Páginas

segunda-feira, 31 de março de 2014

"A mulher casada deve satisfazer o marido na cama, mesmo quando não tem vontade?"

 


Na postagem anterior, após comentar brevemente sobre a recente pesquisa do Ipea, senti que poderia aprofundar num importante tema acerca da sexualidade humana e dos direitos da mulher. Algo que tem a ver com a maneira de pensar de muita gente e que envolve valores morais, culturais bem como questões religiosas também. Então pensei, por que não analisar a situação buscando uma orientação bíblica?

Como consequência do quadrimilenar patriarcalismo, convencionou-se durante dezenas de séculos que a mulher tem o dever de copular com o marido satisfazendo o seu desejo sexual e cumprindo com a função relacionada à procriação. Não faz tanto tempo assim, eis que, até o começo do século XX, era o pai da moça quem escolha o esposo para a filha. Esta praticamente não possuía o seu direito de decisão. Se fosse da vontade do genitor, a jovem seria obrigada a se consorciar com um homem bem mais velho do que ela ou até mesmo mofar o resto da vida num convento de freiras. Não raramente, a Bíblia chegava a ser manipulada afim de respaldar as absurdidades paternas a exemplo do que se lê na epístola paulina de 1ª Coríntios, capítulo 7, versos de 36 a 38, que até hoje seria uma passagem muito mal compreendida.

Mas se buscarmos uma orientação principiológica das Escrituras, tal como fez Jesus quando confrontado acerca do divórcio (Mt 19:3-9), veremos que, na base de toda a Bíblia, encontramos lá no Pentateuco uma relação inicial em pé de igualdade entre o homem e a mulher, em que esta lhe foi apresentada como uma auxiliadora idônea a ponto de Adão afirmar: "Esta, afinal, é osso dos meus ossos e carne da minha carne" (Gn 2:23). E, através do casamento consumado, podemos dizer que duas almas se unem numa só carne, o que transmite a ideia de cooperação e nunca de subordinação.

Mais adiante, devido à queda, foi que teria surgido um relacionamento de sujeição e de direcionamento do desejo feminino (Gn 3:16). Porém, não foi dessa maneira que Abraão agiu quando enviou o seu servo à terra de sua parentela afim de arrumar uma boa noiva para o filho Isaque. Observa-se que o patriarca soube respeitar o desejo da mulher em aceitar ou recusar a proposta matrimonial (Gn 24:8). E, conforme o desenrolar da narrativa, Rebeca recebeu de livre vontade o presente de casamento (Gn 24:22) tendo depois confirmado o seu querer perante toda a família reunida (Gn 24:57-58).

Assim, pode-se compreender que o relacionamento a dois entre o homem e sua mulher deve se estabelecer por um encontro de vontades. Isto é o que acompanha a poesia do Cântico dos Cânticos reunindo versos tanto do esposo quanto da esposa em que esta chega a expressar claramente o desejo ardente erótico pelo marido:

"De noite, no meu leito,
busquei o amado de minha alma,
busquei-o e não o achei.
Levantar-me-ei, pois, e rodearei a cidade,
pelas ruas e pelas praças;
buscarei o amado da minha alma.
Busquei-o e não o achei.
Encontraram-me os guardas,
que rondavam pela cidade.
Então lhes perguntei:
vistes o amado da minha alma?
Mal os deixei, encontrei logo o amado da minha alma;
agarrei-me a ele e não o deixei ir embora,
até que o fiz entrar em casa de minha mãe
e na recâmara daquela que me concebeu.
Conjuro-vos, ó filhas de Jerusalém,
pelas gazelas e cervas do campo,
que não acordeis, nem desperteis o amor,
até que este o queira."
(Ct 3:1-5; ARA)

Fico imaginando como que esse texto do Cântico dos Cânticos não deve ter mexido com inúmeras gerações de leitores da Bíblia ao expor o desejo da fêmea pelo macho?! E, se pararmos para refletir, a sexualidade feminina é algo que precisa ser cultivado. Logo, cabe ao marido pacientemente colaborar com sua esposa nessa maravilhosa descoberta de maneira que forçar o coito desrespeitando a vontade da companheira pode acabar causando nela um sufocamento afetivo-emocional. Ou seja, ao invés da mulher se despertar, ela se reprime.

Pode haver momentos excepcionais em que um dos cônjuges considere justificável transar estando com a sua libido em baixa afim satisfazer o companheiro ou a companheira. Trata-se, neste caso, de uma conduta que precisa ser conversada dentro do casamento, mas é preciso cautela para o comportamento não virar uma massacrante rotina capaz de adoecer a relação, como também ocorre quando o sexo deixa de ser frequente entre os dois. Em toda situação, o diálogo é fundamental.


OBS: A ilustração acima trata-se de uma obra atribuída a Jeff Belmonte de Cuiabá, conforme consta no acervo virtual da Wikipédia em http://en.wikipedia.org/wiki/File:Wedding_rings.jpg

domingo, 30 de março de 2014

Ainda vai demorar para que os direitos das mulheres sejam respeitados!




Na semana passada, o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) divulgou dados surpreendentes de uma pesquisa que trata das questões da violência contra a mulher e também dos direitos dos homossexuais. Achei chocante saber que a maioria dos entrevistados, dentre os quais 66,5% são mulheres, concordaram total ou parcialmente com a seguinte frase, pois dá a ideia de que a vítima seria responsável pelo delito: "Se as mulheres soubessem como se comportar, haveria menos estupros" (ler a matéria do G1).

Felizmente, a maioria dos entrevistados posicionou-se contrariamente à violência doméstica contra a mulher, o que podemos considerar algum avanço. Porém, dá para perceber que a mentalidade do brasileiro ainda é bem machista e também preconceituosa contra os homossexuais. Senão vejamos o que mostrou o levantamento:

"Homem que bate na esposa tem que ir para a cadeia"
78,1% concordam totalmente
13,3% concordam parcialmente
5% discordam totalmente
2% discordam parcialmente
1,6% se dizem neutros em relação à afirmação

"Dá para entender que um homem que cresceu em uma família violenta agrida sua mulher"
18,1% concordam totalmente
15,8% concordam parcialmente
54,4% discordam totalmente
9,3% discordam parcialmente
2,4% se dizem neutros em relação à afirmação

"A questão da violência contra as mulheres recebe mais importância do que merece"
10,5% concordam totalmente
11,9% concordam parcialmente
56,9% discordam totalmente
16,2% discordam parcialmente
4,5% se dizem neutros em relação à afirmação

"Casos de violência dentro de casa devem ser discutidos somente entre os membros da família"
33,3% concordam totalmente
29,7% concordam parcialmente
25,2% discordam totalmente
9,3% discordam parcialmente
2,5% se dizem neutros em relação à afirmação

"Quando há violência, os casais devem se separar"
61,7% concordam totalmente
23,3% concordam parcialmente
8,8% discordam totalmente
3,8% discordam parcialmente
2,4% se dizem neutros em relação à afirmação

"A mulher que apanha em casa deve ficar quieta para não prejudicar os filhos"
7% concordam totalmente
8,5% concordam parcialmente
69,8% discordam totalmente
12,3% discordam parcialmente
2,4% se dizem neutros em relação à afirmação.

"Um homem pode xingar e gritar com sua própria mulher"
3,9% concordam totalmente
4,9% concordam parcialmente
76,4% discordam totalmente
12,8% discordam parcialmente
2% se dizem neutros em relação à afirmação

"A mulher casada deve satisfazer o marido na cama, mesmo quando não tem vontade"
14% concordam totalmente
13,2% concordam parcialmente
54% discordam totalmente
11,3% discordam parcialmente
7% se dizem neutros em relação à afirmação

"Tem mulher que é pra casar, tem mulher que é pra cama"
34,6% concordam totalmente
20,3% concordam parcialmente
26,4% discordam totalmente
8,9% discordam parcialmente
9,5% se dizem neutros em relação à afirmação

Além destas formulações, constam também outra frases feitas pelo Ipea para averiguar a opinião dos entrevistados em relação à homossexualidade. Veja a seguir:

"Casais de pessoas do mesmo sexo devem ter os mesmos direitos dos outros casais"
31,6% concordam totalmente
18,5% concordam parcialmente
32,6% discordam totalmente
7,9% discordam parcialmente
9,4% se dizem neutros em relação à afirmação

"Casamento de homem com homem ou de mulher com mulher deve ser proibido"
38,8% concordam totalmente
12,9% concordam parcialmente
32,1% discordam totalmente
9% discordam parcialmente
7,2% se dizem neutros em relação à afirmação

"Incomoda ver dois homens, ou duas mulheres, se beijando na boca em público"
44,9% concordam totalmente
14,3% concordam parcialmente
28,2% discordam totalmente
6,9% discordam parcialmente
5,7 se dizem neutros em relação à afirmação

No entanto, não vou ser hipócrita em dizer que sou totalmente "moderninho" em todas essas questões. Eu não nego que me incomodaria em ver pessoas do mesmo sexo se beijando e trocando carícias afetivas em público. Principalmente se tivesse filhos e eles presenciassem alguma cena dessas. Mas acho que casais de gays e de lésbicas devem ter direitos iguais e que o matrimônio civil entre eles precisa ser reconhecido assim como a união estável. Já em relação à ideia de que a mulher casada deva satisfazer o marido na cama, mesmo se não estiver com vontade, penso que isso necessita ser sempre conversado pelo casal. O marido não pode obrigar a esposa a transar com ele, mas não acho errado que uma pessoa aceite copular mesmo se a sua libido estiver em baixa. Afinal, na vida a dois, nem sempre o cônjuge deve pensar somente no seu prazer. Isso vale para ambos os sexos.


OBS: A ilustração acima refere-se ao logotipo do Ipea.

sexta-feira, 28 de março de 2014

"Sejam alvas as tuas vestes"



"Vai, pois, come com alegra o teu pão e bebe gostosamente o teu vinho, pois Deus já de antemão se agrada das tuas obras. Em todo tempo sejam alvas as tuas vestes, e jamais falte o óleo sobre a tua cabeça. Goza a vida com a mulher que amas, todos os dias de tua vida fugaz, os quais Deus te deu debaixo do sol; porque esta é a tua porção nesta vida pelo trabalho com que te afadigaste debaixo do sol. Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças, porque no além, para onde tu vais, não há obra, nem projetos, nem conhecimento, nem sabedoria alguma." (Eclesiastes 9:7-10; ARA)

A Bíblia nos oferece uma maravilhosa receita para conduzirmos a nossa existência equilibradamente e de um modo agradável a Deus. No capítulo 9º de Eclesiastes, o autor sagrado recomenda aos seus leitores que aproveitem de maneira saudável os prazeres terrenos, gozando a vida com constante senso de favor divino, e inclui uma importante orientação no verso oitavo como destaquei em negrito na citação acima.

