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quarta-feira, 12 de junho de 2013

Crentes que aguardaram com fé e paciência



Segundo o Evangelho de Lucas, a apresentação do menino Jesus no Templo foi marcada pelo encontro com dois profetas: Simeão e Ana. Esta, de acordo com o texto bíblico (Lc 2:37), era uma viúva idosa de seus 84 anos enquanto que as palavras de Simeão, em seu cântico conhecido como Nunc Demittis, dão a entender de que ele talvez fosse também avançado em dias.

Provavelmente, tanto Simeão quanto Ana viveram mais da metade do século I a.C, em que teriam testemunhado o fim do período hasmoneu, quando os judeus ainda gozavam de uma relativa independência política, bem como presenciaram a ocupação romana da Palestina pelo general Pompeu, o reinado vassalo de Herodes, o Grande, e o domínio de César Augusto. Embora fossem assíduos frequentadores do Templo, não se iludiram com aqueles líderes políticos e nem com as revoltas armadas dos zelotes. O texto nos permite dizer que ambos esperavam a redenção de Israel e de Jerusalém (versos 25 e 38).

Quanta paciência aqueles dois velhinhos não tiveram?

Quanta fé?!

Para Simeão e Ana, o Messias não era Herodes e muito menos César Augusto. Buscando a direção divina, foram orientados pelo Espírito Santo para prestarem a atenção numa pobre criança cujos pais ofereceram o mais humilde dos sacrifícios para cumprimento do ritual de purificação após o parto. Isto porque, a lei mosaica prescrevia que, pelo fato da mãe tornar-se cerimonialmente impura, deveria ser ofertado um cordeiro mais uma pomba, ou uma rola, após aguardar os 33 dias de sua "purificação" pelo nascimento de um menino (se fosse menina, o prazo era cotado em dobro). Caso a família não tivesse condições, a oferta seria de duas pombas ou de duas rolas (Lv 12:6-8).

Quantas famílias pobres não deveriam existir na Judeia daqueles tempos de dores e de exploração sócio-econômica? Quantos primogênitos da descendência de Davi não eram apresentados diariamente no Templo conforme as exigências de Êxodo 13:2? De que maneira Simeão e Ana poderiam descobrir o Messias no meio de tantas criancinhas judias que eram trazidas ali? E o que podemos dizer da elite religiosa da época que deve ter ignorado a presença do casal e do menino? O sumo sacerdote soube que José e Maria estavam ali? Ou será que prestar a atenção nos bebês ricos de famílias abastardas não fosse mais tentador?

Entretanto, Simeão e Ana perseveravam em suas buscas, não se guiando pelas aparências. Ele era homem "justo e piedoso" e enquanto que ela, uma velhinha dedicada, não saía do Templo, adorando a Deus "noite e dia em jejuns e oração".

Pela idade que tinham, penso que nenhum deles chegou a ver Jesus já crescido evangelizando pelas cidades da Galileia e fazendo milagres por intermédio do Espírito Santo. Poucos devem ter crido no testemunho que deram, talvez reputando-os como pessoas senis, fanáticas ou sem embasamento teológico. Por educação devem ter sido escutados por alguns religiosos, mas somente os que tinham sensibilidade puderam compreender a comunicação da boa notícia.

Ainda sem ver a conclusão dessa grandiosa obra de Deus, Simeão e Ana contentaram-se por testemunharem uma pequena parte do processo redentor da humanidade. Tranquilizaram-se em seus corações, cientes de que os acontecimentos futuros estavam nas mãos do Senhor. Bastava terem olhado para aquela frágil criancinha de um mês de vida.

"Agora, Senhor, podes despedir em paz o teu servo,
segundo a tua palavra;
porque os meus olhos já viram a tua salvação,
a qual preparaste diante de todos os povos:
luz para revelação aos gentios,
e para glória do teu povo de Israel"
(Lc 2:29-32; ARA)

Que assim como Simeão e Ana, possamos esperar confiadamente a ação de Deus na história. O plano redentor já foi iniciado e cabe a nós tomarmos parte na sua execução. Portanto, deixemos o Espírito Santo dirigir nossas vidas.


OBS: A ilustração acima refere-se ao quadro do artista russo Alexey Yegorov (1776-1851), pintado entre 1830-40, que mostra Simeão, o Justo, segurando o menino Jesus nos seus braços, quando os pais apresentaram a criança no Templo. Imagem extraída do acervo virtual da Wikipédia e oriunda de http://bibliotekar.ru/Kartiny1/13.htm

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