Páginas

sexta-feira, 26 de março de 2010

Que tal nos conectarmos mais ao mundo real?


Que a internet trouxe seus benefícios para a economia mundial é inquestionável, apesar das frequentes quedas de sistemas. Porém, quando penso nas relações sociais que estão sendo afetadas e substituídas por conversações virtuais em tempo real, acho que o uso intenso da rede de computadores na vida de muita gente virou uma doença.

Nos tempos eu ainda era um estudante da 6ª série do 1º grau, mais precisamente no ano eleitoral de 1989, discutia-se que a televisão era responsável pela falta de contato dentro das famílias em que, ao invés das dialogarem no final do dia, todos ficavam emudecidos diante da programação transmitida na TV que, tal como hoje, consistiam basicamente nas novelas e nos noticiários da emissora campeã de audiência.

Com a expansão da internet no Brasil, percebo que as pessoas ficaram ainda mais distantes e isoladas dentro de suas próprias casas. Muitos adolescentes, quando saem da escola, já combinam com os colegas de se encontrarem no horário no MSN. O e-mail já nem é tão utilizado pela nova geração que prefere o bate-papo em tempo real, os games e os sites de relacionamento de curtas palavras do que apenas ficar escrevendo cartas eletrônicas. Porém, toda a tecnologia atual parece que será suplantada no decorrer desta década em que as ferramentas do mundo virtual prometem fazer parte cada vez mais da nossa realidade, tendo em vista que hoje o celular está se tornando um dos meios mais utilizados de conexão imediata à internet, não muito diferente do que foi desenho dos Jetsons, exceto pelos carros que ainda não voam.

No filme “Substitutos”, Bruce Willis imagina uma sociedade futurista em que as pessoas preferem agir no mundo real através de androides substitutos semelhantes aos humanos que podem ser controlados a partir de suas próprias casa. Ninguém mais precisava encontrar-se pessoalmente no mundo real, pois os robôs faziam todo o trabalho. Porém, dentro dos lares, as pessoas quase não se comunicavam mais pessoalmente, nem mesmo os casais.

Por mais fantasioso que o filme possa ser, percebo nele um valioso recado para o mundo atual em que, dentro de suas próprias casas, as pessoas estão preferindo passar o tempo teclando com o amigo virtual (às vezes até um desconhecido) do que vivendo a companhia de seus pais, irmãos, filhos, cônjuges e amigos. Assim, se os sites de relacionamento permitiram-nos encontrar novamente amigos e conhecidos que há muito tempo não tínhamos notícias, também pode nos distanciar das pessoas que estão mais próximas, isto é, do nosso próximo.

Os idosos tornaram-se hoje o grupo etário que mais tem sofrido com as maravilhas da internet, pois já não conseguem obter a atenção dos filhos e dos netos, em que todos numa mesma família estão presos em si mesmos e mais preocupados em verificar se receberam algum recado no Orkut ou se chegou alguma mensagem nova no correio eletrônico. Ter a vovó num álbum de fotos virtuais parece ser mais fácil do que desfrutar de sua companhia no sofá da casa ou caminhando pelas ruas da cidade.

Creio que a substituição de contatos pessoais pela internet talvez explique a pobreza dos relacionamentos nos nossos dias atuais onde falta mais espiritualidade e princípios cristãos na vida das pessoas. Ficar muito tempo no computador tem feito as pessoas esquecerem o quanto a vida é pulsante, animada e incomparavelmente deliciosa, pois é muito bom recebermos o abraço de alguém especial, o carinho de um animal de estimação ou até mesmo os acenos de um desconhecido.

O apóstolo João, em suas duas últimas epístolas, chegou a comunicar aos seus destinatários sua preferência por uma conversa “boca a boca”, ou “de viva voz”, conforme consta em outras traduções:


“Ainda tinha muitas coisas que vos escrever; não quis fazê-lo com papel e tinta, pois espero ir ter convosco, e conversarmos de viva voz, para que a nossa alegria seja completa” (2Jo 12)

“Muitas coisas tinha que te escrever; todavia não quis fazê-lo com tinta e pena, pois, em breve, espero ver-te. Então, conversaremos de viva voz” (3Jo 13-14)


Tais palavras nos ensinam que o contato pessoal sempre será superior às cartas, sejam elas convencionais “com tinta e pena” ou eletrônica com bytes e bits, uma vez que todos nós somos insubstituíveis.

Desejo que, a partir deste dia, você possa conectar-se mais no mundo real e buscar um convívio mais intenso com as pessoas que estão a sua volta, valorizando-as de verdade e dando a elas o afeto que todos nós precisamos ter.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Nova Friburgo carece de um projeto voltado para a proteção dos cavalos


Tenho verificado que o nosso município de Nova Friburgo carece de nenhuma política eficiente de controle de animais domésticos, notadamente sobre o combate aos maus tratos praticados contra os cavalos, os quais são frequentemente utilizados numa das principais atrações turísticas do centro da nossa cidade, nos passeios de charrete pelos arredores da Praça do Suspiro.

Contudo, ao olhar para estes animais que transitam pela cidade, presume-se que os mesmos parecem estar doentes, desnutridos, com verminose, anêmicos e com os cascos das patas podres.

Com frequência, ouve-se de acidentes envolvendo a morte de cavalos nas estradas, como se o animal fosse a causa do acidente e não os seus donos e, por via de consequência, as próprias autoridades públicas que se mantêm inertes. Pois, pela falta de cuidados, encontra-se cavalos soltos pelas pistas onde há um considerável fluxo de veículos automotores, ora acidentando-se de locais altos, afogando-se em cursos d’água ou se expondo a inúmeras doenças.

A situação demonstra não haver também um cadastramento dos eqüinos existentes na cidade, para que os seus donos possam ser responsabilizados em casos de acidentes, tal como não há quanto às bicicletas que, frequentemente, invadem as nossas calçadas ameaçando a vida e a integridade física dos pedestres. Meses atrás, o SBT denunciou um verdadeiro descaso num depósito de cavalos apreendidos nas vias públicas utilizado por um contratado do governo municipal, onde os animais encontravam-se abandonados e morrendo à míngua. Ao tomar ciência da notícia, a ONG Instituto Univida de Proteção Animal foi até o local e denunciou o caso ao Ministério Público

Segundo o Decreto Federal n.º 24.645, de julho de 1934, ainda em vigor, é considerado maus tratos a animais as seguintes condutas:


I- praticar atos de abuso ou crueldade em qualquer animal;
II- manter animais em lugares anti-higiênicos ou que lhes impeçam a respiração, o movimento ou o descanso, ou os privem de ar ou luz;
III- obrigar animais a trabalhos excessivos ou superiores às suas forças e a todo ato que resulte em sofrimento para deles obter esforços que, razoavelmente, não se lhes possam exigir senão com castigo;
IV- golpear, ferir, ou mutilar, voluntariamente, qualquer órgão ou tecido de economia, exceto a castração, só para animais domésticos, ou operações outras praticadas em benefício exclusivo animal e as exigidas para defesa do homem, ou no interesse da ciência;
V- abandonar animal doente, ferido, extenuado ou mutilado, bem como deixar de ministrar-lhe tudo o que humanitariamente se lhe possa prover, inclusive assistência veterinária;
VI- não dar morte rápida, livre de sofrimentos prolongados, a todo animal cujo extermínio seja necessário para o consumo ou não;
VII- abater para o consumo ou fazer trabalhar os animais em período adiantado de gestação;
VIII- atrelar, no mesmo veículo, instrumento agrícola ou industrial, bovinos com eqüinos, com muares ou com asininos, sendo somente permitido o trabalho em conjunto a animais da mesma espécie;
IX- atrelar animais a veículos sem os apetrechos indispensáveis como sejam balancins, ganchos e lanças ou com arreios incompletos, incômodos ou em mau estado, ou com acréscimo de acessórios que os molestem ou lhes perturbem o funcionamento do organismo;
X- utilizar em serviço animal cego, ferido, enfermo, fraco, extenuado ou desferrado, sendo que este último caso se aplica somente à localidade com ruas calçadas;
XI- açoitar, golpear ou castigar por qualquer forma a um animal, caído sob o veículo ou com ele, devendo o condutor desprendê-lo do tiro para levantar-se;
XII- descer ladeiras com veículos de tração animal sem utilização das respectivas travas, cujo uso é obrigatório;
XIII- (...);
XIV- conduzir veículo de tração animal, dirigido por condutor sentado, sem que o mesmo tenha boléia fixa e arreios apropriados com tesouras, pontas de guia e retranca;
XV- prender animais atrás dos veículos ou atados às caudas de outros;
XVI- fazer viajar um animal a pé mais de 10 quilômetros, sem lhe dar descanso, ou trabalhar mais de 6 horas contínuas sem lhe dar água e alimento;



Além disto, de acordo com o artigo 32 da Lei Federal n.° 9.605/98, praticar maus tratos contra um animal pode se configurar um crime.

Outrossim, o artigo 5° da Declaração Universal dos Direitos dos Animais assim dispõe em seus dois itens:


1. Todo o animal pertencente a uma espécie que viva tradicionalmente no meio ambiente do homem tem o direito de viver e de crescer ao ritmo e nas condições de vida e de liberdade que são próprias da sua espécie;
2. Toda a modificação deste ritmo ou destas condições que forem impostas pelo homem com fins mercantis é contrária a este direito.



É importante colocar aqui o quanto preocupa o fato dos cavalos serem submetidos a um trabalho excessivo ou terem que carregar um peso acima do que deveriam, bem como os cuidados com a higiene desses equinos nas vias públicas em que seus proprietários pouco se importam com o despejo de fezes nas ruas pavimentadas da nossa maravilhosa cidade.

Faço destaque para os trabalhos que a ONG Animavida veio a desenvolver junto com os alunos da Escola Municipal Liceu Prefeito Cordolino Ambrósio, no Município de Petrópolis que se trata de um projeto de bem-estar animal. Tal parceria faz parte do programa da Câmara de Vereadores Mirins da cidade, que, sob a tutela da Câmara de Vereadores e da Secretaria Municipal de Educação, apresenta um grupo de crianças de 5ª e 6ª séries como vereadores mirins. Com o programa, as crianças são eleitas dentro das escolas municipais e, ao longo de dois dias, vivenciam toda a rotina da câmara apresentando projetos em plenário e ao Prefeito.

Segundo a Animavida, a parceria com os alunos do Liceu surgiu a partir da possibilidade de se combinar os três principais temas do projeto de Vereadores Mirins deste ano: meio-ambiente, cultura e turismo.

A AnimaVida forneceu aos estudantes farto material publicado na imprensa local sobre o tema, apresentou o vídeo VIDA DE CAVALO, do Instituto Nina Rosa, e monitorou o desenvolvimento das idéias e montagem dos projetos.

Durante o trabalho de campo, as crianças entrevistaram charreteiros, filmaram o estado dos cavalos, e buscaram junto às autoridades municipais alguma resposta para a situação. Depois do material recolhido, montaram propostas para melhorar as condições de vida destes animais.

No entanto, aqui em Nova Friburgo, não tenho sido noticiado de nenhuma iniciativa neste sentido por parte do governo, sendo necessário que a Prefeitura torne-se sensível à iniciativas como as que foram feitas em Petrópolis afim de que os cavalos não mais sofram.

Dentre as providências que podem ser tomadas pela Prefeitura menciono as seguintes propostas:


1. Integrar as charretes da Praça do Suspiro dentro de um projeto turístico que atenda aos interesses da cidade;

2. Fiscalizar e incentivar a vacinação periódica dos cavalos no Município;

3. Orientar os cavaleiros e os charreteiros a agirem dentro de um padrão turístico-social-ecológico, tomando todos os cuidados necessários com seus animais e quanto ao despejo de fezes nas vias públicas;

4. Controlar a saúde dos eqüinos neste Município, no tocante à verminose, desnutrição, anemia e ao apodrecimento dos cascos das patas;

5. Controlar o trabalho excessivo dos cavalos que não pode ser superior a um limite de horas ou a uma certa;

6. Prevenir acidentes com cavalos nas estradas e em diversos outros locais;

7. Cadastrar os animais domésticos em nosso Município;

8. Evitar o trânsito de eqüinos nas ruas movimentadas do centro da cidade durante os dias da semana;

9. Prestar um socorro aos cavalos acidentados;

10. Punir quem pratica maus tratos aos cavalos;

11. Envolver as crianças das escolas públicas em projetos relacionados com o meio ambiente e com a cidadania para que elas participem de eventos que tenham como tema a proteção animal.

terça-feira, 23 de março de 2010

As evoluções sociais do país: do pau-brasil ao pré-sal

Para uma melhor compreensão do atual contexto social e econômico do Brasil, é indispensável que se faça uma análise histórica capaz de informar as profundas transformações ocorridas durante os cinco séculos que seguiram após o que se convencionou chamar de “descobrimento”.

Como se sabe, a descoberta do “novo mundo” pelas nações europeias deu-se no final do século XV, através das grandes navegações, tendo sido o Brasil oficialmente “encontrado” no ano de 1500, através dos portugueses.