Qual o significado de vestir e manter as vestes "alvas"? Sem dúvida que o texto está falando da nossa integridade de caráter. Pois em todas as ações praticadas, quer sejam no trabalho ou nos relacionamentos com as pessoas (inclusive no casamento e na família), é preciso agir sempre com justiça, sem lesarmos a ninguém. Porque de nada adianta nos banquetearmos na abundância dos bens materiais tendo causado prejuízos a outros. Isto seria uma perda de sentido.

A metáfora sobre não faltar óleo sobre a cabeça é um ótimo convite à meditação. Pois sendo uma substância que não se mistura com os outros líquidos e que vem sempre à tona, a ideia exposta pelo escritor bíblico faz com que lembremos de algo fundamental - a nossa santidade. Tal versículo lembra-nos sobre vivemos neste mundo sem assimilar os nocivos comportamentos corruptíveis infelizmente presentes na sociedade cujos valores encontram-se motivados pelo individualismo e pela ausência de princípios.

Assim, em todos os momentos, o que deve vir à tona em nós são os bons valores éticos cultivados. Ao aproveitarmos sabiamente os prazeres terrenos concedidos pela vida, que sejamos como o óleo sobre a água, isto é, permitindo que os bons ensinamentos norteiem cada passada e nos guiem pelas veredas justas.

Um ótimo final de semana a todos!


OBS: A ilustração acima refere-se ao quadro Symphony in White No. 1 - The White Girl, do artista norte-americano James Abbott McNeill Whistler (1834-1903). Extraí a imagem do acervo virtual da Wikipédia em http://en.wikipedia.org/wiki/File:Whistler_James_Symphony_in_White_no_1_(The_White_Girl)_1862.jpg

quarta-feira, 26 de março de 2014

Curta a vida como um valioso presente!




Há momentos em que devemos colocar toda a tristeza de lado e nos alegrar celebrando a existência. Não importa qual a nossa condição, isto é, se estamos com dinheiro, com saúde, se conquistamos determinados alvos/metas pessoais, se tivemos sorte no amor, se o passado foi trágico e dramático, ou se a economia e a política do país têm sido favoráveis. Lembre-se de que há algo de muito especial para ser comemorado - a VIDA.

Assim, jamais permita que as injustiças ainda presentes no mundo roubem o riso do seu rosto. Se você é um ativista social, luta incansavelmente pelos direitos, combate as desigualdades entre ricos e pobres, denuncia a corrupção dos governantes, não consegue que a sua voz seja ouvida nas praças e nos gabinetes das autoridades, fica muitas vezes estarrecido com a escalada da violência urbana, bem como se frustra com as contínuas agressões sofridas pelo meio ambiente, aprenda a tirar um momento de folga das suas preocupações. Pare um pouquinho para contemplar as infinitas belezas do Universo! Caso o mundo não se endireite, aprenda a curti-lo mesmo estando torto ainda e faça uma alegre festa no dia do seu aniversário chamando os amigos.

"Então, exaltei eu a alegria, porquanto para o homem nenhuma coisa há melhor debaixo do sol do que comer, beber e alegrar-se; pois isso o acompanhará no seu trabalho nos dias da vida que Deus lhe dá debaixo do sol." (Eclesiastes 8:15)

Não compreendemos todos os mistérios da existência e nem sempre obteremos explicações suficientemente satisfatórias para as indagações do nosso íntimo. Tão pouco conseguimos controlar o tempo que, como a areia, escorre entre os dedos das nossas mãos. Porém, diante do que é insondável pela mente humana, resta a opção de nos regozijarmos diante da vida, considerando-a como um gracioso presente que nos foi dado, e oportunizando a descoberta da felicidade seja em qual situação for. Trata-se de uma experiência que, apesar de todos os prazeres e sofrimentos, vale a pena passar por ela ao som de uma linda valsa ou, brasileiramente falando, com um sambinha arrumado.

Alegre-se, meu amigo. Alegre-se! Faça tudo com sabedoria, consciência e bom senso porque essa é a sua porção na imensidão do Universo de todas as eras. É o que realmente tem agora em seu poder para usufruir.

Um ótimo dia a todos!


OBS: A ilustração acima refere-se ao quadro Hip, hip, hurra! (1888) do artista dinamarquês Peder Severin Krøyer (1851 – 1909), o qual encontra-se no Museu de Arte de Gotemburgo, Suécia. Extraí a imagem do acervo virtual da Wikipédia, conforme consta em http://en.wikipedia.org/wiki/File:Hipp_hipp_hurra!_Konstn%C3%A4rsfest_p%C3%A5_Skagen_-_Peder_Severin_Kr%C3%B8yer.jpg

segunda-feira, 24 de março de 2014

O poder de uma pregação louca



"Certamente, a palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos salvos, poder de Deus." (1ªCo 1:18; ARA)

Em sua primeira carta à igreja em Corinto, o apóstolo Paulo considerou a mensagem da cruz como "loucura", do ponto de vista dos homens impenitentes, levando em conta as opiniões dos que eram tidos como sábios em seu tempo. Principalmente entre os gregos que, notadamente, foram os grandes filósofos e conhecedores da ciência na Antiguidade.

Nós que nascemos num país de cultura cristã e vivemos cerca de dois milênios após Paulo ter viajado pelas províncias orientais do Império Romano, durante as corajosas missões evangelísticas que empreendeu, já nem fazemos ideia de quanto a mensagem do apóstolo poderia parecer estúpida ou absurda aos ouvidos de um grego culto naquela época. Pois, sendo eles pensadores racionalistas, não conseguiam aceitar facilmente a ideia de que Deus tivesse enviado o seu Cristo a esse mundo a fim de morrer pregado numa cruz trazendo-nos salvação. Daí o autor sagrado assim escrever conforme lemos na mesma versão e tradução da Bíblia acima citada:

"mas nós pregamos a Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os gentios; mas para os que foram chamados, tando judeus como gregos, pregamos a Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus." (1ªCo 1:23-24)

Volto a perguntar. Por que o Messias crucificado seria "escândalo" para judeus e "loucura" para os gentios?

Para os judeus contemporâneos do apóstolo a vergonhosa morte sacrificial de quem foi apresentado como o Ungido virou um tropeço, uma casca de banana que desviou inúmeros israelitas da liderança de Jesus, obscurecendo o entendimento de muitas pessoas sobre as coisas que Deus fez naqueles últimos anos da era do Segundo Templo. Pois, em seu desejo triunfalista, aquela geração talvez aguardasse o envio de alguém capaz de restaurar a soberania de Israel e libertar a nação do domínio estrangeiro dos romanos. A interpretação que muitos mestres do primeiro século faziam das Escrituras não admitiria um Cristo aparentemente fracassado e morrendo como se fosse um "amaldiçoado" ou "desamparado" por Deus. Para os tais, Jesus só seria aceito como um líder caso alcançasse êxito segundo os padrões que tinham estabelecido quanto à manifestação do Mashiach.

Em relação aos gregos, porém, estes ignoravam as Escrituras hebraicas e, consequentemente, as promessas reveladas pelos profetas de Israel ao povo judeu. Nenhum dos livros daquilo que a Igreja ainda chama erroneamente de "Antigo Testamento" fazia sentido para os gentios até eles ouvirem a pregação do Evangelho. Pois tinham construído uma visão de mundo oriunda do politeísmo e que se desenvolveu através da reflexão racional em busca do conhecimento. Para os gregos cultos era como se o poder estivesse no saber. Acreditavam que pela cognição do intelecto homem encontraria salvação, tornando-se então pleno, satisfeito, perfeito, harmonizado e saudável.

Sendo assim, o livro de Atos mostra-nos uma situação ocorrida quando Paulo esteve só entre os antigos atenienses e foi convidado para discursar no Areópago que era um local de reuniões públicas comunitárias situado numa colina da cidade. Ali o apóstolo precisou primeiramente expor a sua concepção sobre a Divindade afim de lhes explicar o propósito da vinda de Jesus mencionado na pregação apenas como "um varão" destinado por Deus (At 17:31). E, ao falar da ressurreição de Cristo, o público passou a ridicularizá-lo com irreverência. Certamente porque, estando ensoberbecidos, não aceitavam a ideia de que alguém, após ter sido morto, pudesse se tornar instrumento de justiça divina no mundo.

Quantos escárnios Paulo e outros pregadores não devem ter enfrentado quando ousaram anunciar o Evangelho na Grécia dos primeiros séculos?! Fico a imaginar o que se passava pela cabeça dos arrogantes ouvintes, os quais mostraram-se por isso incapazes de se esforçar um pouco para compreenderem o sentido do novo que lhes era anunciado. Pois creio que intimamente pensassem mais ou menos desse jeito acerca de Paulo:

"Como esse maluco acha que nos convencerá a crer nesse Jesus que ele diz ser um escolhido? A argumentação do sujeito é desprovida de lógica! Pois se alguém foi morto, tal pessoa não tem poder para fazer mais nada neste mundo. Mortos, como sabemos, não resolvem coisa alguma, não falam mais, nem podem tomar decisões e menos ainda tornam a viver. O tal do Jesus simplesmente já era! Nossos ouvidos já escutaram o bastante. Chega! Vamos mandar esse cara estúpido plantar batatas..."

