Páginas

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

As injustiças "debaixo do céu"



"Vi ainda todas as opressões que se fazem debaixo do sol: vi as lágrimas dos que foram oprimidos, sem que ninguém os consolasse; vi a violência na mão dos opressores, sem que ninguém consolasse os oprimidos. Pelo que tenho por mais felizes os que já morreram, mais do que os que ainda vivem; porém mais do que uns e outros tenho por feliz aquele que ainda não nasceu e não viu as más obras que se fazem debaixo do sol." (Eclesiastes 4:1-3, ARA)

Vivemos num mundo em que, por causa do homem, muitas são as opressões e injustiças sofridas pelas pessoas. No texto bíblico acima citado, o autor chegou a especular que os mortos e aqueles que não nasceram estariam em melhor situação do que os vivos!

Desde os tempos das Escrituras Sagradas até hoje, o poder ainda se encontra "nas mãos do opressor". Ainda que as constituições modernas proclamem que "todo poder emana do povo", sabemos que os nossos representantes eleitos são capazes de corromper o sistema democrático estabelecido e passam a governar/legislar conforme os seus interesses e das minorias privilegiadas. Algo que também alcança a esfera judicante e as decisões de muitos magistrados brasileiros.

Felizmente não existe mais uma escravidão legitimada no Brasil desde 13/05/1888 e as normas jurídicas atuais impõem direitos sociais a serem assegurados pelo Estado democrático. Contudo, ainda estamos muito distantes de uma sociedade verdadeiramente livre e com igualdade. Devido às más condições econômicas, muitos acabam se sujeitando a um massacrante trabalho em que uma boa parte do tempo do indivíduo passa a ser ocupada com atividades mal remuneradas. Em seu trajeto cotidiano, há empregados que viajam mais do que o tempo de uma partida de futebol em meios de transporte lotados, fazem hora extra na empresa, levam serviços para casa nos finais de semana (atendendo aos emails do chefe), sofrem descontos no salário por erros de terceiros, recebem humilhações dos mais diversos tipos, têm a privacidade desrespeitada, dentre inúmeras situações violadoras.

Há também o caos na saúde pública, o qual vejo como algo proposital, sendo capaz de tornar indigna a vida do cidadão pobre que depende do SUS. Quando o trabalhador fica doente/envelhece e precisa de uma assistência médica, mesmo após ter derramado litros de suor durante anos, ele passa a sofrer nas filas dos hospitais devido ao excesso de burocracia, à falta de materiais e à indisponibilidade injustificável de um monte de serviços importantes. Seja porque o doutor faltou, ou deu defeito no aparelho do exame, ou faltam vagas nos leitos de internação. E o pior é que muitos funcionários gestores do sistema agem como se estivessem prestando algum favor ao paciente...

E o que temos a dizer dos vergonhosos lixões como o da foto acima onde seres humanos excluídos da sociedade e do mercado de trabalho precisam catar latinhas bem como procurar alimentos estragados afim de sobreviverem? E ainda se vê gente da classe média formadora de opinião que tem a coragem de falar mal do Bolsa Família esquecendo-se de que foi devido a esse importante programa assistencial que milhões de brasileiros saíram da miséria absoluta. Mesmo assim, muito precisa ser feito e não vejo como tudo se resolver apenas pelas ações do governo sem que participemos de um permanente processo de mudança coletiva.

Pensando bem, o próprio povo também é autor das injustiças. O eleitor brasileiro não somente é responsável pelos bandidos que ajuda a colocar no poder como ele mesmo reproduz a violência doméstica, abandona crianças e idosos, causa acidentes trágicos no trânsito, comete os cruéis assassinatos estampados nas manchetes dos jornais, espanca torcedores em estádios de futebol nas poucas horas de lazer que tem, etc. A exploração do trabalho em empresas menores chega a ser bem maior do que nas grandes assim como os casos de desrespeito à função, os atrasos e calotes no pagamento salarial, os assédios moral/sexual, dentre outras lesões. Isso sem nos esquecermos de como a classe média tem reagido contra as novas medidas protetivas das empregadas domésticas como se, inconscientemente, desejasse ainda perpetuar um pouco da escravidão dentro de seus lares.

