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quinta-feira, 26 de junho de 2014

Basta 0,1% do harém do rei!



"Ora, além da filha de Faraó, amou Salomão muitas mulheres estrangeiras (...) Tinha setecentas mulheres, princesas e trezentas concubinas; e suas mulheres lhe perverteram o coração." (1Rs 11:1,3; ARA)

Certamente que a passagem bíblica sobre as mil mulheres do rei Salomão ainda mexe com o imaginário de muitos homens e mulheres do nosso tempo atual. Apesar de vivermos há mais de vinte séculos numa sociedade monogâmica (pelo menos aqui no Ocidente), considero raro o brasileiro que nunca fantasiou em possuir um harém. Nem que seja com apenas algumas esposas, namoradas ou "amantes".

Entretanto, quando reflito sobre a vida do antigo monarca de Israel, duvido que Salomão tenha amado verdadeiramente mais de uma mulher. Se de fato o Shir Hashirim (Cântico dos Cânticos) foi escrito por ele, segundo consta no inicial título da obra, fica difícil acreditar que, enquanto esteve envolvido com a sulamita, seu coração tenha pertencido a outra. E, com base numa leitura não literal do capítulo 10 de 1Reis, há quem entenda ter sido a rainha de Sabá o grande amor da vida do governante.

De modo algum pretendo enquadrar os personagens das Escrituras Sagradas nos padrões morais de hoje ou em conformidade com as doutrinas pregadas nas igrejas. Porém, quando reflito sobre o grande absurdo do patriarcalismo que foi a poligamia, o que me vem à cabeça são relacionamentos desprovidos do sincero amor. Pois são situações motivadas por algum tipo de utilitarismo em que, no caso de Salomão, teria sido a necessidade de estabelecer alianças políticas e econômicas com os povos vizinhos, visando favorecer o próspero comércio que administrava na região do antigo Oriente Próximo. Foram, na verdade, setecentos casamentos contraídos por mero interesse.

Mas o que dizer das trezentas concubinas que nem chegaram a ter o status de esposa dentro do vasto harém do rei? Serviriam elas apenas para atender o seu voraz apetite sexual e/ou a vaidade pessoal?

Ainda assim, todas teriam sido uniões interesseiras em que a mulher foi transformada num objeto de prazer ou de exibição do marido. Seu valor seria pelo que ela tem a oferecer, quer seja a beleza, a juventude, a sensualidade, a geração de filhos, algum dom artístico, a inteligência, o dinheiro, etc.

Penso que é na relação monogâmica que homem e mulher formam uma dupla evolutiva capaz de promover o crescimento espiritual de ambos. Através da vida a dois, os cônjuges aprendem a dialogar com grande intimidade, praticando o árduo exercício da compreensão. As lutas, as privações, as dificuldades, as alegrias e as conquistas do cotidiano vão formando entre eles um sólido companheirismo. Algo que amadurece com o decorrer do tempo e se torna tão saboroso quanto o vinho velho.

O homem e a mulher que não vivencia fielmente essa caminhada acaba se tornado uma pessoa incompleta, sujeito a ter uma velhice solitária, mesmo se preservar um casamento de fachada. Pois as traições conjugais são capazes de azedar o matrimônio e causar prejuízos à família que muitas vezes são danos irreparáveis. E ainda que haja fortes emoções em jogo, como a aventura de se sentir jovem novamente relacionando-se aos quarenta com uma mulher de vinte, tudo será passageiro do ponto de vista existencial. No fim dos anos, restam somente os fundamentos das coisas boas e sólidas que edificamos sobre terreno rochoso.

A Bíblia não conta todos os detalhes da história de Salomão e a tradição judaica sugere que o rei se arrependeu de seus erros na velhice, ocasião em que poderia ter escrito Provérbios e Eclesiastes. E, se assim foi, vale seguir o conselho da experiência sobre o homem alegrar-se com a mulher da sua mocidade (Pv 5:18-20).

Conclui-se que devemos buscar a felicidade dentro de um relacionamento exclusivo com o cônjuge. Vale a pena agir fielmente como fez José, quando tentado pela esposa do patrão, e fugirmos das ciladas que tentam nos prender com cordas, pois elas trazem consigo a insensatez, a perdição, a desorientação e a morte em todos os sentidos.

Que sejamos sábios e capazes de honrar aquilo que é plano de Deus para o ser humano, em que ocorre uma santa união de almas:

"Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne" (Gn 2:24)

Viva o casamento!


OBS: A ilustração acima trata-se de uma obra do desenhista inglês Thomas Rowlandson (1756 - 1827). Foi extraída do acervo virtual da Wikipédia.

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