disputa eleitoral e da impossibilidade de formação de partidos municipais, além dos direitos do estrangeiro em votar e ser votado para os cargos de prefeito e de vereador.

Uma de minhas críticas à deficiente democracia nos municípios refere-se à propositura de projetos de lei de iniciativa popular. Nossa Carta Magna proclama que "Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente" (art. 1º, parágrafo único). Porém, para que ocorra a participação da sociedade na elaboração das leis de sua cidade exige-se que a proposta de projeto seja subscrita por no mínimo 5% (cinco por cento) do eleitorado do Município. Isto é, para que os vereadores ao menos apreciem a proposta legislativa vinda de um cidadão comum, podendo a Câmara aprová-la ou rejeitá-la, é preciso recolher um percentual de assinaturas de munícipes com direito a voto que, a meu ver, mostra-se flagrantemente excessivo.

É certo que, em alguns lugares, criou-se um atalho para que a sociedade civil organizada (ONGs, associações de moradores e sindicatos) pudessem dialogar melhor com os vereadores através das respectivas comissões de legislação participativa, as quais são geralmente conhecidas pela sigla CLP. Por meio desse organismo, as ideias dos grupos atuantes numa cidade podem virar normas jurídicas mesmo que apresentadas informalmente cabendo ao edis (ou à assessoria dos integrantes da comissão) adaptar a proposta aos termos técnicos afim de que a mesma vire um projeto de lei de autoria do referido órgão colegiado da Câmara. Só que são poucas as cidades brasileiras que até hoje abriram esse simples canal de contato... Por que será???!!!

No entanto, mesmo que dessem a um grupo menor de cidadãos eleitores o direito de iniciativa direta quanto aos projetos de lei, o certo é que tal mudança pouco modificaria as relações de poder num município se o acesso aos cargos de vereador e de prefeito continuar condicionado à filiação prévia nos partidos de representação nacional. Pois penso que, numa eleição municipal, a qual ocorre em época distinta das eleições nacionais e estaduais, caberia a formação de agremiações locais de eleitores. Ou seja, um grupo de pessoas interessadas na gestão do lugar onde vivem criaria uma instituição com um número mínimo de membros afiliados, com CNPJ, estatuto e realizaria sua própria comissão afim de apresentar candidatos à Justiça Eleitoral. O juiz, uma verificando o cumprimento dos requisitos exigidos pela legislação, autorizaria que tais homens e mulheres pudessem concorrer de igual para igual com os partidos políticos já existentes.

Oras, numa cidade isso seria quase que uma revolução cívica porque muitos municípios deixariam de ser feudos daquelas poucas famílias que há décadas se revezam no poder e controlam os partidos. Por outro lado, haveria uma inversão quanto à hierarquia anti-democrática da maioria dos nossos partidos em que as executivas estaduais chegam a intervir nas escolhas dos diretórios municipais conforme os interesses de determinados caciques da política. E, consequentemente, a agremiação local de eleitores não ficaria sujeita a nenhum controle discricionário vindo de cima devendo apenas prestar conta quanto à legalidade de seus atos.

Embora numa democracia seja aconselhável que tenhamos partidos fortes, sindicatos fortes, associações de moradores fortes e ONGs fortes, há que se dar uma maior flexibilidade de organização partidária no âmbito dos municípios afim de que os moradores de uma cidade participem mais ativamente da política. Pois, sem dúvidas, isso traria enormes benefícios para a consciência e identidade local, aumentaria o controle social sobre as decisões e proporcionaria um amadurecimento das pessoas as quais passariam a compreender melhor o espaço urbano como sendo delas e de todos..

Finalmente há que se conceder mais direitos políticos ao estrangeiro. Pois considero justo que os imigrantes com residência permanente no Brasil há mais de três anos possam exercer o direito de voto e de se candidatar ao cargo de vereador, desde que saibam falar e escrever fluentemente o nosso idioma. A esse respeito existem três propostas de emenda à Constituição com temas correlatos: as PECs 14/2007, 88/2007 e 25/2012. A primeira proposta, do senador Alvaro Dias (PSDB-PR), visa a garantir o direito de manifestação dos estrangeiros, já que o Brasil foi formado com a participação de imigrantes dos diversos continentes. Já a PEC 88, do ex-senador Sérgio Zambiasi, sugere reciprocidade na garantia de direitos políticos a estrangeiros com nações que asseguram o voto a brasileiros natos, como Nova Zelândia, Dinamarca, Holanda, Suécia, Finlândia, Bélgica, Chile, Venezuela, Colômbia, Paraguai e Uruguai. E a PEC 25, do senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), garante uma série de direitos aos estrangeiros, entre os quais o direito ao voto àqueles com residência permanente no país.

