Páginas

terça-feira, 30 de abril de 2013

A polêmica proposta do deputado Jean Wyllys


Retomando uma ideia anteriormente lançada pelo verde Fernando Gabeira, cujo projeto de lei tinha sido arquivado após o término do seu mandato, por imposição do Regimento Interno da Casa Legislativa, eis que o deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) novamente desafiou a sociedade brasileira com uma outra proposta considerada por uns como progressista. Se, por um lado, o parlamentar havia entendido pela necessidade de criminalizar a homofobia, agora ele pretende legalizar o velho negócio de exploração sexual dos cafetões. Trata-se do PL n.º 4.211/2012.

A proposta e Jean, a princípio, parece complicada de se entender porque afronta valores morais comuns da coletividade. No entanto, independentemente de considerarmos a prostituição como algo errado (tida pela religião cristã como grave pecado), em que mulheres negociam o uso de seus corpos para a satisfação sexual dos homens, urge regrar uma situação fática injusta. E aí entendo que devemos nos posicionar com realismo lembrando ser uma das principais funções da lei apaziguar o conflito afim de proporcionar o equilíbrio social.

Embora a novela Salve Jorge tenha o seu foco mais no tráfico de pessoas, a TV nos mostra uns detalhes sobre o mundo sujo da prostituição e revela como que a relação de trabalho entre a meretriz e o cafetão pode tornar-se quase que uma escravidão. Não que toda terma ou boate tenha ali um Russo para ameaçar e espancar as mulheres como acontece no Plim-Plim.  Mas a verdade é que o proprietário do negócio aproveita-se muitas das vezes da condição sócio-econômica da mulher, geralmente de baixo grau de instrução, afim de lucrar o máximo com os seus programas. Em muitos casos, a profissional do sexo recebe uma mera percentagem de comissão depois de prestado o serviço com o uso de seu corpo.

Segundo argumenta Gabriela Leite, fundadora da Rede Brasileira das Prostitutas e da ONG Davida, o projeto

"permitirá regular a relação de trabalho entre prostitutas e donos e casas, boates e termas, ao retirar do Código Penal os artigos referentes ao negócio, hoje ilegal. Essa relação não é formal justamente porque o proprietário é criminalizado, o que leva as prostitutas a serem exploradas, ao  contrário do que pensa o senso comum (...) Por outro lado, o projeto fortalece a penalização da exploração sexual, hoje mal defendida no próprio Código. Com a legalização, as prostitutas terão acesso a ambientes de trabalho nos parâmetros comuns à sociedade, poderão trabalhar em ambientes mais limpos, já que a Vigilância Sanitária poderá intervir nas casas em péssimo estado (...)" - trechos extraídos da coluna PontoContraPonto, página 13 da edição n.º 525 do jornal A Tribuna do Advogado, de abril de 2013, publicada periodicamente pela OAB do Rio de Janeiro

Certamente que a criminalização inadequada de condutas só serve para favorecer a corrupção que encoberta a ilicitude como se vê com o jogo do bicho. No mercado da prostituição, isso não é diferente de modo que, em quase toda cidade do país, existe uma repugnante associação entre os cafetões, as máfias do Poder Público (polícias) e grupos criminosos organizados. O proprietário monta a sua boate, registrada formalmente como um ambiente de entretenimento, agencia garotas e travestis, todos na vizinhança sabem qual a destinação real do estabelecimento e nenhuma autoridade tem a iniciativa de fechar as suas portas. Aliás, não raras vezes quem tem o dever de combater a exploração sexual é também cliente do local.

Penso que não devemos nos conformar com aquilo que a antropóloga feminista Alana Moraes chama de "precificação da sexualidade". Contrária ao projeto de lei de Jean, ela bem argumenta que a naturalização desse comportamento torna-se obstáculo "para a consolidação de uma vida plena e autônoma para as mulheres". Entretanto, em que pesem os nobres ideais desse digno movimento popular, não podemos tapar o sol com a peneira permitindo que injustiças maiores continuem ocorrendo.

Jamais podemos ignorar as condições reais das mulheres humildes desse gigantesco país. Estamos tratando aqui de pessoas que contam com menos opções de vida e se acham num processo bem distante da tomada de consciência a respeito da "autonomia feminina". Muitas prostitutas sofreram abusos dentro da própria casa sendo ainda menores, foram abandonadas pelos pais de diversas maneiras, e/ou viveram na pobreza antes de se entregarem ao que equivocadamente denominamos como "vida fácil". Logo, ninguém pode julgá-las pelas escolhas que tomaram e continuam fazendo, pelo que precisamos ter em mente o bem estar delas dentro do possível.

Ressalto que não concordo com a prostituição e respeito as advertências do apóstolo Paulo para o homem preservar a sua pureza sexual (1 Coríntios 6:12-20). Porém, não me esqueço também de que o Senhor Jesus Cristo foi amigo das prostitutas e dos pecadores sem jamais tê-los condenado pelo que faziam. Também recordo que, segundo a Bíblia, a meretriz Raabe foi salva da destruição de Jericó vindo a constar na genealogia do rei Davi e do nosso Messias amado.

Ora, como eu, um seguidor de Jesus, poderei fechar os olhos para uma situação cruel que marginaliza milhares de mulheres neste Brasil ainda vítimas da exploração sexual e que, dificilmente, deixarão de se prostituir? Então nada mais justo do que proporcionar mais dignidade às profissionais do sexo por mais que discordemos do que elas (ou eles) fazem. Do contrário, o jeito vai ser colocar  algemas em todo mundo. Inclusive nos clientes das termas e nas autoridades públicas quando se encontram em lugares privados com as meretrizes uma vez que todos andam financiando esse mercado ilícito.

Assim, parece-me que a regulamentação do trabalho das profissionais do sexo trará algo das trevas para a luz permitindo que a sociedade encare de frente uma situação que carece ser melhor compreendida e tratada de uma maneira mais adequada. Do contrário, estaremos sendo hipócritas defensores de discursos sociais ou religiosos em favor de um modelo de ética divorciado da prática cotidiana.


OBS: A imagem acima foi extraída do site da Câmara dos Deputados em http://www2.camara.leg.br/deputados/pesquisa/layouts_deputados_biografia?pk=160672

A experiência de acessar a internet pelo celular

Devido à demora da Telemar em efetivar o serviço de banda larga VELOX em minha residência, como relatado no texto O péssimo atendimento da Oi Fixo nas cidades menores, publicado dia 19/03, neste blogue, acabei esforçando-me para a aprender a navegar na web através do celular.

