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sábado, 30 de julho de 2011

Por uma igreja que busque a pesquisa e a reflexão!

Ora, estes de Bereia eram mais nobres que os de Tessalônica; pois receberam a palavra com toda a avidez, examinando as Escrituras todos os dias para ver se as coisas eram, de fato, assim.” (Atos dos Apóstolos 17.11; ARA) - destacou-se


Na noite deste último dia 29/07/2011, participei de uma acalorada reunião na Igreja Batista da Serra, aqui em Nova Friburgo, onde foram tratados vários temas internos da congregação, dentre os quais o horário do culto dominical. Ao final, o pastor presidente, o irmão Robson Rodrigues, propôs que refletíssemos seriamente sobre que tipo de igreja queremos afim de que o debate tivesse a sua continuidade no próximo encontro, no culto de domingo pela manhã.

Como tem ocorrido comigo ultimamente, venho sentindo a necessidade urgente de que as pessoas dentro das suas igrejas tornem-se capazes de praticar o exercício do discernimento de uma maneira prática e aberta, aplicando-o em todas as esferas de suas vidas, bem como no ambiente coletivo.

Desde julho do ano passado, tenho experimentado o prazer de me relacionar com um grupo e irmãos cujo trabalho é fruto de uma interessante desconstrução doutrinária. Há cinco anos, Robson e sua esposa Rosane iniciaram uma proposta de igreja bem inovadora aqui na cidade, propondo repensar a ideia de culto a Deus, questionando a submissão à autoridade pastoral (todos somos ministros da obra divina), revendo práticas como o “apelo à conversão”, além do tradicionalismo religioso. E muitas destas iniciativas foram inspiradas nos excelentes estudos de Frank Viola, autor do brilhante livro “Reconsiderando o Odre”.

Confesso que, juntamente com as ideias do Frank Viola, tenho observado as propostas de diversos outros autores e blogueiros igualmente envolvidos com a desconstrução do conceito de Igreja. E, graças a essas oportunidades, pude romper com muitas prisões do fundamentalismo religioso, sendo que ainda continuo lutando em relação a determinados posicionamentos integrantes da minha formação cristã anteriormente elaborada desde a adolescência.

Atualmente, uma das coisas que eu busco é provar o conteúdo da mensagem bíblica em razão de minha consciência, procurando entender e dialogar com o texto ao invés de sair aplicando irrefletidamente o preceito. Só que este meu comportamento chega a surpreender até as pessoas que se envolveram com o tal processo de desconstrução dos conceitos religiosos. Principalmente para aqueles que buscam absolutizar a sua própria concepção da verdade e tropeçam sempre naquela velha falácia do argumento circular ou petição de princípio, ao utilizarem a mesma conclusão como premissa (algo como afirmar que isto ou aquilo seria errado simplesmente porque a Bíblia diz que é).

Ainda neste mês, estive participando num interessante debate sobre a alteridade no blogue “Confraria dos Pensadores Fora da Gaiola” em que o assunto acabou sendo direcionado para um detalhamento do tema principal. Falamos então sobre a aceitação da homossexualidade nas igrejas (tema sobre o qual ainda não tenho posições totalmente definidas).

Reiteradamente tentei explicar os meus motivos baseados na Bíblia segundo o qual ponderava ser pecado duas pessoas do mesmo sexo viverem numa condição análoga à conjugalidade, ainda que me posicionando favorável ao reconhecimento estatal da união estável homossexual. Então, um dos participantes, que também é o autor do artigo, compartilhou algumas palavras que me fizeram refletir ainda melhor sobre a maneira como tenho buscado me firmar na autoridade bíblica, baseando-se numa fantástica leitura das palavras de Jesus no célebre “Sermão da Montanha” (Mateus capítulos 5, 6 e 7):


“Agora, respondam-me com sinceridade: A igreja está preparada para aceitar um homossexual em seu meio, sem OPRIMÍ- LO? Como vocês definem o exercício da alteridade entre o HOMO e o HÈTERO, sem citar o bordão: “ A Bíblia diz...”, quando se sabe que a ALTERDADE diz: “ Eu porém vos digo...” ???”
(réplica do autor Levi Bronzeado aos comentários que fiz em seu artigo “Breves Considerações Sobre ALTERIDADE”, extraído de http://cpfg.blogspot.com/2011/07/breves-consideracoes-sobre-alteridade.html)


Esta colocação do instigante debatedor realmente me conduz a um caminho que considero mais apertado e estreito do que a larga estrada da bibliolatria onde a reflexão humana torna-se totalmente dependente das letras de um texto que se considera sagrado. Isto porque, ao renunciar à auto-pesquisa e à reflexão, o homem acaba cometendo um terrível suicídio intelectual e não encontra outro meio de respostas senão terceirizar as suas escolhas pessoais, permitindo que líderes eclesiásticos pensem por ele sobre o que vem a ser o certo e o errado, segundo a Bíblia.

Tenho pra mim que, se o Criador nos dotou da capacidade de pensar e refletir é porque o homem não deve se furtar ao estabelecimento de conexões lógicas entre as premissas e a conclusão do seu argumento, procurando aplicar uma leitura mais raciona às suas percepções, abandonando os dogmas religiosos que foram construídos por muitos séculos na história do cristianismo. Logo, o leitor consciente deve discernir cada texto bíblico e verificar se as coisas são, “de fato, assim”, tal como os crentes na cidade de Bereia.

Certamente que manejar a arte da dúvida em relação á Bíblia e buscar com avidez a essência do ensinamento da Palavra de Deus a ponto de romper com a rigidez daquilo que está escrito, não é tarefa fácil. Ainda mais quando recebemos uma formação que nos dificulta a olhar para dentro de nós mesmos, sem medo, nem máscaras, infantilidades, fantasias ou fugas, visto que, lamentavelmente, muitos de nós (inclusive eu) ainda estamos mais apoiados naquilo que muitos denominam de “crença na crença” ao invés de dependermos unicamente da mesma inspiração divina que um dia conduziu os profetas e demais autores das Escrituras.