Até então, a América do Sul era ocupada por diversos povos indígenas, possuidores de uma cultura e de uma organização próprias em tribos, sendo que, no território brasileiro, tem-se notícia de grupos nômades (coletores e caçadores) e praticantes de uma agricultura rudimentar.

Nos primeiros contatos entre os portugueses e as terras brasileiras, ocorridos nas três primeiras décadas, pode-se afirmar que não houve uma efetiva colonização, visto que os europeus limitaram-se à prática do extrativismo vegetal, notadamente de uma palmeira conhecida como pau-brasil.

Com a expedição de Martins Afonso de Souza, precedida pelo declínio do comércio com a Índia, inaugurou-se o processo de colonização europeia no Brasil, em que Portugal, a princípio, adotou como alternativa introduzir o cultivo da cana-de-açúcar no litoral nordestino como principal produto da economia colonial, utilizando-se do fértil solo massapé, bem como do generoso clima da região.

Sem dúvida que para desenvolver a agroindústria canavieira, a Coroa Portuguesa precisava incentivar a ocupação do território de sua colônia e no uso de mão-de-obra. Para isso, as terras descobertas à leste do Tratado de Tordesilhas, foram divididas em 15 (quinze) autarquias territoriais conhecidas como capitanias hereditárias. Ou seja, o rei de Portugal doou para os vassalos de sua confiança porções de terras latitudinalmente separadas e que seriam administradas pelos respectivos donatários, os quais cumpririam com o dever de pagar impostos à Coroa.

Certamente que todo esse processo de ocupação e exploração do território exigiria a expulsão ou a submissão dos povos indígenas que até então estavam estabelecidos nessas regiões, desconhecendo os limites de fronteiras impostos pelo colonizador, bem como sua língua, costumes e modo de vida, fato que gerou evidentes conflitos resultando num inegável genocídio.

Por sua vez, necessitava o colonizador de que fosse utilizada mão-de-obra barata para trabalhar na lavoura da cana-de-açúcar, o que originou o comércio de escravos, em que milhões de negros foram capturados no continente africano e transportados até o Brasil para suprirem as demandas dos senhores de engenhos.

Durante todo esse processo de ocupação do território brasileiro, a Igreja Católica fez-se presente como uma instituição da sociedade colonial, tanto nos engenhos quanto nos povoados que foram se formando ao longo do litoral e que deram origem às cidades. Aliás, diga-se de passagem, que os padres jesuítas controlaram muitos engenhos de cana-de-açúcar e foram responsáveis pela conversão forçada de milhares de negros e indígenas.

Com a fracassada tentativa de implantação do sistema de capitanias hereditárias, seguiu-se com a criação de um Governo Geral, sediado em Salvador, para administrar toda a colônia através de um preposto nomeado pela Coroa Portuguesa, mantendo os engenhos de cana-de-açúcar como unidades de produção de riqueza.

Importante destacar que, no final do século XVI, Portugal passou a pertencer à União Ibérica, em razão de uma crise sucessória, passando o Brasil a ser governando na prática pela Espanha, durante um período de sessenta anos.

Pode-se atribuir à formação União Ibérica um dos principais motivos pelo qual o território brasileiro teria se expandido para além dos limites do Tratado de Tordesilhas, ampliando o processo de ocupação das terras indígenas.

No século XVII, o Brasil foi parcialmente invadido pelos holandeses que ocuparam a próspera capitania de Pernambuco, uma das poucas que havia se desenvolvido no sistema político inicialmente implantado pela Coroa Portuguesa.

Com o desfazimento da União Ibérica e a expulsão dos holandeses de Pernambuco, Portugal passou a suportar duas consequências econômicas negativas no século XVII: o endividamento com a Inglaterra e a concorrência no mercado europeu do açúcar produzido nas Antilhas.

Assim, pode-se dizer que, com a dependência econômica de Portugal à Inglaterra e o declínio da agroindústria canavieira, a colonização do Brasil foi se tornando mais opressora, resultando no aumento de impostos e numa maior exploração da mão-de-obra.

Observa-se, com isso, que o aumento da opressão colonizadora contribuiu para que ocorressem rebeliões e movimentos de protestos contra a Coroa Portuguesa, partindo ora da classe dominante insatisfeita com os pesados tributos e, em algumas ocasiões, dos pobres. Porém, não se tratavam de movimentos que tivessem por objetivo a proclamação da independência do Brasil, mas tão somente expor a revolta da sociedade contra a excessiva exploração.

É relevante constatar que, apesar do gradual declínio do comércio do açúcar, a sociedade brasileira foi se desenvolvendo culturalmente nos dois primeiros séculos de colonização, verificando-se notáveis obras produzidas durante o período do Barroco, predominantemente em Salvador.

No século XVIII, a sociedade brasileira passa por consideráveis transformações decorrente de um novo ciclo econômico – a mineração.

Com a descoberta de ouro e de pedras preciosas em Minas Gerais, a economia da colônia desloca-se do Nordeste para o Sudeste, atraindo milhares em busca de um rápido enriquecimento, o que contribuiu para o aumento da população que, de 3000 habitantes, passa para 3.000.000 num período de aproximadamente cem anos, sem contar, evidentemente, com os índios, os quais foram sendo dizimados.

O desenvolvimento da mineração propiciou a formação de muitas cidades e vilarejos no interior do Brasil cujo povoamento até então concentrava-se no litoral.

Por sua vez, a capital da colônia passou a ser no Rio de Janeiro e não mais em Salvador.

O Sul, que até então nunca havia despertado o interesse da Coroa Portuguesa, começa a ser ocupado por famílias provenientes das ilhas açorianas que se instalam a princípio em Santa Catarina e depois, no Rio Grande do Sul, passando a abastecer com carne a região aurífera, dando origem ao movimento dos tropeiros que cruzavam o território do país transportando os rebanhos.

Contudo, na segunda metade do século XVIII, a mineração começa a experimentar um declínio com o esgotamento dos aluviões, gerando uma maior opressão por parte da Coroa Portuguesa. Surgem daí não somente novas revoltas contra a pesada carga tributária, como também as primeiras ideias de independência consubstanciadas na Inconfidência Mineira que almejava libertar o Rio de Janeiro e parte de Minas Gerais de Portugal.

Apesar de não ter alcançado o êxito desejado pelos seus líderes, fortemente influenciados pelos ideais do Iluminismo da Revolução Francesa e pela independência das 13 colônias norte-americanas, o movimento dos inconfidentes ficou registrado na literatura árcade que marcou a produção cultural brasileira da época, tornando-se um forte indicativo para o mundo de que parte da sociedade colonial desejava tornar-se livre da metrópole.

Observa-se que, a partir de então, movimentos semelhantes começam a acontecer na América espanhola, alicerçados nos mesmos ideais do Iluminismo e inspirados na independência dos Estados Unidos.

No entanto, logo no começo do século XIX, com o expansionismo francês de Napoleão Bonaparte e atenta aos movimentos políticos e sociais na América do Sul, a Coroa Portuguesa vem instalar-se no Rio de Janeiro, formando o Reino Unido de Portugal e Algarves, governado por Dom João VI.

A vinda da corte portuguesa para o Brasil, em 1808, acarreta mudanças irreversíveis na economia e na política brasileira, entre as quais se destaca a abertura dos portos para as nações amigas já que, até então, todo o comércio da colônia era feito exclusivamente com a metrópole.

Assim, passado o período da invasão francesa em Portugal, determinando o regresso de Dom João VI para Lisboa, a sociedade brasileira recusa-se a retornar à condição de colônia, o que induz à proclamação da independência, em 1822, pelo próprio herdeiro do trono português, Dom Pedro I, o qual passa a ser o primeiro imperador do Brasil.

Deste modo, diferentemente do sangrento processo de independência da América espanhola e dos Estados Unidos, o Brasil conquista sua independência formal por um ato de comum acordo entre as elites e a sociedade internacional que foi capaz de manter por mais tempo a influência econômica e política de Portugal e também da Inglaterra.

Estabelecido na forma de monarquia, o governo brasileiro prospera através do cultivo do café, o qual vem a ser o novo carro chefe da economia do país, dependente, sobretudo, da utilização da mão-de-obra escrava, tal como nos ciclos anteriores, cujo comércio começa a ser combatido pela Inglaterra.

Com o desenvolvimento do café, uma nova elite de fazendeiros passa a influenciar a política nacional, os quais recebem títulos de nobreza e passam a ter o direito de votar e de serem votados para o Parlamento.

A Igreja Católica, embora já não tão forte como no início da colonização, prossegue como religião oficial durante todo o Império, alcançando uma notável capilaridade social com a direção das Freguesias, que foi uma espécie de poder infra-municipal.

Certamente que o poder local passa a ser exercido pelo barões do café que se enriquecem com a comercialização do produto no mercado externo e também com o tráfico de escravos, que surge como uma tentativa de burlar as novas leis, a partir do momento em que, por pressões da Inglaterra, o Brasil passa proibir o comércio da mão-de-obra negra.

Nota-se na primeira metade do século XIX o florescimento do romantismo brasileiro, o qual retrata o mundo idealizado da sociedade da época, ainda que numa visão elitizada dos barões e da classe média urbana.

Essa classe média, formada a princípio por comerciantes, profissionais liberais e militares, vai se desenvolvendo aos poucos no século XIX dentro das cidades.

No Nordeste, verifica-se a patente decadência dos senhores de engenho, mas que permanecem no poder provincial e sobrevivendo de benefícios estatais.

Com os movimentos separatistas e a guerra do Paraguai (o maior conflito bélico ocorrido até hoje na América do Sul), os militares começam a ter destaque no cenário político nacional, na segunda metade do século XIX.

Sem dúvida que a guerra do Paraguai, apesar da vitória brasileira, trouxe consequências nefastas para o país que se endividou mais ainda com a Inglaterra para cobrir gastos com a aquisição de armamentos e pagamento de pensão às famílias dos soldados mortos em combate.

Por outro lado, a guerra do Paraguai contribuiu para acelerar o gradual processo de abolição dos escravos, o que já era defendido por setores mais progressistas da sociedade brasileira, sobretudo a classe média urbana, sendo verificado pelo estilo literário realista, posterior ao romantismo.

Tem-se um breve surto de industrialização no Sudeste, juntamente com a expansão das ferrovias, mas que não foi capaz de alterar significativamente a economia brasileira, a qual permaneceu essencialmente rural por todo o século XIX e mesmo nas três primeiras décadas do século XX.

A abolição da escravatura (1888), no entanto, desagrada a elite de produtores de café, os quais, com o apoio dos militares, tornam-se os principais responsáveis pela proclamação da República, em 1889, e passam a controlar diretamente o poder político através do voto do cabresto.

Pode-se assim dizer que a República Velha foi marcada pelo “coronelismo” em que as oligarquias rurais, ao invés de títulos de nobreza, adquire patentes do exército e exerce forte influência sobre a política nacional e local, obviamente através de fraudes eleitorais e de intervenções criminosas da polícia, ocasionando mortes e ameaças aos eleitores.

Todavia, a cultura do café perde o fôlego com a quebra da bolsa de Nova Iorque (1929), possibilitando uma ruptura política no ano seguinte com a revolução de 1930, o que permite o desenvolvimento da atividade industrial na chamada era Vargas que durou até 1945.

Sabe-se que, nesse período, propagou-se o fascismo por vários países da Europa, tido ainda como um eficiente movimento de alternativa para conter a ameaça do comunismo, tendo em vista a necessidade de reconhecimento dos direitos trabalhistas, capaz de tornar menos sofrida a vida do operário do século XX.

A fim de promover a industrialização brasileira, Vargas concede direitos apenas aos trabalhadores urbanos, contribuindo assim para um progressivo êxodo rural capaz de esvaziar as falidas fazendas de café.

A participação brasileira na segunda guerra mundial marca o final da era Vargas e da ditadura do Estado Novo (1937-1945), trazendo de volta os ideais da democracia constitucional, caracterizada pelo pluripartidarismo e pelo voto direto, embora o Partido Comunista tenha atuado clandestinamente.

Desenvolvem-se no novo regime político (1946-1964) vários movimentos sociais lutando por reformas, tanto na cidade quanto no campo, objetivando a melhoria das condições de trabalho. As organizações sindicais, criadas figurativamente na era Vargas, tornam-se instituições que lutam por mudanças, influenciadas por ideais socialistas ou da social democracia.

A economia brasileira continua a crescer, principalmente no novo mandato de Vargas que retorna como presidente eleito e cria a PETROBRAS, e depois sob o comando de Juscelino Kubicheck, o qual atraiu a instalação de montadoras de automóveis para o país e construiu Brasília que se torna a nova capital brasileira.

Entretanto, as reivindicações sociais no Brasil começam a gerar preocupações para a elite brasileira e para os Estados Unidos que apoiam o golpe militar de 1964, com o argumento de evitar a “ameaça vermelha” do expansionismo soviético.

Deposto o presidente João Goulart, o Brasil mergulha nas densas trevas do regime militar (1964-1985), no qual se verificou uma perseguição aos principais movimentos sociais capazes de promover mudanças profundas no país – os sindicatos e as entidades estudantis. Milhares de pessoas são presas, exiladas, torturadas e mortas.

