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segunda-feira, 12 de maio de 2014

Recordações das viagens perto de casa




Umas das coisas que mais gosto de fazer na vida é poder viajar, algo que há algum tempo não tenho conseguido realizar com fins de entretenimento. E talvez essas sejam as minhas melhores recordações, o que me remete à época em que ainda era solteiro e morava na cidade serrana de Nova Friburgo.

Em quatro ocasiões, cheguei a colocar meus pés fora do território nacional e, numa delas, cruzei o Atlântico pelos ares indo de avião até à velha Europa. Porém, nenhum desses passeios no exterior foram tão legais como os que fiz por aqui. Principalmente nos lugares mais perto de casa onde pude explorar as belezas regionais com maiores detalhes.

Nos primeiros anos em que vivi em Friburgo, decidi turismar no próprio município e nas localidades próximas. Como eu amava caminhar (e ainda gosto bastante), fazia com que as pequenas distâncias ficassem maiores. As viagens que muita gente percorria de carro ou de ônibus, eu as realizava a pé indo por roteiros alternativos no meio rural. Quase sempre passando por estradas de terra e caminhos dentro de fazendas utilizados como servidão de passagem pelos moradores. Se me sentisse entediado em casa, colocava a mochila nas costas e partia. Passava tranquilamente uns dois, três ou quatro dias nos lugares para onde os pés me conduziam sem ter que dar satisfação a ninguém .

Contudo sempre gostei de um mínimo de conforto e acampar nunca foi a minha preferência. Certa vez, resolvi ir caminhando do distrito de Lumiar até Glicério já em terras macaenses, passando por Sana e por Bicuda. Se não me engano, dormi umas três noites fora de casa, sendo uma delas na ONG Pequena Semente de um conhecido chamado Márcio. Já no dia seguinte precisei albergar-me numa pousada simples em Bicuda Pequena e a terceira noite foi num assentamento de sem-terras já na Bicuda Grande. De lá fui andando até o Glicério e tomei um ônibus para Macaé.

Nessas aventuras eu sempre tirava uns minutinhos de prosa com as pessoas simples do campo, as quais me saudavam pela estrada mesmo sem me conhecerem. Também podia ver de perto interessantes projetos nas áreas de ecologia, agricultura, pesquisa científica, bem-estar social, turismo e terapias, chegando, inclusive, a estabelecer proveitosos contatos.

Um desses projetos que acabei descobrindo por acaso foi o do mico-leão-dourado. Numa gostosa manhã de inverno, saí caminhando pela estrada Serra Mar que liga Nova Friburgo a Casimiro de Abreu. Na época, a RJ-142 não tinha sido ainda totalmente asfaltada pela dona Rosinha Matheus, o que atraía aventureiros como eu dispostos a conhecer os recantos da região. Passei então por um lugar conhecido como Encontro dos Rios (também chamado de Poço dos Alemães) que é onde o rio Bonito deságua no Macaé. Ali, tendo atravessado a ponte e deixado a rodovia para trás, andei por mais uns treze quilômetros e cheguei a um vilarejo chamado Aldeia Velha já o município de Siva Jardim.

Foi nessa localidade onde fiquei sabendo de uma fazenda de nome Bom Retiro considerada reserva particular do patrimônio natural (RPPN) que, através de uma parceria com a Associação do Mico Leão Dourado, recebeu experimentalmente uma família dessa simpática espécie de primatas da Mata Atlântica. E, tendo eu retornado a Aldeia Velha em uma outra ocasião, conheci o proprietário da gleba, o Sr. Luiz Nelson Faria Cardoso, tendo me hospedado num dos chalés de sua propriedade. Depois disto, tive a ideia de organizar uma excursão para lá com meus colegas da faculdade afim de passarmos um final de semana num evento ecológico de modo que consegui convencer a direção do campus da Estácio de Sá com a ajuda de meu professor Dr. André Mello.

Recordo ainda das inesquecíveis belezas do município de Cachoeiras de Macacu que é vizinho a Nova Friburgo. Alguns anos antes do Parque Estadual dos Três Picos ser criado pela Benedita, percorri a pé suas principais trilhas tendo feito algumas caminhadas com o ambientalista Jorge Elpídio Medina, o Passarinho, como ele é popularmente conhecido na cidade. Com Passarinho estabeleci significativa amizade a ponto de frequentar sua casa. E uma das maiores travessias que fizemos juntos foi andando por umas quatro horas até o povoado de Guapiaçu a partir do bairro Gangury, rompendo montanhas e vales.