Graças às contradições dos fatos da vida, os quais colocam em dúvida as dogmatizadas concepções religiosas, parece que Deus nos impulsiona a não tornarmos a razão dependente da literalidade bíblica, da tradição eclesiástica ou da autoridade teológica dos “doutores da lei”. Assim, ao invés de nos apegarmos às concepções absolutizadas da inalcançável Verdade, precisamos encarar o nosso neo-fobismo e mergulharmos fundo na auto-pesquisa. Devemos deixar de lado as decisões motivadas pela emoção e agirmos com mais racionalidade, dando lugar à inteligência evolutiva auto-consciente de seus erros, livre de culpas e com disposição a reparar o mal praticado semelhante à atitude de Zaqueu. Sempre com responsabilidade e maturidade ética que não esteja mais condicionada ao aprisionador sistema de recompensas e punições das religiões.

Que Deus possa acompanhe a Igreja em sua caminhada e ilumine os nossos olhos pela sua inspiradora instrução manifestada em cada consciência!

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Agressão ambiental na costa do Rio de Janeiro

Segundo mostra este vídeo publicado no Youtube, sob o título "Bota Fora - Denuncia: Agressão ambiental na costa do Rio de Janeiro", cuja autoria é atribuída aos pescadores profissionais e artesanais fluminenses, uma draga retira areia poluída da Baía de Guanabara e um navio despeja o material na costa de Niterói, em Itaipu, perto da praia.

Onde estão os órgãos ambientais nessas horas!? Quantos peixes e corais ainda vão ter que morrer até que os governos passem a se preocupar efetivamente com a fiscalização!?

Desejo que o Ministério Público tome providências afim de que esta grave agressão ambiental, ocorrida em Itaipu, seja investigada e os seus responsáveis punidos na forma da lei!

Não podemos deixar que os oceanos se transformem em imensos desertos aquáticos!

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Oseh Shalom

Compartilho esta alegre música desejando muita paz para o mundo.

Que massacres como o da escola em Realengo e, mais recentemente, na Noruega tornem-se futuramente uma página virada da história humana!

Como diz o tradicional cumprimento judaico: Shalom!

terça-feira, 26 de julho de 2011

Reflexões sobre um império em crise


O brasileiro que nunca visitou a Estátua da Liberdade (The Statue of Liberty) geralmente imagina algo tão imponente como o "Cristo Redentor" no Morro do Corcovado, na cidade do Rio de Janeiro. Porém, se observar de perto, o turista que visita Nova York pode verificar que o monumento erguido em 1886 pelo centenário da Declaração de Independência dos Estados Unidos vive mais é de aparência mesmo.

O mesmo também podemos dizer dos sistemas econômicos norte-americano e global em que a prosperidade dos países tornou-se ficcional, baseado numa ilusória ideia vendida a bilhões de pessoas no mundo. Aliás, quem conhece um pouquinho melhor os USA sabe muito bem que lá não é sempre como nos filmes, mas também existe pobreza, violência, serviços de saúde pública insatisfatórios, exploração do trabalho humano, pessoas drogadas, fundamentalismo religioso e discriminação ao estrangeiro. E aí o sonho de tentar a sorte na América pode virar um terrível pesadelo (e perpetuar o pesadelo de tantos outros povos explorados pelo sistema econômico dos norte-americanos).

Atualmente, vendo os Estados Unidos em crise, fico a meditar nesta passagem bíblica, extraída do livro do Apocalipse, em que o seu autor fala da queda da Babilônia, referindo-se evidentemente a Roma de seus dias:


"Depois destas coisas, vi descer do céu outro anjo, que tinha grande autoridade, e a terra se iluminou com a sua glória. Então, exclamou com potente voz, dizendo: Caiu! Caiu a grande Babilônia e se tornou morada de demônios, covil de toda espécie de espírito imundo e esconderijo de todo gênero de ave imunda e detestável, pois todas as nações têm bebido do vinho do furor da sua prostituição. Com ela se prostituíram os reis da terra. Também os mercadores da terra se enriqueceram à custa da sua luxúria. Ouvi outra voz do céu, dizendo: Retirai-vos dela, povo meu, para não serdes cúmplices em seus pecados e para não participardes dos seus flagelos; porque os seus pecados se acumularam até ao céu, e Deus se lembrou dos atos iníquos que ela praticou. Dai-lhe em retribuição como também ela retribuiu, pagai-lhe em dobro segundo as suas obras e, no cálice em que ela misturou bebidas, misturai dobrado para ela. O quanto a si mesma se glorificou e viveu em luxúria, dai-lhe em igual medida tormento e pranto, porque diz consigo mesma: Estou sentada como rainha. Viúva, não sou. Pranto, nunca hei de ver! Por isso, em um só dia, sobrevirão os seus flagelos: morte, pranto e fome; e será consumida no fogo, porque poderoso é o Senhor Deus, que a julgou." (Apocalipse 18.1-8; ARA)


De modo algum quero demonizar os Estados Unidos e menos ainda os cidadãos norte-americanos. Porém, não me incomodo em satanizar todo e qualquer sistema opressivo que promove a desigualdade social, a exploração dos mais pobres, o desrespeito à soberania dos demais povos, o belicismo e a destruição do meio ambiente. E, neste sentido, pode-se dizer que os USA deram continuidade às políticas imperialistas da velha Roma e de seus patrícios ingleses após as duas guerras mundiais no século XX. Poder meio do poderio econômico e até mesmo de intervenções militares nos governos de outras nações, a Casa Branca tem sido na verdade a sede de um neocolonialismo onde hipocritamente a liberdade individual e coletiva é considerada como um ícone de uma perversa ideologia mercadológica.

Semelhantemente o nosso Brasil também tem um sistema tão opressivo quanto o dos Estados Unidos, motivo pelo qual não é de surpreender que sejamos o quinto maior investidor da imensurável dívida norte-americana. Pois, ao invés do nosso governo investir na saúde e na educação, bem como melhorar as condições das estradas, construir uma infra-estrutura em transportes de massa, modernizar os precários portos e aeroportos, terminar logo os estádios de futebol para a Copa de 2014 (se bem que não deveríamos estar preocupados com isto agora) e combater a violência, lamentavelmente o nosso país está se prestando para tirar da crise um dos algozes da humanidade, aumentando em 30,9%, desde maio de 2010, a nossa aplicação em papéis que, futuramente, poderão nem mais ser pagos.