Eu já tinha entrado até com um processo contra a Oi e obtido a difícil medida de antecipação da tutela jurisdicional para a empresa fazer o serviço funcionar (processo n.º 0002161-34.2013.8.19.0030 em curso no Juizado Especial Adjunto Cível da Comarca de Mangaratiba). Porém, como a decisão da magistrada depende da intimação do réu para que se abra o prazo do seu cumprimento, resolvi testar o uso da internet pelo celular de Núbia. Pois, se a situação permanecia (e permanece) ainda indefinida, precisava buscar outros meios além de apenas frequentar a lan house de Muriqui e salas da OAB nos Fóruns.

Não sou nenhum expert em informática e o máximo que consegui foi entrar em alguns sítios sem mexer em tudo. Para o meu trabalho com a advocacia de pouco adiantou visto que não estou consultando minhas publicações na OAB e nem o andamento das ações na página do Tribunal pelo aparelho. Menos ainda o processo eletrônico. Porém, tenho entrado no meu email do Yahoo! e no Facebook. Já o blogue apenas visualizo as mensagens e seus comentários a elas sem poder interagir.

Digo que uma das piores coisas que inventaram foi esse teclado do Samsung de minha mulher. Acho super estressante porque, quando digito uma letra, às vezes aparece outra diferente na tela. Aliás, como teria dito o Jô Soares numa das edições de seus programas usando um certo substantivo que prefiro não reproduzir aqui, "eta tecladinho de %#@*&..."

Por outro lado, os condicionamentos dessa experiência têm me obrigado a ser mais objetivo no uso das palavras quando escrevo alguma mensagem via cel. Ao acessar o tal do Face, por exemplo, tenho que me contentar em digitar parágrafos curtos diferentemente do blogue. Ou melhor, componho somente um parágrafo por vez ali e com poucas frases. De preferência uma só.

Esse tipo de expressão é justamente o que não gosto porque, na maioria das vezes, torna-se superficial. Hoje em dia, parece que as pessoas têm preguiça de pensar e preferem mais os contatos de rede social do que a leitura de um bom livro. Nem mesmo se for um artigo com umas três laudas e, por isso, suponho que blogar ainda não faça tanto sucesso.

Mas bem refletindo, eis que as frases bíblicas, e sobretudo alguns ensinamentos de Jesus, costumam ser composições bem curtas e que, ainda assim, obrigam-nos a queimar neurônios. De cada bem-aventurança do Sermão do Monte são elaboradas pregações que duram horas bem como a publicação de livros com centenas de páginas. Cada dito sapiençal nas Escrituras Sagradas conduz a múltiplos significados capazes de se complementar e dando beleza ao livro mais lido em todo o planeta.

A conclusão que chego é que, mesmo com uma mudança em curso nos padrões comunicativos, ainda podemos promover uma dose de qualidade em conteúdos resumidos. Muitas das vezes somos demasiadamente prolixos na blogosfera e não conseguimos fazer com que o destinatário da mensagem compreenda a nossa ideia. E quem não está buscando algo dificilmente absorverá textos grandes ou pequenos. Logo, estou encarando o desafio de diversificar a maneira de me expressar mas sem me separar dos tradicionais livros que até hoje continuam sendo melhor saboreados pelo papel impresso. Um brinde à memória de Johannes Gutenberg!

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Viajar está cada vez mais caro!

Fazia anos que eu não empreendia uma viagem tão longa. Acho que, desde 2006, não saí mais do estado do Rio de Janeiro.

No começo da semana, eu e Núbia tivemos que ir para o interior paulista. Viajamos até Araraquara, terra de seus familiares paternos, distante em cerca de 800 quilômetros daqui de Muriqui e de Mangaratiba.

Se estivéssemos no continente europeu, um percurso desses atravessaria a fronteira de vários países em excelentes rodovias bem pavimentadas e sinalizadas onde o dinheiro arrecadado pelos impostos é satisfatoriamente bem gerido. Porém, trafegamos pelas terríveis estradas brasileiras geralmente cheias de buracos ou de caros pedágios. E fomos de ônibus.

Atualmente é preciso elaborar um bom planejamento prévio para escolher adequadamente qual meio de transporte utilizar. Uns pensam logo no avião mas se esquecem de uma possível corrida de táxi no trajeto entre o aeroporto e a cidade onde vai desembarcar, uma despesa que precisa ser incluída no orçamento. Poucos sabem que aquelas promoções anunciadas nos meios de comunicação e na vitrine das agências de viagens encontram-se mais disponíveis para os trechos de grande fluxo aéreo ligando determinadas capitais e não valendo para lugares do interior do país. Já o carro, se não for movido a gás e não estiver transportando um número suficiente de pessoas, só compensará sair da garagem se você permanecer por muito tempo no local de destino, o que não foi o nosso caso. Saímos de casa num dia para voltar no outro, sendo que nem temos automóvel (hoje não posso e nem pretendo comprar um veículo automotor).

Ao todo, gastamos R$ 568,56 só com transporte rodoviário, tendo sido quatro ônibus na ida e mais quatro na volta. Deixei Muriqui ainda na madrugada de 22/04 com o céu ainda escuro e vi o dia nascer quando estava passando por Itacuruçá, contemplando por alguns instantes uma fantástica combinação de amarelo e de preto no horizonte (o céu estava com muitas nuvens de chuva). Já o por do sol se deu entre São Paulo e Campinas deixando o firmamento avermelhado. Ao todo, passamos mais da metade do período no veículo com breves momentos nas rodoviárias de Itaguaí, de Volta Redonda e de São Paulo, além das paradas para refeições em postos de beira de estrada.

O que muito me indignou foram essas paradas que a viação Cometa fez nos estabelecimentos do Graal. Um roubo! Pois sem que o consumidor tenha outra opção na viagem, ele somente pode comprar algo para comer pelo caminho nesses pontos que a empresa de ônibus determina sabe-se lá por qual motivo. No Graal, por exemplo, tudo é bem mais caro: o almoço, os refrigerantes, os refrescos, os sucos, os doces, os salgados, os biscoitos e os sucos. Uma garrafa de água mineral lá chega a custar R$ 3,50. Mais caro do que em muita praia daqui do estado do Rio.

Com isso, aprendi que o pobre precisa ter a mão na consciência e levar seu lanche para comer dentro do ônibus. Na ida, não fomos preparados e gastamos cerca de R$ 70,00 só com comida. Já na volta, passamos antes num supermercado de Araraquara e conseguimos economizar mas da metade das despesas anteriores de modo que só precisamos comprar água gelada pelo caminho.