Todas as cidades vizinhas ou próximas a Nova Friburgo eu visitei, exceto a sede do município de São Sebastião do Alto, o qual não chega a fazer divisa. Ainda assim lembro que passei de ônibus por um lugarejo de lá chamado Valão do Barro. Cheguei a  visitar algumas vezes o vale do rio Macabu em Trajano de Morais e caminhei por lugares como: a Pedra do Sino em Teresópolis; Santo Antônio do Barra Alegre, em Bom Jardim; Sana que é um dos distritos de Macaé; Bananeiras, em Silva Jardim; a cidade de Duas Barras onde nasceu o compositor Martinho da Vila; os túneis de Murineli com vista para a cachoeira Conde D'Eu em Sumidouro; e Macaé de Cima, Rio Bonito, Galdinópolis, Boa Esperança, São Pedro da Serra, Vargem Alta, Conquista, Salinas, Amparo, Cascatinha, Cardinot e Pico da Caledônia, todos lá mesmo em Friburgo. Contemplava cada cenário fantástico diante de meus olhos, inclusive vislumbrantes vistas da Região dos Lagos. E, se fosse eleger um desses locais como sendo o mais bonito, escolheria um ponto entre uma localidade chamada de Toca da Onça e a vila de Aldeia Velha, no caminho do "arreia mochila", de onde dava para ver o mar e o vale do rio São João, no qual fica a represa de Juturnaíba.

Mas os últimos anos da faculdade, o início da profissão e depois a vida de casado foram restringindo esses passeios de maneira que, nos meus últimos anos em Nova Friburgo, passei quase todos os finais de semana confinado dentro do apartamento que aluguei na rua Farinha Filho sem ir para muito longe. Inclusive porque havia conhecido quase tudo ao meu redor de modo que já não tinha ânimo para repetir roteiros. E, quando vim morar em Muriqui, 4º Distrito de Mangaratiba, no mês de agosto de 2012, fiquei feliz pela oportunidade de poder explorar outros recantos agora não mais no centro-norte fluminense, mas no sul do estado. Porém, não tenho desfrutado das chances que tinha para viajar na época de estudante universitário por razões de tempo, de dinheiro e de compromissos.

Mesmo com as dificuldades, já dei meu jeito de visitar quase todo o município de Mangaratiba tendo ido às ilhas de Itacuruçá, Jaguanum e Guaíba, bem como à Serra do Piloto, Ingaíba, Batatal e Conceição do Jacareí, faltando-me ainda conhecer a Restinga de Marambaia que é uma restrita área sob os cuidados da Marinha. E também tem algumas praias, ilhas e localidades menores onde até hoje não fui sendo que, após ter me perdido no Parque Nacional da Tijuca, tornei-me mais cauteloso quanto às caminhadas em trilhas de modo que faltam muitos recantos para serem visitados no Parque Estadual do Cunhambebe. Neste fiz somente dois roteiros de travessia realizados cada qual no mesmo dia: indo de Muriqui até Rubião, na Serra do Piloto; e andando de Mazomba (Itaguaí) até os Sertões de São João Marcos já em Rio Claro. Minha caminhada mais puxada foi subir em outubro o Pico do Papagaio da Ilha Grande com seus 980 metros (ler o artigo De volta à Ilha Grande).

Assim, se Deus permitir, pretendo fazer novos passeios aqui pela região. Quero retornar à Ilha Grande para conhecer locais que não cheguei a visitar como a Parnaioca, a Praia do Aventureiro e o Provetá. Nas serras, desejo ir a Bananal, São José do Barreiro e Cunha, os quais são municípios paulistas abrangidos pelo Parque Nacional da Bocaina e não se encontram muito distantes daqui. Porém, só pretendo fazer os passeios mais ousados na companhia de quem conhece as trilhas e com o suficiente preparo. Mesmo a travessia da desativada linha férrea entre Lídice e Angra dos Reis não me parece recomendável alguém fazê-la sozinho como antes eu costumava me aventurar inconsequentemente pelos matagais. Afinal, nada mais inteligente do que praticar ecoturismo com segurança e prudência. Esta foi uma grande lição que a vida me ensinou e espero jamais esquecer.



OBS: As fotos acima foram cedidas por meu amigo cachoeirense citado no texto, o Jorge Passarinho. Ele é autor de um projeto de inventário geográfico e hidrográfico do município de Cachoeiras de Macacu, feito em colaboração com os fotógrafos Denílson Siqueira, André Confort, Yuri Blacheire e Damião Arthur. Todas as imagens referem-se à zona rural do município de Cachoeiras de Macacu.

