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quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Ainda existem apóstolos nos dias de hoje?

Nas últimas décadas, dentro do meio evangélico, alguns ministros do Evangelho passaram a se auto-intitular apóstolos, o que muitas das vezes transmite a ideia de que tais pessoas estejam ocupando uma cargo especial dentro da Igreja de Cristo de elevada autoridade para liderar.

A palavra apóstolo vem do grego, idioma no qual foram escritos os livros do Novo Testamento bíblico, e significa nada mais do que “enviado”.

Em outros termos, pode-se dizer que o apóstolo é um emissário, o representante de alguém e que, portanto, recebe uma autoridade de quem o enviou para realizar a tarefa para a qual encontra-se comissionado. E, neste sentido, podemos dizer que, no nosso idioma, um outro sinônimo para apóstolo seria o vocábulo missionário.

Ser apóstolo de Jesus Cristo não se trata de uma autoridade específica para que um pregador afirme ter poderes sobre os demais crentes como se ele sozinho pudesse decidir questões da Igreja na qualidade de um suposto representante de Cristo na terra. Isto porque o apostolado nada mais é do que cristãos como eu e você assumirmos o nosso papel de agentes enviados pelo Senhor para realizarmos a missão que Ele expressamente determinou aos seus discípulos após sua ressurreição: “Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura” (Marcos 16.15).

Podemos observar que, no Evangelho de Mateus, Jesus mandou que os seus enviados (apóstolos) fizessem “discípulos de todas as nações”, os quais tornaram-se testemunhas das verdades que o Senhor havia lhes revelado:

“Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século” (Mt 28.18-20; tradução de ARA)

Certamente que o significado de apóstolo difere do de discípulo. Pois, enquanto o apóstolo é um enviado numa missão, o discípulo é um aluno, alguém em aprendizado. No texto acima citado, Jesus disse os apóstolos fizessem discípulos, “ensinando-os”.

Lendo os Evangelhos, podemos compreender que aqueles que faziam parte do grupo dos doze apóstolos também foram chamados de discípulos, os quais foram escolhidos por Jesus para servirem de testemunho de seu messiado para a nação de Israel. Pois, se Israel foi formada por doze tribos, Jesus, durante o seu ministério, escolheu um número correspondente de discípulos que enviou primeiramente para pregarem o reino de Deus nas cidades do seu país:

“Tendo chamado os seus doze discípulos, deu-lhes Jesus autoridade sobre os espíritos imundos para os expelir e para curar toda sorte de doenças e enfermidades. Ora, os nomes dos doze apóstolos são estes: primeiro Simão, por sobrenome Pedro, e André, seu irmão; Tiago, filho de Zebedeu, e João seu irmão; Filipe e Bartolomeu; Tomé e Mateus, o publicano; Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu; Simão, o Zelote, e Judas Iscariotes, que foi quem o traiu. A estes doze enviou Jesus, dando-lhes as seguintes instruções: Não tomei rumo aos gentios, nem entreis em cidade de samaritanos; mas, de preferência, procurai as ovelhas perdidas da casa de Israel; e, à medida que seguirdes, pregai que está próximo o reino dos céus.” (Mt 10.1-7)

No evangelho de Lucas, há o registro de que, ainda durante o seu ministério, Jesus apostolou (enviou) outros setenta seguidores, dando-lhes instruções semelhantes às que anteriormente havia passado aos Doze, o que, segundo alguns estudiosos, representaria o número de setenta nações do mundo numa correspondência com o texto hebraico do capítulo 10 de Gênesis.