A produção cultural brasileira também sofre interferências em sua evolução com o regime militar que impõe uma estúpida censura a músicas, filmes, noticiários, programas de rádio e de televisão.

Além da proibição de eleição direta para o cargo de presidente da República, o regime militar impõe o bipartidarismo, cassa o mandato de parlamentares da oposição e indica governadores e prefeitos conforme a conveniência dos generais.

No entanto, a sociedade brasileira reage ao autoritarismo dos militares, culminando no movimento “Diretas Já” (1984), ocasião em que o pluripartidarismo já se encontrava restabelecido desde 1979.

Apesar do Congresso brasileiro não ter aprovado as eleições diretas para presidente, em 1984, é eleito Tancredo Neves que vem a falecer antes de sua posse.

Assumindo a Presidência em 1985, José Sarney busca controlar a super-inflação herdada do último governo militar, a qual foi consequência de um declínio da economia mundial datado da crise do petróleo (1973). Em 1986, é decretado o “Plano Cruzado” que fracassa junto com outras tentativas como o “Plano Bresser” (1987) e “Plano Verão” (1989).

Com um Congresso democraticamente eleito em 1987, é formada uma Assembleia Constituinte que, no ano de 1988, com a participação de vários setores da sociedade, promulga a atual Carta Política que marca o nascimento de um novo Estado de Direito, com forte inspiração em princípios da social democracia.

Em 1989, o povo brasileiro pôde novamente votar para presidente, elegendo Fernando Collor, o qual promete implantar o seu projeto neoliberal.

Acusado da prática de corrupção, Collor sofre um processo de impeachment e renuncia em 1992, assumindo em seu lugar Itamar Franco que, cedendo às pressões internacionais, nomeia Fernando Henrique Cardoso para dirigir a economia e implantar medidas liberalizantes.

Com a estabilização monetária através do “Plano Real”, Fernando Henrique é eleito presidente em 1994 e reeleito no pleito de 1998, dando prosseguimento às reformas de caráter neoliberal e ao processo de desestatização da economia, com o apoio significativo da elite brasileira.

A crise das bolsas asiáticas, em 1997, juntamente com o descontentamento de vários setores da sociedade brasileira com a perda gradual do poder aquisitivo, faz com que as medidas liberalizantes viessem a desacelerar e contribuem para a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (2002) que se reelege em 2006, contrariando as expectativas geradas por sua campanha.

Contudo, apesar do empobrecimento causado pelo desemprego e pela retração da economia nas últimas décadas, a sociedade brasileira voltou a se organizar após o fim do regime militar e com a promulgação da Constituição de 1988, construindo a cada ano uma democracia mais participativa por sua própria iniciativa.

Ainda que tenha ocorrido um enfraquecimento das entidades sindical e estudantil, houve um notável crescimento dos movimentos de minorias em busca do resgate da cidadania, tais como negros, mulheres, idosos, homossexuais, indígenas, sem-terra, sem-teto, portadores de doenças crônicas, portadores de necessidades especiais, entre outros, além dos ambientalistas.

Contudo, pode-se notar a ocorrência de recentes mudanças na economia e na política do país. A descoberta dos campos petrolíferos do pré-sal, no segundo mandato do presidente Lula, tem sido amplamente comemorada como um novo ciclo de desenvolvimento, sendo que poucos refletem sobre os reflexos negativos que podem ocorrer caso a economia brasileira torne-se dependente da extração deste mineral.

Além do risco de sobrevalorização cambial que dificultaria a exportação dos setores agrícolas e industriais, o Brasil corre vários riscos de se tornar uma economia fortemente estatizada, com pouco estímulo à iniciativa privada. E o gigantismo estatal pode também vir a representar um risco para o desenvolvimento da democracia do país, tendo em vista a nova onda totalitária de esquerda que hoje avança sobre vários países da América Latina.

Pela primeira vez em várias décadas a federação brasileira enfrenta uma nova crise com as disputas pela distribuição dos royalties da produção petrolífera, os quais, diga-se de passagem, não têm sido aplicados satisfatoriamente na promoção do bem estar social e da compensação ao meio ambiente. Aliás, corre-se o sério risco de que tais recursos não cheguem ao cidadão comum, uma vez que a fiscalização da sociedade sobre a aplicação das verbas provenientes do petróleo é muito deficiente devido à má formação educacional da população brasileira.

Diante deste novo quadro, é preciso que a sociedade brasileira prossiga para alcançar a tão sonhada maturidade democrática e que saiba preservar a a liberdade duramente conquistada, buscando resgatar sua identidade e construir novas relações humanas baseadas no exercício dos direitos fundamentais que foram estabelecidos pela Constituição de 1988.

Direitos de aforamento - uma relíquia jurídica que ainda atrapalha muita gente em várias cidades brasileiras




O direito de enfiteuse (ou aforamento) foi instituído na legislação brasileira a fim de satisfazer uma necessidade social que não mais existe.

Durante a época do povoamento do país, o aforamento permitiu ao grande proprietário de terras que, diante da impossibilidade de ocupar toda a extensão do seu imóvel, cedesse a outra pessoa o uso e o gozo da propriedade. Fazia-se então um contrato em que o enfiteuta obrigava-se ao pagamento de uma pensão anual para a utilização do bem, funcionando, na prática, como um arrendamento perpétuo em favor do senhorio.

Aqui mesmo, em Nova Friburgo, por exemplo, instituiu-se o aforamento dos imóveis de uma parte do município durante os meados do século XIX. E até hoje a Prefeitura tem como uma das fontes de sua receita o recebimento de uma pensão anual de mais de 20 mil imóveis, além da cobrança do laudêmio.

Deste modo, o aforamento cumpriu o seu papel no povoamento de vários municípios brasileiros no sentido de ter promovido a ocupação das terras consideradas incultas, ou deficientemente cultivadas, cujas finalidades não são mais alcançadas em razão da existência de outros institutos jurídicos vistos como mais dinâmicos e atuais.

Já no começo do século XX, o artigo 680 do Código Civil de 1916 veio então restringir o alcance da enfiteuse apenas às “terras não cultivadas ou terrenos que se destinem à edificação”.

No entanto, as legislações atuais de diversos países desenvolvidos opuseram-se à perpetuidade de exploração da terra, estabelecendo normas com a finalidade de permitir a aquisição da plena propriedade e por fim a essa relíquia jurídica da época medieval.

Durante a vigência da Constituição anterior, o saudoso jurista Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda já criticava a manutenção do aforamento na legislação brasileira. Ele considerava o instituto como “um dos cânceres da economia nacional” e que seria “fruto, em grande parte, de falsos títulos que, amparados pelos governos dóceis a exigências de poderosos, conseguiram incrustar-se nos registros de imóveis” (Tratado de direito privado. 3ª ed. v. 18. Rio de Janeiro: Borsoi, 1971, pág. 179)

A Constituição brasileira de 1988 veio então abrir uma real possibilidade para o Congresso Nacional extinguir de vez a enfiteuse, compreendendo a sua inutilidade atual na esfera privada ao dizer claramente no artigo 49 das Disposições Transitórias que:

“A lei disporá sobre o instituto da enfiteuse em imóveis urbanos, sendo facultada aos foreiros, no caso de sua extinção, a remição dos aforamentos mediante aquisição do domínio direto, na conformidade do que dispuserem os respectivos contratos.”

Com a aprovação do atual Código Civil, que passou a vigorar em 11 de janeiro de 2003, a enfiteuse foi, acertadamente, substituída pelo direito de superfície, tal como concretizado anteriormente em Portugal. O artigo 2.038 da nova legislação impediu a constituição de novas enfiteuses e subordinou as que restaram aos princípios do Código Civil de 1916 até a sua extinção.

Acontece que, devido ao desaparecimento de grandes porções de terra desocupadas, à desvalorização imobiliária e à impossibilidade do aumento do foro, o instituto do aforamento perdeu a sua eficácia sendo que os novos problemas de ocupação do solo improdutivo no país têm sido enfrentados com meios jurídicos muito mais eficazes.

Deste modo, poucas são as legislações que ainda abrigam esse arcaísmo histórico que é o aforamento e o Brasil, felizmente, tem caminhado para a sua total extinção ainda que a passos lentos.

O Projeto de Lei Federal n.° 6.960/2002, que foi arquivado em 31/01/2007 no Congresso Nacional, propôs acrescentar um parágrafo ao artigo 2.038 do Código Civil dando a seguinte redação ao dispositivo:

“Fica definido o prazo peremptório de dez anos para a regularização das enfiteuses existentes e pagamentos dos foros em atraso, junto á repartição pública competente. Decorrido esse período, todas as enfiteuses que se encontrarem regularmente inscritas e em dia com suas obrigações, serão declaradas extintas, tornando-se propriedade plena privada. As demais reverterão de pleno direito para o patrimônio da União”

Apesar das inúmeras controvérsias que recaíram sobre a referida proposição legislativa que, apenas aparentemente, apresentou um conflito com o direito adquirido, é evidente a tendência evolutiva de que o instituto do aforamento venha a desaparecer de vez do ordenamento jurídico brasileiro, ainda que seja através de alguma mediação de iniciativa do Poder Executivo.

Assim sendo, vislumbro que o primeiro passo a ser dado não seria a aprovação de uma nova lei modificando o Código Civil, mas sim os próprios municípios titulares do direito de enfiteuse renunciarem a essa receita extra. Uma arrecadação que, juntamente com a excessiva carga tributária imposta aos contribuintes, tem prejudicado muitos proprietários de imóveis e influenciando negativamente nos valores dos alugueres repassados aos inquilinos em muitas cidades.

Entre os benefícios diretos que podem ser proporcionados à sociedade com esta medida de generosidade estariam a facilidade na transação imobiliária e a redução dos encargos que pesam sobre a propriedade. E, indiretamente, haveria mais dinheiro circulando no mercado de consumo e aquecendo a economia do país já que os municípios titulares dessa relíquia jurídica estariam deixando de tragar recursos que, numa proporção nacional, tornam-se bem significantes.

Uma maneira inteligente de se promover essa mudança nas cidades poderia partir também dos governos estaduais e federal, os quais passariam a condicionar a destinação de algumas verbas aos municípios à abolição de seus respectivos aforamentos, respeitando apenas os que são de titularidade do particular.


OBS: A ilustração acima refere-se a um quadro do pintor flamengo Quentin Matsys (1466-1530), conforme extraído do acervo virtual da Wikipédia.

Os carros de som deveriam ser abolidos nas cidades brasileiras!

Já está mais do que provado que os sons acima de 50 decibéis aumentam os casos de insônia, atingindo o sistema nervoso e contribuindo para o “stress”, bem como a incidência de dores de cabeça, depressão, distúrbios hormonais, problemas digestivos e cardiovasculares.

O ilustre professor Fernando Pimentel Souza, titular da cadeira de Neurofisiologia da UFMG, membro pleno do Instituto de Pesquisa sobre o Cérebro da UNESCO/PARIS, elucida magistralmente esta questão em um artigo de sua autoria sobre o assunto, ensinando que: “Em qualquer horário o ruído elevado é perturbador. Um pulso de som de 90 dB de apenas 20s desenvolve 80s de constrição periférica nos vasos sanguíneos.” (in “Efeitos da Poluição Sonora no Sono e na Saúde em Geral – Ênfase Urbana” - ICB - UFMG - 30.161-970 - Belo Horizonte - MG)

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o limite tolerável ao ouvido humano é de 65 decibéis, pois, acima disso, o organismo humano sofre de estresse, o qual aumenta o risco do surgimento de diversas doenças.

Com a percepção de ruídos de grande intensidade aumenta-se o risco de comprometimento auditivo, sendo que, quanto maior o tempo de exposição de alguém ao barulho, diretamente proporcional será o risco dessa pessoa sofrer danos em sua saúde.

Acontece que, na natureza, com exceção das trovoadas, das grandes cachoeiras e das explosões vulcânicas, poucos ruídos atingem grande intensidade, de modo que não se justifica uma emissão tão absurda de sons e ruídos pelos infernais carros de som que tanto incomodam as cidades brasileiras e latino-americanas de um modo geral.

Segundo o artigo 225 caput da Constituição brasileira de 1988, é direito de todos usufruir de um meio ambiente ecologicamente equilibrado, o que, evidentemente, não exclui as questões relativas à poluição sonora. Por sua vez, o artigo 23, inciso VI, também da Constituição do nosso país, estabelece que é da competência da União, dos Estados e do Município, “proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas”.

Neste sentido, o Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA, em sua Resolução n.° 001, de 8 de março de 1990, deixou registrado no item I da norma que a emissão de ruídos, em decorrência de quaisquer atividades industriais, comerciais, sociais ou recreativas, inclusive as de propaganda política, obedecerá, no interesse da saúde, do sossego público, aos padrões, critérios e diretrizes estabelecidos nesta Resolução. E, no item II da Resolução, adotou os padrões estabelecidos na NBR 10.151 que trata da Avaliação do Ruído em Áreas Habitadas visando o conforto da comunidade, da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT.