É provável que essa foi a grande dificuldade enfrentada por Paulo entre os gregos. Principalmente quando ele se encontrava diante de um público mais culto cuja expectativa insaciável restringia-se a receber mais conhecimento intelectual. Daí o cristianismo dos primeiros séculos ter se tornado a religião dos pobres, dos analfabetos, das mulheres (estas ainda não tinham o mesmo acesso ao saber que os homens da sociedade), dos escravos e dos demais grupos de pessoas desprezadas ou esquecidas. Senão vejamos o que consta na epístola paulina em comento:

"Irmãos, reparai, pois, na vossa vocação; visto que não foram chamados muitos sábios segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos de nobre nascimento; pelo contrário, Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios e escolheu as coisas fracas do mundo para envergonhar as fortes; e Deus escolheu as coisas humildes do mundo, e as desprezadas, e aquelas que não são, para reduzir a nada as que são; a fim de que ninguém se vanglorie na presença de Deus" (1ªCo 1:26-29)

Ora, seriam tais palavras pura demagogia do escritor bíblico afim de justificar por que as pessoas instruídas e tidas como inteligentes não costumavam aceitar a fé cristã naqueles tempos? Ou a arrogância do indivíduo não teria o condão de obscurecer a reflexão dos "inteligentes" a ponto destes desprezarem a existência de outros aspectos do saber que se encontrem além das áreas do raciocínio natural do homem?

Pois bem. No capítulo 2 da epístola conseguimos entender melhor o motivo pelo qual a "mensagem da cruz" nem sempre é aceita pelos ouvintes uma vez que seria algo a ser descoberto espiritualmente. Trata-se de um conhecimento inacessível pelos métodos científicos do saber humano. Por isso Paulo afirma que o "homem natural" (gr. psichikos) não entende as coisas de Deus tomando-as como "loucura" ao contrário do que faz o "homem espiritual" (pneumatikos).

O que nos parece isso, irmãos? Não estaria aí a ideia de que todos estamos na dependência de uma revelação espiritual vinda de Deus? Pois é o que percebo ao meditar sobre o texto bíblico.

Confesso que, após ter estudado Direito na faculdade, tornei-me um amante da Teologia a ponto de haver nas 700 postagens do meu blogue mais textos falando sobre a Bíblia do que a respeito das leis, política ou qualquer outro assunto. Porém, nenhuma ciência e tão pouco o conhecimento teológico adquirido foram capazes de acrescentar alguma medida de fé ao meu coração. Muito pelo contrário! Pois, sem querer desconsiderar a utilidade da Teologia para fins de cognição textual das Escrituras Sagradas, compartilho que cheguei até a me afastar de Deus em alguns momentos nas vezes quando direcionei as expectativas pessoais de espiritualidade para esse campo de estudo acadêmico. Todo o acréscimo obtido com a Teologia foi puramente intelectual!

Será que, na atualidade, muitos estudiosos da Teologia não estão correndo os mesmos riscos de obscurecimento que tiveram aqueles célebres e ilustres ouvintes de Paulo na Grécia, os quais se achavam bem endurecidos para a cruz de Cristo?!

Meus amados, não vejo outra maneira de cada um buscar entender o sentido da cruz do Senhor senão através de uma revelação pessoal dada pelo Espírito de Deus. E para mim essa cruz não seria uma ideia tosca. Ela significa a vitória de todos sobre o pecado, a recuperação da própria vida, a redenção da humanidade, a manifestação do profundo amor divino incorporado por Jesus, o desapego total das coisas perecíveis deste mundo, o mais alto nível de santidade que um homem pode alcançar, um exemplo emblemático de humildade, a nossa aceitação gratuita e incondicional pelo Criador, meu alvo de vida, a luz que ilumina as minhas trevas existenciais guiando-me em meio às dificuldades do cotidiano, a proclamação de uma nova terra e de novos céus mostrando ser possível construirmos um outro futuro alternativo a esse presente de violência, de tiranias e de desprezo pela pessoa humana.

É claro que para um crítico bitolado do cristianismo a cruz sempre assumirá significados negativos. Só que essas opiniões não me importam mais hoje em dia. Se fosse do meu querer, eu saberia como elaborar um ferrenho discurso de apologética capaz de produzir morte ao invés de vida, bem como alienação espiritual. Acabaria cometendo os mesmos erros dos que se apegam a uma visão restrita da realidade e se fecham dentro dos próprios conceitos intelectuais tornando-se soberbos a ponto de se acharem donos da verdade ou proprietários de Deus. E os tais "soldados da fé" acabam aprisionando o pensar deles mesmos e daqueles que os seguem dentro das gaiolas nas quais se congregam consideradas como sendo "igrejas".

Por isso, caros leitores, não me interessa fazer da mensagem da cruz uma doutrinação a ponto de inibir a experiência subjetiva das pessoas. Deus me livre de racionalizar a fé para não cair nos mesmos enganos dos que não querem crer no Evangelho! Pois, como tenho observado, até os crentes correm o risco de se apegar aos conceitos por eles criados e deixarem de ouvir as coisas que Deus nos tem falado.

"mas, como está escrito: Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam." (1ªCo 2:9)

Para finalizar, compartilho dizendo que desta advertência acima nem o próprio escritor bíblico poderia escapar, caso se tornasse insensível à revelação de Deus. E assim deve-se reforçar a necessidade de que andemos todos sempre atentos, vigilantes, conservando a humildade interior, o desejo de aprendizado espiritual e a devida reverência pelo Criador. Porque o Eterno não cessa de fazer coisas novas e dando os seus recados à humanidade por meio dos profetas que continua levantando hoje e sempre. Seu Espírito sopra aonde quer e pouco compreendemos. Logo, cabe ao homem tornar-se sensível o suficiente para conseguir ouvir aquela Voz suave falando ao seu coração sem recorrer a respostas explicativas ou a sinais prodigiosos.


OBS: A ilustração usada neste artigo refere-se à obra do artista da Renascença Rafael Sanzio (1483-1520), o qual pintou o apóstolo Paulo pregando na cidade grega de Atenas. Extraí a imagem do acervo virtual da Wikipédia em http://commons.wikimedia.org/wiki/File:V%26A_-_Raphael,_St_Paul_Preaching_in_Athens_(1515).jpg

domingo, 23 de março de 2014

Romário contra o "revenge porn"




Em 2010, quando encontrei o Baixinho fazendo sua campanha política pelas ruas, ainda não levava fé no trabalho que ele iria desenvolver em Brasília. Por sugestão de um conhecido meu do PSB de Nova Friburgo, ligado ao deputado Glauber Braga, fui apertar as mãos do candidato que fazia o seu corpo a corpo com os eleitores entre a Avenida Alberto Braune e a Praça Demerval Barbosa Moreira no citado município serrano do interior fluminense. E dei por garantida a sua vitória nas urnas já que aquele foi o ano do anti-voto e do surgimento de figuras como o palhaço Tiririca, as mulheres melão, pêra, melancia, etc. Glauber e outros socialistas do Rio chegariam finalmente ao Parlamento pelo ingresso na política do ex-jogador.

No caso de Romário, ele veio mostrar que não entende só de bola e tem me surpreendido bastante. Independente de estar bem assessorado, não posso deixar de reconhecer a sua atuação para além das questões esportiva. O herói do tetracampeonato da seleção fez um gol de placa quando apresentou o Projeto de Lei n.º 6.630/13, o qual altera o Código Penal ao tipificar como crime "a conduta de divulgar fotos ou vídeos com cena de nudez ou ato sexual sem  autorização da vítima".

A proposição do Baixinho, que tramita apensada ao anterior PL n.º 5.555/13, de autoria do deputado João Arruda (PMDB/PR), trata igualmente de um tema bem atual e busca proteger valores constitucionalmente reconhecidos como a intimidade, a privacidade, a honra e a imagem das pessoas, levando em conta os impactos sobre a sociedade com as novas tecnologias de comunicação. Isto porque, com a popularização dos celulares com câmeras digitais, junto com o fácil acesso à internet, multiplicaram-se os casos de pessoas que tiveram suas relações sexuais indevidamente divulgadas através de vídeos em sites pornográficos e nas redes sociais. Algo que muitas das vezes é praticado por um ex-namorado inconformado com o fim da paixão, conduta esta que ficou conhecida como revenge porn, ou "pornografia de revanche", mas que tem feito das mulheres as maiores vítimas. Principalmente por razões culturais e machistas. Senão vejamos o que disse o deputado em sua corajosa entrevista à edição n.º 535 do periódico Tribuna do Advogado que é publicado mensalmente pela OAB/RJ:

" Houve grande avanço tecnológico nos últimos dez anos e as pessoas mudaram a forma de se relacionar e de se comunicar, com a popularização de smartphones, redes sociais, aplicativos de celular. Novos tipos de crime surgiram e ouvíamos delegados dizendo em entrevistas como era difícil tipificá-los. Como legislador, me senti no dever de apresentar o projeto com penas mais duras para estas condutas criminosas (...) A postura da sociedade, principalmente dos homens, é muito cruel. As mulheres que têm sua vida íntima exposta começam a ser abordadas de forma vulgar, recebem até convite para prostituição. É necessária uma mudança de mentalidade, inclusive na hora de reagir ao problema. As vítimas não devem se abater e sim virar o jogo, porque o criminoso cresce na medida em que a vítima se oprime. Elas devem ter a consciência de que foram alvos de um crime e acusar publicamente quem divulgou as fotos" (págs. 30 e 32 da edição de março/2014, matéria Intimidade que fere, de Vitor Fraga)

Conforme noticiaram os jornais, houve casos no país que ganharam grande repercussão quando duas adolescentes cometeram suicídio ao terem suas imagens maldosamente expostas na internet. Júlia, de 17 anos e moradora de Parnaíba, litoral piauiense, chegou a se enforcar logo depois de receber no celular uma mensagem mostrando ela fazendo sexo com uma amiga e um rapaz, todos menores de idade. E, quatro dias depois, em Veranópolis (RS), a estudante Giana também resolveu tirar a própria vida após ser avisada por uma colega da escola de que circulava na internet uma foto em que a mesma aparecia nua.

Embora eu seja contra o excesso de criminalização de condutas, penso que, diante de situações abusivas e extremas como essas, as quais têm se repetido impunemente cada vez mais, torna-se necessário tipificar o ilícito dando-lhe um tratamento mais severo. Seja para desestimular tais violações da intimidade e da imagem das mulheres, como também para ajudar as vítimas a reagirem positivamente. Isto porque, a partir do momento em que a legislação passa a reconhecer algo como penalmente reprovável, o indivíduo lesionado ganha uma força extra afim de enfrentar o seu agressor e dar a volta por cima.

