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sábado, 17 de julho de 2010

Não deixe que transformem sua igreja num curral eleitoral!

Há uma passagem bíblica que muitos evitam comentar por se sentirem confusos em seus valores. Trata-se da surpreendente atitude que Jesus teve quando expulsou os vendilhões do templo judaico. Ali o Senhor estava verdadeiramente irado contra os homens que, com o indubitável apoio do sumo sacerdote, estavam fazendo da casa de Deus um mercado:

Quando já estava chegando a Páscoa judaica, Jesus subiu a Jerusalém. No pátio do templo viu alguns vendendo bois, ovelhas e pombas, e outros assentados diante das mesas, trocando dinheiro. Então ele fez um chicote de cordas e expulsou todos do templo, bem como as ovelhas e os bois; espalhou as moedas dos cambistas e virou as suas mesas. Aos que vendiam pombas disse: “Tirem estas coisas daqui! Parem de fazer da casa de meu Pai um mercado!” Seus discípulos lembraram-se do que está escrito: “O zelo pela tua casa me consumirá”. (Evangelho segundo João 2.13-17; tradução da Nova Versão Internacional)

Ao meditar nesta palavra e tentar aplicá-la aos dias de hoje, recordo-me daqueles pastores evangélicos que tentam manipular as ovelhas de Cristo para conseguirem votos em favor de seus candidatos.

De umas décadas para cá, tornou-se muito comum algumas denominações evangélicas lançarem seus próprios candidatos. Quando não são os próprios pastores e bispos quem se aventuram na política, líderes de igrejas fazem acordos secretos com políticos e o apresentam para a comunidade como alguém escolhido por Deus e que vai ajudar no desenvolvimento de sua obra, caso seja eleito. A Igreja Universal do Reino de Deus, por exemplo, chega a envolver seus membros durante as eleições de modo que já vi em diversas ocasiões pastores e obreiros da IURD trabalhando para o senhor Marcelo Crivella do PR que, desta vez, tentará manter-se no nosso vergonhoso Senado por mais oito anos.

Diferente do que muitos cristãos esperam, os candidatos eleitos pelas igrejas nem sempre estabelecem a moralidade dentro das instituições políticas. Constantemente ouve-se falar de escândalos praticados por integrantes da “bancada evangélica”. Uma vez que tomam posse no Congresso Nacional, tais deputados acabam fazendo o mesmo que os demais políticos, envergonhando o cristianismo.

Felizmente, a farsa desses lobos está caindo, mas é preciso ficarmos atentos contra as maneiras mais sutis de manipulação praticada pelas tais lideranças evangélicas. Há pastores que, atualmente, dizem ser contrários à vinculação do Evangelho à política. Porém, quando chega esta época, eles sempre dão um jeitinho de apresentarem seus candidatos às comunidades que dirigem, consentindo com panfletagens na porta de saída do templo e fazendo uma discreta propagando boca a boca já que grande parte da população não sabe em quem votar nas eleições proporcionais.

Mas será que um pastor não tem o direito de compartilhar em quem pretende votar? E um evangélico não pode de maneira alguma ser candidato a cargos eletivos?

São duas questões que a meu ver não podem se confundir com a manipulação. Um pastor brasileiro também é um cidadão como todos nós, tendo direito de votar e ser votado. E, por viver num regime democrático, pode perfeitamente ir aos comícios, participar de carreatas, manifestar sua opinião em blogues como este e pedir votos no Orkut, desde que não se aproveitem do ministério que exercem para este fim. Inclusive, acho até saudável que pastores orientem melhor as pessoas a votarem com consciência, deixando cada um livre para escolher o seu próprio candidato. Contudo, não é nem um pouco ético tais líderes manipularem as igrejas para atenderem seus interesses eleitoreiros.

Uma comunidade cristã não se baseia unicamente em princípios legais, mas coloca acima das leis seus princípios éticos cujos fundamentos são extraídos da Bíblia, a qual nos leva a refletir a respeito da falta de propósitos que há nas “candidaturas evangélicas”. Pois, se lembrarmos de como Jesus agia, logo nos recordaremos que o seu Reino nunca foi deste mundo, conforme respondeu a Pilatos. Ele mesmo não desejou que o seu messiado fosse associado com a política dos homens, conforme aconteceu no episódio da multiplicação dos pães:

Depois de ver o sinal milagroso que Jesus tinha realizado, o povo começou a dizer: “Sem dúvida este é o Profeta que deveria vir ao mundo”. Sabendo Jesus que pretendiam proclamá-lo rei à força, retirou-se novamente sozinho para o monte. (João 6.14-15)

Se meditarmos na história eclesiástica, também nos lembraremos do que aconteceu quando a Igreja se associou politicamente ao Império Romano. Tendo o catolicismo se tornado a religião oficial, eis que, ainda no século VI, os cristãos tornaram-se perseguidores do paganismo e daqueles que eram reputados como hereges. Não demorou muito, os papas tornaram-se reis de um poderoso reino teocrático, concentrando a propriedade de grande parte das terras na Europa. Com isto, as lideranças institucionais da Igreja perderam o rumo, de maneira que o Evangelho era vivenciado por corajosos homens como Francisco de Assis e Antônio de Pádua que preferiram servir os pobres do que aos prazeres pecaminosos das riquezas.

Num ano em que lobos que se dizem pastores já começam a usar de argumentos mentirosos afim de pedirem votos para os seus candidatos, precisamos nos mobilizar contra esta prática imoral dentro das igrejas. Não podemos de maneira alguma aceitar que esses vendilhões do templo permaneçam no nosso meio tentando fazer da Casa de Deus um curral eleitoral, pois a Igreja de Cristo não pode fugir ao propósito espiritual para o qual foi criada.

3 comentários:

  1. A paz meu mano,
    Eu havia esquecido que este ano é ano de eleições aí no Brasil. Seu texto diz tudo! É uma vergonha o que muitos pastores fazem de suas igrejas em épocas de eleições! Como se eles dominassem o desejo e o querer dos crentes. Daí surgiu o jargão "crente vota em crente". Mas se esse crente é um cretino? Temos que votar nele assim mesmo! Vejo muitos não-crentes políticos que são mais éticos do que certos "crentes", e portanto, merecem mais o nosso voto.
    Assim, que a consciência de cada um fale mais alto. Que nossos irmãos não se esqueçam dos maus políticos que estão no poder, sejam eles crentes ou não!

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  2. Graça e paz, meu irmão. Muito obrigado pelo comentário! Ultimamente tenho visto o povo de Deus acordar quanto a essas questões, o que tem obrigado alguns pastores a moderarem a apresentação do candidato nas comunidades nas últimas eleições. Em algumas comunidades já não se declara mais votos a ninguém e se proíbe até falar em política, mas há pastores que, dentro de seus gabinetes, indicam o político fulano de tal quando suas ovelhas estão precisando de determinados favores. Por outro lado, acho que o povo evangélico no Brasil, de um modo geral, ainda precisa de esclarecimentos libertadores no tocante à política, como bem colocou o irmão "que a consciência de cada um fale mais alto". Como um professor age (ou deveria agir) na sua sala de aula, penso que um pastor pode até auxiliar suas ovelhas, prevenindo-os contra os maus políticos, os quais roubam, matam e destroem.

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