Pelo horário que saímos de Araraquara não conseguimos mais ônibus para Itaguaí em Volta Redonda quando chegamos em Barra Mansa por volta da meia noite. Resolvemos ficar na cidade vizinha onde não há tantos executivos pernoitando e nos albergamos num hotel que cobrou R$ 80,00 de diária em apartamento para duas pessoas com duas camas separadas. Núbia estava exausta por estar viajando desde às 14 horas. O nome do estabelecimento que ficamos chama-se Macabu e posso considerá-lo como razoável para os padrões atualmente praticados no interior fluminense. O café da manhã não foi mal e estava incluso na diária de modo que nos fartamos. Gastaríamos uns R$ 20,00 se fôssemos comer toda aquela quantidade na padaria.

Felizmente não desembolsamos nada com hospedagem em São Paulo. Dormimos na casa de Marta, prima de Núbia, a qual nos pegou e levou de carro até à rodoviária de Araraquara. Aliás, fomos muito bem recebidos pela tia de minha mulher que preparou uns deliciosos enroladinhos de ricota com tomate seco oferecendo depois um bolo nota dez feito pela própria dona Marli. Tudo muito gostoso e saudável. Melhor do que ir a um restaurante.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

O outro lado da França

Nesta manhã do dia 24, quando estava assistindo ao telejornal Bom Dia Brasil num quarto de hotel em Barra Mansa (precisei dormir no caminho ao voltar da viagem que eu e Núbia fizemos para Araraquara), surpreendi-me com uma notícia acerca de protestos violentos ocorridos na França. Foram manifestações organizadas após o parlamento daquele país ter aprovado o casamento entre pessoas do mesmo sexo, bem como a adoção de crianças por duplas de gays e de lésbicas.

Confesso que fiquei perplexo com o que a TV mostrou, visto não ser nenhum acontecimento em países como Arábia Saudita, Irã, Uganda ou mesmo no interior dos Estados Unidos como a radical região do Bible Belt repleta de cristãos fundamentalistas. Tais protestos estavam ocorrendo justamente na França, a república que consideramos como uma das mais libertárias do planeta. Terra do pensador Jean-Paul Sartre (1905-1980) e de muitos outros filósofos e ativistas políticos que contribuíram para a formação da sociedade ocidental na qual vivemos.

Desculpem a minha ignorância, mas eu já imaginava que o casamento entre pessoas do mesmo sexo fosse coisa comum na França aprovada há décadas, mas percebo que nós, brasileiros, podemos ter ideias bem equivocadas a respeito dos franceses. No final dos anos 90, quando tive condições de viajar pelo exterior, chamou-me a atenção o fato de ter visto casais homossexuais passeando de mãos dadas pelas ruas de Paris. Cansei de ver homem dando beijinhos afetuosos na boca de outros homens sem que isso causasse uma revolta explícita nas demais pessoas. Quando esperava pelo ônibus, no aeroporto Charles De Gaulle, estranhei a cena de duas mulheres que se abraçavam sentadas sobre a calçada. Elas agiam de uma maneira tão lasciva que, talvez, perderam completamente a noção de que estavam em público a ponto de praticarem ali um ato de tribadismo de roupas. Um suíço que estava ao meu lado aguardando o coletivo mostrou-se também espantado e, ao mesmo tempo, achando aquilo patético.

Curioso... Como que, mais de quinze anos após ter passeado uma semana pela Europa, vieram a ocorrer tantos protestos reacionários na França?

Pois é. Eu diria que é um grande erro generalizarmos um povo ou mesmo as características de uma só pessoa. Desenvolvemos o péssimo hábito de fazer análises simplistas das coisas conformando-nos com pequenas frases capazes de substituírem livros por uma rápida mensagem de torpedo SMS. Isto porque preferimos não pensar. E daí criamos as imagens distorcidas baseadas nas primeiras impressões.

Verdade seja dita que a França não é essa maravilha toda que achamos. Lá existem expressivas quantidades de fascistas (e de racistas também). Numa certa eleição, por motivo de abstenção de muitos eleitores (o voto entre eles é facultativo), o ultranacionalista Le Pen conseguiu ir para o segundo turno, forçando os socialistas a apoiarem estrategicamente o continuísmo de Nicolas Sarcözy.

Outrossim, observo que o fato da França ter produzido pensadores tão libertários deveu-se à presença de tantos reacionários naquele país. Pois foi justamente numa nação neocolonialista da Europa (e parcialmente colaborou com o regime nazista de Hitler durante a 2ª Guerra), que homens como o existencialista Sartre posicionaram-se de maneira tão formidável numa interessante reação dialética.

Neste mesmo sentido é que consigo compreender esses protestos vergonhosos na França hoje governada pelos socialistas. No caso dos homossexuais, eu diria que foram justamente as abusivas atitudes praticadas  em público por alguns militantes que tem despertado reações violentas por parte dos autodenominados "defensores da família". Em suas manifestações, há gays e lésbicas que extrapolam a ponto de ofenderem a moral comum. Não pelo fato de exigirem direitos iguais e sim porque uns resolvem agredir a sociedade com a nudez, palavrões e até com atos sexuais.

Acredito que François Hollande saberá lidar com essa situação dos grupos reacionários. Afinal, por mais que sejam expressivos, não passam de uma minoria e, no futuro, poderão ser varridos pelo processo histórico. Aliás, quando a união por pessoas do mesmo sexo for vista como coisa comum dentro da sociedade, os protestos de extrema direita perderão força porque a pauta do momento já será outra. Tanto na França como no nosso Brasil.

sexta-feira, 19 de abril de 2013

A incompletude do conhecimento humano

"Apliquei o coração a conhecer a sabedoria e a saber o que é loucura e o que é estultícia; e vim a saber que também isto é correr atrás do vento. Porque na muita sabedoria, há muito enfado; e quem aumenta ciência aumenta tristeza" (Eclesiastes 1:17-18; ARA)

Por que razão o escritor sagrado disse que "na muita sabedoria há muito enfado"?

Refletindo sobre tal afirmação, percebo que o homem nunca cessa de buscar respostas apesar de jamais encontrá-las satisfatoriamente. As maiores frustrações dos físicos do século XX foram as tentativas de elaborar uma "teoria de tudo". Ou seja, de compor uma teoria capaz de unificar todas as leis da natureza, o que é uma antiga ambição intelectual dos velhos pensadores gregos desde os tempos socráticos e pitagóricos. Nem Albert Einstein chegou lá!