Deste modo, pode-se dizer que o projeto de Romário seria bem revolucionário para uma sociedade ainda machista e preconceituosa como a nossa onde os atos masculinos são aplaudidas nas mesas de boteco e as mulheres quase apedrejadas quando suas preferências ou práticas sexuais não se enquadram no padrão moral estabelecido. Por exemplo, se um rapaz aparecer num vídeo transando com uma garota ou se masturbando, ele é estimado como um "garanhão", mas se for uma moça fazendo sexo, corre o risco de ser ofendida como "prostituta", "vadia", "galinha", dentre outros termos de baixo calão que não convêm serem reescritos. Logo, independentemente de aprovar o que as pessoas fazem entre as quatro paredes e achar ingenuidade alguém deixar ser fotografado, concordo com a proposta do parlamentar desejando que o PL seja aprovado ainda na atual legislatura.


OBS: Foto acima extraída da Agência Brasil com atribuição de autoria a José Cruz conforme consta em http://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/galeria/2012-12-04/camara-dos-deputados

sexta-feira, 21 de março de 2014

A disputa entre São Paulo e Rio pelas águas do Paraíba do Sul




Nesta semana, a seca atípica que atinge o Sudeste brasileiro esta época do ano deu um dimensionamento maior a uma antiga questão que envolve os estados de São Paulo e do Rio de Janeiro gerando conflitos políticos. Trata-se do uso das águas da bacia do Paraíba do Sul para fins de suprimento suplementar do sistema Cantareira na maior região metropolitana do país devido à escassez de chuvas.

A proposta paulista consiste em interligar a represa de Jaguari, na bacia do Paraíba do Sul com a de Atibainha, construindo estação de bombeamento e um túnel num trecho de serra sendo a extensão total de quase 15 quilômetros ao custo de cerca de meio bilhão de reais. De acordo com o governador Geraldo Alckmin, quando o sistema da Cantareira estiver com menos de 35% da capacidade, a água seria bombeada para lá. E para tornar convincente a sua ideia, argumenta ele que, quando o problema for na represa do Paraíba do Sul, esta também poderá ser abastecida pelo Cantareira.

Há tempos que São Paulo tem aumentado indefinidamente a sua demanda por água potável precisando captar esse limitado recurso da natureza em lugares cada vez mais distantes. Inclusive através de projetos que sairão bem caros para o meio ambiente e para os bolsos dos contribuintes a exemplo das obras de grande porte do sistema São Lourenço, orçadas em mais de 2 bilhões de reais e previstas para serem concluídas até 2018. O objetivo, neste caso, é a Sabesp buscar água na represa Cachoeira do França, em Ibiúna, e transportá-la por 80 km de tubulações. Sem dúvida, cuida-se de um consumo que chega a ser elevadíssimo e, inegavelmente, agravado tanto pelo desperdício quanto pela vergonhosa poluição dos mananciais.

A meu ver, é preciso cautela diante da proposta do governador paulista sobre transpor as águas do Paraíba do Sul para abastecer a gigante cidade de São Paulo porque poderá haver sérios prejuízos tanto para o consumo dos cariocas quanto em relação ao meio ambiente. Pois, como se sabe, o abastecimento da região metropolitana do Rio de Janeiro é feito basicamente através da captação das águas do Paraíba que, uma vez transpostas para o rio Guandu, são distribuídas para os bairros pela Cedae. E assim tem ocorrido há muitas décadas sendo inegável o dano ecológico na foz do rio em São João da Barra onde o oceano tem avançado sobre seu leito por causa da perda de vazão cada vez maior.

É certo que o uso da água, nas situações de escassez, deve ser prioritariamente para o consumo humano e a dessedentação dos animais, conforme previsto no inciso III do artigo 1º da Lei Federal n.º 9.433/97. Porém, é preciso haver ao mesmo tempo uma certa dose de bom senso afim de não ficar comprometida a vazão mínima de um rio e nem outras atividades como a irrigação de lavouras, a pesca, a geração de energia, o turismo e as captações feitas pela indústria. Por isso torna-se indispensável promover uma cultura de uso racional esgotando inicialmente todos os meios de se economizar e de reaproveitar água para então ser avaliado se justificará ou não fazer a transposição de uma bacia hidrográfica para outra.

Em qualquer caso, a sociedade civil precisa ser sempre ouvida por intermédio dos seus comitês de bacia hidrográfica que, no caso do Paraíba do Sul, é representado através do CEIVAP. Segundo o posicionamento da coordenadora da Rede de Águas da organização não-governamental SOS Mata Atlântica, Sra. Malu Ribeiro, em entrevista dada à TV Globo dia 19/03, o assunto "não deve ser discutido no gabinete da presidente, mas sim com os integrantes das bacias hidrográficas". Acrescentou ela também que:

"Isso não pode ser tratado com normalidade, porque o Paraíba do Sul também tem nível baixo por conta das atividades que acontecem lá, como extração de areia e plantações de eucalipto. É como uma colcha que, se puxarmos, ficará pequena para todo mundo (...) Essa disputa entre Rio de Janeiro, Paraná, São Paulo e Minas Gerais faz com que cada gota da água seja preciosa (...) O ideal é que a decisão seja tomada pelos comitês de bacias e pela sociedade em geral"

Evidente que essa questão está se refletindo na esfera político-eleitoral e pode influenciar os resultados da disputa presidencial deste ano ao criar um tipo de bairrismo entre cidadãos paulistas e fluminenses. Dilma, candidata à reeleição, deve estar atenta aos riscos de perda de popularidade caso ela se posicione de um lado ou de outro, de modo que a decisão da Agência Nacional de Águas (ANA) talvez venha a demonstrar uma falsa independência de sua chefe. E, por sua vez, suponho que os oposicionistas tucanos farão de tudo para que o problema vire um tropeço para o PT.

A essas alturas, creio que muita gente no Palácio do Planalto deve estar fazendo a dança da chuva para os reservatórios do Sudeste voltarem à normalidade. Este tem sido um ano bem amargo para a agricultura brasileira pois já passou o verão que é a estação com os maiores índices de pluviosidade e a tendência natural é que o tempo fique cada vez mais seco pelos próximos meses na citada região do país. Isso deve dar mais força ainda ao conflito entre os dois entes da federação fazendo com que o cidadão de São Paulo, insatisfeito com o racionamento de água, cobre dos governos uma solução quase imediata para resolver o incômodo problema.

Concluo dizendo que a transposição de águas para o sistema Cantareira ameniza mas não resolve o problema de São Paulo. E, por se tratar de medida extrema, deve-se buscar em primeiro lugar outras alternativas menos agressivas para o meio ambiente, combater o desperdício e reaproveitar a água já utilizada. Fora isso, nunca podemos esquecer que a causa da escassez de chuvas está no aquecimento global, o que tem provocado secas e enchentes que a cada década tornam-se mais intensas.


OBS: A foto acima foi extraída do blogue Diário do Sistema Cantareira, sendo a notícia e as imagens oriundas do Portal Governo de São Paulo, conforme consta em http://sistemacantareira.com.br/sao-paulo-vai-integrar-sistema-cantareira-e-bacia-do-paraiba-do-sul/

quinta-feira, 20 de março de 2014

Enganos do coração



"Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto [ou incuravelmente enfermo]; quem o conhecerá?" (Jeremias 17:9; ARA)

No capítulo 17 do livro de Jeremias, lemos o profeta denunciando o pecado de sua geração. Nota-se, através do texto sagrado, que as pessoas daquela época decadente estavam inclinadas permanentemente para fazerem o mal apesar de toda a cultura religiosa característica do povo (versos 1 e 2). Daí podemos compreender as ameaças de castigo registradas pelo autor bíblico, isto é, as consequências dos atos ruins punidos através da invasão militar estrangeira dos caldeus seguida de um cativeiro servil na terra dos adversários (v.v. 3 e 4).

Toda aquela depravação ética estava intimamente relacionada também com a falta de fé! Os últimos reis de Judá confiavam mais em alianças políticas com os grandes impérios do Oriente Próximo do que em Deus, com quem Israel havia firmado seu pacto no Monte Sinai (Êxodo 24). Não queriam submeter-se à vontade soberana do Altíssimo e se deixaram levar pela obstinação de suas mentes. Acreditavam que a fórmula para escaparem dos ataques dos babilônicos seria pedindo o auxílio dos faraós do Egito. Algo que, conforme bem nos ensinam a história judaica e as próprias narrativas bíblicas, acabou se tornando uma articulação inútil quando as tropas de Nabucodonosor cercaram Jerusalém por volta de 586 a.C. Por isso Jeremias fez a seguinte comparação com o arbusto solitário em terra seca desenvolvendo um interessante contraste com a vida de fé do crente:

"Assim diz o SENHOR: Maldito o homem que confia no homem, faz da carne mortal o seu braço [ou a sua força] e aparta o seu coração do SENHOR! Porque será como o arbusto solitário no deserto e não verá quando vier o bem; antes, morará nos lugares secos do deserto, na terra salgada e inabitável. Bendito o homem que confia no SENHOR e cuja esperança é o SENHOR. Porque ele é como a árvore plantada junto às águas, que estende as suas raízes para o ribeiro e não receia quando vem o calor, mas a sua folha fica verde; e, no ano de sequidão, não se perturba, nem deixa de dar fruto." (v.v. 5-8)

Geralmente quando as pessoas se vêem no calor do aperto, elas tendem a buscar Deus. Pode-se dizer que essa foi a constante reação do povo israelita em sua trajetória na Terra Santa desde quando as doze tribos vieram a conquistar Canaã sob o comando de Josué. O livro de Juízes mostra-nos claramente qual foi a postura daquela nação diante dos problemas quando eles eram oprimidos por outros povos, o que continuou a ocorrer por alguns séculos depois com a monarquia davídica. No entanto, durante os obscuros dias em que viveu Jeremias, nem mesmo a disposição para o arrependimento existia entre a maioria das pessoas.

Meus irmãos, muitas vezes o nível de corrupção no ser humano chega a ser tão grande que o indivíduo pode tornar-se cego quanto à sua condição. Ele vai sendo destruído aos poucos (ou se auto-destruindo) mas prefere negar para si mesmo essa realidade. O coração voltado para as coisas más é capaz de enganá-lo formando raciocínios equivocados.

