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segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

O "samba" que está dentro da gente!




Hoje estou feliz! Não porque seja Carnaval, mas, sim, porque, nesta semana, pela primeira vez em vários meses, pude sair de casa para passear com Núbia.

Desde que minha esposa havia quebrado a perna, no final de abril do ano passado, nós apenas saímos juntos para tratamento de saúde. Devido aos diversos problemas que ela vem enfrentando, muito mal eu conseguia temperar esses momentos com algum almoço no restaurante ou um lanche na padaria. Eu simplesmente a acompanhava nas inúmeras consultas médicas, exames e terapias para então voltar pra casa o mais rápido possível já que ela não se sentia bem ao ficar por várias horas na rua.

Esta semana, porém, ocorreu aquilo que poderia chamar de milagre. Núbia resolveu levantar cedo para caminhar e começamos a fazer isto ontem, trinta dias após a alta do hospital onde passara por uma necessária cirurgia de redução do estômago (conferir o artigo de 3 de fevereiro de 2015, Blogueiro ainda tentando retornar). E, por volta das sete da manhã, temos andado pequenos percursos entre a nossa casa e a praia, a qual fica uns três quarteirões daqui, não chegando a percorrer nem um quinto da orla marítima de seus 1.100 metros .

Sem dúvida que a recuperação da saúde dela é um processo que não ocorre de uma hora para outra. Até à época da cirurgia, Núbia pesava mais de 90 quilos para uma altura de 1,52 metros, sofrendo já de artrose, esteatose hepática, osteopenia (começo de uma osteoporose), altas taxas de colesterol, triglicerídeos e com a glicose já subindo. Era uma situação bem crítica que, juntamente com outros problemas, exigia o consumo diário de mais de 15 tipos de medicações. E, devido ao seu quadro crítico, perder peso e mudar a alimentação havia se tornado uma questão de vida ou morte...

Não vou negar que tudo isso foi capaz de me abater. Tê-la nesse estado era como se uma parte de mim estivesse enferma. E, nas vezes em que cheguei a sair para fazer minhas caminhadas ecológicas, tipo andar na Ilha Grande durante o inverno (ler texto No lado selvagem da ilha), confesso não ter me realizado plenamente. Aliás, ficava pensando no quanto seria mais prazeroso se ela estivesse com boa saúde para me acompanhar. Nem que eu fosse restringir um pouco as minhas aventuras ficando mais tempo ao seu lado. E, com frequência, recordava-me dos passeios de outrora, quando viajávamos pelo país nos primeiros anos do namoro.

Apesar de toda essa dor, não deixei que a tristeza tomasse conta de mim. Busquei (e ainda procuro) ocasiões para sorrir independentemente das circunstâncias. Pois de nada adiantaria ficar deprimido e deixar que os problemas me envolvessem a tal ponto de modo que não visse mais nenhuma beleza na vida. Pois, como diz o trecho de uma linda música do Gonzaguinha, muito bem cantado na voz de Beth Carvalho, devemos

"Viver e não ter a vergonha de ser feliz
Cantar (e cantar e cantar) a beleza de ser um eterno aprendiz
Ah meu Deus!, eu sei, eu sei que a vida devia ser bem melhor e será
mas isso não impede que eu repita
é bonita, é bonita e é bonita"

Desculpem-me as mentes mais religiosas pelo que vou escrever a seguir, mas diria que esse samba parece-me divinamente inspirado! Deveria ser impresso e grampeado na capa de um livro sagrado afim de ser recitado nos momentos difíceis da mesma maneira que um poema do rei Davi. Pois se trata de um verdadeiro salmo da língua portuguesa. Por que não?! Algo muito útil para fazer qualquer um compatriota parar e refletir, independentemente do credo que professa (ou se não segue alguma religião):

"E a vida?
e a vida o que é diga lá, meu irmão?
ela é a batida de um coração?
ela é uma doce ilusão?
mas e a vida?
ela é maravilha ou é sofrimento?
ela é alegria ou lamento?
o que é, o que é meu irmão?"

O que é a vida? Sinceramente, não tenho a pretensão de saber conclusivamente, mas apenas de comentar um pouco a seu respeito. Prefiro ficar com "a pureza das respostas das crianças"! Mas percebam, meus amigos, o quanto é valioso para o ser humano cultivar dentro de si a alegria não deixando se submergir em meios às circunstâncias ruins! Sofrer faz parte da realidade de todos nós e, nas horas difíceis, temos que saber curtir a tristeza na medida certa para que depois, quando a lagarta sair do casulo, batermos as asas e voar com o magnífico colorido de uma borboleta. E, mesmo enquanto não temos as asas da felicidade conduzindo nossos corpos pelos ares, não podemos nos esquecer de que a existência humana jamais se restringe a um estado só.

Para finalizar, gostaria de dizer aos que apreciam ou não o Carnaval de que todos temos uma melodia afinada dentro da gente. É você quem coloca os seus pés para sambar e, como o salmista da Bíblia, pode muito bem ordenar a alma para louvar o Senhor. Pois assim fazendo, "como der ou puder ou quiser", impulsionados pelo Sopro do Criador, abrimo-nos interiormente para a alegria, quer seja tempo de festa ou não. Portanto, meu caro leitor, alegre-se de verdade porque a vida é bonita e precisa ser bem vivida.

Um ótimo feriado de Carnaval a todos!


OBS: Imagem acima extraída de uma página da EBC com atribuição de créditos autoriais à Tânia Rêgo, da Agência Brasil, conforme consta em http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2015-01/carnaval-do-rio-comeca-hoje-com-desfiles-de-blocos-de-bairros

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