Ora, a NBR 10.151 da ABNT estabelece que o critério básico de ruído para áreas residenciais deve ser de no máximo 45 decibéis, nível este que, evidentemente, torna insuportável o limite de barulho emitido pelos carros de som nas regiões habitadas de uma cidade.

Por sua vez, o Estado do Rio de Janeiro através da sua Lei n.° 4.324, de 12 de maio de 2004, conceitua de maneira completa o que vem a ser poluição sonora em seu artigo 2°, explicando que: “Para efeito desta Lei, considera-se Poluição Sonora a poluição do meio ambiente urbano provocada por ruído excessivo, contínuo e/ou intermitente ou de impacto, capaz de provocar alterações no sistema auditivo com perda da capacidade auditiva total ou parcial, temporária ou permanente, e capaz também de provocar danos extra auditivos: no campo psíquico, metabólico, cardiovascular, sistema nervoso central e endócrino, tais como aumento dos níveis de catecolaminas, adrenalina e corticóides, vaso constricção, taquicardia, hipertensão arterial, redução da secreção gástrica, fatiga irritabilidade, nervosismo, ansiedade, excitabilidade, insônia, devendo ser combatida de todas as maneiras e com o emprego de todos os recursos disponíveis.”

Em seguida, o artigo 4° da mesma lei fluminense determina que se observe a NBR 10.151 da ABNT adotada pelo CONAMA.

Assim, o uso de carros de som nas cidades para fins publicitários e eleitorais têm contrariado os limites estabelecidos pelas legislações federal e de vários estados sobre meio ambiente, bem como os princípios basilares relacionados ao meio ambiente e reconhecidos pela Constituição brasileira que jamais permitiriam a concretização de absurdos como esses.

Desta forma, os moradores das cidades brasileiras devem cobrar do Poder Público local não apenas a elaboração de leis municipais proibindo expressamente o uso dos carros de som para fins propagandístico como também exigirem que os respectivos órgãos de fiscalização façam cumprir a legislação já existente.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Os milagres e a fé

Sempre que lembro dos milagres registrados na Bíblia, sou levado a um confronto com os meus valores e com a minha experiência de vida cristã. Sou desafiado não só a crer no poder de Deus, como no seu amor e nos seus propósitos para cada indivíduo.

Minha passagem pelo catolicismo romano não praticante, durante a infância, não me despertou nenhuma crença na ocorrência de milagres nos dias atuais. Quando assistia algum filme sobre Jesus na televisão, acreditava que os milagres foram acontecimentos restritos àquela época por causa da presença encarnada do nosso Senhor.

Na adolescência, por volta dos meus 14 anos, passei a frequentar a igreja de minha avó materna, onde pregavam sobre milagres. Lá, os pastores faziam cultos e campanhas em épocas específicas para que as pessoas fossem abençoadas tanto através de curas, como na vida profissional e no meio familiar. Até para as pessoas arrumarem casamento eles faziam reuniões eventualmente e, às sextas-feiras, era o dia da “corrente de libertação”, voltada mais para expulsão de demônios com referências às entidades veneradas pela macumba.

Estar diante de um Deus que, nos dias de hoje, ainda cura as pessoas de quaisquer enfermidades era algo novo para a minha cabeça. Aprendi ali que Deus quer e pode curar todas as minhas doenças e que qualquer pensamento contrário seria coisa do diabo. Assim, durante as reuniões na igreja, eu costumava pedir pela cura dos meus problemas de vista e de coluna, sendo que costumava abrir ansiosamente os olhos para ver se de fato estaria enxergando melhor.

No entanto, em nenhuma das orações, eu recebia a graça de ficar instantaneamente curado da miopia e do astigmatismo que, desde a infância me limitavam. Também continuava andando curvado pelas ruas e, às vezes, sentia fortes dores de coluna decorrentes de algum mal jeito.

Com meus 15 para 16 anos, quando eu era membro da igreja Batista de meus primos, no Rio de Janeiro, passei por uma grande provação na minha vida. Depois de ter tido um sangramento na região coccígea, foi diagnosticado um cisto pilonidal, o qual precisava ser extraído pela via cirúrgica.

Confesso que, ao tomar conhecimento da notícia, fiquei muito preocupado e perturbado nos meus valores cristãos ainda em formação. Pensava que Deus não poderia me deixar passar pela cirurgia e que antes iria me curar de tal anomalia. Além das fortes dores que muito me incomodavam, estavam em jogo as minhas concepções a respeito de Deus sobre seu poder, seu amor por mim e sobre a minha própria fé.

Em janeiro de 1992, acabei enfrentando a mesa de cirurgia e, por meses, precisava retornar ao hospital duas vezes por semana para que o meu médico fizesse novos curativos naquela incômoda região através de aplicações de nitrato de prata. Precisei ficar mais de um mês sem poder tomar um refrescante banho de chuveiro no verão carioca e nem podia dormir de barriga para cima. A cada novo curativo, eu morria de dores, chingava palavrões, agia com rebeldia em casa e começava a descumprir mandamentos bíblicos.

Posso dizer que, em 1992, eu me tornei um desviado sem ter deixado a frequência da igreja. No meio do ano, fui convidado a sair de uma escola por assediar constantemente as meninas da classe de uma maneira indecorosa e, no segundo semestre, tomei a iniciativa de juntar um dinheiro proveniente das mesadas para procurar por conta própria uma prostituta com quem tive a minha primeira relação sexual.

Em 1993, morando em Juiz de Fora (MG), não suportei mais a obrigação institucional com a igreja e resolvi deixar a frequência dos cultos. Meu novo ambiente passou a ser o movimento estudantil cheio de jovens com ideias de esquerda e a política do país era o meu principal pensamento. Nesta época, já não conseguia mais ler a Bíblia e tinha assumido um estilo de vida mundano que trazia muitas tristezas para os que viviam comigo dentro de casa, principalmente para o meu avô paterno.

Nos 12 anos em que andei afastado da comunhão com Deus e dos irmãos da Igreja (1993-2005), se alguém me perguntasse sobre minha crença em milagres, eu não negaria com as palavras, mas, certamente, iria me contradizer com as atitudes. Atribuía os testemunhos que escutava nos programas de rádio e de TV às impressões psicológicas das pessoas. Se o caso fosse muito bem contado, imaginava que algum pastor charlatão teria pago o sujeito para mentir em público.

Contudo, não cheguei a abraçar totalmente a ideia de que os milagres tivessem ocorrido só até à época dos apóstolos. No fundo, eu pensava que a minha fé é que seria insuficiente, de maneira que, por muitas vezes, culpava-me por não ter alcançado uma cura divina. E isto persistiu mesmo depois que voltei a frequentar uma igreja na metade da primeira década do século XXI, quando já residia aqui em Nova Friburgo.

Felizmente, minhas concepções amadureceram e hoje entendo os milagres de uma outra forma.

Quando leio a Bíblia, vejo os milagres como um recado de Deus sobre uma obra muito mais ampla do que simplesmente curar instantaneamente alguém ou ressuscitar um morto. Passei ver como ensinamentos cada um dos sinais extraordinários que Jesus realizou durante o seu ministério, afim de que prestemos a atenção num propósito maior de Deus para a humanidade, o principal recado do Evangelho.

Vejamos, pois, a ressurreição de Lázaro. Uma indagação que talvez esteja na cabeça de todos nós é se algum dia Lázaro tornou a morrer. O próprio texto do Evangelho de João diz que os judeus pensaram em matar a Jesus e a Lázaro, sendo que de fato ambos morreram um dia. Jesus ressuscitou, mas Lázaro hoje aguarda em seu túmulo uma ressurreição definitiva que o livre de uma vez por todas da morte. E, deste modo, creio que tanto a ressurreição de Lázaro quando a do filho da viúva de Naim apontaram para um futuro onde as pessoas não mais vão morrer e nunca mais haverá choro, pranto ou dor.

Outra questão que podemos incluir sobre o tema tratado neste texto é se os milagres são capazes ou não de gerar fé nas pessoas? Porém, a Bíblia mostra que não. Uma das partes mais incríveis do Evangelho de João é aquela do verso 37 do capítulo 12:

“E, embora tivesse feito tantos sinais na sua presença, não creram nele”.

Já no Antigo Testamento, quando o povo de Israel estava atravessando o deserto, após terem sido libertados miraculosamente dos egípcios, atravessado a pés enxutos o Mar Vermelho, visto com os olhos a manifestação da presença de Deus na nuvem que os seguia de dia e na coluna de fogo à noite, terem se alimentado do maná e bebido água da rocha, o próprio Deus se queixa daquela geração:

“Até quando me provocará este povo e até quando não crerá em mim, a despeito de todos os sinais que fiz no meio dele?” (Números 14.11)

Em ambas as passagens, podemos ver que, da mesma maneira como uma geração rejeitou ao Filho de Deus, seus ancestrais também praticaram a mesma incredulidade contra o Pai. A Bíblia mostra que de nada adiantava o povo ter presenciado tantos milagres em ambas as ocasiões, uma vez que poucos de fato manifestaram fé. Na mesma cidade onde Jesus curou o paralítico no tanque de Betesda e abriu aos olhos do cego de nascença, seus habitantes clamaram pela sua crucificação perante Pilatos, preferindo Barrabás do que o Senhor.

Por acaso quantos dos dez leprosos voltaram para agradecer a Jesus pelo milagre? Dentre aqueles homens, apenas um que era samaritano (um israelita mestiço e rejeitado pelos judeus) retornou com uma atitude gratidão, o que demonstra que uma pessoa pode receber vários milagres em sua vida e ainda assim não se converter.

Talvez se aos meus 15 anos Deus tivesse me curado daquele dolorosa enfermidade, ainda assim o meu coração teria se desviado, o que pude comprovar anos mais tarde quando, no ano de 2005, retornei á frequentar a igreja.

Em abril daquele ano, contratei um homem chamado Francisco para instalar uma tomada de três pinos na residência onde eu morava no bairro das Braunes afim de poder ligar o computador que tinha acabado de adquirir. Aquele homem, no entanto, trouxe consigo o seu primo que também tem o mesmo nome, o qual, por coincidência ou plano de Deus é também o primeiro nome de meu falecido pai.

Ousadamente, o primo daquele homem que entrou na minha casa como um ajudante de quem eu havia contratado, começou a profetizar sobre minha vida falando a respeito de minha pobreza. Por motivo de educação, fiquei calado e o ouvi com discordâncias porque eu estava com uma conta bancária de cinco dígitos, situação relativamente confortável para o contexto da maioria da população brasileira. Só que lá no fundo eu sabia de qual pobreza o Sr. Francisco se referia.

Dois dias depois, fui na sua igreja e participei de um culto. Mantive-me bem reservado, mas o meu coração dizia que estava na hora de voltar a ter comunhão com Deus.

Em maio de 2005, quando estava viajando pela Bahia com minha esposa (na época ainda éramos namorados), recebi a notícia de que meu avô paterno estava muito mal no hospital em Juiz de Fora, de modo que, no dia seguinte, comprei logo uma passagem aérea de Ilhéus para Belo Horizonte, tendo lhe visitado constantemente até que apresentasse sinais de melhoras.

Dois dias depois de ter retornado a Nova Friburgo, recebi a impactante notícia sobre o falecimento de meu avô na manhã do dia 30/05/2005 e, novamente, parti para Juiz de Fora, quando me derramei em lágrimas durante o velório e no enterro na manhã seguinte.

Agora sem meu avô que até então me sustentava com quase R$ 1000,00 mensais e apenas com uma poupança decorrente de uma indenização recebida da Telemar e que já não era de cinco dígitos e sim de quatro, uma preocupação me abateu sobre o que seria de mim. Apesar de ter pego a carteira da OAB em abril de 2005, minha profissão não me dava ganhos financeiros suficientes. Na minha mente, passou a ideia de entregar a casa alugada nas Braunes e vir morar com meus parentes na cidade do Rio de Janeiro.

Para minha surpresa, depois de tudo o que aprontei com minha família na juventude, a esposa de meu avô mandou-me o dinheiro da mesada do mês de junho, dois dias depois do falecimento, o que acabou servindo de sinal para que não deixasse Nova Friburgo. E então, com aquele dinheiro da última mesada mais o que sobrava da indenização da Telemar eu fui me mantendo pelos meses seguintes até receber nova ajuda.

Nesta época, outro fato curioso ocorreu. Por culpa minha, posto que não tinha notado a publicação sobre uma decisão desfavorável num recurso que tramitava na 5ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio, temia ter que indenizar meu cliente por não ter conseguido a gratuidade de justiça em seu processo, já que ele não pretendia litigar sem estar isento de custas. E eu andava desesperado porque imaginava que, além de ter que pedir desistência da ação, ainda iria tirar do meu próprio bolso o valor das custas processuais e da taxa judiciária de 2% sobre o valor de R$ 20.000,00 atribuído à causa. Entretanto, foi justamente nesta época em que o juiz de primeira instância, aqui na comarca de Nova Friburgo, resolveu mudar as decisões anteriormente proferidas em tais situações, determinando o cancelamento da distribuição do feito ao invés de remeter o nome de meu cliente para o Fundo Especial do Tribunal e sua inscrição na dívida ativa.