Como se vê no Novo Testamento, não foram apenas doze as pessoas enviadas por Jesus para fazerem a sua obra missionária, mas, ao que parece, temporariamente foi mantido o grupo dos Doze com uma finalidade específica e transitória. Em Atos dos Apóstolos, durante o período de dez dias que houve entre a ascensão do Senhor e o Pentecostes, Pedro, baseando-se numa interpretação de versos de dois salmos imprecatórios de Davi, propôs que o lugar de Judas fosse preenchido por algum outro discípulo capaz de testemunhar acerca do ministério de Jesus e de sua ressurreição desde a época de João Batista:

“É necessário, pois, que dos homens que nos acompanharam todo o tempo que o Senhor Jesus andou entre nós, começando no batismo de João, até ao dia em que dentre nós foi elevado às alturas, um deste se torne testemunha conosco da sua ressurreição. Então, propuseram dois: José chamado Barsabás, cognominado Justo, e Matias. E, orando, disseram: Tu, Senhor, que conheces o coração de todos, revela-nos qual destes dois tens escolhido para preencher a vaga neste ministério a apostolado, do qual Judas se transviou, indo para o seu próprio lugar. E os lançaram em sortes, vindo a sorte recair sobre Matias, sendo-lhe, então, votado lugar com os onze apóstolos.” (At 1.21-26)

Entretanto, segundo o próprio texto bíblico, outros homens são mencionados como apóstolos a exemplo de Paulo e de Barnabé, os quais não faziam parte do grupo dos Doze. Em suas várias epístolas, Paulo se identifica como sendo um apóstolo (enviado) de Cristo e, através dele, foram realizados diversos milagres que se encontram registrados nas narrativas de Atos, de modo que o seu ministério confirmou os mesmos sinais que Jesus falou que acompanham “aqueles que crêem” (ver Marcos 16.17-18).

Ora, por acaso apenas os Doze estavam incumbidos de pregar o Evangelho? Certamente que não, mas eles serviram de testemunho para a nação de Israel no início dos tempos da Igreja, inexistindo qualquer outra passagem posterior à eleição de Matias em que um outro discípulo fosse chamado para preencher a vaga de algum deles que tivesse morrido. Tanto é que, depois de Herodes mandar assassinar Tiago, irmão de João, o texto de Atos não diz que outra reunião tenha sido feita como no começo do livro para que um novo apóstolo fosse escolhido para compor o grupo dos Doze.

Independentemente de alguns se auto-denominarem apóstolos nos dias atuais, o certo é que o Senhor Jesus, desde o início da Igreja até hoje, continua enviando pessoas para anunciarem o seu Evangelho. Pois, após cremos no seu Nome, somos chamados ao discipulado (nos tornarmos alunos) e, no momento certo, o Espírito Santo separa e envia os missionários que farão a obra de Deus conforme ocorreu com Saulo e Barnabé:

“Havia na igreja de Antioquia profetas e mestres: Barnabé, Simeão, por sobrenome Níger, Lúcio de Cirene, Manaém, colaço de Herodes, o tetrarca, e Saulo. E, servindo eles ao Senhor e jejuando, disse o Espírito Santo: Separai-me, agora, Barnabé e Saulo para a obra a que os tenho chamado. Então, jejuando, e orando, e impondo sobre eles as mãos, os despediram.” (At 13.1-3)

Tal como naqueles primeiros tempos, o Espírito Santo continua apostolando (enviando) pessoas para anunciar a palavra de Deus. Ainda se vê homens e mulheres cheios de fé e coragem que deixam suas famílias para arriscarem a vida em difíceis campos missionários, bem distantes das câmeras de TV dos milionários programas evangélicos que são transmitidos para as nossas casas através de emissoras de carnais aberto. E, muitas das vezes, esses apóstolos de verdade dependem só do auxílio divino na batalha de cada dia pois sofrem maus tratos, perseguições e a todo instante são ameaçados com deportações ou prisões. Para onde vão, nem sempre é possível construir templos de modo que, em determinados países orientais, a Igreja é obrigada a se reunir clandestinamente nas casas, ou então nos lugares mais afastados da cidade a exemplo de um bosque em meio à floresta igual acontecia em países da Europa do Lesta na época do domínio soviético.

Finalmente, procurando responder à pergunta que formulei no título deste artigo, ainda existem pessoas até hoje que são enviadas para pregarem o reino de Deus. Entretanto, é óbvio que não há fundamentos bíblicos para se reivindicar um cargo nas igrejas com o título de apóstolo. Aliás, se alguém se auto-denomina apóstolo, no sentido de ter um ofício que lhes dê autoridade acima de outros irmãos, pode estar cometendo um sério equívoco.

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