2 comentários:

  1. Rodrigo, tens espírito aventureiro!! rss
    A nossa região serrana é muito bonita de fato. Eu só conheço mesmo Petrópolis, onde passei minha lua de mel. Fiz uma trilha ecológica também por lá.
    Eu também gostava muito desse tipo de coisa quando era mais novo. Mas eu gostava de correr os lugares de bicicleta e com um grupo de amigos. De vez em quando digo à minha mulher que tenho vontade de sair pelo Brasil à fora sem rumo, indo para onde o "vento levar"...mas é complicado agora fazer isso.
    Conheço também a Ilha Grande e fiz uma trilha também por lá (só não sei os nomes dos lugares pois não lembro).
    Aqui no Rio fiz a trilha que leva ao Pão de açúcar, que também é legal.
    Enfim, viajar é ótimo. Passei 20 dias soberbos lá em Natal e meu cunhado gostou tanto que quer ir morar lá de vez! rss

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    1. Olá, Eduardo!

      Quem é que nunca teve vontade de sair viajando pelo mundo sem ter dia e hora para voltar? Embora não possamos generalizar esse comportamento como sendo fuga, penso que haja um desejo de conhecimento aí também.

      São coisas que já se passaram pela minha cabeça:

      1) Comprar um carro e ir dirigindo sempre para o Sul até chegar na Patagônia.

      2) Ser dono de um barco e navegar os sete mares visitando os cinco continentes.

      3) Pegar uma bike e pedalar até chegar numa praia no Pacífico.

      4) Embrenhar-me na Amazônia com os índios e cruzar a floresta de uma lado ao outro caminhando.

      5) Ir por terra do Rio até San José na Costa Rica visitar meu avô materno que este mês está completando seus 81 anos.

      6) Construir uma espaçonave e seguir rumo às estrelas.

      7) Ir para a Antártida.

      Se ganhasse na loteria, acho que passaria um ano ou mais conhecendo o Brasil e o mundo, a começar pela bacia do Mediterrâneo onde poderia visitar Itália, Grécia, Turquia, Líbano, Israel, Jordânia e Egito, esticando também até o Irã e o Iraque. Seria um tremendo passeio pela História e por paisagens bíblicas! Um mergulho na cultura e que teria a ver um pouco com as raízes gregas do lado materno de minha família. Teria depois um apartamentinho em Portugal, talvez na cidade do Porto, de onde eu iniciaria diversas excursões pela Europa e para lugares específicos em África. E, obviamente, tentaria visitar mais da metade dos países do mundo.

      Mas quando caio na real, vejo que essa não é a minha condição e que dificilmente mudaria até porque não faço apostas na mega sena. Então talvez eu me contente em algum dia dar a volta completa pela Ilha Grande, a qual quase sempre consigo avistar parcialmente quando caminho na orla de Muriqui, contemplando também a Marambaia, Jaguanum e um pedacinho da IIha de Itacuruçá.

      Natal eu nunca fui, mas tenho vontade de conhecer assim como Fernando de Noronha. Acredito que o Rio Grande do Norte deva ter praias belíssimas com suas dunas de areia onde seja possível escorregar nelas. Algo que, quando criança, sempre desejei fazer, mas não tive oportunidade. Talvez, se minha família tivesse me levado em Cabo Frio, eu teria realizado, mas acho que sempre ainda há tempo para voltarmos a ser crianças. Nem que por alguns instantes...

      Quanto ao Pão de Açúcar, este foi um dos lugares preferidos de minha infância. Quando papai era vivo, passeávamos mito pelos principais pontos turísticos da Cidade Maravilhosa e andar naquele bondinho era o que eu mais gostava. Não curtia tanto o Corcovado por causa da escadaria, mas achava o máximo ir pro Pão de Açúcar. Quando comecei a namorar Núbia, aquele foi um dos primeiros lugares que a levei (fizemos isso em março de 1999) e, tempos depois, quando saí de N. Friburgo e cheguei a viver por cerca de alguns meses no Rio, finalmente consegui escalar o pico, o que registrei na postagem Finalmente escalei o Pão de Açúcar!, de 04/06/12:

      http://doutorrodrigoluz.blogspot.com.br/2012/06/finalmente-escalei-o-pao-de-acucar.html

      Já em Petrópolis, morei lá no ano de 1984 quando tinha meus 7 e 8 anos. Minha residência foi num apartamento no Centro, perto da praça da Prefeitura, cujos fundos dava para ver a entrada do Liceu. Bastava atravessar o rio PIabanha e já tava no Museu Imperial. Nunca cheguei a fazer trilhas por lá, mas eu já era audacioso suficiente para caminhar a pé até o Colégio São José onde estudava e vender o vale do ônibus escolar.

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