Pode ser que a teoria das cordas, sendo melhor confirmada pelo método indutivo através de estudos futuramente lançados no espaço nesta e na próxima década, traga todos os esclarecimentos que os nossos físicos de hoje tanto necessitam em relação às leis da gravidade. Quando isso algum dia acontecer, talvez a ciência equacionará por algum tempo todos os princípios que regem os fenômenos físicos conhecidos até que se façam novas descobertas. E aí os fundamentos de uma determinada disciplina correm sempre o risco de sofrer abalo diante de cada novo horizonte descortinado.

Em 1894, o Nobel Albert Abraham Michelson (1852-1931) disse na Universidade de Chicago que seria impossível descobrir alguma novidade na Física. Porém, em uns seis anos, chegou a revolução quântica (1900) e, pouco depois, Einstein descobriu a teoria da relatividade (1905).Igualmente, o filósofo positivista francês Augusto Comte (1798-1857) afirmava ser impossível saber a verdadeira natureza da matéria, mas hoje ninguém mais duvida da existência do átomo e até a estrutura elementar dos seres vivos foi desvendada - o DNA.

Tanto na Física quanto em outras ciências é preciso preservar a humildade. Nosso conhecimento parece ser insuficiente para solucionar todas as respostas porque novas indagações surgirão na mente humana criando outras inquietações. E, nessa exaustiva e infinita busca pelo conhecimento, suponho que nunca encontremos a satisfação necessária porque aquilo que procuramos não se encontra palpável no Universo externo. Está dentro da gente!

Não será nos templos da peregrinação religiosa e nem nos laboratórios da experiência científica que o homem achará Deus (muito embora o Eterno esteja em todos os lugares). Mas é no coração que podemos conhecer o nosso Criador e alcançar a tão desejada paz mesmo que não vejamos a sua face.

Em sua experiência sagrada no Monte Sinai, Moisés pediu a Deus que lhe mostrasse a sua glória (Êxodo 33:18). Pretendia ele ver o SENHOR e conhecer os seus mais profundos segredos. Porém, o Altíssimo respondeu-lhe que aquele pedido não poderia ser realizado. O profeta teria que se conformar em ver Deus "pelas costas" (verso 23), significando que, na fisicalidade, precisamos perceber nosso Criador por meio de suas obras.

Sendo assim, não diria que seja de total inutilidade o estudo científico da matéria. Pois, quando nos compenetramos a partir de qualquer situação analisada, agindo de um modo verdadeiro, autêntico, sincero, com todo o nosso desejo, alcançamos um vislumbre da essência divina. E aí tal concepção, ainda que parcial, torna-se suficiente para satisfazer a sede existente em nosso interior, devendo o experimentador manter-se na contemplação da origem de todas as coisas que corresponde ao estado genuíno de adoração do espírito.

Para alcançar esse gracioso estado em nossas vidas é preciso fé. A fé que move montanhas (ou nos transporta espiritualmente aos montes sagrados) pode ser exercida tanto por um grande cientista quanto por um homem de vida simples. E, em qualquer caso, temos que nos esvaziar dos próprios conceitos intelectuais e abrir no coração o espaço necessário para a Divina Glória entrar.

Assim, dando um sentido a essa busca pessoal, ao invés de se perder na exaustão da compulsividade, cientistas e pessoas humildes têm crido em Deus. Cada um dentro de sua própria experiência de vida. O astrônomo pelo estudo da Física no Universo enquanto o homem comum do povo pela vivência do seu cotidiano observando as causas e as consequências dos acontecimentos que o cercam. Uma via talvez bem mais rápida do que sair analisando o movimento das galáxias. Só que cada um tem a necessidade de percorrer um caminho próprio até encontrar-se com o seu Criador. Eis aí a grande beleza plural das conversões.

Bendito seja Deus, o Grande Arquiteto do Universo!

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Minha inseparável advocacia

Por mais que eu tente, acho difícil divorciar-me definitivamente da advocacia. Talvez por isso não deixe de pagar minha anuidade na OAB. E, se algum dia viesse a pedir baixa na inscrição, rabularia em causa própria nos Juizados Especiais Cíveis quando fosse lesado por alguma empresa...

 Neste mês de abril, tenho trabalhado mais com a advocacia do que com os sorvetes da Moleka. Aqui a economia é sazonal. O verão passou, as temperaturas começam a cair e as crianças já estão em aula. Com exceção dos finais de semana e dos feriados ensolarados, a praia de Muriqui fica vazia.  Daí, se no Carnaval era comum as pessoas comprarem de mim bem mais do que 100 picolés num único dia de calor, agora preciso me satisfazer com a comercialização de umas poucas dezenas do produto como um grande ganho dentro da atividade.

Entretanto, tem pintado um ou outro trabalho burocrático que é melhor prestado por advogados. Isto é, certas diligências tipo fazer  cópia de processos, obter informações aqui ou ali, dar entrada num requerimento, etc. Não são tarefas complexas pelas quais posso cobrar um preço bom, mas é melhor do que ficar uma tarde inteira ralando no meio da semana e as pessoas só comprarem dez picolés.
.
Esta semana fui dois dias seguidos ao Rio de Janeiro por ocasião do  julgamento de um recurso de apelação. Trata-se de um processo de 2007, quando ainda morava lá em Nova Friburgo, e que somente fora sentenciado no ano passado com improcedência. Meu cliente havia sido vítima de uma enchente, quatro anos antes da grande tragédia de 2011, chegando a perder seus bens e quase morreu na avalanche de terra que derrubou parte da casa por ele alugada no bairro Vale dos Pinheiros. Porém, após a longa espera na Justiça, tendo ocorrido uma perícia no local , o magistrado de primeira instância entendeu que a Prefeitura não teria que ser responsabilizada pelo c aso, adotando a ultrapassada Teoria da Culpa Anônima da Administração Pública que atenua em muito as omissões praticadas pelo governo.

