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quarta-feira, 11 de setembro de 2013

As pedras de tropeço na nossa caminhada


"Disse Jesus a seus discípulos: É inevitável que venham os escândalos [pedras de tropeço], mas ai do homem pelo qual eles vêm! Melhor fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma pedra de moinho, e fosse atirado no mar, do que fazer tropeçar a um destes pequeninos" (Evangelho de Lucas, capítulo 17, versículos 1 e 2; versão ARA)

Grande é a responsabilidade daqueles que desempenham um papel de liderança diante do povo de Deus. Neste ensino de Jesus, dirigido diretamente aos discípulos (à Igreja), temos aí uma forte advertência do Mestre contra os "escândalos".

Primeiramente importa esclarecer aqui o que seriam os escândalos. O termo skandalon, utilizado pelo escritor do evangelho para expressar comparativamente em grego as mensagens de Jesus, tinha o significado de "pedra de tropeço" (conferir com Mt 16:23), o que não encontra um correspondente exato dentro do nosso idioma. Pode-se dizer que seria causar uma "queda", induzir a outra pessoa em erro.

"A palavra grega originalmente designava o alimento colocado na haste de uma armadilha; veio a significar, depois, qualquer coisa que faz tropeçar e cair numa armadilha." (Comentários da Bíblia de Estudo de Genebra ao verso 1 do capítulo 17 do Evangelho de Lucas)

Criar tropeços para o irmão cair pode ter uma significação bem ampla! Seriam inúmeras as hipóteses capazes de se enquadrar nesta situação, todas caracterizadas pela intensão do agente em induzir o outro em erro plantando astuciosas ciladas. Logo, será sempre uma conduta dolosa, fruto da mais diabólica malícia.

Em regra, o sujeito enganador busca despertar bons sentimentos na outra pessoa. Ele sabe que está tentando manipular alguém que é sincero, de bom coração, capaz de valorizar sua honra, praticar prontamente a caridade, nutrir expectativas, agir com fidelidade na relação afetiva e não consentir com o mal. Então, como nem sempre os honestos são suficientemente prudentes a ponto de perceberem a maldade humana, eles acabam sendo vítimas das mentiras.

Logo no comecinho da Bíblia, temos um conhecido exemplo de tropeço. No assassinato de Abel, Caim atraiu o próprio irmão ao campo afim de poder matá-lo  num local que presumimos ser deserto onde ninguém poderia impedir sua conduta como se lê em Gênesis 4:8. Certamente conseguiu isso aproveitando-se da ingenuidade e da confiança da vítima. E outra situação semelhante vai ocorrer no episódio do extermínio dos siquemitas pela traição de Simeão e de Levi para vingarem a defloração de Diná (Gn 34).

Mais adiante, ainda na própria Torá de Moisés, lemos sobre o conselho que o profeta Balaão deu a Balaque, rei de Moabe, para fazer tropeçar os filhos de Israel (Nm 25:1-4). Já que havia sido impedido de amaldiçoar o povo pelo Anjo do SENHOR, ele ensinou como o perverso monarca atrairia a ira divina em seu favor. Ou seja, as mulheres moabitas, com seus serviços de prostituição, induziriam os israelitas a participarem de abomináveis sacrifícios idólatras. E, agindo de tal maneira, o povo, que estava destinado para a bênção, tornaria-se a causa do problema, passando a colher pragas e malefícios pela desobediência.

Assim, com tanta fartura de exemplos bíblicos já em sua época, muito sábio foi o posicionamento de Jesus ao prever a ocorrência de futuros tropeços no meio da Igreja. Nosso Senhor, conhecendo profundamente o comportamento das pessoas, já esperava a ação de líderes que, após sua morte, armariam arapucas afim de desviarem as ovelhas do rumo certo. Homens capazes de qualquer coisa para adquirirem poder e riquezas. Nem que para isso seja necessário promover o obscurantismo religioso por meio das falsas doutrinas.

Observo que, nos dias atuais, os tropeços dentro da Igreja encontram-se muitas das vezes nos discursos sobre a prosperidade. Sendo os problemas financeiros umas das maiores necessidades das pessoas, eis que pastores mercenários iludem as suas ovelhas com promessas manifestamente contrárias ao Reino de Deus. Vendem o sonho de uma vida confortável (e até de esnobação) para os que se dispõem a ofertar valores pecuniários em suas  reuniões religiosas. Inventam inúmeras "campanhas" para o devoto achar que conseguirá alcançar certas "bênçãos" sendo que tudo não passa de charlatanismo puro com ouso deturpado dos textos bíblicos.

O pior é que condutas assim acabam afastando o povo do verdadeiro Evangelho. Ao invés das pessoas romperem com o sistema desse mundo corrompido, como propôs Jesus, elas aderem aos seus valores materialistas. Muitas até conseguem melhorar suas finanças pela determinação de um objetivo quando conseguem estabelecer metas para si. Só que, mesmo enriquecendo, o aprendizado sobre o Reino pode ser nulo. O que elas ouviram nessas "igrejas" foram meros conselhos de auto-ajuda numa área específica da vida. Nunca mensagens de transformação de caráter que incentivem o arrependimento e a nossa reciclagem interior como deveria ser.

Outros tropeços no meio cristão, a meu ver, estariam na auto-justificação pelas obras, nos métodos de coação psicológica, na idolatria propriamente dita que o catolicismo romano continua cultivando e ainda no intelectualismo teológico. Muitos deixam-se levar pelos maus líderes que, ao invés de repreenderem o pecado, sabem elogiar as posturas erradas e até mesmo encorajarem a rebeldia. Então, como o ser humano não gosta de ser reprovado, é fácil escorregar nessas cascas de banana deixadas em nosso caminho.

Nas relações pessoais também encontramos tropeços através de maliciosas palavras capazes de envenenar a mente do outro. Além das coisas que falamos, coloca-se "escândalos" nos caminhos de alguém através de condutas fraudulentas. Sem nada dizermos, pode-se influenciar a decisão do outro apenas pelo que se aparenta ser. Os gestos, a maneira de vestir ou de olhar não deixam de ser expressões da comunicação humana.

Considero inevitável que situações assim se repitam no nosso meio religioso, mas Deus tudo vê e nada ficará oculto. Aliás, antes mesmo do Juízo Final, as ações desses maus pastores já têm se revelado e as luzes do esclarecimento estão alcançando as mentes de muitos. Pois, sem dúvida, a História colocará as coisas no seu devido lugar no tempo certo de Deus.


OBS: Ilustração acima extraída do site http://www.propheticrevelation.net/the_sin_of_adam.htm

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