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terça-feira, 14 de setembro de 2010

O caminho do amor

Por mais que eu tenha enormes pontos teológicos de divergências em relação ao catolicismo, exemplos como os que foram deixados por Madre Teresa de Calcutá, ou pela brasileira Irmã Dulce na Bahia, são capazes de refrear o meu sectarismo e abrir os olhos para contemplar o agir de Deus através das pessoas que resolvem seguir a Jesus com a sinceridade de seus corações.

Desde que recebi uma sólida formação doutrinária entre os batistas, no começo dos anos 90, até hoje eu me identifico teologicamente com esta denominação do protestantismo, apesar de ter me congregado cinco anos na Igreja Evangélica Maranata. Porém, tenho aprendido que Deus age bem acima das nossas concepções de vida, ora nos confrontando e às vezes interagindo conosco independentemente de ainda nos mantermos arraigados aos valores de uma cultura.

Iremos compreender toda a Verdade durante nossa breve existência sobre a face da terra?

Partiremos daqui perfeitos e andando na estatura espiritual de Cristo?

Conheceremos todos os mistérios divinos e toda a teologia?

Conseguiremos fazer o bem a todos os pobres?

Será que vamos ter oportunidades para reparar todos os males praticados no passado contra as pessoas que algum dia magoamos?

Embora Deus não rebaixe o seu elevado padrão moral, Ele sabe que jamais chegaremos ao seu nível nesta vida. Creio também que Ele sabe que uns poderão ir mais longe do que os outros em suas caminhadas. Porém, Ele nos pede que guardemos os seus mandamentos através da prática do amor.

A base do ensino de Jesus em seu breve ministério entre os israelitas foi o amor. Em sua última semana na cidade de Jerusalém (suponho que na terça-feira), um escriba lhe questionou qual seria o maior dos mandamentos da Torá e recebeu a seguinte resposta do Senhor sobre o amor, ligando o Shema de Deuteronômio 6.4-5 a Levítico 19.18:

Respondeu Jesus: “O mais importante é este: 'Ouça, ó Israel, o Senhor, o nosso Deus, o Senhor é o único Senhor. Ame o Senhor, o seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma, de todo o seu entendimento e de todas as suas forças'. O segundo é este: 'Ame o seu próximo como a si mesmo'. Não existe mandamento maior do que estes. (Evangelho segundo Marcos 12.29-31; Nova Versão Internacional - NVI)

O escriba então aprovou a resposta dada por Jesus, acrescentando com sua sabedoria teológica que amar a Deus e ao próximo como a si mesmo “é mais importante do que todos os sacrifícios e ofertas”, provavelmente baseando-se no profeta Oseias. Porém, em seguida, Jesus disse que aquele homem não se encontrava “longe do Reino de Deus”.

Analisando este último detalhe da conversa que encontramos apenas no Evangelho de Marcos, podemos perceber que o escriba, embora não estivesse “longe”, ainda precisava experimentar e viver no Reino de Deus, mesmo conhecendo amplamente com o intelecto a Torá e os profetas. Isto é, a Bíblia que tanto Jesus quanto os fariseus liam.

Então o que realmente estava faltando ao escriba?

Lendo um comentário na minha Bíblia de estudos, verifiquei que a resposta dada por Jesus ao escriba também faz lembrar os diálogos que teve com o jovem rico e com Nicodemos, quando o Mestre deixou-os perplexos com estas afirmações:

Jesus olhou para ele e o amou. “Falta-lhe uma coisa”, disse ele. “Vá, venda tudo o que você possui e dê o dinheiro aos pobres, e você terá um tesouro no céu. Depois, venha e siga-me.” (Marcos 10.21; NVI)

“Não se surpreenda pelo fato de eu ter dito: É necessário que vocês nasçam de novo.” (João 3.7; NVI)

Ora, nas três situações Jesus estava lidando com israelitas que conheciam os mandamentos da Lei de Deus desde criança. Foram educados conforme os preceitos da Torá, eram capazes de recitar trechos da Bíblia (até então só tinha sido escrito o Antigo Testamento), cultuavam um único Deus e talvez até praticassem atos de caridade. Observem que o jovem rico chegou a declarar que observava o 5º, o 6º, o 7º, o 8º e o 9º mandamentos do decálogo, bem como o “não enganarás a ninguém”, mas ainda assim estava preocupado em “herdar a vida eterna”. Contudo, apesar do conhecimento e da formação religiosa que tinham, faltava-lhes vivenciar o governo do Pai Celestial em seus respectivos cotidianos.