Tão logo saiu a sentença, recorri no segundo semestre de 2012 protocolizando o recurso em Itaguaí porque já não morava mais em Friburgo (meu cliente também já não vive mais lá e agora se encontra na Região dos Lagos). O apelo foi então distribuído para a 9ª Câmara Cível e caiu nas mãos do desembargador Dr. Carlos Santos de Oliveira. E aí dei sorte de pegar uma turma julgadora que já havia se pronunciado favoravelmente em outro caso semelhante. Antes de viajar ao Rio para fazer a sustentação oral, elaborei os memoriais para distribuir no gabinete de cada magistrado do órgão e descobri que, em 2011, o município de Petrópolis foi condenado pela destruição da casa de moradores daquela cidade devido a um deslizamento de terra. Eis aí a ementa do acórdão cujo desembargador relator foi o Dr. Rogério de Oliveira Souza:


"APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. CHUVAS INTENSAS. DESLIZAMENTO DE TERRA. DESTRUIÇÃO DA RESIDÊNCIA DE MUNÍCIPES. CONDUTA OMISSIVA DO MUNICÍPIO. AUSÊNCIA DE MEDIDAS A FIM DE EVITAR INVASÕES, LANÇAMENTO DE DEJETOS E DESMATAMENTOS EM ÁREA DESTINADA A PRESERVAÇÃO AMBIENTAL. FATORES QUE CONTRIBUÍRAM PARA O RESULTADO DANOSO. CASO FORTUITO OU FORÇA MAIOR INOCORRENTES. DANOS MATERIAIS E MORAIS DEVIDOS. MAJORAÇÃO DO VALOR COMPENSATÓRIO. Evidenciada a omissão do Estado em coibir a ocupação irregular, o lançamento de lixo e o desmatamento de área destinada à preservação do meio ambiente, acrescida do fato de que tais omissões contribuíram para a ocorrência do evento danoso, fica evidente o dever de indenizar. Caso fortuito ou força maior que inocorrentes, porquanto previsíveis e evitáveis as conseqüências advindas do fenômeno da natureza. Valor do dano moral que deve ser majorado consoante a gravidade das omissões, que ainda contribuem para a ocorrência do evento danoso na atualidade. Conhecimento e provimento do 1º recurso e desprovimento do 2º recurso." (Processo n.º 0006730-28.2002.8.19.0042 - Julgamento em 05/04/2011)

O julgamento do meu recurso não foi diferente. Embora não tenha ainda em mãos o inteiro teor da decisão, que só estará disponível com a sua publicação no Diário Oficial, eis que o raciocínio jurídico do Dr. Carlos foi praticamente idêntico ao de seu colega de Câmara. E a Prefeitura de Nova Friburgo saiu condenada a pagar R$ 20.000,00 para  o meu cliente pelos danos morais que ele sofreu. Uma quantia que, se comparada com a prática atual da Justiça brasileira, estaria acima da média das verbas arbitradas  na aplicação do instituto porque há juízes e desembargadores dando bem menos para situações parecidas (tragédias sem morte e sem lesões corporais graves caracterizadas mais pelo abalo psicológico e pelo fato de  alguém ficar desabrigado).

Todavia, a Justiça evolui dentro de um ritmo que tenta acompanhar as expectativas da média. Estamos numa economia de mercado que convive com a forte predominância do corporativismo político no Estado e a exploração  milenar do trabalhador. A sociedade ainda é bastante desigual, bem como a nossa maneira de pensar, e até poucas décadas atrás o Brasil estava debaixo de um autoritário regime militar no qual mandava "quem pode". Tragédias climáticas aconteciam e ficava tudo por isso mesmo. Se a casa de um pobre caiu, prefeitura nenhuma tinha que indenizar o morador. Ainda mais se fosse inquilino de um imóvel ou se o acidente acontecesse numa comunidade carente com ocupação irregular do solo sendo fruto de invasão em área de proteção ambiental.

Pois bem. Posso dizer que vale a pena ter ido ao Rio nesta terça sustentar meu recurso no Tribunal mesmo tendo aguardado mais de quatro horas após a abertura da sessão devido  aos outros casos que tinham preferência na pauta e que se tornaram verdadeiras aulas de Direito e de vida. Tiveram prioridades os processos do desembargador Rogério  que, por insistência pessoal e de compromisso profissional, compareceu para julgar determinadas ações de importância para a coletividade ainda que em estado de recuperação pós-cirúrgica. Um dos processos foi o mandado de segurança de n.º 0050854-76.2012.8.19.0000, impetrado pelos sindicatos dos médicos e dos enfermeiros contra o desmonte do SUS feito pelo governo Sérgio Cabral. As entidades dos trabalhadores conseguiram ali a heroica anulação de um edital que pretende transferir serviços essenciais de saúde para ONGs...

Assim, voltei para a casa satisfeito com o resultado do meu processo de seis anos de tramitação e também com o alto nível de debate entre os magistrados que compõem a 9ª Câmara Cível do TJERJ. Pois, fugindo à mediocridade de grande parte dos colegiados julgadores deste país, observei que, neste órgão, os desembargadores costumam divergir fundamentadamente uns dos outros  na defesa do entendimento jurídico que acreditam ao invés de somente acompanharem o relator. E vi no julgamento do mandado de segurança citado uma admirável independência do Poder Executivo, contrariando ousadamente os interesses de um governo que, como se sabe, tem  sido bastante venal para a  maioria da população fluminense. E, se o Judiciário inteiro agisse assim, daria  mais gosto advogar porque veríamos resultados mais frequentes na transformação desse mundo hostil no qual vivemos.

Pouco antes do julgamento, ouvi dois profissionais da saúde conversando entre si numa lanchonete. Um deles disse que "a Medicina é uma amante que requer exclusividade". Porém, pensando nesta frase, eu diria que o Direito e a busca da realização da Justiça também são. Por mais que nos deparemos com decisões boas ou más dos magistrados, o inconformismo com determinadas questões não permite que sosseguemos facilmente.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Uma festa assim eu não quero


Hoje (12/04) é o meu aniversário. Estou completando 37 anos. Recebi tantos recados no Facebook que nem pude responder a todos. Também atendi uns dois telefonemas (da mamãe e do vovô) que me deixaram felizes.

Diferente do que costumava ter nos anos de minha infância e adolescência, dessa vez não farei festa. Meu dinheiro não dá para usufruir de certos luxos de modo que apenas saí rapidamente com Núbia para tomarmos sorvete e ontem ela resolveu fazer um bolo de cenoura com cobertura de chocolate que acabou hoje pela manhã durante cerca de 12 horas apenas. Tava uma delícia!

Curiosamente, a Bíblia conta como foi a comemoração do níver de um poderoso rei. Herodes Antipas, filho do perverso Herodes, o Grande, reinava sobre a Galileia na época de Jesus de Nazaré e de João Batista. Este, tido como profeta pelo povo judeu, fora encarcerado pelo monarca quando passou a denunciá-lo devido à união adúltera com Herodias, esposa de seu irmão Felipe.