Por uma questão mesmo de justiça, o Estado brasileiro não pode permanecer indiferente à necessidade de dar voz e voto às grandes correntes migratórias que vêm viver sob sua jurisdição! E, quando falamos da política de uma cidade, não cabe alguém invocar aquele antigo temor de "atentado à soberania nacional" que muitos herdaram dos tempos da ditadura militar. Afinal, as alterações propostas pelos senadores não modificarão a disciplina constitucional relacionada ao preenchimento dos cargos públicos de relevo que a Constituição reserva, em defesa do interesse nacional, a brasileiros natos. Com isso, seguirão privativos de brasileiros natos os cargos de presidente da República e vice, dos ocupantes da ordem sucessória do Presidente – presidentes da Câmara dos Deputados, do Senado Federal e do Supremo Tribunal Federal -, assim como os de diplomata, oficial das Forças Armadas e de ministro da Defesa.


quarta-feira, 4 de março de 2015

Uma semana agitada e nosso 9º aniversário de casamento




Posso dizer que a primeira semana de março está sendo a mais agitada de 2015 com muitas atividades, coisas para resolver e encontros familiares. Nesta segunda (02/03), havia ido ao Rio passar um tempo com meu avô materno Sr. Georges Nicolas Phanardzis, o qual viajou de San José da Costa Rica afim de ver a família. E também estive com minha mãe que, neste ano, mudou-se para Brasília. Já ontem precisei ir à Angra dos Reis solicitar o cálculo do ITD da minha casa na Secretaria Estadual de Fazenda (mais uma paulada no meu bolso) e fiquei a manhã desta quarta-feira vendo alguns assuntos em Itaguaí tendo depois trabalhado à tarde na praia de Muriqui.

Em meio a tudo isso, pintou mais um aniversário de casamento com Núbia, evento que costumo anualmente registrar aqui no blogue. Só que dessa vez acabou sendo bem diferente das ocasiões anteriores. Nada de passeios, ida a um restaurante e muito menos doce. Devido à cirurgia bariátrica de minha esposa, em 14/01, tivemos que pensar em outras maneiras de ficarmos juntos celebrando esse importante momento. E tive que arrancar forças daqui de dentro para romper com os sentimentos de angústia que tentam tomar conta das emoções diante de uma tempestade de lutas sem eu conseguir vislumbrar ainda os desejados tempos de bonança. Só pela fé mesmo...

Amigos, graças dou a Deus por ter nos sustentado até aqui! Nossa vida pode não estar como gostaríamos, mas é o Senhor quem tem nos dado forças e ajudado a não desistirmos um do outro. Ainda que eu não esteja bem profissional e financeiramente, ou que Núbia precise de cuidados rigorosos quanto à saúde, considero-me um vitorioso em Cristo porque é um propósito dos céus levar esse matrimônio adiante. E assim prossigo mesmo imperfeitamente estando consciente do preço a ser pago por determinadas escolhas.

Há nove anos nos casamos num sítio situado na Friburgo-Teresópolis em que o local veio a ser destruído pela terrível enchente de janeiro/2011. Porém, as muitas águas não podem destruir o nosso amor! E gostaria muito de poder retornar à Região Serrana com Núbia afim de comemorarmos lá o próximo aniversário de casamento e aproveitando para rever algumas pessoas, inclusive o celebrante Pr. Renato Gonçalves. Só Deus sabe se terei oportunidade e condições para isso de modo que deixo em suas mãos esse desejo do coração.

Ainda esta semana despeço-me de meu avô materno que, em maio, espero que complete 82 anos. De nacionalidade grega, porém nascido no Egito, ele é o último dos meus avós ainda vivo e que, felizmente, goza de excelente saúde, encontra-se bem lúcido e se locomove com autonomia a ponto de ir sozinho de Costa Rica ao Brasil fazendo uma conexão de voo no Panamá. E o segredo de sua boa forma está numa saudável alimentação e na prática de exercícios físicos.

