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quarta-feira, 5 de maio de 2010

Rodeios: uma prática absurda e cruel


Infelizmente muita gente ainda não sabe que os animais utilizados nos rodeios são submetidos a terríveis maus tratos, algo que me faz lembrar as lutas dos gladiadores no Coliseu romano.

Atualmente, até mesmo nos Estados Unidos, onde os rodeios começaram, várias cidades já proíbem esse tipo de “diversão”, dentre as quais menciono Fort Wayne, em Indiana, e Pasadena, na Califórnia. 

No Brasil, os rodeios nada têm de original, pois são uma cópia do que ainda se faz nos Estados Unidos. Porém, para o bem dos animais, também já existem diversas cidades brasileiras que proíbem expressamente a realização desses eventos como é o caso de São Paulo, Rio de Janeiro, Sorocaba, Guarulhos, Jundiaí e Campinas.

Também já foram propostas diversas ações judiciais com sentenças de procedência impedindo a realização de rodeios nas comarcas onde foram instaurados os processos. E algumas dessas decisões pelo menos proibiram o uso de instrumentos cruéis como o sedém, a peiteira e as esporas.

Poucos sabem, mas grande parte dos animais torturados nos rodeios são mansos. Por causa do uso de determinados instrumentos cruéis, os bois e os cavalos utilizados no evento já entram na arena pulando porque estão sofrendo fortes dores por causa desses instrumentos cruéis. Por exemplo, costumam amarrar uma espécie de cinta de crina na virilha do animal, isto é, o sedém, o qual incita o bicho a sair quicando logo que sai do brete. Pois, antes do animal entrar na arena, o sedém é puxado com força, provocando-lhe fortes dores. 

Ora, o próprio treinamento que os peões fazem com os animais já é algo doloroso e desumano de modo que, mesmo se o público não vê uma cena de violência durante o espetáculo, fica praticamente evidenciado que o animal sofreu maus tratos no treinamento antes da apresentação.

A Lei n.° 3.714/2001 do Estado do Rio de Janeiro é suficientemente clara ao proibir no âmbito do território fluminense a apresentação de espetáculos circenses, ou similares que tenham como atrativo a exibição de animais de qualquer espécie, inclusive os domésticos. Porém, há inúmeras interpretações jurídicas que buscam justificar os rodeios numa tentativa de afastar a aplicação da legislação já existente.

Aqui, em Nova Friburgo nunca tivemos uma tradição em rodeios, conforme veio a adquirir alguns municípios do interior paulista. Mas, nos últimos anos, ocorreram uns poucos eventos na cidade, geralmente com o patrocínio de políticos, o que é de certa forma preocupante.

Em agosto de 2007, durante os quatro dias do evento da empresa Serra Verde, empresa de um ex-secretário de turismo, houve manifestações no lado de fora da bilheteria por parte de ativistas dos movimentos de defesa dos animais. Eu mesmo cheguei a participar de tais protestos, tendo ajudado a acionar a 1ª Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva, a qual, não tendo tempo para mover uma ação civil pública, celebrou um acordo com a empresa promotora do evento para que não fossem utilizados determinados instrumentos e práticas cruéis.

Em 2009, o Sr. Júlio César Barbosa Alves, mais conhecido pelo pseudônimo de “Júlio dos Cavalos”, com o apoio político do deputado Jorge Babu (PT), resolveu promover um novo rodeio na cidade. Ciente do evento, a ONG Instituto Univida de Proteção Animal ofereceu uma representação ao Ministério Público em que a mesma 1ª Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva, desta vez, moveu uma ação civil pública que foi distribuída para a 2ª Vara Cível da Comarca de Nova Friburgo (processo n.º 2009.037.005038-8).

Tal processo, que ainda aguarda uma sentença, tem como réu não apenas o Sr. Júlio dos Cavalos como também o próprio Município de Nova Friburgo para que a Prefeitura não mais conceda autorizações para eventos desse tipo.

Todavia, a melhor solução a meu ver ainda se passa pela via legislativa. Além de ser fundamental que o Congresso Nacional discuta uma lei proibindo de uma vez por todas os rodeios no país, deve-se também respeitar a autonomia de cada cidade, as quais, através de suas respectivas Câmaras Municipais, são competentes para aprovar normas eficazes de alcance local, prevendo, inclusive, a imposição de uma elevada multa afim de desestimular qualquer tentativa de descumprimento.

Reiterando o que já disse, eventos como rodeios e vaquejadas não apenas são incompatíveis com o contexto sócio-cultural do país como promovem a tortura e a violência contra os animais, tornando-se, na prática, um retorno ao antigo circo romano, responsável pela extinção dos leões na Europa durante o século I da era cristã. E, sendo assim, espero que, em algum dia, as nossas autoridades compreendam melhor os direitos dos animais.

2 comentários:

  1. Muito bom, Rodrigo e parabéns pela luta. A vida venceu, afinal. Um abraço.

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  2. Obrigado pelo incentivo, Carlos! Estou agora satisfeito que na minha cidade tenha sido sancionada uma lei proibindo os rodeios. Chega desse circo romano!

    Abração.

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