Certamente que muitos economistas vão questionar argumentos como o meu e eles têm lá seus discursos técnicos que tentam justificar investimentos deste tipo em meio às incertezas do mercado internacional. Contudo, prefiro tomar o ponto de vista de um cidadão brasileiro que sua a camisa o ano inteiro pra ganhar um miserável salário mínimo por mês, tem dificuldades de colocar seu filho numa boa escola, o seu dinheiro evapora quando vai ao supermercado fazer compras e precisa ficar horas na fila do SUS quando ele ou alguém de sua família fica doente, sendo ainda muito mal atendido pelos profissionais de saúde. E, só neste ano, o governo Dilma teve ainda a coragem de efetuar cortes financeiros no programa habitacional "Minha casa, minha vida", enquanto que um bom volume do nosso dinheiro permanece investido no exterior.


"Dois terços das reservas internacionais do Brasil são compostas por títulos da dívida dos Estados Unidos. Atualmente colocado como quinto maior investidor nesse tipo de papel, o país teve a segunda maior expansão de aplicação na dívida dos EUA em 2010 entre os dez maiores credores, segundo o Tesouro americano. No ano passado, o aumento brasileiro ficou atrás apenas da China. A informação foi divulgada na segunda-feira (18), em meio a negociações entre a Casa Branca e o Congresso dos EUA para ampliar o teto da dívida pública do país para além dos atuais US$ 14,3 trilhões. Embora enfrente resistência da oposição republicana, o presidente Barack Obama insiste em sensibilizar deputados para permitir a rolagem da dívida – emissão de novos títulos para honrar compromissos assumidos anteriormente. A aprovação precisa ser feita até 2 de agosto." (Fonte Agência Brasil - extraído de http://www.redebrasilatual.com.br/temas/economia/2011/07/brasil-teve-segunda-maior-expansao-na-compra-de-divida-dos-eua  )


Realmente não é este o tipo de economia que queremos, sendo também repugnante a solidariedade existente entre os países que participam do babilônico sistema mundial e o empenho que fazem para mantê-lo.

Sai dessa Babilônia, povo brasileiro!

Temos que recriar um mundo com valores onde a vida e a existência humana estejam acima de um sistema econômico que nada mais é do que um covil de políticos imundos e detestáveis. Algo que é podre, ilusório e opressor e nocivo para todos os povos. Inclusive para os próprios norte-americanos das classes média e pobre.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Como era o Jesus que nunca conhecemos?

"Pelo mar foi teu caminho, e tuas veredas pelas grandes águas; e as tuas pegadas não se conheceram" (Salmo 77.19; ARC)

Um dos livros que eu mais gosto é o "The Jesus I Never Knew" ("O Jesus que eu nunca conheci"), do autor estadunidense Philip Yancey, publicado no Brasil pela Editora Vida.

Usando o espírito investigativo de um escritor jornalista, Yancey percorre os passos de Jesus descritos nos Evangelhos, desde o seu nascimento até a cruz, e comenta sobre a imagem passada a respeito deste intrigante personagem bíblico a partir dos quadros e filmes.

O Jesus que cheguei a conhecer ao escrever este livro é muito diferente do Jesus sobre o qual aprendi na escola dominical. Em alguns aspectos, é mais confortante; em outros, mais aterrador”, afirma o autor. Assim, Yancey vem nos apresentar uma perspectiva nova e diferenciada da vida e da obra de Cristo, enfrentando esta forte indagação: Quem ele era e a que veio?

O texto do livro nem sempre é fácil de ser compreendido por qualquer leitor. Yancey não me parece um autor tão conclusivo, mas suas questões, às vezes paradoxais e que refletem as dúvidas de muita gente, desafia-nos a pensar e também repensar a moldura religiosa ainda congelada em nossas mentes a respeito de quem foi esse Jesus que não pudemos conhecer fisicamente aqui neste planeta.

Sem dúvida que a vida de Jesus é bem desconhecida. Há pessoas que chegam a duvidar de sua existência histórica, argumentando que as únicas fontes que falam a seu respeito seriam de origem cristã. Contudo, mesmo ateus, judeus, budistas, islâmicos e gente de outras religiões fora do cristianismo interessam-se por este polêmico personagem dos Evangelhos. Autores escrevem as mais surpreendentes teses relacionadas a Jesus, inclusive de que ele tivesse andado pela Índia antes de iniciar o seu ministério como pregador itinerante por volta dos 30 anos de idade.

Neste ano, comecei a ler um outro livro, "Onde a Religião Termina?", do ex-frei católico Marcelo da Luz. Um dos motivos que me levou a adquirir a obra foi pelo meu interesse de pesquisa pessoal sobre o Jesus histórico. E acabei lendo-o desde o começo e, quando cheguei no capítulo 5, que fala especificamente sobre o que eu esperava encontrar, decepcionei-me com as afirmações do autor e acusações feitas por ele à obra de Jesus. Então resolvi entrar em contato por e-mail reclamando das coisas que constava num "'Tolicionário' cristológico", escrevendo-lhe estas palavras:


"Prezado Marcelo (...) penso que primeiramente não podemos tomar como autênticas rodas as citações atribuídas a Jesus nos evangelhos, principalmente no de João. Eu entendo que os evangelhos são verdadeiros quebra-cabeças onde realidade mistura-se com ficção e onde doutrinas da Igreja sobrepõem-se à história real de Yeshua, o judeu que viveu nas três primeiras décadas do século I. Pra mim não foram os apóstolos ou discípulos da primeira [geração] quem escreveram os evangelhos, os quais, provavelmente, surgiram no século II, sendo que até as informações acerca dos "pais da Igreja" podem ter sido inventadas por Eusébio no século VI. Sendo assim, eu considero precipitadas as conclusões tiradas sobre Jesus em seu livro, não sendo possível afirmar que ele aceitasse receber adoração das pessoas, coisa que seria blasfematório na cultura judaica. Além do mais, o sentido e as características das palavras atribuídas a Jesus nos sinóticos não levam necessariamente às conclusões que colocou como "imaturidade". De qualquer modo, penso que, por não conhecermos suficientemente a vida e o ensino de Yeshua, prefiro restringir minhas críticas apenas à idealização de Cristo feita pela Igreja que até hoje encobre o lado humano deste personagem (...)"