Ora, pior engano é quando nos tornamos religiosos impenitentes. Trata-se da hipótese em que nos iludimos acreditando que as nossas devoções, confissões, a prática de determinados rituais e até aquelas míseras obras de caridade feitas para aliviar a consciência seriam coisas capazes de nos tornar agradáveis a Deus ou ainda "merecedores" de sua bênção. Por isso o coração do homem em tais circunstâncias pode muito bem criar a sensação de um falso conforto espiritual e mascarar a necessidade da indissociável mudança de atitude. Deste modo, as celebrações aparentemente dirigidas ao Rei do Universo acabam se tornando algo indigesto como um abominável culto idólatra, não se diferenciando, em essência, das condutas dos antigos israelitas quando se desviavam da legislação mosaica e traziam suas oferendas aos asherim (os postes-ídolos que representavam as divindades cananeias).

Contudo o Eterno conhece a cada um melhor do que a nós mesmos e Ele esquadrinha os corações provando os pensamentos (verso 10). Seu amor pelo ser humano não tem fim e, por isso, as duras palavras do profeta trazem nelas mesmas um chamado de misericórdia. Pois está implícito na mensagem bíblica em comento que o povo deveria voltar-se confiantemente para Deus e se apartar do mal caminho. É o que podemos compreender pela bênção dos versículos 7 e 8 já citadas acima.

Meu amados, ter o Senhor como Deus não significa viver livre das dificuldades, mas a diferença para quem despreza a fé seria que o crente verdadeiro consegue manter um outro tipo de enfrentamento ao problema. Sua vida é alimentada por uma esperança eterna e indestrutível. O Altíssimo torna-se o seu sustento em todo o tempo dando-lhe forças e renovando o ânimo afim de que a caminhada tenha sempre continuidade. As aparentes derrotas não são capazes de afastar permanentemente o homem fiel do seu foco porque para ele um tropeço não será sinônimo de queda. Aliás, as lutas que se apresentam consolidam ainda mais a fé no Onipotente, o Guardião de Israel como diz o Salmo 121.

Quando o homem se dispõe a andar com Deus em sinceridade, creio que até os enganos do coração lhe são revelados e fechadas as brechas bloqueando a ação do mal em sua vida. Justamente porque o Pai Celestial quer o melhor para os seus filhos, seu Santo Espírito vem mansamente nos guiar para que modifiquemos as atitudes praticadas a cada dia, iluminando o caminho pelo qual andamos. E assim crescemos em sabedoria e em graça nos degraus da santificação.

Que o Eterno traga esclarecimento interior a cada um de nós!


OBS: A foto acima é oriunda da Embrapa retratando o semi-árido brasileiro, conforme extraído de uma página da Rede Globo em http://redeglobo.globo.com/globoecologia/noticia/2013/07/de-minas-gerais-ao-ceara-caatinga-e-um-bioma-totalmente-brasileiro.html

terça-feira, 18 de março de 2014

O excesso de criminalização nas relações de consumo




Li recentemente que, na semana passada , na Comissão de Defesa dos Consumidores da Câmara Federal, foi aprovada a proposta legislativa de autoria do deputado do PP gaúcho Renato Molling (foto) que defende equiparar ao estelionatário o comerciante que colocar à venda produto que não possuir em estoque. De acordo com o texto normativo do Projeto de Lei de n.º 6369/13, a pena para esse tipo de conduta poderá chegar a até cinco anos mais multa. E, se o delito for praticado na forma culposa, isto é, se, por engano, o empresário entregar produto diferente do comprado pelo consumidor, a pena prevista será de detenção de um a seis meses, ou multa. Senão vejamos o que consta no inteiro teor do PL:

O Congresso Nacional decreta:
Art. 1º O art. 66 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, passa a vigorar com a seguinte redação:
“Art. 66. ...........................................................
§ 1º ..................................................................
§ 2º Quem oferecer, expor à venda ou comercializar produto que não possui em estoque, na condição de varejista, sem comprovadamente informar o fabricante do produto, no prazo de dez dias da celebração do negócio, ou entregar produto de origem diversa daquela oferecida ao consumidor final:
Pena – reclusão, de um a cinco anos, e multa.
§ 3º Incide nas mesmas penas do § 2º o comerciante que, após informar o fabricante da realização do negócio, não adquirir os produtos.
§ 4º Se o crime é culposo:
Pena – detenção de um a seis meses ou multa.”
Art. 2º Esta lei entra em vigor na data de sua publicação. 

A meu ver, embora a ideia do parlamentar vá de encontro à enorme necessidade de se combater os constantes abusos ocorridos hoje no mercado de consumo, não me parece que seja este o instrumento mais adequado quando os recursos fora da esfera criminal seriam bem mais eficazes para coibir as chamadas práticas abusivas, caso funcionassem a contento. Além do inegável direito às reparações por prejuízos morais e materiais, na hipótese de haver dano, poderia o legislador federal instituir ainda várias penas civis privadas em favor da vítima bem como permitir que os Procons determinem a aplicação de medidas corretivas, conforme tem sido debatido na citada comissão da Câmara quanto às propostas do Código de Defesa do Consumidor (Lei Federal n.º 8078/90) defendida no PL n.º 5196/13 do Poder Executivo.

Verdade seja dita que, se todos os erros de conduta forem criminalizados, quem acabará respondendo serão os empregados das grandes empresas pois o comerciante não poderá responder na esfera penal pelo que uma terceira pessoa cometeu. A não ser se, comprovadamente, o dono e gerente do estabelecimento estiver agindo dolosamente afim de lesar os consumidores e captar uma grande quantidade de vendas sem possuir estoque ou até mesmo capital. Ainda assim, as maiores vítimas dessas normas draconianas serão os pequenos empresários e não os grandes. Ainda mais quando se tratam de sociedades anônimas.

Se por um lado existem injustiças praticadas pelos fornecedores de serviços, não se pode ignorar a indústria de indenizações que se formou neste país pelo tratamento paternalizado dado ao consumidor que muitas das vezes age também de má fé. Isto sem esquecermos que, em outras situações, os próprios agentes estatais responsáveis por fiscalizar os comerciantes aproveitam-se da criminalização de condutas para extorquir dinheiro de quem trabalha.

Verdade seja dita que o atraso na entrega de um produto jamais pode ser comprado a um estelionato. Neste, o golpista quer unicamente lesar a vítima. Ou seja, o malandro não tem nenhum compromisso com o próximo. Ele apenas quer levantar uma grana e, como se diz na gíria, "meter o pé". Já o empresário que monta o seu negócio para servir o público e ter lucro com a atividade sabe muito bem que depende de uma boa imagem perante o mercado para se manter já que a concorrência tem ficado vez maior e esta, por si só, já promove alguma seleção entre os varejistas em razão dos fatores bom preço e confiança. Portanto, deixar a polícia fora dessa parece ser mais adequado.


OBS: A foto acima refere-se ao deputado Renato Molling (PP/RS). A imagem foi extraída da Agência Câmara com atribuição de autoria a Lúcio Bernardo Jr. conforme consta em http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/INDUSTRIA-E-COMERCIO/463585-VENDER-PRODUTO-QUE-NAO-ESTA-EM-ESTOQUE-PODERA-SER-EQUIPARADO-A-ESTELIONATO.html?utm_campaign=boletim&utm_source=agencia&utm_medium=email

segunda-feira, 17 de março de 2014

As águas de março não fecharam o verão carioca...




Teme-se que 2014 possa ser um dos anos mais quentes da história brasileira por causa da carência de chuvas. Enquanto ontem caiu granizo em São Paulo durante a partida de futebol ocorrida no Morumbi, eis que o último final de semana de verão no litoral fluminense foi bem quente e ensolarado. A praia até que esteve razoavelmente bem movimentada cá em Muriqui onde pude vender uma quantidade satisfatória de sorvetes mesmo com a concorrência de um bando de vendedores piratas que invadiram a localidade vindo de outros municípios.

Verdade é que, após o término Carnaval, ainda não choveu o suficiente no Sudeste brasileiro para aliviar a falta d'água, a qual tornou-se severa em diversas cidades. A própria capital paulista, apesar de ter chovido mais do que na Cidade Maravilhosa, continua com o seu abastecimento precário. E, se falarmos nas perdas da agricultura, os prejuízos do homem do campo são incalculáveis. Uma conta que, infelizmente, acaba sendo empurrada também para o consumidor final com a alta dos preços dos alimentos nos supermercados. Com isto, as frutas e legumes, além de ficarem mais caros, estão com uma aparência bem feia.

É triste testemunharmos tudo isso, mas o fato é que o ser humano tem sido a causa de todo esse caos climático no planeta. Com todos os alertas dos cientistas, continuamos lançando uma quantidade absurda de CO² na atmosfera e desmatando o pouco que restou da cobertura florestal dos ecossistemas nativos. E, nestes dois aspectos, o Brasil já não tem mais como livrar-se de sua responsabilidade porque já somos considerados um dos principais países poluidores e ainda usamos muito mal a energia disponibilizada pela natureza. Haja vista o abandono dos poucos parques eólicos construídos tardiamente pelo território nacional e até agora não ligados à distribuição do sistema elétrico.

Mas enquanto algumas regiões sofrem com a inesperada falta de chuvas, outras padecem com o excesso de enchentes como se vê em Rondônia com a cheia do rio Madeira. Algo que também se tornou histórico por atingir a marca de 19,12 metros acima de seu nível normal, o que equivale a uma altura de um prédio com mais de seis andares. E, ao visitar o estado afetado neste sábado (15/03), a presidenta Dilma assim comentou, rebatendo as críticas dos ambientalistas de que as hidrelétricas Santo Antônio e Jirau contribuíram para o evento:

"Eu olhei o Rio Madeira, estive no Nordeste, que está na pior seca. Nós temos tido fenômenos naturais bem sérios no Brasil. É possível conviver com o fenômeno. Vamos discutir sim. Rio de planície tem pouco desnível. Não é possível olhar para essas duas usinas e achar que elas são responsáveis pela quantidade de água do Rio Madeira"

Ora, será que a Justiça Federal não se baseou em pareceres técnicos devidamente fundamentados ao determinar que as hidrelétricas refaçam o estudo ambiental sobre os impactos das barragens às famílias ribeirinhas? Afinal, é mais do que justo que decisão liminar judicial obrigue as hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, ambas no rio Madeira, fiquem obrigadas a prestar socorro imediato, com necessidades básicas - como moradia, alimentação, transporte, educação e saúde - às famílias afetadas pela cheia histórica, o que deve ser feito enquanto durar a situação de emergência e até que haja uma decisão definitiva sobre compensação, indenização ou realojamento dessas pessoas.