Ao saber da notícia a respeito do cancelamento da distribuição e que seria poupado de um gasto que poderia aproximar-se de uns R$ 600,00 (seiscentos reais), resolvi comemorar e agradecer a Deus por aquele livramento, de modo que passei a reconhecê-Lo em meus caminhos. E fiquei menos preocupado quanto ao meu futuro.

Quando o dinheiro da indenização da Telemar estava acabando, minha avó paterna resolveu doar-me parte do dinheiro do pecúlio que meu avô tinha deixado em seu favor, depositando R$ 10.000,00 na minha conta corrente, o que, juntamente com outra indenização recebida da Claro, permitiu que eu sobrevivesse até o começo do ano de 2006.

Ainda no mês de 2005, decidi que iria me casar com Núbia sem ter nenhuma certeza de futuro. Então, fui gastando o que tinha na poupança com os preparativos da festa matrimonial que ela considerava tão importante. Contratamos uma empresa especializada e em pouco tempo a minha conta estava reduzida a um pouco mais de R$ 1.000,00.

Não vou negar que, apesar dos livramentos e das ajudas anteriores em que Deus havia me sustentado, novamente fiquei angustiado pela situação. Passava pela minha cabeça o pensamento se daquela vez as coisas iriam dar certo e se conseguiria arcar com todos os gastos sem ficar endividado. Contudo, resolvi que manter firme.

Como um teste de fé, meu avô materno que vive no estrangeiro havia me prometido doar uns 500 dólares e enviou a quantia no envelope de uma carta. Porém, quando recebi a missiva, fiquei perplexo com o fato de só ter encontrado duas notas de cem dólares, o que me causou uma grande indignação. Senti-me mais ainda angustiado e com medo de não conseguir saldar todas as obrigações, sem falar que jamais poderia levar aquele caso à Justiça porque é ilegal o envio de dinheiro através de correspondências postais.

Porém, resolvi não mais me abater com aquele acontecimento e, após ter chamado minha esposa, dei-lhe a meação do que tinha recebido e ofertei na igreja a outra nota de cem dólares, afim de não mais ficar com o meu coração preso ao furto que alguém teria praticado.

Poucos dias depois, a esposa de meu falecido avô paterno decidiu me presentear com R$ 1.000,00 e a minha tia com uma importância idêntica, de maneira que vim a receber praticamente o dobro dos 500 dólares, de modo que foi o suficiente para pagar as despesas do meu casamento e ainda sobrar para a lua de mel na praia, em Rio das Ostras.

Menos de uma semana depois do meu casamento, tendo a esposa de meu falecido avô terminado de pagar as despesas do inventário, resolveu dividir o que havia sobrado do dinheiro que eles guardavam numa caderneta de poupança para ser utilizado em caso de necessidade por motivo de saúde, tendo ela resolvido dividir igualmente entre cada herdeiro de modo que, quando me restavam uns três dígitos na minha conta vim a receber uma doação de pouco mais de R$ 12.000,00.

Todos aqueles acontecimentos poderiam ter servido para aumentar a minha fé, mas confesso que não foi isto o que de fato aconteceu logo a seguir. Assim como os israelitas vieram a se esquecer de Deus depois que entraram na terra prometida ou recebiam algum livramento, fui ficando cada vez mais apegado ao dinheiro e ao trabalho. Em meu coração ainda não tinha morrido uma antiga ambição dos tempos em que eu tinha meus 19 anos, quando eu desejava amealhar uma poupança de 1 milhão de dólares antes de fazer 40 anos.

Desde aquela época, eu havia feito cálculos de projeções financeiras sobre quanto eu deveria investir mês a mês para conseguir ficar rico até os 40, quando então iria poder viajar para todos os continentes do mundo, ter uma mulher para dormir comigo todas as noites ainda que fosse pagando para ter sexo e nunca mais precisar trabalhar. Por isto, aprendi desde jovem o que é economizar dinheiro e, se não tivesse sofrido um processo criminal em 1997 por causa de um delito praticado no laboratório de informática na UFJF (meu maior fundo de poço experimentado até hoje), teria continuado a alimentar aquela compulsão.

Só que o desejo de ficar rico ainda não tinha sido sepultado. Eu desejava que Deus agora me transformasse num homem muito próspero e era o que no fundo eu mais queria Dele nos meses seguintes depois que havia me casado com Núbia. Trabalhava de segunda à segunda, inclusive aos sábados, domingos e feriados. Pouco dava atenção à minha esposa, exceto se fosse para fazer sexo e então voltar para o computador e trabalhar. Quando, aos domingos, o relógio marcava 17:40 e faltava 20 minutos para começar o culto na igreja, eu não me alegrava como Davi quando ia para casa do Senhor. Em lugar de Deus, eu estava colocando no meu coração o trabalho e o dinheiro.

Curiosamente, fui fracassando nas minhas atividades. Trabalhava assiduamente, buscava ser perfeccionista nas minhas atividades laborais para não cometer nenhum vacilo quanto aos prazos processuais, bem como no manejo da doutrina jurídica e da jurisprudência para apresentar petições com uma elaboração superior a de meus colegas de profissão. Ainda que eu não estivesse ficando rico, queria que o meu trabalho fosse o melhor, de maneira que eu empreendia boa parte dos meus recursos para manter em dia minhas obrigações. Como advogado sabia que não tinha o dever de ganhar as causas, mas deveria fazer tudo que estivesse ao meu alcance para o processo do meu cliente ser bem sucedido. Só que, ainda assim, a advocacia não estava provendo meu sustento e, na prática, foram as ajudas mensais de minha família que Deus resolveu usar para me manter.

Em 2008, decepcionado com o trabalho e comigo mesmo, sentia-me exausto. Acompanhar dezenas de processos na Justiça tornou-se um grande fardo para mim. Eu não conseguia mais continuar com o mesmo entusiasmo do começo da profissão. Não tinha tempo para nada e o meu dinheiro na poupança tinha acabado. Além disso, os prazos forenses só eram suspensos de 20 de dezembro até 6 de janeiro, sendo que houve um ano em que o recesso acabou e tive uma audiência dois dias depois do Natal. Houve manhãs que eu nem aguentava ligar mais o computador e, ao levantar da cama, encostava-me deprimido na parede da janela de meu apartamento.

Passando por toda aquela crise, resolvi ler a Bíblia a cada manhã. Desde quando eu havia me desviado na década de 90, nunca mais tinha recuperado o saudável hábito de ler as Escrituras todos os dias. Então, lutando contra toda a ansiedade em pesquisar sobre o andamento de meus processos na internet, eu não começava a trabalhar sem antes ler um trecho de algum livro da Bíblia.

Resolvi começar pelos profetas, o que realmente me faltava para eu terminar de ler a Bíblia toda (quando era adolescente eu já conhecia bastante do Novo Testamento, mas detestava os salmos e os profetas, tendo deixado para trás vários trechos do Antigo Testamento). Então, mesmo que fosse um capítulo, dois, três, ou apenas alguns versículos, eu não deixava de ler sequencialmente um livro. Poderia até abrir a Bíblia aleatoriamente ou fazer a leitura de outra passagem, mas não abandonava o método sequencial.

Houve vezes em que eu já estava com o computador ligado para começar a trabalhar, então me recordava sobre o propósito que eu tinha feito de ler a Bíblia, de modo que decidia interromper as minhas atividades laborais e colocar em primeiro lugar a Deus, não o trabalho.

Em meio ao deserto financeiro que atravessei na minha vida no ano de 2008 (acho que ainda não saí dele), dentre outras provações, a Palavra de Deus tornou-se para mim o verdadeiro alimento espiritual. Se antes eu não estava nem conseguindo abrir a Bíblia, agora eu já não suportava passar um dia sem minha leitura. Se, por caso, esquecesse de ter um contato com a Palavra de Deus, sentia falta daquele momento a sós com Ele no meu quarto.

Em pouco tempo, depois que coloquei Deus na minha agenda, percebi que uma grande mudança tinha ocorrido na minha vida. Comecei a ter o desejo de fazer aquilo que há muito tempo deveria estar realizando – a obra de Deus. E o que Deus colocava no meu coração em termos de revelações de sua Palavra, eu sentia o enorme desejo de compartilhar.

Lembro que, no próprio ano de 2008, depois de ter enfrentado a depressão do fracasso profissional e financeiro, meu coração já sentia o desejo de chamar os homens de minha igreja para orarem comigo no período em que os maridos ficavam aguardando suas esposas durante o culto das mulheres nas terças-feiras. E daí posso dizer que, aos poucos, graças a Deus, a rede dos homens da Maranata foi se reorganizando no ano de 2009, quando então começamos a celebrar nossos cultos nas sextas-feiras com o auxílio de um dos pastores.

Se fôssemos perguntar para Deus qual é o maior milagre da Bíblia, não tenho dúvidas de que Ele tem preferência pela transformação de caráter do ser humano. Para Deus, o mais importante não está na admiração do homem pelos seus prodígios ou na sujeição das pessoas por causa da manifestação do seu poder. Ele quer que cada um aprenda a encontrá-Lo através de uma fé pessoal. Ele almeja que tenhamos um permanente e sincero relacionamento, uma dependência constante de Sua Presença e uma conversão verdadeira.

Que Deus possa, nesta semana, iluminar sua vida e trazer novas experiências ao seu cotidiano, gerando no seu coração uma fé inabalável.

sábado, 20 de março de 2010

Os mártires de ontem e hoje

Lendo o livro de Atos, na Bíblia cristã, pode-se verificar que Espírito Santo não usou somente os apóstolos para fazerem a obra de Deus, mas também ouros homens que se colocaram à disposição do Senhor.

Nos primeiros tempos da Igreja, a comunidade judaico-messiânica em Jerusalém chegou a ser grandiosa em número de discípulos. E, num determinado momento, para solucionarem os problemas de distribuição de mantimento às viúvas, foram eleitos sete homens que ficariam encarregados das obras sociais. E, entre esses eleitos, estava Estêvão que, segundo o texto bíblico, era um homem “cheio de fé e do Espírito Santo” (At 6.5).

Tão logo iniciou o seu ministério, Estêvão não ficou restrito aos trabalhos assistenciais. Pois, através dele, Deus passou a realizar prodígios e grandes sinais no meio do povo (At 6.8).

Todo esse mover de Deus por meio de Estêvão, certamente, deve ter despertado a inveja e a oposição de algumas facções do judaísmo a ponto de levantarem falsas acusações contra aquele valoroso irmão perante o Sinédrio judaico. E as calúnias contra Estêvão consistiam basicamente nestas duas acusações: (i) na mentira de que ele estivesse blasfemando contra a lei de Moisés; e (ii) agindo contra o Templo.

Conduzido para depor diante do Sinédrio, a inocência de Estêvão encontrava-se estampada na sua aparência em que todos ali puderam ver a face deste admirável discípulo de Jesus como se fosse o rosto de um anjo. Após ter se iniciado o interrogatório, o sumo sacerdote perguntou a Estêvão se aquelas acusações feitas contra ele seriam verdadeiras, pelo que lhe deu uma oportunidade para se defender.

Naquele momento, Estêvão teve a oportunidade de responder diretamente às acusações feitas contra ele, ou ainda relativizar o seu posicionamento como pregador da verdadeira Palavra de Deus, podendo dizer coisas que pudessem agradar aqueles homens. Porém, ele se utilizou daquela oportunidade para dizer verdades que precisavam ser ouvidas por aqueles homens de coração endurecido que, mesmo depois de terem crucificado a Jesus, continuavam resistindo ao mover do Espírito Santo.

Anteriormente, as autoridades religiosas em Jerusalém, quando tinham acolhido o parecer de Gamaliel (At 5.34-39), aparentemente, estavam tolerando o ministério dos apóstolos e que eles pregassem a salvação através do nome de Jesus. Contudo, quem desta vez estava manifestando o poder de Deus e andando entre o povo era Estêvão e, portanto, era ele quem estava incomodando mais.

Cheio do Espírito Santo, Estêvão deu então o seu testemunho na frente de todos aqueles homens presentes no Sinédrio e que ali estavam para julgarem-no. Mostrando sabedoria e um profundo conhecimento das Escrituras hebraicas, Estêvão começou o seu discurso falando do chamado dos patriarcas a partir da promessa feita a Abraão (At 7.2-16) e passou a relatar as obras realizadas por Moisés (At 7.20-43), ressaltando a desobediência recalcitrante do povo israelita no deserto. Prosseguiu e discursou sobre o Templo (At 7.44-50), citando um trecho da profecia contida no livro de Isaías.

Entretanto, é a partir do verso 51 do capítulo 7 de Atos em diante que Estêvão, tendo já discorrido sobre a lei de Moisés e sobre o Templo (evidentemente sem cometer nenhuma blasfêmia) repreendeu com firmeza a conduta reprovável daqueles homens do Sinédrio, usando de toda a autoridade que lhe fora dada por Deus.

Nesta altura, as mentes das autoridades judaicas ali presentes certamente ficaram totalmente desprovidas de bem senso. Ao invés de aproveitarem a oportunidade para se arrependerem, aqueles homens ficaram furiosos pela repreensão feita contra eles a ponto de esquecerem no que consistia a mentirosa queixa apresentada contra Estêvão.