Doze dias depois, o autor me respondeu admitindo a "diferença entre o Jesus histórico e o Cristo da fé" e que este aspecto encontra-se exposto no próprio capítulo 5 do seu livro e me escreveu o seguinte:


"Caro, Rodrigo (...) O "tolicionário" não supõe que as frases citadas sejam do Jesus histórico, o que seria ingenuidade. Tolicionário cristológico refere-se aos ensinamentos falaciosos atribuídos a Cristo, entendido aqui como o mito construído por gerações de seguidores e documentados nos evangelhos (e diferente, portanto do Jesus histórico). O mais provável é que Jesus não tenha atribuído a si mesmo a condição divina (isto também está claro no capítulo 5). Entretanto, tamanha idealização da sua imagem, feita pelas gerações posteriores devem ter encontrado alguma base na pregação original do Nazareno (demagogia, fanatismo apocalíptico, taumaturgia...). O fato é: o que temos documentado (Novo testamento) é a produção do mito. O homem por trás do mito (Jesus histórico) é desconhecido e 250 anos de pesquisas cristológicas não trouxeram informação histórica suficiente. Você pode depositar toda sua fé e esperança num desconhecido. Sou obrigado a respeitar isso. Meu único escopo no capítulo 5 foi dizer, respeitosamente, que tal escolha é irracional e injustificada (...)"


Este trecho do e-mail que recebi, levou-me ao enfrentamento desta indagação:

Você pode depositar toda sua fé e esperança num desconhecido?

Certamente que, se a fé estivesse fundamentada em provas históricas a respeito de Jesus, não haveria espaço para ela. Ou melhor, ela nem existiria porque "a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem" (Hebreus 11.1; ARC).

Ora, se os evangelistas tivessem se limitado a compor um relato histórico sobre Jesus, ao invés de romancearem a sua obra com a finalidade de propagandear uma mensagem, que fé eles teriam despertado nos leitores? Como posso transmitir fé a alguém se o meu relato não estiver carregado de subjetividade e de sentimentos pessoais?

É neste sentido que hoje eu encaro numa boa a tão comentada "mitologização" de Jesus feita nos Evangelhos da Bíblia e o ponto de vista de quem escreveu esses livros antigos e anônimos, mesmo décadas depois dos fatos neles narrados.

Meus olhos podem não ter visto Jesus e nem as minhas mãos apalpado-o, mas o meu coração sentiu o Verbo da vida, a qual para mim se manifesta e dela testifico, de modo que posso anunciar a vida eterna que estava com o Pai.

Certamente que, mesmo aqueles que viram e tocaram em Jesus jamais teriam conhecido a revelação da vida eterna se os seus corações não tivessem sido abertos para a maravilhosa essência do seu ser.

Assim também ocorre nos dias de hoje em que Jesus continua sendo pregado nas igrejas, nas células, nas ruas, na TV, na internet e nos demais meios de comunicação. Só iremos conhecer o Messias, salvador do mundo, quando sinceramente nos envolvermos com ele, estivermos dispostos a praticar o amor e procurar Cristo na pessoa do nosso próximo necessitado. Pois, como nos ensina a parábola de Mateus 25.31-46, quando concedemos algo de bom a um pequenino nesta terra é a Jesus que estamos fazendo.

Posso dizer que a cada dia tenho uma nova oportunidade de conhecer melhor a Jesus. E estas oportunidades ocorrem com a prática devocional e do amor, quando de espírito aberto meditamos sobre ele e experimentamos o relacionamento com o próximo, sendo que é isto que realmente importa porque as investigações sobre o Jesus histórico e as doutrinas eclesiásticas mentalmente construídas apenas nos afastam deste propósito.

Que Jesus seja real na sua vida!

Tenha um excelente final de semana!


OBS: Imagem extraída do site http://lifeondoverbeach.wordpress.com/2011/06/10/philip-yancey-on-what-american-churches-have-become/

terça-feira, 19 de julho de 2011

Itamar foi um dos melhores presidentes deste país!


Perdemos no começo deste mês o primeiro presidente que governou o país na era democrática, após o fim do regime militar - Itamar Augusto Cautiero Franco (1930-2011).

Pela ordem natural das coisas, deveria ter sido o Sarney, por ser uns dois meses mais velho, mas a vida resolveu levar o Itamar primeiro e aí o que se deve fazer é agradecermos pelos seus feitos e por ter administrado muito bem este país depois do impeachment de Fernando Collor de Mello.

É certo que Itamar governou por pouco tempo, cerca de dois anos, se comparado com o atual mandato dos últimos presidentes (Fernando Henrique e Lula) que permaneceram por oito anos no poder devido à re-eleição. No entanto, se considerarmos que a Constituição Federal tinha apenas seus quatro anos de existência quando ele assumiu, sem dúvida que o seu governo foi um dos mais democráticos e que poderia ter contado com a participação de todas as forças políticas, inclusive do PT, se este partido não tivesse agido com tamanho sectarismo na ocasião em que a Luiza Erundina foi nomeada para a pasta do Ministério do Trabalho.

De fato a atuação política de Itamar vem de longa data. Antes mesmo da ditadura militar, ele fez parte do PTB de Vargas e, durante a repressão, filiou-se ao antigo MDB que se opunha ao autoritário regime dos generais, tendo ele atuado sempre nesta linha. E o cargo que mais ocupou foi o de senador, apesar de ter sido também eleito prefeito da cidade de Juiz de Fora e governador do estado de Minas Gerais.

Muitos dizem que o Plano Real foi a melhor realização de seu governo. Eu, porém, não considero porque a estabilização monetária, consistente no combate à inflação alta, fazia parte de uma tendência mundial dos anos 90 em que cada país estava aderindo a um modelo de economia de inspiração neoliberal onde a receita do bolo já estava pronta. Aliás, tenho pra mim que, nesta área, Itamar foi de certo modo omisso porque deu carta branca para FHC agir conforme os direcionamentos dados pelo FMI e o Banco Mundial.