Embora as duas hidrelétricas possam não ser a única causa imediata da enchente em Rondônia, o certo é que, com todas as alterações climáticas no planeta (muitas delas já causadas por nós brasileiros), seria bem previsível que essa cheia um dia viesse a acontecer por lá potencializada pelas barragens no rio. Pois com toda essa instabilidade provocada no meio ambiente é de se aguardar que outras variações extremas tornem a acontecer e cada vez com maior intensidade. Daí ter sido uma insanidade a construção desses mega empreendimentos na Amazônia, custando bilhões aos cofres da nação, e prejudicando a floresta junto com seus moradores enquanto outras formas limpas de energia continuam mal aproveitadas.

Já nos anos 2000, o belicista presidente norte-americano George W. Bush dizia que, mesmo se o mundo parasse com as emissões de CO², os efeitos acumulados nesses anos todos não seriam revertidos de imediato. Segundo esse argumento por ele exposto, o mundo ainda teria que esperar mais de cem anos sofrendo as catástrofes climáticas futuras. Só que, se de fato as consequências são irremediáveis a curto prazo, melhor é darmos logo um basta antes que a recomposição do equilíbrio ambiental passe a ser de dois séculos ao invés de um e, com isso, a continuidade das futuras gerações fique seriamente comprometida. Diga-se que em relação a isso, os líderes mundiais e as grandes empresas são os maiores responsáveis. Inclusive S. Exa., a Sra. Dilma Rousseff, presidente do Brasil há praticamente quatro anos e sucessora do desenvolvimentismo insustentável iniciado pelos governos passados.


OBS: Foto acima da praia de Copacabana, cidade do Rio de Janeiro, extraída da Agência Brasil cm atribuição de autoria à Tânia Rêgo.

É preciso reconhecer o plebiscito na Crimeia!




Os Estados Unidos e as potências ocidentais têm sido hipócritas quando agora dizem não reconhecer o resultado do plebiscito ocorrido este domingo na Província Autônoma da Crimeia em que a população livre e soberanamente resolveu separar-se da Ucrânia para integrar a Federação Russa.

A meu ver, os líderes mundiais não têm agido em prol da paz, mas sim buscando a satisfação dos interesses econômicos de seus respectivos países. Tanto os do Oeste quanto os do Leste da esfera terrestre! Pois, como bem sabemos, todos esses recentes conflitos ocorridos na Ucrânia resultaram de uma questão de geopolítica envolvendo a União Européia e a Rússia, de modo que a população daquele país bravamente resistiu a um autoritário governo que era aliado dos russos. No entanto, a maioria dos moradores de outras regiões, principalmente na Crimeia, considerou o quanto seria prejudicial para a eles passarem a fazer parte da periferia da UE.

Para nós brasileiros, distantes há milhares de quilômetros dessa confusão, talvez tenhamos melhores possibilidades de compreender o problema com uma dose a mais de neutralidade, livres dos ideologismos políticos que cercam ucranianos, russos, europeus e norte-americanos. Afinal, se racionalizarmos bem a coisa, não é difícil chegar à conclusão lógica de que cabe a cada qual seguir o seu próprio rumo.

Primeiramente, deve-se saber que, desde o final do século XVIII, a Crimeia passou a fazer parte do então Império Russo. Assim foi até que, nos tempos da ex-URSS, o presidente Nikita Khrushchov (1894 - 1971) transferiu a região para a República Socialista Soviética Ucraniana, num momento histórico em que tanto a Ucrânia e a Rússia compunham um único Estado. Ou seja, comparado a grosso modo, seria como se o município de Paraty, no extremo sul do Rio de Janeiro, viesse a fazer parte de São Paulo, sendo ambos estados brasileiros.

Vale ressaltar também que a maioria da população da Crimeia é de origem russa sendo desejo deles fazer parte do país de origem novamente. E, se o legislativo local, referendado pela população, assim escolheu, cabe às demais nações, inclusive às potências ocidentais, respeitarem a decisão, sob pena de estarem violando o basilar princípio da auto-determinação dos povos. Inclusive, caso o crimeianos optassem por constituir uma nação independente, libertando-se da Ucrânia e não aderindo à Rússia, todos também teriam que acatar.

Portanto, não há motivos para os USA se opor ou querer penalizar a Rússia economicamente. Aceitar o que a população da Crimeia escolheu é fundamental para que a Ucrânia e toda aquela região seja pacificada, evitando-se que ocorra uma sangrenta e interminável guerra civil. Este deve ser o caminho do bom senso.


OBS: A ilustração acima refere-se à bandeira da República Autônima da Crimeia.

quarta-feira, 12 de março de 2014

Disciplina profética amorosa



"Ouvi e atentai: não vos ensoberbeçais; porque o SENHOR falou. Dai glória ao SENHOR, vosso Deus, antes que ele faça vir as trevas e antes que tropecem vossos pés nos montes tenebrosos; antes que, esperando a luz, ele a mude em sombra de morte e a reduza à escuridão. Mas, se isto não ouvirdes, a minha alma chorará em segredo por causa da vossa soberba; chorarão os meus olhos amargamente e se desfarão em lágrimas, porquanto o rebanho do SENHOR foi levado cativo." (Jeremias 13:15-17; versão e tradução ARA)

Quem lê o livro bíblico de Jeremias sem procurar conhecimento pode pensar erroneamente que o profeta apresenta Deus de uma maneira um tanto infantil e, por isso, acabar desprezando o estudo desse maravilhoso texto sagrado. Devido à incompreensão, muitos costumam dizer temerariamente que o Deus do Antigo Testamento seria "iracundo", "ciumento" bem como "vingativo" e que a sua retratação nas Escrituras corresponderia a uma consciência menos evoluída do que a nossa.

Não nego que a Bíblia foi escrita por homens mas que, estando espiritualmente inspirados, esforçaram-se por entender Deus. Tentaram eles transmitir uma mensagem de edificação a um povo dentro de seus limites humanos (tanto do emissor como do receptor), porém agiram motivados por um forte sentimento de compaixão. E vale dizer que, portando-se assim, tornaram o Altíssimo de um certo modo mais acessível aos destinatários de suas cartas já que as pessoas envolvidas por suas compulsões pecaminosas não são capazes de alcançar as coisas elevadas.

Nos tempos de Jeremias, a nação de Judá foi quase que inteiramente destruída. A História pode nos contar que a explicação da queda de Jerusalém no século VI a.C. teria sido devido às invasões militares de Nabucodonosor. Entretanto, a Bíblia vem nos mostrar uma outra leitura do ponto de vista espiritual em que os israelitas antigos teriam sido a própria causa da tragédia. Pois uma vez que o povo e seus líderes entregaram-se à maldade cometendo as piores injustiças contra o seu próximo juntamente com a prática abominável da idolatria, eis que a corrupção lhes cegou os olhos. Assim sendo, eles passaram a tomar decisões erradas e não souberam mais se conduzir politicamente diante de um momento tão delicado quando duas super potências da época lutavam pela hegemonia do Oriente Próximo. Ou seja, a Palestina encontrava-se no meio da disputa entre o Império Babilônico e o decadente Egito dos faraós.

"Quando disseres contigo mesmo: Por que me sobrevieram estas coisas? Então, sabe que pela multidão das tuas maldades se levantaram as tuas fraldas, e os teus calcanhares sofrem violência. Pode, acaso, o etíope mudar a sua pele ou o leopardo, as manchas? Então, poderíeis fazer o bem, estando acostumados a fazer o mal?" (versos 22 e 23 do cap. 13)

Pensando nos dias de hoje, vejo não só o Brasil como muitas outras nações andando na corda bamba. Talvez o mundo inteiro esteja vivendo nessa situação, o que pode atrair consequências terríveis relacionadas ao meio ambiente e ao caos social cada vez mais incontrolável. Pois, na verdade, temos destruído a nós mesmos pela ganância desmedida dos políticos, dos empresários e até dos líderes religiosos que nem sempre estão pregando corretamente a Palavra de Deus. E, igualmente, o próprio povo vai também caminhando rumo ao abismo com a prática cada vez mais banalizada da violência, faltando com o amor pelas crianças, abandonando os idosos e fraudando cada um o seu próximo nos negócios. Isso sem falarmos nos assassinatos hediondos, nas meninas defloradas dentro de casa por seus pais ou padrastos, no tráfico de seres humanos, na morte de pessoas durante os rituais macabros de magia negra em que até autoridades se deixam envolver, dentre outras coisas abomináveis.

Portanto, meus leitores, há que se levantar novamente a voz profética! Como Jeremias e tantos homens de Deus no velho Israel, precisamos hoje denunciar os erros cometidos em nossa nação, pregarmos o arrependimento e uma volta sincera do homem para o Deus Eterno, como muito bem ensinam as Escrituras Sagradas nesta passagem que é frequentemente citada mas nem sempre acolhida nos corações:

"se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e me buscar, e se converter dos seus maus caminhos, então, eu ouvirei dos céus, perdoarei os seus pecados e sararei a sua terra." (2Cr 7:14)

Desperta, ó gigante adormecido! Voltemos para Deus enquanto há tempo e vamos começar a praticar obras dignas de arrependimento dando ouvidos à voz profética, a qual nunca cessou de clamar em nossas ruas por justiça.


OBS: A ilustração acima refere-se ao profeta Jeremias segurando o rolo da Lei, ao lado da Arca da Aliança, conforme um afresco oriundo da antiga sinagoga de Dura Europos, sudeste da Síria. Acredita-se que a obra seja de meados do século III de nossa era. Extraí a imagem do acervo virtual da Wikipédia segundo consta em http://commons.wikimedia.org/wiki/File:DuraSyn-III-Jeremiah.jpg

terça-feira, 11 de março de 2014

Padrões que sufocam



"Abriram-se, então, os olhos de ambos; e, percebendo que estavam nus, coseram folhas de figueira e fizeram cintas para si." (Gênesis 3:7; ARA)

O que seria da indústria de vestuário se a maioria da população aderisse ao movimento naturista e decidisse dispensar as roupas? Penso que, neste caso hipotético, ainda assim a quebradeira das empresas não seria total pois persistiria a necessidade de proteção do frio durante o inverno além de algumas questões relacionadas à higiene íntima. Porém, é inegável que haveria a perda de determinados mercados. Por exemplo, praticamente ninguém precisaria mais comprar sungas, maiôs e biquínis para banhar-se numa praia.