Tomados pelo ódio, resolveram, então, executar Estêvão, sem que ao menos houvesse antes uma sentença condenatória dentro da legislação aplicada na época. Ignoraram totalmente a inocência de um homem que estava evidenciada pelas suas palavras, as quais explicaram qual o seu correto posicionamento a respeito de Moisés e do Templo, segundo as Escrituras. E, violando as próprias leis daquele tempo, os líderes religiosos cometeram um terrível assassinato contra um servo de Deus, praticando a cruel pena de apedrejamento que, legalmente, era vedada pelos romanos sendo que, deste modo, também transgrediram o mandamento da própria lei de Moisés que proíbe matar o nosso semelhante.

O autor de Atos dos Apóstolos conta que Jesus recebeu Estevão de pé nos céus, de maneira que aquele homem foi de fato uma fiel testemunha do Senhor, cuja obra trouxe repercussões positivas para a obra de Deus.

Todavia, por mais que os líderes religiosos da época fossem homens duros de coração, o assassinato de Estêvão e a sua pregação no Sinédrio serviram para para influenciar ao menos uma das almas que ali estava presente – Saulo, o qual mais tarde tornou-se um grande apóstolo de Jesus e que veio a ser usado poderosamente pelo Espírito santo para ganhar almas. E tal como fez Jesus na cruz (Lc 23.34), Estêvão também pediu que aquele grave pecado fosse perdoado os seus malfeitores (At 7.60).

O assassinato de Estêvão, por um lado, pode ter significado uma quebra de limites para que os perseguidores da Igreja fizessem a partir de então novas vítimas em Jerusalém através de Saulo. Pois, depois de terem matado um homem inocente com tamanha brutalidade, os assassinos de Estêvão foram dominados pelo desejo de derramarem mais sangue.

Entretanto, o livro de Atos conta que os discípulos (menos os apóstolos) dispersaram-se pela Judeia e Samaria que são regiões próximas de Jerusalém (At 8.1) por causa da perseguição empreendida por Saulo (At 8.3). Tal fuga possibilitou a propagação do Evangelho para outras regiões além de Jerusalém (At 8.4), sendo que entre os irmãos dispersos estava Filipe que evangelizou Samaria.

Mesmo que Saulo tenha concordado com um crime tão hediondo, bem como promovido depois uma dura perseguição contra a Igreja, tenho pra mim que a terrível cena do apedrejamento possa ter tocado o coração do futuro apóstolo tempos mais tarde. Pois, nas vezes em que Paulo comentou sobre a sua conversão, ele fez menção da época em que perseguia a Igreja (At 22.4-5; At 26.9-11 e Gl 1.13), recordando do que fizera a Estêvão muitos anos depois num discurso por ele proferido quando então os seus compatriotas desejavam matá-lo em Jerusalém (At 22.20). E, um dia, Paulo também seguiu o mesmo rumo de Estêvão, pois também foi perseguido, açoitado, apedrejado e, finalmente, decapitado por Nero, conforme conta a tradição cristã.

Certa vez, ao fazer uso da palavra numa reunião em Chicago, Martin Luther King assim discursou:

Permitam-me dizer que, se vocês estão cansados de protestos, eu estou cansado de protestar. Estou cansado da ameaça de morte. Quero viver. Não quero ser um mártir. E há momentos em que penso se vou conseguir escapar. Estou cansado de apanhar, cansado de receber golpes, cansado de ir para a cadeia. Mas o importante não é quanto eu estou cansado; a coisa mais importante é nos livrarmos da condição que nos leva a marchar. Senhores, vocês sabem que não temos muita coisa. Não temos dinheiro suficiente. Realmente não temos muito estudo e não temos pode político. Temos apenas nossos corpos, e vocês estão pedindo que abdiquemos da única coisa que possuímos quando dizem: Não marchem”.

Tal estratégia utilizada por King foi fantástica e teve um enorme efeito positivo para a luta dos negros norte-americanos pelos direitos civis. Pois, quando os ativistas, oferecendo a outra face, eram vistos por todo o mundo sendo vítimas da violência policial, sofrendo golpes de cassetetes, recebendo jatos de água e bombas de gás lacrimogênio, a nação dos Estados Unidos foi sendo tomada por um sentimento de indignação moral contra tais atrocidades, conforme relata Philip Yancey em seu livro “Alma Sobrevivente: Sou Cristão, Apesar da Igreja”, da editora Mundo Cristão:

“Muitos historiadores apontam para um momento no qual o movimento no qual o movimento finalmente conquistou uma massa expressiva de apoio à causa dos direitos civis. Isto aconteceu numa ponte perto da cidade de Selma, Alabama, quando o xerife Jim Clark permitiu que seus homens, armados, avançassem sobre manifestantes negros desarmados. As tropas da cavalaria jogaram os animais a galope sobre a multidão dos manifestantes, açoitando as pessoas com seus cassetetes, rompendo cabeças e jogando pessoas no chão. Enquanto brancos gritavam em aprovação, as tropas jogaram bombas de gás lacrimogênio sobre a multidão em pânico. A maioria dos americanos teve a primeira visão dessa cena quando a rede de televisão ABC interrompeu seu filme de domingo, Julgamento em Nuremberg, para mostrar a cobertura do fato. O que os telespectadores viram sendo transmitido do Alabama guardava uma horrível semelhança com aquilo que estavam assistindo sobre a Alemanha nazista. Oito dias depois, o presidente Lyndon Johnson submeteu o projeto de Direito de Voto de 1965 ao Congresso americano.”

Embora King tenha morrido assassinado em 4 de abril de 1968, sua luta pelos direitos humanos alcançou grandes resultados na defesa dos direitos humanos e da igualdade racial. No ano de 1986, foi estabelecido um feriado nacional nos Estados Unidos em sua homenagem em que, toda terceira segunda-feira de janeiro é comemorado o dia de Martin Luther King.

Como disse Jesus, se o grão de trigo que cai na terra não morrer, fica ele só. Mas, se morre, produz muito fruto. E esta foi a estratégia usada pelo Senhor, muito antes de Martin Luther King e de Estêvão, quando Ele entregou a sua vida para morrer numa cruz:

“É chegada a hora de ser glorificado o Filho do Homem. Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, produz muito fruto. Quem ama a sua vida, perde-a; mas aquele que odeia a sua vida neste mundo preservá-la-á para a vida eterna” (João 12.23-25).

Embora na ocasião de sua prisão, Jesus foi abandonado por todos os seus discípulos (o próprio Pedro o negou por três vezes), sabemos que aquele episódio transformou a vida de todos eles, com exceção de Judas. E, nos últimos vinte séculos, muitas pessoas também têm dado suas vidas por amor ao Evangelho, negando seus desejos carnais e os interesses próprios.

Sempre que olho para os exemplos deixados pelos mártires, tanto do século I quanto da história recente, sinto o quanto ainda preciso morrer para mim mesmo. Percebo o quanto ainda estou preso ao dinheiro, às preocupações cotidianas, à reputação de minha imagem e aos ideais de vida de uma sociedade materialista, de modo que me sinto envergonhado pelo meu modo de vida acomodado. Mas, por outro lado, quando lembro que, embora os discípulos de Jesus tenham todos fraquejado, um dia foram capazes de seguir o exemplo deixado pelo Mestre.

Paulo, em sua primeira epístola à Igreja de Corinto disse que ainda que ele desse todos os seus bens aos pobres e entregasse o próprio corpo para ser queimado, sem amor, tais coisas de nada valeriam (1Co 13.3). E, meditando em tais palavras, compreendo que, primeiramente, é preciso aprender a amar, pois foi isto o que Estêvão e King fizeram até chegar o dia em que já não mais se importaram com seus interesses pessoais a ponto de arriscarem suas próprias vidas.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Falando um pouco sobre sexo e sobre o casamento

Um dos temas bastante polêmicos no meio eclesiástico, sem dúvida diz respeito ao sexo e aos pecados sexuais. Pessoas vivem reprimidas e oprimidas dentro das igrejas cristãs por armazenarem dúvidas em suas mentes sobre este importante assunto ou então se fecharem dentro de determinadas concepções, guardando um enorme receio de se exporem.

A princípio, considero que esta é uma área do comportamento onde o ser humano deveria ter total liberdade para se expressar, até mesmo porque a imoralidade sexual, conforme Paulo diz na primeira epístola à Igreja em Corinto, é um pecado contra “o próprio corpo” (1Co 6.18) e não “fora do corpo”. Em outras palavras, quem vive na imoralidade está prejudicando a si mesmo, bem como à pessoa com quem pratica o ato, mas não estaria atentando contra a dignidade do próximo.

Neste sentido, entendo que as igrejas deveriam ser ambientes confortáveis para que as pessoas, nos seus pequenos grupos, pudessem expor seus problemas na área sexual, sem serem condenadas ou discriminadas por qualquer irmão. Entendo que as igrejas deveriam ser mais compreensivas a respeito destas questões, visto que tais conflitos têm levado muita gente a um auto-afastamento do convívio em suas comunidades cristãs porque se sentem indignas de terem comunhão com Deus e com os demais irmãos. Enfim, é um problema que afeta demais aos jovens, pessoas solteiras, ex-homossexuais, ou que estão vivendo um desajuste com seus cônjuges.

Sendo assim, passo a comentar sobre alguns temas relacionados ao sexo e ao matrimônio, os quais têm muito haver com os nossos dias tal como nos tempos bíblicos.


1. A SITUAÇÃO DOS CASAIS “NÃO CASADOS NO PAPEL” E DAS PESSOAS DIVORCIADAS QUE CONTRAIRAM NOVAS NUPCIAS

A Bíblia, sem dúvida alguma, valoriza o matrimônio. A Epístola aos Hebreus diz expressamente que: “Digno de honra entre todos seja o matrimônio, bem como o leito sem mácula; porque Deus julgará os impuros e adúlteros” (Hb 13.4).

Entretanto, não se pode esquecer que o conceito sobre matrimônio é algo que sempre mudou no tempo e no espaço. Há lugares no mundo, sobretudo em países do Oriente, em que os votos do casamento são feitos verbalmente entre os nubentes com o apoio das famílias, o que, por si só, basta para que seja reconhecido o ato de se casar. E assim também ocorria nos tempos bíblicos, sem que os noivos precisem passar por toda a burocracia terrível de darem entrada com os seus documentos em cartório pra poderem, finalmente, celebrar as núpcias num templo religioso.

Atualmente, na sociedade ocidental, o casamento tem sido trocado por aquilo que juridicamente denominamos como uma “união estável”. Desde a segunda metade do século XX, homens e mulheres têm se “juntado”, com ou sem a aprovação dos pais, e formado novas famílias. Embora muitos destes casais estejam vivendo unidos há décadas, tais uniões são quase sempre vistas dentro das igrejas como relações fora do casamento.

Mas apesar de muitos casais não casados no papel terem dado certo, grandes injustiças ocorreram em tais relacionamentos e também na relação de tais pessoas com o Estado e a sociedade em geral. Filhos ficaram sem a assistência dos pais até que fosse reconhecida a paternidade, mulheres ficaram anos sem poder pleitear uma pensão do INSS em caso de morto de seus companheiros e os bancos, ao fazerem a análise de crédito, nem sempre consideravam os ganhos do outro convivente para efeito de contabilidade da renda familiar

Em 11 de janeiro de 2003, entrou em vigor o atual Código Civil brasileiro reconhecendo “como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família” (art. 1.723 caput). Sendo assim, segundo a lei brasileira, se dois companheiros resolverem viver juntos e não estiverem impedidos de se casar, formam uma família como sendo já casados sob o regime da comunhão parcial de bens (art. 1.725), observando os “deveres de lealdade, respeito e assistência, e de guarda, sustento e educação dos filhos” (art. 1.724).

Pois bem. Com base na legislação atual, pode-se dizer que o casamento no sentido amplo do termo, ocorre em duas situações: quando duas pessoas do sexo oposto resolvem enfrentar a burocracia cartorária ou quando elas simplesmente se juntam para formarem uma nova família.

Contudo, sabemos que só devemos concordar com as leis dos homens se elas não conflitarem com as leis de Deus, de maneira que nem todo casamento e nem toda união juridicamente reconhecidos valerão dentro da Igreja. Então, o que diz a Bíblia? Quando é que o casamento ocorre?

Curiosamente, a Palavra de Deus não diz como devem ser os rituais do casamento. No princípio, isto é, no livro de Gênesis (heb. Bere'shith), diz apenas o seguinte: “Por isso, deixa o homem pai e mão e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne” (Gn 2.24). Ou seja, bastava um homem unir-se a uma mulher para que, segundo Deus, houvesse o reconhecimento das núpcias, tornando-se ambos uma só carne.

Contudo, com o decorrer da história, os homens foram criando rituais relativos ao casamento. Para que uma moça saísse da casa de seus pais, tornou-se costume aguardar o consentimento da família e, por motivo de desconfiança, os homens poderiam aguardar por um ano afim de terem certeza de que a noiva prometida não estaria esperando um filho de outro e, desta maneira, preservar a estirpe. Mas se um homem antecipasse a intimidade sexual com uma mulher, o que acontecia? Em alguns casos, conforme cada cultura, o homem seria obrigado a se casar com a mulher “violada”, ou então indenizar o pai da moça pelo ultraje, o que, seja como for, acabava sendo uma compensação pelo mal praticado, um desvio daquilo que Deus propôs no começo da criação.