Conhecer Costa Rica atualmente talvez seja um sonho para mim, mas espero ao menos conseguir visitar minha mãe em Brasília este ano e proporcionar a Núbia uma oportunidade de passeio longe de casa, algo que não fazemos há muito tempo. Aliás, só na segunda metade de fevereiro foi que tornei a dar umas voltas com ela caminhando pela praia daqui pois até então só estávamos saindo mesmo era para ir a médico, emergências hospitalares, exames e tratamento de saúde. Mas agora, com ela se recuperando, volto a ter esperança de nos aventurarmos novamente por esse lindo planeta dado a nós pelo Criador sendo que só essas andanças pela orla de Muriqui têm sido uma grande bênção.

Louvado seja o Nome do Senhor!

domingo, 1 de março de 2015

Parabéns, Rio!




Por esses dias, muito se tem falado na mídia acerca dos 450 anos de existência da cidade do Rio de Janeiro. Na noite de sexta-feira (27/02), assisti a uma interessante matéria do Globo Repórter mostrando coisas incríveis da capital mais linda do país.

De fato, poucas das grandes cidades brasileiras se aproximam do Rio de Janeiro em termos de beleza natural e urbanística, diversidade, acolhimento, simpatia, cultura e opções de lazer. Talvez pelo sol e pelas praias, pode-se afirmar que o carioca seja um povo alegre, o que, certamente, contagia quem vem visitar o Rio.

No entanto, sabemos que, como em quase todo lugar do país, a Cidade Maravilhosa também tem suas dificuldades como congestionamentos, criminalidade, violência, transportes super lotados, serviços públicos deficientes e políticos safados. Tais coisas costumam não ser comentadas nas ocasiões festivas como nesse emblemático aniversário de quatro séculos e meio do Rio. Na reportagem da Globo, por exemplo, mostraram as favelas que foram "pacificadas" e que se tornaram atrações turísticas, mas pouco se falou dos locais onde ainda se ouvem tiros durante a noite inteira e a população não é tratada pelo Estado com a dignidade da qual deve ser destinatária, conforme previsto em nossa Constituição. Houve apenas uma breve referência ao que anda ocorrendo no Morro do Alemão cuja pacificação ainda é um processo em curso.

Penso que esta deveria ser a principal motivação dos cariocas (e de suas autoridades) no momento: ser um processo em curso ou metamorfose ambulante. A meu ver, tornou-se prematuro o fato do Rio sediar os jogos olímpicos de 2016. Pois ainda há muito o que ser feito em termos estruturais para a cidade abrigar um evento internacional de tão grande importância como são as Olimpíadas sendo que, na prática, o que vem acontecendo é mais uma maquiagem dos políticos...

Será que o Rio é apenas Copacabana, Ipanema, Pão de Açúcar, Corcovado, Floresta da Tijuca, Igreja da Penha, Centro, Maracanã e os bairros Zona Sul?!

A cidade possui apenas a Baía de Guanabara?! Ou o rio não faz parte também da esquecida Baía de Sepetiba, a qual anda bem poluída recebendo uma quantidade absurda de esgoto?! E quantos sabem que, nesta baía, ainda vivem pescadores, populações de tartarugas e até mesmo de botos-cinzas?!

Há que se lembrar de boa parte das áreas humildes da Zona Norte e da Zona Oeste. Bairros como Madureira, Bangu, Campo Grande, Santa Cruz, Vila Kennedy, Guaratiba e outros não fazem parte da Cidade Maravilhosa? E o que dizer dos municípios vizinhos da região metropolitana como Duque de Caxias, Nova Iguaçu, Queimados, Nilópolis e Mesquita?

Além do Metrô, não temos também os trens da SuperVia que, diariamente, transportam um número enorme de trabalhadores?!

Há muito mais coisas do Rio para serem mostradas e comentadas. Sem dúvida, tudo na cidade precisa ser inserido, qualificado e dignificado. Pois não há como se privilegiar uma parte e esquecedor do resto ou do contrário teremos um corpo urbano sempre enfermo.

Apesar de fazer tais lembranças, não vou deixar de dar meus parabéns ao Rio desejando que todo esse processo de mudança tenha continuidade e se amplie. Que não seja apenas uma  maquiagem para os próximos eventos esportivos, mas que, tanto nesta década como nas próximas, haja um real aperfeiçoamento afim de que, em 2065, comemoremos pra valer os 500 anos da Cidade Maravilhosa.

Uma boa semana para todos!


OBS: A ilustração acima refere-se ao logotipo dos 450 anos do Rio de Janeiro.