É certo que ainda não temos ambiente social para que isso ocorra porque uma grande parte dos homens não saberia lidar com o impulso sexual se as genitálias das mulheres e as deles ficarem expostas. Contudo, parece-me que a questão da nudez não se limita apenas às circunstâncias libidinosas e à moral pois existem outros aspectos aí envolvidos. Um deles seria o fato das pessoas ainda não saberem respeitar umas às outras e terem dificuldades para conviver com as diferenças existentes entre cada um. Inclusive no tocante à estética e aos padrões estabelecidos.

Ora, se pensarmos bem, há muitos carnavais que as mulheres desfilam com os peitos desnudos na Sapucaí do Rio de Janeiro. Também já fazem décadas em que os biquínis híper curtos passaram a integrar as modas de verão. Porém, o topless continua sendo ainda muito reprimido e o máximo que a sociedade tolera seria uma discreta amamentação do bebê pois, afinal de contas, trata-se de um direito da criança defendido até pelo Ministério da Saúde.

Em se tratando da nudez torácica feminina, não acho que a sua repressão nos dias de hoje se explique por causa da desenfreada libido dos homens. Pode ser até que haja um lobby da indústria de sutiã por trás dando apoio à moral e aos "bons costumes", mas suponho que o topless em lugares públicos talvez incomode mais as próprias mulheres. Refiro-me àquelas que já não estão com tudo em cima e sentem embaraços em lidar com os efeitos da força gravitacional no decorrer dos anos quando vêem a geração de suas filhas todas bem durinhas desfilando pelas ruas. Então, depois de serem vitimadas por suas respectivas mães na juventude, tornam-se agora as principais algozes de outras mulheres formando um eterno ciclo das despeitadas.

Embora eu possa estar fazendo um pouco de gozação neste texto quase fútil (essa não é a temática que costumo escrever), penso existir algo de profundo em todas as reflexões, mesmo nas chamadas "filosofias de boteco". Seria quando passamos a analisar o complicado comportamento humano junto com nossas reais motivações. E aí o assunto em tela vai nos levar a debater o velho tema da tão comentada "ditadura da beleza", a qual eu prefiro denominar como sendo a ditadura dos padrões. Isto porque podemos encontrar o belo não só no gato como também no sapo, passando a aceitar de mente aberta o natural envelhecimento dos corpos, o que é incapaz de atingir a alma. E também podemos construir uma cultura de respeito inegociável à individualidade humana, passando a apreciar a maneira do outro vestir-se, cortar/arrumar o seu cabelo, fazer as escolhas profissionais, ter seu próprio gosto musical, crença religiosa, ideologia política, os relacionamentos afetivos, etc.

Termino esse texto alertando que não somente as mulheres devem ficar atentas com a terrível padronização dos costumes pessoais. Nós, os homens, também estamos com os dias contados quanto à nudez torácica in natura. Principalmente os caras como eu que lembram um pouco do ator da TV Globo Tony Ramos. Pois agora com essa moda dos caras do século XXI depilarem o peito para fins estéticos, começo a sentir um pouco de vergonha de tirar a camisa na rua. Até numa praia de frequência não naturista a coisa está começando a ficar complicada sendo certo que, se ainda fosse solteiro, correria o fundado risco de ser preterido por muitas mulheres. Só que, felizmente, a minha esposa não se importa com essas bobagens. Ainda bem!


OBS: A ilustração acima acima refere-se ao quadro Adão e Eva pintado pelo artista flamenco Mabuse (1478 - 1532), cujo nome verdadeiro era Jan Gossaert. Extraí a imagem do acervo virtual da Wikipédia em http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Adao_eva.PNG

segunda-feira, 10 de março de 2014

A falência do Campeonato Carioca




Apesar de ter sido o jogo da antecipada conquista rubro-negra da Taça Guanabara, o público foi pequeno no clássico de ontem à noite entre Flamengo e Botafogo. O número de apenas 9.348 pagantes demonstrou que as mudanças ocorridas este ano na competição ainda não foram suficientes para trazer os torcedores de volta aos estádios bem como aumentar a audiência do estadual.

É bem provável que, na atualidade, os campeonatos regionais de futebol em muitos estados brasileiros estejam sendo ofuscados pelas competições de maior vulto como a Libertadores e a Copa do Brasil. Ainda mais atualmente em que os clubes brasileiros dominam a competição sulamericana, cuja conquista confere um enorme status interno à equipe vencedora passando a fazer parte da história da agremiação. Principalmente se o time consagrar-se como campeão mundial, o que é o sonho de toda torcida.

No Rio de Janeiro, enquanto tricolores e vascaínos amargam a péssima campanha de seus clubes no Brasileirão de 2013, flamenguistas e botafoguenses esperam pelo bom desempenho de seus jogadores nas Libertadores. Para o time alvinegro já nem interessou mais o carioca de 2014 tendo em vista que o seu técnico preferiu escalar os reservas para enfrentarem o rival rubro-negro neste domingo passado e deixando o caminho livre para a Cabofriense conseguir a façanha de se tornar uma semifinalista.

Penso que a única maneira de se recuperar o interesse do público pelo Campeonato Carioca seria através de uma temporada mais breve em que os clubes seriam distribuídos por grupos de quatro em que disputariam apenas três partidas na fase classificatória. Aí as duas equipes que mais ponturarem subiriam para as oitavas ou para as quartas de final, conforme a quantidade de times envolvidos (havendo só quatro grupos passariam somente oito clubes). E cada fase eliminatória seria disputada em apenas uma única partida. Ou seja, nada de haver um jogo de volta.

Desse modo, a duração do Carioca seria muito menor e não passaria de um mês, o que daria aos jogadores um tempo a mais de férias (não entendo por que as temporadas de futebol precisam iniciar em janeiro) e o público teria mais gosto de acompanhar a competição. No caso, também poderia haver um aumento no número de clubes na primeira divisão, hipótese em que passaríamos a ter trinta e duas equipes, oito grupos de quatro e, necessariamente, todos disputariam as oitavas de final com a presença dos primeiros e segundos colocados de cada chave.

E aí, torcedor? O que você achou da ideia?!


OBS: Alexandre Vidal e João Vitor / Fla Imagem, conforme extraído da Agência Brasil em http://radios.ebc.com.br/show-de-bola-nacional/novidade/2014-03/botafogo-e-flamengo-entram-em-campo-pelo-campeonato-carioca

quarta-feira, 5 de março de 2014

Oito anos e quinze carnavais...



"Digno de honra entre todos seja o matrimônio, bem como o leito sem mácula" (Hebreus 13:4a; ARA)

Na data de ontem (04/03/2014), eu e Núbia completamos nossos oito anos de casamento.

Dessa vez, estando eu super envolvido com o meu trabalho e aproveitando o importante movimento da alta temporada turística nesta época de Carnaval, cá em Muriqui, não tivemos tanto tempo e nem condições para celebrarmos as comemorações no mesmo dia. Resolvemos, num comum acordo, agendar para a semana que vem (ou pra esta sexta, caso chova) a prometida ida a um restaurante. Aliás, não seria algo inteligente fazermos isso com os estabelecimentos comerciais daqui lotados de frequentadores em que, dificilmente, seríamos bem atendidos. Também tendo eu trabalhado parte da manhã e a tarde quase toda na praia, bem como precisando poupar energia para o labor no resto da semana, a última coisa que desejava era sair de casa à noite.

Se não fosse pelo meu trabalho, o dia de ontem até que valeria uma dupla comemoração. Isto porque eu e Núbia nos conhecemos no sábado de Carnaval de 1999, num lindo lugar situado nas serras de Macaé identificado como Arraial do Sana (ou simplesmente Sana). Na época, ainda estudante de Direito no campus da Estácio de Sá de Nova Friburgo, fui caminhando pela poeirenta rodovia Serramar, a RJ-142, deixando para trás o distrito de Lumiar e seguindo rumo a Casimiro de Abreu. Andando a pé uns trechos e pegando carona em outros, finalmente cheguei lá. Por indicação, resolvi conhecer a decoração do Bar do Jamaica onde acabei conhecendo Núbia e apenas conversamos brevemente naquela ocasião. Pretendia retornar no mesmo dia para casa, mas, como foi ficando tarde, acabei me hospedando numa simples pousada custando-me a diária uns acessíveis R$ 15,00 naqueles bons tempos de inflação baixa. Quando foi de noite, saí para dar um rolé e a reencontrei na praça do povoado. Naquele local começou então o nosso namoro confirmado pelos intensos momentos que passamos juntos durante todo o feriado. A partir daí, a maioria dos nossos finais de semana seguintes seriam marcados por novos encontros, os quais ocorreram em Nova Friburgo ou na cidade de Niterói onde Núbia morava com os pais.

E pra quem acha que paixão de Carnaval não dura, eis que estamos juntos há mais de quinze anos e passamos a maior parte desse tempo casados. Nossas núpcias foi celebrada no sítio do Hugo, um lugar nas proximidades da rodovia RJ-130 que liga Nova Friburgo a Teresópolis, mas que veio a ser devastado pela terrível enchente de janeiro de 2011. Contudo, com a graça de Deus, o nosso amor tem sobrevivido a essa e muitas outras águas. Lembro que, na ocasião, Núbia entrou no auditório ao som da música do filme Titanic, isto é, aquela trilha sonora composta por James Horne e que fez bastante sucesso. Atento a este detalhe, o celebrante pastor Renato Gonçalves da Igreja Evangélica Maranata de Nova Friburgo soube muito bem emendar:

"Que o casamento de vocês não seja um naufrágio como foi o Titanic!"

Glória a Deus pois o Eterno tem salvado agente das diversas tempestades às quais até aqui sobrevivemos. Aliás, posso testemunhar dizendo que as dificuldades vieram fortalecer a nossa relação hoje bem mais madura do que quando nos casamos. Ter cuidado de Núbia nas ocasiões em que ela ficou doente ensinou-me a amá-la melhor. Todo o esforço feito para permanecer fiel, não arranjando nenhuma amante ou praticando sexo descompromissado com outras pessoas, contribuiu para a elevação do meu caráter. E não falo disso como um troféu moral hipócrita pois é pela graça divina que eu, um pecador mortal, vou caminhando. Todavia, creio que o Espírito Santo trabalha simultaneamente em todas as áreas das nossas vidas e que, quando nos esforçamos para seguir a Palavra do Senhor, o coração vai sendo sobrenaturalmente lapidado. Falo isso sabendo o quanto ainda preciso ser mudado para tornar-me uma pessoa melhor.