Nos dias de hoje, nas igrejas, tenho assistido a várias injustiças que ocorrem em casos envolvendo pessoas que verdadeiramente vivem em união estável sem os impedimentos bíblicos para o casamento. Várias comunidades aceitam a conversão desses casais, mas depois os discriminam por não estarem casados no papel, como se estivessem vivendo em pecado. Se eles vão a algum retiro espiritual, são impedidos de dormirem no mesmo quarto e muitas das vezes não são convidados para participarem de uma reunião de casais, ou até mesmo de participarem da Ceia. Alguns desses casais, mesmo convivendo há anos e tendo gerado filhos, chegam a ser orientados a se absterem da intimidade sexual enquanto não se casarem no papel e perante a congregação.

Dentro de várias comunidades cristãs, também tenho visto homens abandonando suas companheiras para se casarem com outra mulher sob o pretexto de que antes estavam vivendo em pecado e que tal união não estava dentro da vontade de Deus. Assim, muitas mulheres, depois de anos de fidelidade, estão sendo abandonadas por ex-companheiros que dizem seguir a Bíblia. E muitos jovens depois de terem chegado à intimidade sexual com suas namoradas ou noivas, pedem perdão pelo que fizeram e. Simplesmente, terminam aquele relacionamento partindo pra outro, sendo que muitos pastores silenciam e consentem com tais injustiças.

Ora, que o casamento no papel dentro de uma sociedade como a nossa é importante, isto é indiscutível. Principalmente sob o ponto de vista da mulher que é a parte mais vulnerável numa relação a dois. Porém, não se pode negar que o desprezo de algumas igrejas quanto aos casais que vivem em união estável tem provocado imensuráveis injustiças e contrariado até mesmo a Bíblia.

Se um casal resolve abster-se da intimidade sexual até se “casarem no pepel”, existe um enorme risco daquela relação vir a ser dissolvida tendo em vista a maior exposição dos conviventes a serem tentados pela incontinência, o que pode se tornar algo anti-bíblico e extremamente nocivo para a espiritualidade de um homem e de uma mulher que acabaram de aceitar a Cristo como Senhor de suas vidas.

Se um rapaz e uma moça “avançam o sinal” e a Igreja, ao invés de incentivar a união de ambos, resolve simplesmente considerar aquela “aventura” como um pecado que se resolva só pelo perdão e aceitar que, a partir de então, cada um siga o seu próprio caminho procurando relacionamentos com outras pessoas que, na próxima vez consigam esperar até o casamento, o matrimônio estará sendo mais banalizado do que se o sexo fosse permitido fora de um compromisso publicamente assumido. Por acaso os dois jovens afoitos, quando praticaram o sexo, não se tornaram dois numa só carne?

Foi justamente isto o que o apóstolo Paulo escreveu aos coríntios acerca das relações entre um homem e uma prostituta, fazendo uma referência a Gênesis 2.24, quando disse o seguinte: “Não sabeis que os vossos corpos são membros de Cristo? E eu, porventura, tomaria os membros de Cristo e os faria membros de meretriz? Absolutamente, não. Ou não sabeis que o homem que se une à prostituta forma um só corpo com ela? Porque, como se diz, serão os dois uma só carne” (1Co 6.15-16)

É justamente o compromisso entre um homem e uma mulher que não deve ser banalizado, conforme Deus determinou no princípio de todas as coisas!

Foi justamente voltando às origens da Torah que Jesus respondeu aos fariseus sobre as questões acerca do divórcio e colocou o homem numa mesma condição igual à mulher (ler Lucas 16.18). Compreendo que nosso Senhor mostrou para aquela sociedade dura de coração que o divórcio foi uma norma que serviu apenas para pacificar as difíceis relações sociais de um povo que vivia longe dos princípios de Deus, mas que jamais fez parte do plano divino para o homem.

Entendo como que um legislador, ou um jurista cristão, pode muito bem aprovar uma legislação sobre divórcio e até mesmo a união homo-afetiva para regular a vida em sociedade e, ao mesmo tempo, ser um ferrenho defensor da pureza do casamento heterossexual. Entretanto, mesmo que a legislação reconheça um casamento decorrente de um adultério e ignore uma traição conjugal para efeito de novas núpcias, a Igreja não pode ficar calada nestas horas e deve ter a mesma firmeza que teve João Batista ao denunciar a conduta de Herodes por ter tomado como mulher a esposa de seu irmão.

Mas como aceitar um segundo casamento de pessoas divorciadas dentro da Igreja? Será que devemos ser tão inflexíveis a ponto de proibir que nossas comunidades cristãs celebrem tais uniões?

A meu ver, cada caso é um caso. No Sermão do Monte, Jesus disse que “qualquer que repudiar sua mulher, exceto em caso de relações sexuais ilícitas, a expõe a tornar-se adúltera; e aquele que casar com a repudiada comete adultério” (Mateus 5.32). E Paulo, na sua primeira carta aos coríntios dá os seguintes conselhos: “Ora, aos casados, ordeno, não eu, mas o Senhor que a mulher não se separe do marido (se, porém, ela vier a separar-se, que não se case ou que se reconcilie com seu marido); e que o marido não se aparte de sua mulher” (1Co 7.10-11).

Ora, é mandamento do próprio Senhor Jesus, o Pastor da Igreja, que o homem não deixe sua esposa (ou companheira de união estável) para casar-se com outra mulher, sendo que o mesmo vale para a mulher que deixa o marido. E, diante de uma regra tão clara como a do Sermão da Montanha, como poderemos dizer algo em contrário? Que autoridade teria a Igreja para “ligar na Terra” algo que esteja contrariando frontal e diretamente à Palavra de Deus?

Mas, se após a separação, o homem ou a mulher teve relações sexuais com outra pessoa? Como nos posicionarmos diante de tal caso?

Como nós vivemos numa sociedade bem diferente daquela dos tempos bíblicos, é a coisa mais comum as pessoas se relacionarem sexualmente sem compromissos e, no dia seguinte, ficarem com outra. A imoralidade tornou-se algo tão banal que, até mesmo dentro do casamento, ambos os cônjuges chegam a viver permanentemente em adultério e, em algumas situações, traem de comum acordo participando de repugnantes festas onde ocorrem trocas de casais, sexo a três e homossexualismo.

Volto novamente ao texto bíblico de Hebreus inicialmente citado neste tópico, em que o casamento deve ser digno de honra e o leito conjugal sem mácula porque Deus julgará os impuros e adúlteros, de maneira que, até a morte de um dos cônjuges, o primeiro matrimônio não pode ser dissolvido pelos homens. Por mais radical que isto pareça ser (não nego que seja benéfica e verdadeiramente radical), não podemos fechar os olhos para a verdadeira inflexibilidade do homem (ou da mulher) romper o compromisso conjugal (ou de companheirismo).

Pergunto onde estará o amor se, por motivo de doença, incompatibilidades sexuais ou de gênio, falta de dinheiro ou esterilidade, um resolve abandonar o outro? Será que o ser humano deve viver apenas para satisfazer os seus desejos carnais? Como que pessoas ávidas por satisfazerem seus apetites sexuais conseguirão preocupar-se com o bem estar do próximo? Por acaso a administração de um lar não exige que, em vários momentos, o sexo seja momentaneamente dispensado para dar lugar ao trabalho e ao cumprimento de obrigações básicas? Enfim, o casamento precisa ser mantido em santidade seja qual for a situação.


2. DAS RELAÇÕES SEXUAIS LÍCITAS QUE PODEM SER PRATICAS ENTRE UM HOMEM E UMA MULHER

O fato de duas pessoas serem casadas, torna fundamental que elas procurem praticar o sexo regularmente, conforme escreveu o apóstolo Paulo aos coríntios:

“O marido conceda à esposa o que lhe é devido, e também, semelhantemente, a esposa ao seu marido. A mulher não tem poder sobre o próprio corpo, e sim o marido; e também, semelhantemente, o marido não tem poder sobre o seu próprio corpo, e sim a mulher. Não vos priveis um ao outro, salvo talvez por mútuo consentimento, por algum tempo, para vos dedicardes à oração e, novamente, vos ajuntardes, para que Satanás não vos tente por causa da incontinência. E isto vos digo como concessão e não por mandamento”. (1 Co 7.3-6)

Embora a Bíblia não diga quantas relações sexuais deve ter um casal, a orientação deixada pelo apóstolo Paulo é que o homem e a mulher farão bem se tiverem uma vida sexual bem apimentada, de maneira que a cópula não deve servir apenas com a finalidade reprodutiva, mas sim para a satisfação mútua do casal.

Mas como deve ser a vida sexual de um casal? Será que vale tudo pode entre quatro paredes? O sexo anal e o sexo oral seriam pecados?

Mesmo que a Bíblia não diga expressamente que a penetração anal seja pecado, tal prática não está muito distante da sodomia, senão vejamos o que implicitamente se depreende da análise textual.

Na sua carta aos romanos, Paulo, ao escrever sobre a depravação dos homens praticaram a idolatria, adorando a criatura ao invés do criador, diz que “até as mulheres mudaram o modo natural de suas relações íntimas por outro, contrário à natureza” (Rm 1.26b). E, apesar do verso seguinte mencionar a prática homossexual entre homens ocorrida no paganismo, não podemos achar que o texto da segunda parte do versículo 26 tenha se restringido ao lesbianismo.

Ora, o apóstolo não mencionou o termo lesbianismo e, mais adiante, ele generaliza todos os pecados cometidos pelos homens que afastaram-se de Deus, incluindo condutas de natureza não sexual, de maneira que as relações íntimas contrárias à natureza podem incluir uma série de outros desvios.

Sendo assim, não se pode esquecer que o sexo anal é uma inegável violência contra a mulher, capaz de causar profundas dores físicas, problemas de saúde e abalos psicológicos. Em termos fisiológicos, o ânus jamais pode ser utilizado para a penetração peniana porque não existe no órgão uma lubrificação natural como ocorre na região da vagina, através das atividades relacionadas à preparação para o sexo.

Já quanto ao sexo oral, entendo ser necessário distingui-lo das carícias, as quais são importantíssimas para a preparação da mulher antes da relação sexual.

Todas as carícias em todas as partes do corpo, sejam pelas mãos ou pelo contato com a boca fazem parte de uma relação sexual natural. Porém, o sexo não é consumado nas carícias e sim na penetração vaginal.

Neste sentido, se o contato da boca com o órgão genital tem por finalidade acariciar o homem ou a mulher, não se vê nenhuma contrariedade à natureza e, por este aspecto, o sexo oral jamais poderia ser considerado como um pecado. Ou então se alguém considera que o sexo oral seja pecado, não pode pensar que qualquer contato da boca com os genitais seja sexo.

Certamente alguém poderia dizer que se a Bíblia não diz de maneira expressa que o sexo oral ou o sexo anal não se caracteriza como pecado, então podem ser praticados dentro do casamento. Porém, não podemos esquecer que, através da unção do Espírito Santo, tomos a possibilidade de sermos sermos ensinados sobre todas as coisas e guiados a toda verdade (ver 1João 2.27 e João 16.13-14). Assim, sem que a Bíblia precise dizer qualquer coisa neste sentido, podemos compreender claramente que a consumação do ato sexual fora da penetração do pênis na vagina torna-se contrária à natureza.

Analisando pelo lado psicológico (o cristão nunca pode desprezar a ciência), pode-se entender que a consumação do coito vaginal produz uma satisfação duradora no homem quanto ao ato praticado e muitas são as mulheres que chegam ao orgasmo durante a penetração. Trata-se de uma sensação de totalidade, capaz de proporcionar ao homem uma maravilhosa estabilidade emocional enquanto ele se encontra em contato íntimo com o corpo da mulher.

Por outro lado, a mulher tem um pequeno órgão um pouco acima da vagina chamado clitóris e que precisa ser também estimulado ou do contrário não estaria lá. E, se tal órgão existe é porque foi criado por Deus e tem uma função que precisa ser descoberta pelo casal.

Pois bem. Se o homem verdadeiramente deseja ter uma relação sexual satisfatória com sua mulher, ele deve aprender a estimular o clitóris e outras partes do corpo de sua companheira antes da penetração para tornar este ato mais agradável durante a relação. Um marido que ama a sua esposa não deve penetrá-la sem antes verificar se ela está de fato lubrificada e daí a importância de se estimular o clitóris através da língua.

Igualmente, não se vê nada de pecado a mulher estimular a ereção do marido através do contato da boca com o pênis, pois como já dito, a relação sexual não será consumada neste ato. E, a descoberta desta carícia pode, inegavelmente, ajudar na relação de muitos casais que já estejam na terceira idade, proporcionando-lhes mais qualidade de vida, o que é uma dádiva de Deus.

Já o sadomasoquismo, semelhantemente ao sexo anal, é outra anomalia que precisa ser tratada, pois é nitidamente contrário misturar dor numa relação que, segundo a natureza, deve proporcionar prazer tanto ao homem quanto à mulher.