Na certa, o rei e sua amante sentiam-se bem incomodados com as corajosas denúncias de João. Herodes só não ousava matá-lo porque temia uma reação popular em defesa do seu profeta. Então Herodias arquitetou um terrível plano que incluiu a participação de sua filha adolescente:


"Festejando-se, porém, o dia natalício de Herodes, dançou a filha de Herodias diante dele, e agradou a Herodes.  Por isso prometeu, com juramento, dar-lhe tudo o que pedisse; E ela, instruída previamente por sua mãe, disse: Dá-me aqui, num prato, a cabeça de João o Batista. E o rei afligiu-se, mas, por causa do juramento, e dos que estavam à mesa com ele, ordenou que se lhe desse. E mandou degolar João no cárcere. E a sua cabeça foi trazida num prato, e dada à jovem, e ela a levou a sua mãe." (Mateus 14:6-11)

É muito triste esta narrativa, mas ela nos ensina sobre o quanto um homem pode perder o domínio de si quando se deixa seduzir pela depravação. Sendo rico e tendo o mundo aos seus pés, Herodes desconhecia limites. Não governava com o objetivo de promover o bem comum, mas pensava unicamente na satisfação dos próprios interesses. E, embora não considerasse conveniente assassinar João, foi capaz de dar um cheque em branco à filha de sua amante.

Lamentavelmente, essas são as festas que os governantes do mundo inteiro costumam dar nos seus atuais palácios. Não há necessidade de imitarem Sílvio Berlusconi. Pois, mesmo se reunindo a maneira aparentemente cristã, negociam o interesse de milhões de administrados pensando nos votos das próximas eleições, nas alianças políticas, nas obras em que desviarão o dinheiro da nação, nos apadrinhados que pretendem nomear, etc.

Confesso que, comendo o meu bolinho de cenoura com Núbia e recebendo telefonemas de parentes, sinto-me verdadeiramente em paz ao lembrar que completei mais um ano de vida sem estar prejudicando seriamente os outros e que posso deitar em paz a cabeça no travesseiro quando chega a hora de dormir. Não tenho a necessidade de ter muito para ser feliz. A Divina Graça em minha vida representam o maior bem que posso usufruir. Minhas necessidades materiais têm sido muito bem supridas. Bendito seja o Eterno, meu Criador e Provedor!

Caros amigos, quero antecipadamente agradecer a todos que estão me parabenizando nesta data, desejando um descanso semanal com bastante paz. Um abraço virtual bem forte!


OBS: A ilustração acima trata-se do quadro do pintor barroco flamengo Peter Paul Rubens (1577 - 1640) sobre o trágico aniversário de Herodes. Material extraído do acervo da Wikipédia em http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Peter_Paul_Rubens_018.jpg 

segunda-feira, 8 de abril de 2013

A dieta da dona Dilma

É um absurdo como os preços do tomate e de muitas hortaliças têm subido tanto! Vegetais comuns chegam a ser tão caros quanto comprar carne em um açougue!

O populista governo do PT caminha na contramão da ecologia contribuindo para aumentar o consumo do boi, do porco e do frango. Quanto mais o brasileiro ingerir carne, mas hectares de florestas serão transformados em pastagens na Amazônia. Mais obeso o povo ficará e mais probabilidade de desenvolver um câncer terá.

Mas não é fazer churrasco todo fim de semana que o brasileiro tanto gosta de Norte a Sul do país? As pessoas não desejam ter bife com fritas todos os dias em suas mesas?

Pois é.  Como todo governo populista, Dilma quer agradar o eleitor brasileiro incentivando a diminuição do preço da carne por mais que a população esteja cultivando hábitos errados prejudiciais à saúde e ao meio ambiente. Promover uma dieta verdadeiramente nutritiva e responsável não faz parte da pauta diária do Palácio do Planalto ainda que existam estudos ou propostas nesse sentido. Afinal, as eleições presidenciais e nos estados estão chegando. Falta pouco mais de um mês para a madame conseguir a reeleição.

Se a economia agora está dando sinais de desaceleração por causa da crise internacional, o PT já precisa ficar de olho na elevação do custo de vida devido à inflação provocada pelos últimos anos de aquecimento da produção industrial agora com leve redução. Isto porque, se as pessoas não tiverem um aumento na renda igual ou superior à elevação dos preços, o cidadão vai ficando insatisfeito com a política e começa a achar que precisa mudar.

É lamentável que as coisas precisem ser desse jeito no Brasil. Não se trata apenas de um condicionamento eleitoral dos governantes para se manterem no poder. Pra mim, é falta de consciência mesmo!

Dilma, assim como boa parte da cúpula do PT, composta por velhos opositores do regime militar, voltou-se mais para um estado de bem estar conformista do trabalhador. Após terem desistido da luta armada para disputarem eleições, a presidenta e sua turma pouco deu importância às necessidades de conservação dos recursos naturais. Não entrou na cabeça dessa gente que nos governa o quanto as futuras gerações depende de uma política ambiental séria que precisa ser adotada com urgência hoje em dia. Ou melhor, já deveria ter começado ontem.

Com a população mundial cada vez mais crescendo (a projeção é de que ainda cheguemos a uns 10 bi), será necessária uma redução no consumo de carne se quisermos que todos os demais habitantes do planeta possam se alimentar fraternalmente. Mantendo-se os atuais hábitos dietéticos insustentáveis, somente será possível suprir as necessidades nutricionais de no máximo 8 bilhões, caso haja também uma correta distribuição de comida. Só que, se a humanidade conseguisse abolir a carne, satisfaríamos um número cinco vezes maior acima desse limite previsto. Ou seja, sustentaríamos até 40 bilhões de pessoas!

Infelizmente, os governantes são um reflexo do povo e a medíocre democracia brasileira ainda não aber espaços para que candidatos mais conscientes como Marina Silva, Heloísa Helena ou Fernando Gabeira possam chegar à chefia do Poder Executivo Federal. Se algum dia um deles vier a vencer uma eleição, mesmo para a Prefeitura de uma capital, precisarão adotar um discurso adequado ao nível de consciência das massas. Terão que fazer também alianças com outros setores retrógrados da política e precisarão ser firmes para alcançarem seus objetivos visto que os meios nos desviam dos fins.

Desculpem-me pelo realismo pessimista, mas, se nenhum evento extraordinário ocorrer na política ou na economia do país, algo mais grave do que um escândalo de corrupção, ainda teremos que aturar a turma da Dilma por pelo menos mais quatro anos. Porém, tendo em vista o grave estado de saúde do planeta, ignorado pela grande maioria de seus habitantes, mais um mandato nas mãos do PT será tempo demais. E aí as futuras gerações não pouparão a nossa em suas severas críticas pelas dificuldades que poderão enfrentar amanhã.