A essa altura, quem conhece um pouco de Botânica deve estar se perguntando por que ilustrei esse artigo com uma flor de papoula. Mas é que os oito anos de casamento são chamados de bodas de papoula ou de barro. Então, como a argila me lembra a fragilidade, preferi focar naquilo que considero belo. E, no caso da tal planta, embora usada indevidamente como um alucinógeno, ela serve também para fins medicinal, alimentício e de ornamentação. Daí, se pensarmos bem, todas essas características podem vir a integrar o matrimônio em que um cônjuge passa a contribuir para a cura e o bem estar do outro. Pode ainda o marido nutrir espiritualmente a sua esposa por meio de palavras de doçura, de elogios e de motivação enquanto Deus vai colorindo com indescritível beleza a vida do casal manhã após manhã.


OBS: A autoria da foto acima é atribuída a ACS Costa, conforme consta no acervo virtual da Wikipédia em http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Papoila.jpg

segunda-feira, 3 de março de 2014

Tenha cautela no Carnaval!




Geralmente as propagandas de conscientização que assistimos nos comerciais da TV durante os dias do Carnaval falam mais sobre os riscos da embriaguez ao volante e da necessidade de proteção contra as doenças sexualmente transmissíveis. Costumamos ouvir repetidas vezes frases como "use camisinha" ou "se beber, não dirija", mas, dificilmente, a mídia vai dizer algo assim: "você não precisa do álcool para estar alegre" ou "ame a família e preserve o seu casamento".

Nada contra essas campanhas levando-se em conta o fato social já existente. Porém, lamento não assistir a anúncios que, como disse, encorajem as pessoas a manter a integridade e a pureza do matrimônio, bem como se abstenham do consumo excessivo do álcool, droga esta que pode ser considerada como uma das piores por ser lícita e socialmente aceita. E, como sabemos, o Ministério da Saúde ataca o tabagismo mas, infelizmente, continua bem tolerante quanto ao consumo imoderado de bebidas.

Quanto à infidelidade conjugal, pode-se dizer que o pecado do adultério seria uma destrutiva conduta capaz de afetar qualquer família e se tornar um péssimo exemplo para as gerações posteriores. Num período em que a sensualidade é instigada para além das quatro paredes e toma conta dos ambientes públicos, torna-se necessário vigiar, Tanto mulheres quanto homens não devem colocar a perder o puro relacionamento de companheirismo que têm com a pessoa amada por causa de uma "aventura" momentânea. Mesmo se for usando preservativos para se proteger da AIDS e de outras DSTs.

Não radicalizo tanto as coisas a ponto de demonizar o Carnaval. Reconheço até que há uma considerável dose de cultura nas letras de determinadas músicas das escolas de samba assim como percebo algum valor nas expressões de alegria em cada comemoração festiva do povo brasileiro. Aliás, ressalto que o Deus a quem sirvo é um Deus de festas, mas o homem acabou pervertendo o maravilhoso plano de convivência comunitária projeta pelo Criador bendito. Senão vejamos o que diz esta citação bíblica referente ao decadente episódio da adoração do bezerro de ouro pelos israelitas no deserto, o que se encontra no livro de Êxodo, capítulo 32, verso 6:

"(...) e o povo assentou-se para comer e beber e levantou-se para divertir-se"

Conforme coloquei acima, Deus não é contra a diversão, mas o nosso Pai Celestial deseja que façamos tudo de forma harmoniosa e sadia, incluindo-O nos nossos eventos sociais. Tanto é que, na própria Bíblia, há registros sobre celebrações que foram acompanhadas por músicas e danças como houve na travessia do Mar Vermelho bem como séculos depois, quando o rei Davi trouxer a Arca da Aliança para Jerusalém, Aliás, na passagem pelo mar, consta no mesmo livro de Êxodo que Miriã, irmã de Moisés e do sacerdote Arão, reuniu as mulheres do povo e todas comemoraram de um jeito quase brasileiro - dançaram ao som do tamborim (ler Ex 15:20-21).

Finalizo esta postagem ressaltando ser necessário a Igreja influenciar a cultura brasileira fazendo menção dos bons e dos retos valores que achamos na Palavra de Deus já que os governos têm sido omissos a esse respeito. Nem o samba ou o feriado precisam acabar! Todos esses eventos do povo podem se tornar expressões de louvor e de adoração ao Deus Único que vive e reina para sempre. Nas ruas das cidades, ao invés de drogas, bebedeiras, promiscuidade ou violência, que haja a paz do nosso Senhor e Salvador.


OBS: A ilustração acima refere-se à peça da campanha lançada no mês passado pelo Ministério da Saúde voltada para a conscientização quanto ao uso de preservativos no Carnaval de 2014.

Racismo de Carnaval perdoado?!




Embora o Congresso Nacional esteja às vésperas de aprovar uma nova lei sobre crimes raciais, prevendo penas mais duras (Projeto n.º 6418/2005 do senador Paulo Paim do PT gaúcho), ainda se ouve durante esses dias de Carnaval, tanto nas ruas como nas casas, algumas marchinhas como O teu cabelo não nega cuja letra é altamente preconceituosa:

"O teu cabelo não nega, mulata
Porque és mulata na cor
Mas como a cor não pega, mulata
Mulata, eu quero o teu amor"

É certo que estamos a falar de algo surgido há cerca de oito décadas atrás. Tal canção foi criada em 1929 pelos Irmãos Valença, no Recife, com o título Mulata. Tornou-se nacionalmente conhecida quando Lamartine Babo (1904 - 1963), após fazer algumas adaptações, lançou-a com o nome atual no Carnaval de 1932. Algo que chegou a causar uma peleja judicial. Não por causa do racismo, mas sim pelos direitos autorais.

Tendo vencido a ação em todas as instâncias, os Irmãos Valença tiveram reconhecida a autoria da composição, inclusive recebendo uma indenização da então gravadora Victor, a qual havia solicitado a Lamartine as modificações na música. Contudo permitiu-se que este fosse mantido como um dos coautores, em virtude das adaptações que fizera, a pedido da gravadora.

Ora, não tenho dúvidas de que se a música fosse composta a partir de 1989, quando o Congresso Nacional já havia aprovado a atual Lei n.º 7.716, João e Raul Valença, assim como Lamartine Babo e o dono da gravadora, teriam sido todos presos pela polícia sem direito a fiança (art. 20 da norma vigente citada). A pena ainda chegaria a ser majorada para até cinco anos de reclusão pela divulgação da marchinha nos meios de comunicação que, na época, seriam os rádios e jornais porque a TV ainda não existia no Brasil.

O fato é que, apesar do plágio musical e do racismo (há quem veja também um alto teor de machismo), O teu cabelo não nega acabou entrando para a história da MPB de modo que não vejo hoje qualquer possibilidade de algum órgão público impedir a sua divulgação em território nacional. Talvez o seu uso com conotação racista, conforme o contexto em que ocorre a reprodução, pode caracterizar conduta ilícita, o que não seria o caso de meramente relembrarmos o passado.

Nunca podemos nos esquecer de que a perversidade do racismo brasileiro encontra-se em sua sutileza. Por trás da hipócrita afirmação de que aqui seria uma "democracia racial", inúmeros atos de depreciação ao indivíduo são praticados como se fosse simples brincadeirinha entre amigos, o que não é verdade. Basta nos colocarmos no lugar de um negro, ou de uma mulher negra, para sentirmos o quanto é doloroso sofrer certos tipos de preconceito. No caso da música, assim ocorre como bem comentou o blogueiro Marcio Alexandre M. Gualberto, em seu artigo de 21/04/2005:

"Bonitinha essa marchinha, não? Quantas vezes já cantamos em época de carnaval, né? Mulata, negona gostosa, carnões bons de apertar, quem não gosta? Mas vejam que beleza: "o teu cabelo não nega". Uma afirmação da negritude. "Mas como a cor não pega, eu quero o teu amor". Putz, vê-se que é música de branco para branco: o cara quer comer a mulata mas não quer ser da cor dela. Tal como essa temos uma série de "sutilezas" do racismo brasileiro nas músicas, na literatura, nas artes, nos meios de comunicação. Eu ponho sutileza entre haspas porque, para nós negros, nada disso é sutil. Pelo contrário, está às escâncaras. Nós percebemos facilmente. Mas quando tocamos no assunto os brancos vêm dizer que estamos querendo pôr chifres em cabeça de cavalo."

Não tiro a razão de todas essas críticas, mas faço a ressalva de que, na primeira metade do século passado, a sociedade ainda não tinha a devida consciência da extensão do racismo e nem de outros preconceitos até aí cultivados como coisas normais. Até nas escolas e igrejas a segregação ainda era promovida! E para piorar mais ainda, havia gente da intelectualidade brasileira na época que expressava saudades dos tempos da escravidão em seus discursos e artigos publicados nos jornais. Eu mesmo, na década 80, sendo ainda um menino, lembro-me que algumas pessoas idosas que, em suas visitas na casa de meu avô, expunham esse tipo pensamento atrasado.

Mas os tempos mudam, não é mesmo?! Felizmente o negro tem ganhado dignidade em nossa sociedade ainda que falte muito para isso se tornar algo pleno e compensador. Mas nesse contexto, o que fazer com a marchinha senão relembrá-a como parte da história? Daí proponho que algum compositor elabore uma nova versão para música pois, considerando que as pessoas a ouvem hoje em dia mais pelo ritmo do que pela letra, bem como tendo em vista o lapso temporal superior a setenta anos desde sua criação, que tal as pessoas que gostam de Carnaval cantarem algo sem preconceito? E, quanto às versões antigas, sugiro que a própria sociedade as deixe como registros históricos de uma época em que atos de indignidade motivados pela raça, cor da pele, sexo e origem ainda eram banalizados. Neste sentido, a música pode contribuir para uma melhor investigação do nosso passado. Proibir qualquer reprodução agora seria uma tremenda burrice.

Um bom feriado a todos!