E nos dias de hoje? Será que as pessoas nascidas e educadas dentro de uma cultura cristã vivem no Reino de Deus?

Tanto os evangélicos quanto os católicos são ensinados desde cedo sobre as palavras da oração do Pai Nosso pronunciado repetidas vezes que “venha a nós o vosso reino”, porém sem compreender no coração qual o significado disto. E enquanto muitos católicos acham que têm a vida eterna só porque passaram por um batismo infantil deixando de ser "pagão", evangélicos escondem-se atrás da confissão de fé que algum dia fizeram numa igreja ao levantarem as mãos e repetirem com a boca a oração do pastor.

Penso que não somos chamados para alimentarmos vãs preocupações se iremos de fato herdar a vida eterna quando morrermos pois carregar um fardo como este demonstra até falta de fé no amor de Deus e desconhecimento da obra de Cristo. Jesus em seus ensinamentos simplesmente nos convida para seguir um caminho de amor afim de que vivamos para Deus e para o próximo, o que significa estar no Reino de Deus e experimentar a diariamente Vida.

Agnes Gonxha Bojaxhiu, mais conhecida como a Madre Teresa de Calcutá, mesmo rezando o Credo e a Ave Maria, entendeu o que significa o amor. Aquela mulher viajou para um país dividido em castas que até hoje é cheio de desigualdades, fomes, misérias e tragédias, mas ainda assim decidiu amar o seu semelhante.

Certamente que ela poderia ter trilhado uma carreira mais cômoda e tranquila dentro do catolicismo, talvez passando seus dias dentro de um convento como fazem muitas das freiras. Porém, Madre Tereza preferiu amar os moribundos e os leprosos da Índia, dando sentido à sua vida e sendo também sal e luz de um século cheio de ódio que foi manchado por duas guerras mundiais.

De igual modo, também no Nordeste do Brasil, terra de secas, famílias miseráveis e coronéis poderosos, Maria Rita de Sousa Brito Lopes Pontes, a Irmã Dulce, foi chamada de “anjo bom da Bahia” por dedicar sua vida à caridade dando abrigo a mendigos e trabalhando com doentes, idosos, pobres e menores carentes. Com persistência e mobilização social, ela fundou um hospital e um orfanato na região metropolitana de Salvador, fazendo o bem a milhares de pessoas.

Nos tempos atuais, muita gente não tem falta de bens materiais de primeira necessidade, mas carece de atenção, reconhecimento, paz, felicidade e, principalmente, de uma vida com significado de maneira que vivem sempre frustradas, sendo isto uma das explicações para tantos casos de depressão e desejos de suicídio. Tornamo-nos uma sociedade que coloca o “eu” acima de tudo, valorizando mais o dinheiro e o status do que as pessoas ao nosso redor. E o pior é que tal comportamento também pode incluir pessoas religiosas e que foram formadas dentro de uma cultura cristã evangélica ou católica como a grande maioria dos brasileiros.

O que posso dizer de muitos dos meus compatriotas no presente? Somos uma nação em que desde pequenos aprendemos ser Jesus o Cristo e o Filho de Deus, mas ainda não estamos vivendo de fato o Reino de Deus. Perguntar para um brasileiro se ele “aceita Jesus” parece piada porque, certamente, as pessoas dirão que sim, o que apenas as coloca perto do Reino mas não dentro.

Ao ser confrontado por Jesus, o jovem rico foi convidado a amar seu próximo e isto implicava em morrer para si mesmo, abrindo mão de tudo o quanto possuía. Ali o Senhor colocou uma condição de mudança de conduta para que o rapaz pudesse segui-Lo – dar tudo aos pobres. Com isto, Jesus deixou claro que não queria discípulos que conhecesse seus ensinos apenas com a mente, mas que fossem capazes de experimentar a prática do amor, exercitando a fé.

Quantas vezes lemos a Bíblia e compreendemos apenas o texto, mas não a Mensagem?

Sempre que oramos estamos expressando a Deus aquilo que sentimos e nos abrindo para Ele, ou a nossa oração é apenas uma repetição mecânica de palavras sem nenhum sentido?