Contudo, eu não bateria no Itamar por isto. Ele tomou a sua posição de ex-vice do Collor num momento de incertezas políticas, procurando atender à toda a sociedade e permitindo que o seu governo fosse o resultado das forças que tivessem um maior poder de pressão. Inclusive, o Brasil teve até boas relações com Cuba durante o seu breve período, se comparado com o governo FHC e Sarney.

Dentro da área social, o governo Itamar foi brilhante em tomar a iniciativa de combater a fome através de uma campanha liderada pelo sociólogo Herbert José de Sousa, o Betinho. Pode-se dizer que a "Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida" foi o embrião do "Fome Zero" implantado pelo governo Lula.

Durante o tempo em que morava em Juiz de Fora, tive a oportunidade de estar com o Itamar na época em que ele era presidente. Lembro do protesto ocorrido em frente ao Cine-Theatro Central, durante um show do cantor Caetano Veloso na cidade, onde a produção do evento recusava-se a cumprir a lei da meia-entrada para estudantes portadores da carteirinha da UNE e da Ubes. E o Itamar estava lá. Quando saiu, recebeu os jovens durante a entrevista dada por ele à imprensa, respondendo amigavelmente às nossas reivindicações com todo respeito aos manifestantes e à democracia.

Apesar do Plano Real ter sido responsável pelo seu alto índice de aprovação de 84%, quando deixou a Presidência, bem como pela eleição vitoriosa de Fernando Henrique Cardoso em 1994, considero que a manutenção e o desenvolvimento da democracia foi a maior marca do seu presidente, além de não ter ocorrido nenhum escândalo grave de corrupção.

Sem dúvida que existiram outros presidentes, como Getúlio e JK, que tiveram muito mais feitos do que o Itamar, mas não acho que este deva ser o melhor critério de avaliação de um governante. A atuação em momentos críticos, a ética, a capacidade de ouvir a sociedade e de buscar soluções para os problemas devem ser pontos para considerarmos numa análise.


OBS: A imagem acima foi extraída da Biblioteca da Presidência da República em http://www.biblioteca.presidencia.gov.br/ex-presidentes

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Um manual de vida para o brasileiro do século XXI

O século XX foi um tempo marcado por grandes conquistas científicas e pela desconstrução de importantes valores que sustentaram a sociedade ocidental por mais de um milênio. Houve sangrentas guerras, revoluções, regimes autoritários e diversos conflitos violentos, mas não podemos deixar de considerar que todos estes acontecimentos vieram acompanhados dialeticamente da promoção dos direitos individuais, sociais e políticos, solidificando os ideais sonhados pelos filósofos iluministas do século XVIII.

Por outro lado, todo este processo de desconstrução levou o Ocidente a uma perda de raízes, fragilizando a sociedade para lidar com maturidade quanto aos assuntos do seu cotidiano. O afastamento da religião do poder secular e do sistema educacional moderno fez com que os ensinamentos de vida baseados na Bíblia ficassem restritos às esferas do lar e eclesiástica, quando uma família segue a orientação religiosa, de modo que a escola de hoje tem suas atividades absorvidas pelo despejo de um conteúdo informativo nas mentes dos alunos, incapaz de formar cidadãos. Principalmente no nosso tão desmantelado Brasil.

Enquanto isto, no Oriente, os livros sagrados e as práticas religiosas não se acham separados da vida em sociedade, mas influenciam toda a cultura desses povos onde jamais ocorre uma compartimentação da realidade (o sagrado e o secular formam uma unidade). Em muitos desses muitos desses países, as crianças aprendem desde cedo a lidarem com as suas emoções e desejos através da meditação, das artes marciais e da aplicação do ensino sapiençal. Mitos, metáforas, enigmas, narrativas, pensamento imagístico e provérbios integram o dia a dia do homem oriental, mantendo presente as suas tradições herdadas dos antepassados. E isto se vê mesmo nas sociedades modernas como Japão e Israel onde o povo busca integrar vida e conhecimento.

Contudo, livros sagrados estão se tornando cada vez mais estranhos para os ambientes cultos do homem ocidental que faz uma separação entre o espiritual e o secular. Mesmo a Bíblia cristã é até hoje mal compreendida. E aí o que as pessoas comuns acabam absorvendo dela muitas das vezes é a interpretação dada pelos seus líderes, visto que há passagens que requerem um senso poético e um grau de conhecimento mais elevado, envolvendo mais compreensão da história. Então, aquilo que padres e pastores falam na igreja vira lei. Sem falar que, por ser considerada uma obra de cunho religioso, a Bíblia não é aceita como fonte de autoridade pela sociedade inteira.

Foi refletindo sobre estas questões que tenho pensado em propor o projeto de um livro cujo texto seja escrito numa linguagem atual e se aplique aos problemas do nosso cotidiano, tornando-se um manual de consulta para toda a vida. Algo que seria apresentado à criança antes da alfabetização, ensinado em todas as séries escolares, reverenciado pelas instituições públicas como um símbolo da pátria e serviria para toda a vida adulta do indivíduo até sua morte.

Assim, nos momentos de sofrimento e de dificuldades, o leitor encontraria consolo nas páginas deste livro. Casais contariam com ensinamentos para manter a aperfeiçoar o relacionamento conjugal. Pais achariam ali um apoio para a educação dos filhos. E, afim de trabalhar as tensões emocionais das pessoas, estas seguiriam os exercícios de relaxamento, reflexão e auto-conhecimento.

Por sua vez, a cosmoética seria trabalhada constantemente no livro, instigando a racionalidade, o remodelamento do self sem incutir culpas, do incentivo à responsabilidade pessoal e coletiva, bem como da reverência pela vida como valor elevado que deve ser contemplado nas dimensões social e ambiental. Ao invés de basear-se em dogmas ou afirmações que tentam absolutizar a verdade, o livro estaria permanentemente aberto à mudanças através da refutação, do estímulo à pesquisa e ao debate entre os leitores.

