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domingo, 29 de junho de 2014

A eternidade do amor




Numa de minhas crises, acordei de madrugada desacreditando no amor. Levantava dúvidas perturbadoras em meu íntimo sobre essa palavra tão utilizada na literatura, na Bíblia e nas religiões. Questionava tanto as nossas possíveis ideias equivocadas acerca do que seria realmente amar o próximo como em relação à própria eleição do vocábulo no sentido de representar toda a positividade do Universo.

Deixando então a cama, o colchão e o travesseiro, fui para o sofá da sala e resolvi consultar diretamente o trecho bíblico que aborda o assunto (o Hino do Amor da primeira epístola paulina aos coríntios), o qual tanto incomodava-me com seus valores de perfeição. Perguntei ao texto sagrado qual a definição que mostra o significado do amor por meio de atitudes práticas e encontrei a seguinte resposta:

"O amor é paciente, é benigno; o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece, não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal; não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta." (1ªCo 13:4-7; ARA)

É claro que o lado carnal de minha mente, ainda em seu estado angustioso de saturação, não se conformou facilmente com o que encontrei ali. Resistências surgiram como o fato de não estarmos compreendendo nos dias de hoje as coisas escritas muitos séculos atrás no original bíblico conforme o contexto da época (dos destinatários do apóstolo), bem como as massacrantes manipulações introduzidas na Igreja no decorrer dos séculos afim de se submeter servilmente as escolhas das pessoas e até mesmo um suposto equívoco do escritor. Afinal, se o amor "tudo suporta", como que Paulo teria mandado os coríntios "entregarem a Satanás para destruição da carne" um membro da congregação que havia desviado em sua conduta sexual transando com a madrasta (1ªCo 5:1-5)?

Foram dúvidas bem desagradáveis e tentadoras, embora muitas das vezes elas se mostrem necessárias para podermos desconstruir e reconstruir nossos conceitos. E, se o Senhor permite que passamos por tais crises, não descarto que haja nisso um propósito de crescimento pessoal de maneira que precisamos dar um enfrentamento com sinceridade de coração ao momento. Nem ignorando o problema, fingindo que a incompreensão não existe, e nem tão pouco aproveitando-se do sentimento de incerteza para justificar eventuais decisões pelos caminhos errantes do egoísmo, da cobiça ou da avareza.

De fato, podemos nos enganar ingenuamente sobre o que vem a ser corretas atitudes amorosas (Paulo não poderia concordar que um sujeito profanador permanecesse tirando seus proveitos na Igreja e ainda afastando outras pessoas da santidade). Porém, não há como negar o amor como um princípio básico nas relações humanas construtivas, sem o que nada subsiste. Pois se trata de algo de excelência e que durará para sempre, mais do que os nossos corpos perecíveis e toda a extinguível manifestação da vida biológica no planeta.

Assim, os versos seguintes ao que citei acima trouxeram-me luz e conforto quando decidi ouvir mais atentamente a Palavra:

"O amor jamais acaba; mas, havendo profecias, desaparecerão; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, passará; porque, em parte, conhecemos e, em parte, profetizamos. Quando, porém, vier o que é perfeito, então, o que é em parte será aniquilado" (1ªCo 13:8-10)

Ora, o que é a função temporária e terrena das coisas senão um instrumento para que a nossa ação no atual momento existencial direcione-se em busca daquilo que é eterno? Pois se o amor muitas vezes consome os nossos corpos e mentes, expondo-nos a marcas e cicatrizes, o mesmo não ocorre com a alma espiritual. Por mais que nos custe fazer o bem a um de nossos semelhantes, a atitude correta nunca seria em vão. Exceto para quem pensa que tudo acaba aqui ou faz as coisas na aparência buscando o interesse pessoal.

A leitura do capítulo 13 da 1ª  Epístola aos Coríntios pode não ter me respondido completamente quais devem ser todas as condutas amorosas. E, na certa, isso seria coisa que livro nenhum no mundo poderá fazer tendo em vista as diversas circunstâncias de cada caso que se apresenta conforme suas peculiaridades. Porém, toda a motivação para não desistirmos de amar o próximo permanece estável como sendo superior e melhor do que tudo no mundo.

Que Deus possa encher os nossos corações com o seu terno amor e não desistamos jamais do nosso próximo!


OBS: A ilustração acima trata-se de uma obra de Rembrandt (1606 - 1669) retratando o apóstolo Paulo. Extraí a imagem do acervo virtual da Wikipédia em http://pl.wikipedia.org/wiki/Hymn_o_Mi%C5%82o%C5%9Bci#mediaviewer/Plik:Rembrandt_-_Apostle_Paul_-_WGA19120.jpg

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