Que religiosidade capenga é essa em que precisamos nos isolar, evitar a conflituosa convivência humana e fugirmos de qualquer tipo de interferência capaz de nos desconcentrar?

Será que não podemos nos conectar a Deus mesmo em meio aos conflitos, ao desespero e às tempestades da vida?

Quando olho para Jesus e leio os relatos dos Evangelhos mostrando que o Mestre acolheu as crianças, vejo o quanto ainda me falta para aprender os ensinos de Jesus. Numa passagem que encontramos em todos os sinóticos (Mt 19.13-15; Mc 10.13-16; Lc 18.15-17), os discípulos não queriam que trouxessem as crianças para Jesus, mas o Senhor indignou-se e lhes disse que deixassem vir a Ele os pequeninos porque “dos tais é o reino dos céus”.

Imagino que, nesta situação, talvez Jesus estivesse exausto de suas andanças pela Palestina assim como todos nós caminhamos fatigados pelos mais variados problemas. Só que o Mestre, mesmo gastando suas energias para ajudar pessoas, junto com as perseguições que sofria, ainda tinha disposição para receber as agitadas crianças e quem sabe até brincar com elas. E, por incrível que pareça, Ele estava nos apontando o caminho para termos uma mente e um espírito saudável, isto é, como entrarmos no Reino de Deus.

Precisamos receber o Reino de Deus como uma criança (Mc 10.14), o que, inegavelmente, exige a experiência de um novo nascimento, um esvaziamento de nós mesmos, despindo-nos do orgulho, das mágoas, dos ressentimentos e das preocupações com as coisas desta vida. Então, quando praticamos isto, entramos verdadeiramente debaixo do governo de Deus, passando a ter prazer em estar aos pés de Jesus para ouvir sua Palavra.

Bem, de acordo com o meu editor de texto, acho que já escrevi o bastante até aqui e acho que me faltarão palavras para descrever o que significa o caminho do amor. Mesmo que eu venha a publicar um livro sobre o assunto, de nada adiantará porque estarei expressando nada mais do que uma doutrina, coisa que os teólogos poderão fazer com muito mais conhecimento bíblico. Porém, com toda a minha limitação, só posso pedir a Jesus que me ensine a amar como Ele amou, ajudando-me a sair da virtualidade dos sermões para a realidade dos gestos de amor, coisa que só a experiência do dia à dia pode ensinar. Logo, termino com uma oração como uma resposta positiva ao mandamento dado pelo Senhor:


Jesus, eu quero amar!

Não sei ainda expressar com a minha mente o que é o amor. Vivo a maior parte do tempo no meu mundo intelectual, tentando elaborar conceitos e regras através de seus ensinamentos. Porém, quando me deparo com a dura realidade, vejo o quanto ainda preciso aprender.

Jesus, eu quero amar!

O Senhor não nos escreveu livros diretamente de suas penas, mas deixou gravada nos corações dos homens a sua Mensagem de modo que muitos não cessaram de falar de seu amor. Então, que possamos expressar este amor pelas nossas ações, as quais valem mais do que mil palavras.

Jesus, eu quero amar!

O mundo oferece tantos atrativos de poder, prazeres e bens materiais que podem nos levar a perder o foco. Só que, quando soo embriagado pelo engano do pecado, percebo que viver sem o teu amor não faz sentido e aí retorno correndo para ti.

Jesus, eu quero amar!

Que eu seja capaz de abrir mão de mim mesmo e suportar o meu próximo com suas necessidades, defeitos ou diferenças, tendo como alvo servir ao invés de ser servido, dar sem nada esperar receber em troca.

Jesus, eu quero amar!

Como uma criança, que eu possa receber o Reino de Deus no meu coração, confiando sem pedir provas, agindo com espontaneidade, pedir com simplicidade e aceitar ser amado, acolhendo a Divina Presença em qualquer circunstância da vida.

Jesus, eu quero amar!

Maravilhosos são os Teus ensinamentos, Senhor, e quero que a tua Palavra, que perto está de mim, seja realidade em minha vida. Que o meu coração não Te esqueça e que a cada dia eu possa banhar-me no teu perfume, renovando a minha esperança, dispondo-me a fazer a Tua vontade, perdoando e pedindo perdão, sabendo que minha vida está em Tuas mãos.

Jesus, eu quero amar!

Amém!

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