Apesar dos pesares que se vê sob o azul da atmosfera terrestre, vale lembrar que o livro de Eclesiastes não é pessimista em relação a essas injustiças todas. Numa passagem do anterior a que foi transcrita, o autor fala de um julgamento divino. Este, a seu tempo, torna-se manifesto e vem demonstrar o absoluto controle de Deus sobre os eventos que ocorrem "debaixo do céu":

"Vi ainda debaixo do sol que no lugar do juízo reinava a maldade e no lugar da justiça, maldade ainda. Então, disse comigo: Deus julgará o justo e o perverso; pois há tempo para todo propósito e para toda obra." (Ec 3:16-17)

Ainda que a intervenção divina pareça demorada aos nossos olhos, eis que, em seu devido tempo, toda a luta que travamos pela justiça social alcançará um resultado libertador. O Juiz de toda a Terra, como escreveu o poeta bíblico no Salmo 121, "não dorme e nem dormita". Daí a importância de mantermos sempre acesa a chama da fé, a qual se mostra viva por meio de atitudes positivas praticadas. E crer em Deus não significa cruzar os braços esperando com omissões que em algum dia tudo se resolverá. Assim, a fé vem justamente para nos proporcionar o alento que necessitamos afim de jamais sucumbirmos ao desânimo.

Somos a causa dos males que assolam o planeta como bem mostra Gênesis 3:17, mas também podemos produzir benefícios quando removemos do solo dos nossos corações os "cardos e abrolhos" passando a cultivar a boa semente frutífera. Por isso, temos a árdua e gratificante tarefa de buscar a transformação ética das consciências agindo pelas mais diversas maneiras: com orações, jejuns, reuniões, manifestações políticas ordeiras, elaboração de propostas capazes de trazer melhorias para a comunidade, a prática da caridade, etc. Cabe ao revolucionário preparar o ambiente social para a aguardada plenificação do Reino de Deus conforme havia dito o profeta:

"Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do SENHOR; endireitai no ermo vereda a nosso Deus." (Isaías 40:3)

Bendito seja o Soberano do Universo! E que não nos cansemos de fazer a nossa parte porque as lutas que travamos pela justiça nunca são em vão.

Uma ótima terça-feira a todos!


OBS: A ilustração acima trata-se de uma imagem que mostra uma criança saindo do lixão da Vila Estrutural, no Distrito Federal. A foto oriunda da Agência Brasil tem a sua autoria atribuída a Marcello Casal Jr. e foi extraída a partir do acervo virtual da Wikipédia em http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:CriancaLixao20080220MarcelloCasalJrAgenciaBrasil.jpg

Um comentário:

  1. Lembrando aqui da letra da música Enquanto houver sol, cantada pelos Titãs:


    Quando não houver saída
    Quando não houver mais solução
    Ainda há de haver saída
    Nenhuma ideia vale uma vida

    Quando não houver esperança
    Quando não restar nem ilusão
    Ainda há de haver esperança
    Em cada um de nós
    Algo de uma criança

    Enquanto houver sol
    Enquanto houver sol
    Ainda haverá
    Enquanto houver sol
    Enquanto houver sol

    Quando não houver caminho
    Mesmo sem amor, sem direção
    A sós ninguém está sozinho
    É caminhando
    Que se faz o caminho

    Quando não houver desejo
    Quando não restar nem mesmo dor
    Ainda há de haver desejo
    Em cada um de nós
    Aonde Deus colocou

    Enquanto houver sol
    Enquanto houver sol
    Ainda haverá
    Enquanto houver sol
    Enquanto houver sol

    Enquanto houver sol
    Enquanto houver sol
    Ainda haverá
    Enquanto houver sol
    Enquanto houver sol

    Enquanto houver sol
    Enquanto houver sol
    Ainda haverá
    Enquanto houver sol
    Enquanto houver sol

    ResponderExcluir