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terça-feira, 3 de junho de 2014

Um olho na Copa e outro na política




Tendo assistido ontem ao Jornal Nacional, pude acompanhar que, neste mês de junho, o noticiário da TV brasileira está quase totalmente focado nos acontecimentos sobre o Mundial. Praticamente não se comenta outra coisa senão sobre os treinos da seleção na Granja Comary, a história do futebol, a vida de cada jogador, a chegada das equipes estrangeiras e os últimos amistosos.

Nada contra que se fale da Copa. Afinal, trata-se de uma festa que só ocorre de quatro em quatro anos. Porém, a minha preocupação é que o noticiário esportivo acabe distraindo demais a atenção da nossa sociedade e não haja mais espaço para o acompanhamento das manobras políticas que continuam se desenvolvendo no Congresso Nacional bem como nas articulações dos partidos neste período pré-eleitoral.

Verdade seja dita que a política não vai parar nos dias do Mundial. Enquanto o povo estiver torcendo, soltando fogos, matando aulas ou serviços, fazendo Carnaval e bebemorando as esperadas vitórias da seleção, os nossos políticos continuarão agindo. E, nessas horas, precisamos ficar bem alertas com os golpes que os canalhas podem aprontar para cima do eleitor aprovando leis e projetos anti-populares. Algo que também costuma rolar no final do ano, quando a cabeça das pessoas encontra-se voltada para as festas de Natal, Réveillon e férias familiares.

Ora, não foi no apagar das luzes, mais precisamente em dezembro de 2002, que o Congresso aprovou a cobrança da contribuição para o custeio dos serviços de iluminação pública (CIP), acrescentando na Constituição da República o vergonhoso artigo 149-A pela Emenda de n.º 39?!

Quanto às eleições presidenciais, é provável que a situação esteja investindo pesado para congelar toda e qualquer tendência negativa que influencie na popularidade da presidenta. Só que, embora as notícias sobre a Copa do Mundo tenham se tornado o mote principal de propaganda (tanto por motivo de publicidade oficial quanto pela produção de fatos cobertos pela mídia espontânea igualmente interessada no evento ao lado dos patrocinadores), há que se reconhecer aí uma certa fragilidade política do governo. Pois hoje a cúpula do PT, junto com seus aliados do PMDB, tem demonstrado muita preocupação com o desgaste acumulado de Dilma que foi abalada recentemente pelos escândalos envolvendo a maior estatal do país - a PETROBRÁS. Tanto é que a base aliada promoveu diversas manobras afim de obstruir a constituição de uma CPMI.

Acredito que o sucesso da seleção brasileira na Copa não trará efeitos decisivos sobre as eleições. Pois, também em 2002, fomos pentacampeões e ainda assim o candidato governista José Serra perdeu para Lula. Logo, penso que não haja mais aquela velha relação capaz de garantir um alienante conformismo popular, mas tão somente uma distração passageira. Um período bem momentâneo e que, como abordei nos parágrafos iniciais, não deixa de ser perigoso para as conquistas sociais.


OBS: A ilustração acima trata-se de uma imagem que parece ser de domínio público, tendo sido já replicada em inúmeras páginas da internet. Deixo de atribuir autoria por desconhecer quem seria seu autor.

Um comentário:

  1. Enquanto prestamos a atenção na Copa, eis que o PT tem trabalhado para realizar "uma Constituinte Exclusiva e Soberana sobre o sistema político", conforme já havia exposto a sua intenção desde as manifestações do ano passado. Senão vejamos o que diz esta circular do Partido dos Trabalhadores:

    http://www.pt.org.br/blog-secretarias/circular-participacao-do-pt-no-plebiscito-popular-por-uma-constituinte-exclusiva-e-soberana-do-sistema-politico/

    Sinceramente, considero inapropriado qualquer plebiscito este ano a respeito de uma Assembleia Constituinte, sendo certo que, no segundo semestre de 2014, teremos eleições. Além de que seria um enorme perigo para a sociedade dar aos parlamentares esse poder que pode se tornar via de mão dupla quanto aos direitos democráticos tão duramente conquistados.

    Vamos ficar de olho!

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