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terça-feira, 13 de maio de 2014

Liberdade a ser plenamente conquistada




Hoje bem que eu pretendia ir ao Rio de Janeiro visitar minha mãe...

Como não consideramos conveniente viajar no segundo domingo do mês (11), por vários motivos específicos, chegamos a combinar um encontro na presente data. Até porque estou precisando retirar pessoalmente um ofício na 3ª Vara de Órfãos e Sucessões, referente ao inventário de meu bisavô Guilherme de Albuquerque Júnior, falecido em 1977. Logo, assim que fosse lá e passasse depois no cartório de imóveis, pegaria um transporte da Carioca rumo ao bairro Grajaú. Almoçaria então com ela, conversaríamos e, ainda de tarde, iniciaria meu percurso de volta para Muriqui. Porém, quando foi ontem à noite, mamãe me telefonou avisando sobre a greve dos ônibus que se iniciou a partir da zero hora de modo que mais uma vez precisei adiar meus planos.

Apesar da notícia sobre a paralisação, não fiquei chateado. Lembrei-me de que o Brasil está comemorando neste dia 13/05 os 126 anos da abolição da escravatura. Trata-se, pois, de uma data de grande significado não só para os negros e afrodescendentes como também para os trabalhadores de qualquer origem étnica. Inclusive os motoristas de ônibus que são abusivamente explorados por seus patrões.

Sempre que os rodoviários entram em greve, a reacionária TV brasileira focaliza os quebra-quebras e o caos enfrentado pelos passageiros para chegarem até o local de trabalho. Os telejornais fazem com que o sentimento do público se volte contra esses profissionais como se eles fossem os vilões de tudo. E, tendo em vista os atos de vandalismo que acontecem nas passeatas (quase sempre praticados por gente infiltrada e sem coragem de mostrara a cara), o entendimento dos fatos acaba sendo deturpado por quem desconhece a realidade de cada categoria de trabalhadores.

O fato é que os rodoviários são constantemente desrespeitados quanto ao direito de folga, sofrem com o aumento da criminalidade, são descontados em seus salários por problemas que eles não deram causa, exercem em muitos casos a dupla função de motorista e de trocador, bem como ainda são pressionados pelas empresas para lesarem os direitos dos idosos, dos portadores de necessidades especiais, dos estudantes, etc. Claro que há bons e maus profissionais em todos os meios, como os condutores que não querem parar para o passageiro ou agem sem um pingo de urbanidade no trato com as pessoas, mas nada disso vem ao caso quando se trata de uma questão coletiva.

Ora, conforme havia se pronunciado o presidente nacional da OAB, Dr. Marcus Vinicius Furtado Coêlho, durante as comemorações do dia 01º/05,

"o  trabalho é fonte de libertação, fator de cultura, progresso e realização pessoal. Esta é, afinal, a grande conquista ideológica alcançada pelos movimentos sociais e sindicais no século passado, que não pode retroagir (...) em nome da redução do custo de produção, pensa-se em tratar o trabalhador como simples engrenagem do processo produtivo. Nada é dito quanto à redução dos lucros como instrumento de tornar as empresas mais competitivas, para ficar em apenas um exemplo".

Amigos leitores, penso que não devemos jamais concordar com a manutenção de um sistema de transporte público que condicione os trabalhadores a um regime que, embora não se caracterize como total escravidão, mantém o indivíduo de certo modo preso ao invés de libertá-lo economicamente. Ainda mais tratando-se de um serviço público concedido pelo Estado ao particular (na maioria das vezes as linhas de ônibus urbanos são municipais)! E como as tarifas estão cada vez mais caras e desproporcionais em relação à má qualidade dos transportes, torna-se indispensável que os prefeitos pensem em algo alternativo como a criação de companhias estatais para a execução da atividade adotando de vez o passe livre para todos os usuários.

Mesmo contrariado por não poder ir ao Rio de Janeiro hoje, compreendo toda a situação dos rodoviários e apoio a greve dos motoristas de ônibus. Tanto na Cidade Maravilhosa quanto no restante do país, pois é necessário haver mudanças significativas para todos os trabalhadores brasileiros de um modo geral.


OBS: A foto acima pertencente ao arquivo da Agência Brasil de Notícias com atribuição de autoria a Fernando Frazão, conforme extraí de http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2014-05/rodoviarios-farao-greve-de-48-horas-partir-de-amanha

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