Outras coisas que o livro também trabalharia seriam a consciência política e cidadã, o amadurecimento da democracia, o respeito pelo meio ambiente dentro da visão de reverência pela vida, a inclusão social, a construção de uma economia cooperativista e o combate à pobreza. A vida comunitária iria ser tratada como um precioso fato social e que requer a participação atuante e consciente das pessoas afim de que a coletividade humana possa desfrutar de uma melhor qualidade de vida. E aí a pluralidade seria sempre bem vinda e instigada.

Sem nenhuma pretensão de compor um livro sagrado que venha tomar o lugar das tradições já existentes, proponho algo que possa também ser manejado tanto pelas religiões como pelas escolas. Aliás, a minha ideia é buscar em passagens bíblicas capazes de enriquecer também o conteúdo junto com frases de filósofos, poemas da literatura de língua portuguesa, vários ditos proverbiais da cultura popular, letras de músicas, narrativas romanceadas sobre a história da humanidade e do Brasil capazes de transmitir ensinamentos de vida, além de trechos escritos por outros autores. Tudo numa linguagem bem didática e acessível.

Certamente que esta ideia ainda é um projeto aberto e que requer a contribuição e a participação de várias pessoas para ser executado. Colaboradores com diferentes aptidões iriam se unir para escrever uma carta de amor ao povo brasileiro, com o comando de que uma geração vá transmitir o conhecimento para outra. Assim, os tutores esboçariam o cânon desta “bíblia secular”, definindo os temas, a bibliografia que será consultada e a seleção de passagens das escrituras sagradas que não tornem o livro místico. Depois é só criar uma sociedade sem fins lucrativos para compor a obra, publicá-la, divulgá-la, atualizá-la e trabalhar para que, dentro de algumas décadas, ela venha a ser oficializada pelo Estado brasileiro.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Shir lamaalot: o Salmo 121

Que nos momentos críticos das nossas vidas possamos recitar o Salmo 121 e buscar forças em Deus!

Segue um maravilhoso vídeo onde este poema é cantado no seu idioma original, em hebraico:

domingo, 10 de julho de 2011

Lutando contra a ansiedade


"Por isso, vos digo: não andeis ansiosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer ou beber; nem pelo vosso corpo, quanto ao que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento, e o corpo mais do que as vestes? Observai as aves do céu: não semeiam, não colhem, nem ajuntam em celeiros; contudo, vosso Pai celeste as sustenta. Porventura, não valeis vós muito mais do que as aves? Qual de vós, por ansioso que esteja, pode acrescentar um côvado ao curso de sua vida? E por que andais ansiosos quanto ao vestuário? Considerai como crescem os lírios do campo: eles não trabalham, nem fiam. Eu, contudo, vos afirmo que nem Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles. Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, quanto mais a vós outros, homens de pequena fé?" (Evangelho de Mateus 6.25-30; ARA)


No mais longo discurso de Jesus registrado na Bíblia, o Sermão da Montanha, é abordado o tema da ansiedade, o que, até hoje, é um problema bem atual e tem sido diagnosticado cada vez mais na sociedade, onde muitas pessoas estão vivendo no limite da resistência emocional, cansadas e extremamente irritadas.

Neste final de semana, após ter participado de mais um encontro do grupo Celebrando a Recuperação, na Igreja Batista da Serra, refleti sobre a relação muito próxima que existe entre o medo e o comportamento ansioso desenvolvido por nós. Ou melhor, sobre o medo ser causa da ansiedade.

Na citação bíblica acima, Jesus orienta seus ouvintes a não viverem ansiosos quanto às coisas relacionadas ao sustento diário e às vestimentas, o que tinha a ver com as mais comuns preocupações do homem da Palestina em sua época.

No entanto, se analisarmos cuidadosamente este trecho do discurso de Cristo, compreenderemos que as preocupações com a comida e o vestuário são resultado mesmo do medo. Isto é, do medo de não ter amanhã nada para comer, beber e cobrir o corpo...

Ao que me parece, este tipo mais comum de ansiedade, que não chega a ser tão patológico quanto outros casos mais graves, faz parte do drama de muita gente dos nossos dias. Tanto aqueles humildades pescadores do Mar da Galiléia, quanto o homem moderno com seus automóveis e casas cheias de produtos tecnológicos, têm em comum o desperdício inútil de energia com as necessidades e os compromissos do dia seguinte, ao invés de depositarem sua confiança na Divina Providência. Indagar se vou conseguir passar num concurso, ou, se terei dinheiro para pagar a prestação da Caixa Econômica Federal que vencerá no próximo mês, no fundo é a mesma aflição quanto ao êxito da próxima pescaria nas águas do Tiberíades.

Interessante é que, no seu discurso, Jesus nos leva a duvidar do comportamento ansioso que desenvolvemos dentro da nossa mente problemática. Ali, o Mestre fala sobre o sustento das aves, a beleza dos lírios do campo, e nos faz pensar sobre a inutilidade de se cultivar preocupações: "Qual de vós, por ansioso que esteja, pode acrescentar um côvado ao curso de sua vida?" (verso 27)

É inútil mesmo viver com ansiedade! Não ganhamos nenhum minuto a mais na nossa existência. Só perdemos tempo!

Certamente que há outros medos além da preocupação com o sustento pessoal ou o cumprimento de obrigações, os quais o Sermão da Montanha não chegou a tratar especificamente. Uns sentem medo de ficar só. Outros de serem desmascarados por uma falta cometida no passado. E ainda existem casos de pessoas que criam dentro de si as mais absurdas fobias a ponto de não saírem mais de casa temendo que possam ser assaltadas, sofrer acidentes, passar por um aborrecimento, etc.

Mas como superar isto? Existem soluções?

Penso que, nos casos mais graves, onde a ansiedade chega a nos paralisar, sempre é importante procurar a ajuda de um profissional como o psicólogo, afim de que possamos identificar as causas do transtorno. E a pessoa que busca um tipo de ajuda dessas é de fato bem corajosa porque está disposta a se descobrirem, encarem seus medos, aceitarem a si mesmas e assumir as responsabilidades pela própria vida. E estas coisas têm a ver com um tipo de descoberta que apenas o próprio paciente pode fazer para poder se posicionar, visto que as sessões de terapia só vão ajudar no processo de tomada de consciência.