A meu ver, no na relação sexual entre um homem e uma mulher, um deve procurar descobrir o corpo do outro livremente, sem medo e sem culpa. Porém, coisas evidentemente contrárias à natureza como o sexo anal ou o sadomasoquismo não devem jamais ser cultivadas na intimidade do casal.


3. SOBRE A PRÁTICA DA MASTURBAÇÃO E DA PORNOGRAFIA

Outro tema igualmente polêmico é a masturbação, a qual consiste na auto-estimulação dos órgãos sexuais com a finalidade de se obter prazer.

Como se sabe, a sexualidade é uma benção de Deus para o homem. Todos nós somos seres sexuados, independentemente de praticarmos sexo ou não. E, assim como sentimos dores, também podemos sentir prazer se por acaso alguma parte do nosso corpo for tocada ou estimulada. Se um homem passa muitos dias sem uma ejaculação, o seu próprio organismo providencia uma descarga espontânea de sêmen através da polução notura, o que se trata de uma reação natural que pode ser acompanhada ou não de um sonho erótico.

Todavia, há uma diferença enorme entre ter sensações de prazer e ficar estimulando no próprio corpo tais sensações.

Na verdade sabemos que a masturbação é tanto praticada por solteiros, como por casados. Tanto por jovens ou adolescentes, quanto por adultos e até mesmo por pessoas idosas. E, em diversas comunidades cristãs, prega-se abertamente em púlpito que a masturbação é pecado e que se trata de uma prática contrária à natureza.

Mas, afinal, o que a Bíblia tem a dizer de maneira explícita sobre masturbação?

Sinceramente, nada. E eu estaria praticando o pecado da mentira se estivesse afirmando algo em contrário.

Muitos até hoje mencionam a passagem de Gênesis 38.8-10 que fala sobre Onã, o segundo filho de Judá, para afirmarem que a masturbação é pecado. Porém, o que o texto bíblico diz é que Onã, por motivos de divisão de herança, não queria dar um descendente ao seu falecido irmão Er, motivo pelo qual interrompia o coito durante as suas relações sexuais com Tamar.

Observem que o versículo nove não fala em masturbação, mas que Onã “deixava o sêmen cair na terra”, o que dá a entender que ele praticava o coito interrompido, um antigo método contraceptivo, sendo que o seu pecado consistia no descumprimento do levirato e, certamente, poderia deixar sua cunhada desamparada e sem filhos na velhice.

Em outras partes da lei mosaica, também não há nenhuma referência à masturbação. O capítulo 18 de Levítico proíbe as relações incestuosas, homossexuais, com animais, o adultério, a poligamia, o sexo com a madrasta, com a nora e durante a menstruação da mulher, silenciando-se quanto à masturbação.

Então, se a Bíblia não fala nada expressamente sobre a masturbação significa que o cristão poderá praticá-la deliberadamente? Será que não podemos extrair nenhuma orientação de acordo com os textos bíblicos?

Ora, assim como eu seria mentiroso se dissesse que a Bíblia diz claramente que a masturbação é pecado, também estaria agindo com omissão se não apontasse algumas passagens que falam sobre a pureza sexual.

Na primeira epístola aos tessalonicenses, Paulo claramente assim diz: “que cada um de vós saiba possuir o próprio corpo em santificação e honra, não com o desejo de lascívia, como andam os gentios que não conhecem a Deus” (4.4-5)

Sobre o vocábulo lascívia, podemos relacioná-la à lúbrica, à devassidão, à libertinagem, à luxúria e à procura constante e sem pudor pelo prazer sexual.

De acordo com o texto de Tessalonicenses, entendo que o cristão não deve ficar estimulando na sua mente e na sua carne o insaciável desejo de lascívia, de maneira que a masturbação não parece ser algo conveniente para quem procura a santidade.

Em Efésios 4.17-5.4, Paulo contrasta a santidade com a dissolução, dizendo que:

Isto, portanto, digo e no Senhor testifico que não mais andeis como também andam os gentios, na vaidade dos seus próprios pensamentos, obscurecidos de entendimento, alheios à vida de Deus por causa da ignorância em que vivem, pela dureza do seu coração, os quais, tendo-se tornado insensíveis, se entregaram à dissolução para, com avidez, cometerem toda sorte de impureza. Mas não foi assim que aprendestes a Cristo, se é que, de fato, o tendes ouvido e nele fostes instruídos, segundo é a verdade em Jesus, no sentido que de, quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe segundo as concupiscências do engano, e vos renoveis no espírito do vosso entendimento, e vos revistais do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade (…) E não entristeçais o Espírito de Deus, no qual fostes selados para o dia da redenção (…) Mas a impudicícia e toda sorte de impurezas ou cobiça nem sequer se nomeiem entre vós, como convém a santos; (…)”

Bem, eu entendo que não devemos jamais forçar a Bíblia a dizer o que queremos sendo que a postura correta diante do exame de qualquer passagem das Escrituras deve ser a humildade de um aprendizado autêntico. E também, como já disse no tópico anterior, com base em João, o Espírito Santo nos guia a toda a verdade, ensinando-nos todas as coisas.

Novamente pergunto se é condizente com a santidade do corpo, templo de habitação do Espírito Santo, que, dentro das quatro paredes, fiquemos fazendo uso de filmes pornográficos, revistas de sexo, novelas eróticas e de objetos com o objetivo de despertar e de satisfazer o desejo sexual de maneira antinatural?

Voltando à epístola aos coríntios, devemos lembrar que o nosso corpo é para o Senhor e o Senhor para o corpo, de modo que, quando estamos sós, devemos utilizar esta oportunidade para nos consagrarmos a Deus, orando, ouvindo sua Palavra, adorando-O, dedicando-nos às boas obras e procurando ocupar o nosso pensamento com coisas sadias que trazem edificação.

Na vida a dois do casamento, diga-se de passagem, é totalmente incompatível com o contexto de satisfação mútua um cônjuge entregar-se à pornografia, o que tem sido cada vez mais comum devido à imediata acessibilidade proporcionada pela internet. E, devido a estas condutas praticadas por muitos maridos, tem sido frequente os infelizes casos de separação que acabam destruindo muitos lares por aí.

Acrescente-se que a masturbação acaba sendo uma grande porta para outras condutas sexuais reprováveis, sendo um grande equívoco do pensamento atual achar que se um jovem ficar se masturbando ele conseguirá postergar controlar melhor seus impulsos e o desejo de ter a primeira relação sexual. Pois, muito pelo contrário, a masturbação pode despertar mais rapidamente o desejo sexual nos nossos adolescentes, alimentando fantasias e até mesmo causar bloqueios num futuro relacionamento com outra pessoa.

Finalizo este tópico dizendo que hoje em dia é preciso quebrar os modernos mitos sobre a masturbação. Sabemos que ninguém vai começar a ver cabelos nascendo na palma da mão porque se masturba, bobagens que se dizia antigamente, mas é certo que ninguém colherá benefícios espirituais estimulando em si mesmo o desejo lascivo, o qual acaba sendo a razão da prática de inúmeros atos sexuais ilícitos porque antes de fazer algo, sempre pensamos primeiro.


4. QUAL DEVE SER O POSICIONAMENTO DA IGREJA SOBRE O HOMOSSEXUALISMO?

Finalmente, quero agora destinar algumas linhas para falar a respeito do homossexualismo, outa questão que deve ser abordada no contexto da sexualidade.

Sabemos que Bíblia é clara neste sentido, em que o comportamento homossexual contraria frontalmente a Palavra de Deus.

Além da Torah, o Novo Testamento, em diversas passagens, repudia o relacionamento íntimo entre pessoas do mesmo sexo, o que chega a ser considerado como uma abominação a Deus.

Contudo, Deus oferece misericórdia e perdão a todos os que se arrependem. E, se todos os homens estão debaixo do pecado, não há como um heterossexual sentir-se melhor do que um homossexual, de maneira que todos nós somos carentes da graça divina.

Sendo assim, as preocupações que tenho atualmente não dizem respeito à tipificação da conduta homossexual como pecado, mas sim como que os cristãos têm se posicionado diante de determinados acontecimentos relacionados à união civil entre homossexuais, passeatas gays e outros direitos reivindicados pelas minorias GLS.

A meu ver, reconhecer os direitos civis dos homossexuais não contraria o nosso posicionamento como cristãos, sendo, inclusive, uma questão de humanidade, pois trata-se de regular um fato social em que, após a dissolução de uma sociedade constituída por dois homens ou por duas mulheres, é necessário reconhecer inúmeros direitos de ordem patrimonial.

E o que vai mudar em relação à fé se os homossexuais puderem se casar no civil e perante as instituições religiosas que aceitam as relações homo-afetivas? Nada! Porém, jamais uma comunidade cristã pode ser obrigada a celebrar o casamento de um “casal homossexual”, contrariando a liberdade de crença do grupo, assim como ninguém pode ser proibido de manifestar o seu pensamento contrário ao homossexualismo, pois não podemos ir contra aquilo que a Bíblia diz, ainda que fosse feita uma emenda à Constituição brasileira criminalizando a homofobia.

Ademais, digo e repito que a Igreja cristã não é homofóbica. Jesus odeia o pecado, mas ama o pecador, de modo que não podemos jamais deixar de amar os homossexuais como co-destinatários do sacrifício de Cristo, capaz de redimi-los e de transformá-los em novas criaturas, regenerando-os.

Por outro lado, devemos ser compreensivos em relação à luta que tais pessoas passam a enfrentar contra o pecado, assim como nós heterossexuais buscamos resistir à lascívia e outras tentações na área sexual.

Como se sabe, ao nascermos de novo, o nosso espírito é renovado por Deus, mas na carne ainda militam os mesmos desejos pecaminosos que fazem guerra contra o homem interior. Então, assim como nós, os homossexuais precisarão de apoio da Igreja para que possam vencer as tentações.

Portanto, o mais importante para a Igreja é cuidar da pregação evangélica, a qual é poderosa para salvar e transformar vidas. Opor-se politicamente ao reconhecimento da união civil ente homossexuais só vai nos causar um inútil desgaste, sendo que devemos ser solidários com os gays e as lésbicas no que diz respeito aos contínuos atos de violência e de discriminação que a sociedade pratica injusta e hipocritamente contra tais minorias.


5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como qualquer ser humano, sou também tentado pelos pecados sexuais. Embora casado (no papel) há 4 anos com minha esposa, encontro-me tão vulnerável quanto homens solteiros de todas as idades ou que não têm uma vida sexual satisfatória com suas esposas.

Considero o casamento importante para a entidade familiar e, principalmente, para a mulher que é a parte mais vulnerável da relação. Porém, as comunidades cristãs precisam tratar com mais respeito e consideração os casais ainda não casados no papel, amando-os e integrando-os na Igreja.

Também devemos ser mais firmes contra a infidelidade não só no casamento institucional como em todas as relações homens e mulheres. Mesmo o jovem que “avança o sinal” com sua namorada, deve ser encorajado a se casar ser fiel a ela, não podendo a ausência do matrimônio servir como pretexto para ser iniciada uma nova relação com outra pessoa.

Recordo-me que eu e minha esposa Núbia, antes de nos casarmos, tivemos um relacionamento de sete anos, desde o carnaval de 1999. Chegamos a ficar noivos, mas depois, devido a alguns desentendimentos, voltamos a ser apenas namorados.

Em 2005, quando resolvi reaproximar-me da Igreja, após ter ficado por doze anos “desviado”, senti que era do agrado de Deus pegar as alianças que estavam esquecidas na gaveta e ficarmos noivos novamente.

Ainda naquele ano, fui a um encontro da Igreja Evangélica Maranata, onde eu e Núbia somos membros, e ali, após buscar a Deus, senti que Ele apenas queria que eu o colocasse no meu relacionamento com ela.

Após o tal evento, fomos ao pastor Renato Gonçalves afim de marcarmos o nosso casamento e então começamos correr atrás da papelada até que, em 04/03/2006, ocorreu a tão aguardada celebração.

Porém, mesmo depois de casados no civil e na igreja, ainda precisávamos colocar Deus na nossa relação, tal como eu tinha sentido no encontro que participei em 2005. Fizemos o curso do MMI e ali aprendemos sobre o dever de orar juntos, o que não colocamos em prática imediatamente.

Em 2007, nosso casamento entrou numa grande crise, pois não estávamos colocando Deus no nosso relacionamento e faltava mais entendimento entre nós.

No ano 2008, passei a ficar mais próximo de Núbia. Mesmo ela passando por problemas de saúde, comecei a ser mais companheiro, gastar mais tempo ao seu lado e aos poucos ir colocando Deus nas nossas vidas.

Reconheço que para melhorar o meu casamento tive que mudar bastante, começando por mim e pelo meu caráter. E encontrei na Bíblia uma verdadeira fonte e vida que muito me ajudou a colocar Deus na minha vida e no meu casamento.

Desejo que, na sua vida, você também possa colocar Deus em todas as situações que atravessa. Ele quer te ajudar diante de qualquer problema e se abrir com o Pai sobre seus conflitos é o melhor caminho.