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quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Um começo de verão não muito quente, porém chuvoso


Muitos falam que em Nova Friburgo faz as quatro estações do ano num mesmo dia. Porém, mesmo havendo uma certa dose de exagero neste comentário, de fato o tempo daqui é bem instável. E, com o aquecimento global e as mudanças que vêm ocorrendo no planeta, a tendência do nosso clima na região serrana é oscilar também.

Nestes primeiros dias do ano, tem chovido cotidianamente e isto faz cair um pouco a temperatura. Eu e Núbia temos dormido de cobertor até agora e, quando estou em casa, às vezes fico de meia e até chego a colocar um casaco simples. Já a minha sogra, que veio de Niterói com minha cunhada Sandra passar o Reveillon conosco aqui na serra, passa uma boa parte do tempo enrolada na coberta enquanto assiste TV na sala.

Não vou dizer que estranho este acontecimento pois me recordo razoavelmente dos verões passados de Nova Friburgo e sei que esfriamentos como este podem muito bem acontecer em épocas do ano como esta. Inclusive, já houve vezes em que o verão só chegou mesmo lá para meados de fevereiro e março, prolongando os dias de calor até o mês de abril.

Entretanto, os dias frios de verão não se comparam com aquelas madrugadas geladas do inverno. Recordo quando era preciso aquecer a cama com quatro cobertores, mas ainda assim o corpo demorava para se ressentir do frio. E, se no inverno tinha vezes que nem a calça de moletom era suficiente, certamente que nada se compara a este calorzinho tímido do verão em que posso ficar tranquilamente de bermuda, embora passe a maior parte do tempo de meia e agasalhando o peito.

Em que pese a friagem que a chuva trás, não seria tecnicamente correto afirmar que a temperatura estaria mais baixa porque seria um grande equívoco. Na verdade está é mais quente pois, mesmo que os termômetros marquem menos dos 20ºC aqui na cidade, deve-se considerar que o aumento dessas chuvas de verão está relacionado justamente com o aquecimento global.

Mês passado (dezembro/2010), houve dias em que a minha rua chegou aficar inundada por alguns instantes durante as chuvas fortes. E, segundo já me contaram, seria por causa de uma suposta obstrução nos bueiros causada pela companhia telefônica de modo que as águas que vêm de dois bairros acima não seriam totalmente absorvidas pela rede e chega a inundar as calçadas entrando nas lojas e nas portarias dos edifícios. Aí, quando a chuva diminui, as coisas voltam ao normal em alguns minutos.

Entretanto, a situação da minha rua em nada se compara com os problemas dos moradores das áreas de risco que são sujeitas a enchentes nas margens de rios e deslizamentos de terra em locais próximos às encostas dos morros.

No mês de janeiro de 2007, Nova Friburgo passou por maus pedaços com as chuvas de verão. Houve mortes, alagamentos e muitos desabamentos. Naquele ano, um cliente meu teve destruída a casa onde residia no bairro Vale dos Pinheiros e, por pouco, ele não se encontrava no morro que foi levado pela avalanche de terra que desceu morro abaixo atingindo a casa. Então, por causa disto, ele perdeu parte de sua mobília e do material de trabalho que necessitava para trabalhar, de modo que até agora ele está processando a Prefeitura pela omissão do Poder Público.

Por estes dias assisti na TV a mais uma tragédia ocorrida em Petrópolis e desejo que, em 2011, os episódios de quatro anos trás não se repitam aqui em Nova Friburgo e nas outras cidades. Só que não podemos negar a nossa falta de adaptação a uma região originalmente coberta pela úmida floresta tropical de altitude, com altos índices de pluviosidade (um dos motivos da exuberância de nossas matas), mas que sofreu supressão da vegetação nativa para a construção de cidades e estradas.

Com tantas mexidas no meio ambiente, é de se esperar que as constantes quedas de barreiras e as cheias dos rios sejam uma resposta da natureza à ignorância do homem, o que acaba trazendo enormes prejuízos econômicos e a inestimável perda de vidas humanas. E, infelizmente, os governos ainda não lidam com a natureza de maneira harmônico e fazem dos desastres ecológicos um motivo para gastar mais dinheiro com coisas ineficazes.

Enquanto que os alemães estão quebrando os muros de concreto dos rios, afim de revitalizar as suas margens, os governos municipal e estadual têm gastado rios de dinheiro desde o final do século XX para violentar o nosso rio Bengalas que corta Nova Friburgo com o pretexto de resolver os problemas das enchentes que são registrados desde o início da cidade nos anos de 1820 (ver o excelente artigo da historiadora Janaína Botelho foi publicado no seu blogue*). Porém, é uma obra que só gera gastos sem fim, sangrando os bolsos dos contribuintes e transtornando a vida dos moradores localidade de Conselheiro Paulino, situada à jusante da sede do município, devido ao inevitável aumento da vazão.

Nesta guerra climática são geralmente os mais pobres aqueles que mais sofrem e nisto não vejo outro responsável maior do que o próprio homem. A cada ano, nossos políticos e autoridades preferem culpar as chuvas pelos desastres ambientais sendo que é a a ganância dos poderosos, juntamente com a falta de políticas habitacionais eficientes e a maneira como lidamos com a natureza que têm contribuído de forma decisiva para estas situações de calamidade pois, afinal, não é a natureza que precisa se adaptar a nós, mas sim o contrário.

Mesmo indignado com o descaso das nossas autoridades e sabendo que o meu poder de ação é limitado, vou vivendo meus dias de verão atípico com temperaturas amenas, reconhecendo na chuva a generosidade de Criador. Um Deus que nos entregou uma terra perfeita e nós a estragamos.


(*) O texto da historiadora encontra-se em: http://historiadefriburgo.blogspot.com/2011/01/as-enchentes-do-velho-sao-joao-das.html

OBS: A data da foto está errada. Ainda não consegui programar a câmera digital...

Rodrigo Phanardzis Ancora da Luz

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