Outrossim, entendo que é muito mais difícil enfrentarmos os nossos problemas sem Deus. No conhecidíssimo Salmo 23, o poeta assim manifesta a sua fé:

"Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte; não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo; o teu bordão e o teu cajado me consolam" (verso 4; ARA).

Em outra passagem, o autor bíblico escreve aos seus destinatários que eles devem lançar sobre Deus toda a ansiedade deles, "porque ele tem cuidado de vós" (1Pe 5.7; ARA).

Já o apóstolo Paulo, na carta dirigida à igreja de Filipos, recomenda a oração como uma prática saudável para lidarmos com a ansiedade, mediante a apresentação de pedidos, com gratidão:

"Não andeis ansiosos de coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graça. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus" (Fp 4.6-7; ARA)

Como se vê, a fé pode contribuir em muito para que possamos levar uma vida saudável. Entregar a Deus os nossos problemas e crer nos cuidados que o Pai Eterno tem para conosco certamente proporcionará uma excelente qualidade na sua existência.

Tenha uma ótima semana, colocando-a nas mãos de Deus.


OBS: A ilustração acima trata-se do célebre quadro "Sermão da Montanha" do pintor dinamarquês Carl Heinrich Bloch (1834-1890), o qual refere-se ao longo discurso de Jesus que se encontra nos capítulos 5, 6 e 7 do Evangelho de Mateus. Durante sua vida, Carl chegou a ser contratado para produzir vinte e três pinturas para a Capela do Palácio de Frederiksborg, em que várias cenas sobre a vida de Cristo tornaram-se populares ilustrações. Segundo informações encontradas na Wikipédia, os originais, pintados entre 1865 e 1879, ainda estão no Palácio de Frederiksborg. Os retábulos podem ser encontradas em Holbaek, Odense, Ugerloese e Copenhague, na Dinamarca, bem como Loederup, Hoerup e Landskrona, na Suécia.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Sementes de Amor


"E não nos cansemos de fazer o bem, pois no tempo próprio colheremos, se não desanimarmos" (Gálatas 6.9; NVI)

Assim que eu e Núbia nos mudamos para o condomínio onde moramos, em agosto de 2006, uma família de moradores demonstrou o gentil gesto de trazer as nossas correspondências.

O nosso prédio é uma pequena comunidade de apenas sete apartamentos. Não tem porteiro, funcionários e nem elevador. Eu e minha esposa moramos numa simples cobertura, no quinto andar, havendo ao lado um terraço que é uma área comum do edifício. Do segundo ao quarto andar são duas unidades habitacionais por cada pavimento e a entrada, no térreo, resume-se a um apertado corredor onde não é possível instalar nenhuma caixa coletora de correspondências sem comprometer a abertura total do portão nos dias de mudança. Então, quando os funcionários dos Correios passam, eles simplesmente jogam as cartas no chão do edifício.

Por várias vezes, ao sair de casa, surpreendi-me ao encontrar as minhas correspondências nas escadas entre o quarto e o quinto andar, colocadas pelo morador do apartamento de baixo. Só que, no começo, quando eu chegava da rua e me deparava com as cartas dos moradores despejadas na entrada do prédio, limitava-se apenas a pegar as que fossem destinadas a mim e a minha esposa no meio das outras que permaneciam perto do portão, com risco de serem pisadas ou extraviadas. Porém, com o passar do tempo, fui me sentido constrangido a retribuir a gentileza do vizinho e fui tomando também a iniciativa de subir as escadas distribuindo as correspondências pelos respectivos apartamentos.

Tal coisa me faz pensar sobre os efeitos das boas e más ações praticadas no planeta. Tanto as grandes como as pequenas. E ainda sobre como que o mal pode ser combatido com o bem.

Num mundo onde a batalha entre o bem e o mal é travada no nível das consciências das pessoas, o uso violento da força não tem nenhum efeito positivo para criar um futuro melhor. Contudo, as palavras e ações tornam-se as armas verdadeiramente capazes de incentivar o próximo a caminhar conosco numa direção construtiva (assim como nós podemos ser influenciados pelo que o outro faz).


"Finalmente, fortaleçam-se no Senhor e no seu forte poder. Vistam toda a armadura de Deus, para poderem ficar firmes contra as ciladas do Diabo, pois a nossa luta não é contra seres humanos, mas contra os poderes e autoridades, contra os dominadores deste mundo de trevas, contra as forças espirituais do mal nas regiões celestiais. Por isso, vistam toda a armadura de Deus, para que possam resistir no dia mau e permanecer inabaláveis, depois de terem feito tudo." (Efésios 6.10-13; NVI)


Esta citação bíblica acima, atribuída a uma das epístolas do apóstolo Paulo, reflete a cosmovisão mística dos primeiros séculos da era comum fortemente influenciada pela astrologia. Na época, acreditava-se que o universo e os astros fossem governados por forças espirituais, as quais influenciavam a vida na Terra. E a maneira como os homens poderiam ser controlados por esses espíritos malignos das "regiões celestiais" seria através da prática do mal.

Ao falar poeticamente das armas do bem, dando continuidade ao tema do "combate espiritual", o autor do texto bíblico exorta os seus destinatários a terem "os pés calçados com a prontidão do evangelho da paz" (verso 15).

Ora, evangelizar significa antes de mais nada anunciar boas notícias que se traduz também por transmitir mensagens positivas (não é apenas pela boca ou com a escrita que nos comunicamos). É algo que não se confunde com doutrinações teológicas e nem com o saber histórico a respeito da biografia de um personagem, mas tem a ver com uma esperançosa promessa pacificadora do futuro e a transformação interior de cada ser humano. Logo, a vida de Jesus, quando contada para demonstrar o amor, torna-se o maior símbolo da evangelização e a sua razão.

Acredito que o maior desafio do momento é transformar o nosso viver em uma autêntica e transcendente narrativa evangelística, a qual é incapaz de ser contida pelos livros. Ao abraçarmos a prática do amor, adotando-a no cotidiano e nas nossas relações pessoais, estamos semeando coisas boas nos corações dos homens e que, a seu tempo, vão gerar frutos. E estes, por sua vez, poderão retornar para nós ou para abençoar a vida do próximo numa surpreendente quantidade capaz de compensar as sementes caídas sobre a terra seca e infértil, ou as que se dispersaram pelo caminho e foram comidas pelas aves, como diz a célebre parábola dos Evangelhos*.