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Desentulhando poços



"E tornou Isaque a abrir os poços que se cavaram nos dias de Abraão, seu pai (porque os filisteus os haviam entulhado depois da morte de Abraão), e lhes deu os mesmos nomes que já seu pai lhes havia posto" (Gn 26:18; ARA)

As narrativas bíblicas, além de nos relatarem motivadoras experiências de fé de seus personagens, também encorajam o leitor a tomar iniciativas importantes em sua vida. Trata-se de cumprir integralmente o plano de salvação proposto por Deus para que sejamos felizes em toda a existência, ainda que o mundo produza aflições, os "espinhos e abrolhos" da linguagem poética de Gênesis.

Como se lê, eis que, no princípio, a luta dos patriarcas não foi nada fácil. Nem Abraão, nem Isaque e nem Jacó navegaram tranquilamente por um mar de rosas. Aqueles homens viveram como peregrinos na terra da promessa convivendo com vizinhos nem um pouco agradáveis. As riquezas que construíram com o trabalho árduo e as bênçãos divinas tornaram-se motivo de inveja. E, movidos por esses sentimentos baixos, os filisteus resolveram entulhar com terra os poços anteriormente abertos pelos servos de Abraão (Gn 16:15). Poços que eram importantíssimos para matar a sede do rebanho visto que os patriarcas hebreus eram pastores nômades dependentes tanto de água como de pastagens.

É interessante notarmos a postura adotada por Isaque diante daquela situação conflituosa. Ele não ficou paralisado por causa das contendas com os vizinhos e as possíveis ameaças que deve ter ouvido. O texto nos conta que o patriarca também mandou seus empregados cavarem mais poços na terra em que habitava sem desistir dos seus sonhos. Até que as divergências um dia cessaram proporcionando um período de alívio (uma das traduções para Reabote ou Rechovot):

"Partindo dali, cavou ainda outro poço; e, como por esse não contenderam, chamou-lhe Reobote e disse: Porque agora nos deu lugar o SENHOR, e prosperaram na terra" (Gn 26:22)

Igualmente, nós enfrentamos momentos de adversidade enquanto caminhamos por esse mundo cheio de gente injusta. É o patrão iníquo que não paga os direitos do seu empregado, a construtora desonesta que não entrega a obra pronta ao consumidor apesar deste ter pago em dia suas prestações, o inquilino irresponsável que não cumpre o contrato de aluguel do imóvel, e o governo que impõe as regras da economia conforme seus interesses causando muitas das vezes instabilidades e o efeito surpresa.

Nesta primeira semana de abril, resolvi reabrir um "poço" que, desde 2009, tinha deixado que entulhassem. Trata-se de uma ação movida em causa própria em face do Itaú por causa dos planos econômicos Bresser e Verão.

Quando o (des)governo José Sarney fez seus respectivos cortes nos três zeros do cruzeiro e do cruzado, nos anos de 1987 e 1989, afetou as cadernetas de poupança. Embora eu ainda fosse menor de idade, tinha um dinheirinho guardado no extinto BANERJ. A data de aniversário dos rendimentos era todo dia 14, estando, pois, dentro da primeira quinzena que sofreu as perdas dos expurgos. Então, antes que meu direito prescrevesse no prazo vintenário, em meados de 2007, tomei conhecimento de que poderia mover uma ação por meio da imprensa e ajuizei logo aquela causa.

Com toda a lentidão burocrática, tive minha demanda julgada pelas instâncias ordinárias em 2009 confirmando a sentença favorável proferida no primeiro grau de jurisdição. O pedido fora julgado procedente com honorários advocatícios de 10% (dez por cento) sobre o valor da condenação. No entanto, o banco, com finalidade manifestamente protelatória, recorreu para o STJ interpondo o recurso especial. Com isso, devido às novas normas processuais, os autos ficaram retidos na 3ª Vice-Presidência do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro aguardando o julgamento de um processo paradigma pelas instâncias superiores. E lá permaneceu mesmos nós já estando em abril de 2013.

Posso dizer que, nesses últimos três anos, eu me acomodei quanto a esse caso. Mesmo tendo morado em Nova Friburgo até dezembro de 2011, comarca onde foi proposta a ação, não ousei entrar com a execução provisória sendo que precisaria primeiro tornar líquido o valor da sentença para depois exigir o seu cumprimento. Minha mente sempre arranjava uma justificativa psicológica para não tomar uma providência célere e que seria um pouco trabalhosa. Ainda mais porque eu estava agindo em causa própria e não precisaria responder perante um cliente sobre minha inércia diante do atrase processual. Pensava que seria bem mais cômodo esperar o retorno dos autos ao órgão jurisdicional de origem e aguardar o réu providenciar o depósito da quantia devida.

No entanto, o tempo passou. Enfrentei terríveis dificuldades financeiras no ano de 2012 que me obrigaram até mesmo a vender picolé na praia na localidade de Muriqui, onde passei a residir desde 21/08. Então, tendo que me mexer para conseguir pagar as contas, lembrei do quanto aquele dinheirinho poderia ajudar num momento tão difícil quanto aquele que sofri até pagar as últimas parcelas de uma dívida no final de janeiro. Só que não tinha grana suficiente para arcar com as custas judiciais e nem provas de hipossuficiência econômica para pedir gratuidade de justiça no meu processo.

Assim, nesta quinta-feira (04/04), decidi agir. Logo após ter acordado no começo da manhã, sentei de frente para o computador ainda sem internet funcionando e comecei a digitar minha petição. Depois, tomei um ônibus para Itaguaí, imprimi a guia de pagamentos judiciais acessando o site do Tribunal de Justiça na sala da OAB, saquei uma importância que ganhei com os picolés aplicada no banco, acertei as custas processuais no Bradesco e protocolizei o meu requerimento de execução provisória enviando-o pelo sistema de malote entre as comarcas.

Enfim, foi manhã e tarde trabalhando em cima disso. Passei uma quinta-feira cansativa em que precisei dispor de R$ 380,41 só com as despesas processuais e também deixar de trabalhar à tarde com os picolés na praia de Muriqui. Porém, o que fiz foi um investimento em que, mesmo com a demora tartarugal da Justiça brasileira, pode ser que eu venha a receber a graninha ainda este ano, ou em 2014. Algo que, certamente, ajudará bastante nesse momento em que preciso capitalizar-me, além de continuar pagando as despesas atuais: água, luz, telefone, comida, plano de saúde da Unimed e as caras passagens de ônibus para Itaguaí ou Mangaratiba que custam quase quatro reais (um roubo).