Mesmo que a dialética da história às vezes nos confunda, tenho fé de que algum dia este planeta se encherá de amor. Se receberei retribuição nesta vida, pouco importa. Mas só a opção pelo bem já vale a pena e dá um valoroso significa à minha existência.

OBS: A Parábola do Semeador pode ser lida em Mateus 13.3-9, Marcos 4.3-9, Lucas 8.5-8 e também em Tomé 9. É umas das poucas metáforas dos Evangelhos que são acompanhadas da explicação. Esta encontra-se em: Mateus 13.18-23, Marcos 4.13-20 e Lucas 8.11-15. Baseando-se no dia a dia dos pequenos lavradores da Palestina, Jesus ensina valores espirituais falando sobre quatro situações ocorridas com o semeador. Cada porção cai em um tipo de solo: à beira do caminho, em solo pedregoso, entre os espinhos ou na terra fértil. E, apenas as sementes cultivadas em terra boa dão fruto. Pode-se dizer que a "semente" seriam as boas novas comunicadas pelos seguidores de Jesus enquanto que o solo semeado o coração do ouvinte, ou a sua reação à Palavra.

sábado, 2 de julho de 2011

Por que nós temos medo?

Podemos facilmente perdoar uma criança que tem medo do escuro; a real tragédia da vida é quando os homens têm medo da luz”. (Platão)

Mais difícil do que alguém dizer quais são os seus temores é tentar responder (ou entender) por que sente medo. Contudo, pode-se propor também a seguinte indagação:

Será que o nosso medo é algo real ou se trata de mais uma desculpa para permanecermos na situação na qual nos encontramos?

A frase do filósofo grego Platão (séculos V e IV a.E.C.), citada acima, fala sobre o “medo da luz”. E, quanto a isto, no Evangelho de João, há uma interessante passagem que diz o seguinte:


O julgamento é este: que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz; porque as suas obras eram más. Pois todo aquele que pratica o mal aborrece a luz e não se chega para a luz, a fim de não serem argüidas as suas obras. Quem pratica a verdade aproxima-se da luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque feitas em Deus.” (Jo 3.19-21; ARA)


Creio que este é o inevitável julgamento que a vida nos impõe: admitirmos para nós mesmos qual a exata natureza de nossas ações, deixando de lado o auto-engano (aproximar-se da “luz”). E, inegavelmente que tal clareamento vai produzir em nós uma transformação em essência. Isto porque o confronto com quem realmente somos mostra onde se encontram as fragilidade de cada um, aquelas feridas ainda não cicatrizadas e que estão bem lá no banco de dados da memória, mas que nós ainda recusamos a tratar.

Pode-se dizer que, neste sentido, a palavra transformação (trans-formação) significa ir além de uma forma (ou de uma fôrma). E para tanto é preciso estar disposto a não ser mais o mesmo sujeito travado, preso no seu comportamento vicioso e que não se importa com os maus hábitos e as compulsões.

A isto respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus.” (João 3.3; ARA)

Comparar a transformação da essência de nossas vidas com um “novo nascimento” traduz-se para mim como uma metáfora formidável quanto ao processo de mudança, o qual poderá ser tão impactante quanto um parto na vida de um bebê, capaz de provocar-lhe o choro característico em decorrência da entrada do ar nos seus pulmões. Porém, é uma condição necessária para vermos o “Reino de Deus” na nossa vida e assim desfrutarmos, aqui mesmo na Terra, uma experiência autêntica lidando melhor com o nosso eu.

Outrossim, o processo de transformação requer tempo através de um contínuo esforço pessoal afim de superarmos os nossos maus hábitos, os sentimentos doentios e os relacionamentos disfuncionais. Assim, se alguém sofre de compulsão alimentar, por exemplo, não vai ser de uma hora para outra que a pessoa tomará consciência de que o seu vício pode decorrer de uma tentativa errada de suprir carências emocionais e mais ainda sobre como ela vai aprender a lidar com as suas necessidades afetivas causadoras da sua compulsão.

Cabe aí um parênteses. Devemos compreender que cada um tem o seu próprio momento para o despertamento da consciência. Logo, é impossível a estipulação de um prazo para A, B ou C, bem como um indivíduo conseguir mudar o outro, fato que deve servir de impedimento para julgarmos o nosso semelhante conforme as experiências do próprio aprendizado.

Entretanto, é muito melhor quando podemos encarar o nosso drama com o apoio das outras pessoas sem gerar uma co-dependência patológica. E daí a importância de se procurar um grupo ou até mesmo um profissional durante a nossa caminhada. Então, fazer parte de uma comunidade realmente interessada em desenvolver a espiritualidade, sem alimentar ilusões ou fugas emocionais, pode contribuir em muito através de um ambiente amoroso e de compreensão mútua onde se torne possível compartilhar com segurança as nossas fraquezas recebendo do irmão o devido encorajamento.

Deve-se ressaltar que um grupo de apoio não se confunde com as falidas instituições religiosas. O espaço de uma igreja pode até servir para que pessoas comecem a se encontrar com um propósito verdadeiro de espiritualidade assim como o local das nossas casas e as reuniões do AA. E o ambiente necessário para que cada um possa falar de si mesmo em nada tem a ver com os “cultos” e “missas” que são celebrados por aí.

Finalmente, algo que não pode deixar de ser trabalhado em nossos corações é a confiança em Deus. Junto com o esforço pessoal, torna-se fundamental colocar a fé em ação, pedindo força ao Poder Superior pela via da oração sincera. Pois é o Eterno quem nos capacita a vencer todos os desafios que surgem pela frente.

O SENHOR é quem vai adiante de ti; ele será contigo, não te deixará, nem te desamparará; não temas e nem te atemorizes.” (Deuteronômio 31.8; ARA)

Portanto, não tenha medo. Descubra as reais motivações do seu temor e enfrente-as decisivamente!


OBS: A ilustração acima refere-se à obra de Maria Yakunchikova, "Fear" ("Medo"), feita entre os anos de 1893-1895.