Em toda a nossa caminhada, é preciso lançar o "pão sobre as águas" e agir com fé dando cada passo em sua vez. Não importa o que atravessamos, devemos lembrar sempre de palavras de encorajamento como essa que Deus disse para Isaque depois de toda a sua batalha angustiosa:

"Na mesma noite, lhe apareceu o SENHOR e disse: Eu sou o Deus de Abraão, teu pai. Não temas, porque eu sou contigo; abençoar-te-ei e multiplicarei a tua descendência por amor de Abraão, meu servo" (Gn 26:24)

Deus não nos abandona jamais, amados! Esta é a confiança que devemos ter diante do futuro desconhecido. Precisamos agir e trabalhar mas, depois de termos feito tudo, não nos atemorizarmos com os acontecimentos do amanhã. Pois a vida de cada um está bem guardada nas mãos do Pai Celestial, o Deus bendito para todo sempre.


OBS: Ilustração extraída do acervo da Wikipédia oriunda da Providence Lithograph Company, numa Bíblia publicada no ano de 1906, conforme se lê em http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Isaac_a_Lover_of_Peace.jpg

terça-feira, 2 de abril de 2013

A tensão nuclear na Ásia causada pela Coreia do Norte


As notícias sobre as ameaças de guerra feitas pela Coreia do Norte trazem de volta à memória as tensões experimentadas durante os anos de guerra fria entre URSS e EUA.

Quantas pessoas em Seul e outras cidades da Coreia do Sul não estão desenvolvendo distúrbios psíquicos neste momento como a síndrome do pânico? Pois, ainda que muitos interpretem as declarações de guerra como um possível blefe para a Coreia do Norte negociar com os Estados Unidos como potência militar, afastando de si as penalidades econômicas, existe a real possibilidade de haver um conflito bélico regional com risco de uso de armas nucleares.

Certamente que, numa guerra nuclear, não há vencedores. Isto porque, se algum país vier a derrotar o outro, ele não consegue ocupar o território adversário por causa da poluição ambiental com radioatividade, a qual pode durar anos tornando improdutivo o solo da área afetada. Além do mais, se ambos os lados têm bombas atômicas, quem for atacado primeiro pode retribuir ates de ser atingido por algum míssil desde que seja capaz de identificar o lançamento de foguetes vindo em sua direção.

Embora a Coreia do Norte não deva ter toda essa tecnologia avançada, principalmente quanto ao lançamento de foguetes de longo alcance a ponto de conseguir atingir a costa oeste dos EUA, ou mesmo as bases norte-americanas no Japão, há uma fundada preocupação quanto à segurança do país vizinho - a Coreia do Sul. Neste caso, até as barreiras anti-mísseis dos Estados Unidos talvez não proporcionem o efeito desejado para proteger a vida de civis.

Gostemos ou não do estilo dos EUA, o certo é que os norte-coreanos já teriam imposto uma unificação vermelha aos seus irmãos do sul, sob o regime totalitário de esquerda, caso a maior potência militar do planeta não estivesse presente no extremo asiático para impedir uma nova guerra ali. Logo, por mais interesseira que possa ser, a pax americana acaba sendo preferível do que o começo de uma terceira guerra mundial.

Por outro lado, o controle das potências militares e da ONU sobre países que já têm a bomba atômica é menor do que sobre outras nações que não têm essa arma letal. Não dá para Obama arriscar uma intervenção armada na Coreia do Sul, como fez George W. Bush há uma década no Iraque, sem colocar em risco a vida de milhões de civis no planeta. Isto porque um governo que não respeita os direitos humanos, a ponto de prender, torturar e matar os seus oponentes políticos (até missionários cristãos encontram-se nesta condição na Coreia do Norte), pode muito bem apertar o botão vermelho e destruir Seul em instantes.

Todavia, a pergunta é. Será que o ditador norte-coreano seria capaz de usar armas nucleares e matar civis na Coreia do Sul?

Bem, quando analisamos o comportamento de culturas diferentes da nossa, não podemos utilizar os mesmos valores para medi-los. E, neste sentido, é importante lembrar que o suicídio é praticado pelos orientais com menos limitações do que aqui no Ocidente. Até à Segunda Guerra Mundial, o Japão promoveu inúmeras carnificinas em fins do século XIX e na primeira metade do XX. Vivendo um momento de militarização e de orgulho nacional o País do Sol Nascente invadiu seus vizinhos objetivando colonizar novas terras a ponto de exterminarem 200 mil civis no cerco a Nanjing, então capital da China, em apenas sete semanas do ano de 1937.

É certo que os japoneses da primeira metade do século passado agiram sob a orientação de doutrinas religiosas que pregavam a indiferença pela vida numa situação de batalha (o ato de matar desprovido de egocentrismo) enquanto os norte-coreanos de hoje seriam ateus por causa do comunismo. Ainda assim, seria um equívoco acharmos que o totalitarismo de esquerda alterou imediatamente a cosmovisão de um povo. Pois, quando ocorreram as revoluções socialistas no Oriente, o pensamento de Karl Marx foi concebido de maneiras diferentes adequando-se a cada cultura. Logo, há diferenças enormes entre Cuba e a Coreia do Norte, apesar de ambas serem na prática duas "monarquias comunistas".

Mais do que nunca, o momento de tensão em que o mundo presencia hoje na Península Coreana torna-se uma evidência clara de que é preciso por fim a essas duas reais ameaças globais: o terrorismo e o belicismo nuclear. A soberania estatal plena tornou-se um fundado risco para a paz no planeta uma vez que cada governo passa a ter condições de desenvolver tecnologias de destruição em massa já conhecidas sem que outros países possam impedir diretamente. A então fórmula secreta da bomba atômica já deixou de ser um segredo das potências de modo que essa arma perigosa já pode ser produzida até pelas nações subdesenvolvidas desde que tenham equipamento, material e o tempo necessários.

Lamentavelmente compartilhamos um planeta onde os níveis de maturidade cosmoética são diferentes, além da pluralidade de valores que compõem a diversidade cultural entre os povos. As comunidades já não conseguem mais viver em estado de isolamento geográfico como foi no passado e uma nova ordem política precisa ser estabelecida antes que seja tarde demais. Antes que o poder bélico da Coreia do Norte cresça ou surjam novos países com propósitos semelhantes na própria Ásia, Oriente Médio, África e até aqui na América Latina.

Gostemos ou não do estilo de vida dos norte-americanos, precisamos reconhecê-los. São intervencionistas, tentam influenciar o mundo conforme os seus interesses econômicos, mas são os EUA, juntamente com as demais potências, que têm contribuído para o equilíbrio político global. E, enquanto não houver outra opção melhor, capaz de conciliar a liberdade com a segurança, é preferível que as potências continuem desempenhando o papel de polícia global promovendo até ações militares.

Oremos pela situação na Coreia do Norte e não nos esqueçamos dos nossos irmãos em Cristo que estão sofrendo perseguições religiosas naquele país.